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Eu odeio hospitais.

Sempre odiei! Minha mãe costumava dizer que não passava de algo psicológico, mas era um fato, bastava por os pés dentro de um e eu imediatamente me sentia doente. Como se uma gastura surgisse na boca do estômago e minha garganta fosse fechando, pouco a pouco.

É o tipo de ambiente que tento evitar ao máximo. Principalmente depois de passar os quatro piores meses da minha vida preso em um, mais precisamente em uma cama, sem tevê a cabo, com vista para um monte de mato, recebendo visitas curtas e esporádicas de Harry que precisava se dividir entre eu e os bebês, que naquela época eram recém nascidos e não podiam ficar saindo de casa o tempo todo.

Meus pais e minhas irmãs não podiam vir todos os dias, afinal, todos tem suas vidas independentes. Anne era a pessoa que eu mais vi durante aquele período, ela vinha sempre pela manhã, quando o restaurante estava fechado e passava horas sentada ao meu lado, sem conversar sobre nada em especial, apenas mantendo a solidão longe. Hoje eu sei o quão fundamental foi sua atitude, porque a solidão se aproxima e domina com tanta facilidade.

Ainda mais no meu caso.

Evangeline tinha morrido, eu me encontrava em um estado delicado com uma recuperação lenta, Harry era como um fantasma que só se lembrava de trocar fraldas e fazer mamadeiras, eu não falava com ele. Não falava com ninguém e pensamentos ruins sempre culminaram em minha mente.

Acredito que o suicídio seja algo que todo mundo já considerou. Pelo menos uma vez.

Viver não é fácil, o mundo e as pessoas nunca colaboram para que possamos nos abrir ou tentar mudar nosso pensamento. Cada um de nós enfrenta uma batalha, mas não era nisso que eu pensava quando estava encarando a banheira cheia em um dos quartos deste mesmo hospital, pra mim eu era o único que sofria.

Mas não era verdade.

Bastava olhar ao redor, fazer uma pergunta para qualquer paciente ali e você veria. O sofrimento é coletivo. Eu não era o único, tantos outros ali se encontravam em uma situação semelhante ou até pior e mesmo assim, de alguma forma, eles conseguiam seguir em frente. Conseguiam viver mais um dia, vencendo a vontade de desistir, porque vale a pena lutar, para mim, valia a pena ouvir a risada dos meus irmãos mais novos, valia a pena provar as delícias culinárias da minha sogra, valia a pena receber flores de um batalhão inteiro, valia a pena segurar meus filhos nos braços e valia a pena beijar meu marido e dizer que eu não iria a lugar nenhum.

Mesmo com todas as possibilidades eu não desisti. Cada dia é uma luta e a cada noite uma vitória.

Eu sabia que Harry enfrentava algo parecido, mas imaginei que ele fosse me dizer algo. Que ele ao menos daria um sinal.

Bem, talvez ele tivesse dado, caso estivesse ao seu lado e não no Queens fumando maconha com um ex amante.

Eu deveria ter estado com ele quando seu mundo veio abaixo.

É por isso que eu odeio hospitais, porque eles sempre estão presentes em nossos momentos de fraqueza e dor. Estar aqui só me faz ter certeza absoluta do quão fodida nossas vidas estão.

Três anos e nada muda.

Dobro a coluna, a procura de um médico, todavia, nenhum circula pela sala de espera. Não me lembrei de pegar o celular, apenas agi totalmente por impulso, checando a pulsação dele e enrolando as toalhas mais grossas que encontrei ao redor dos seus pulsos, liguei para a emergência e em três minutos estavam colocando-o em uma maca e saindo às pressas.

Não pensei em ligar para ninguém, apenas deixei água e comida para os bichos, vesti Spencer e Blake no primeiro conjuntinho que encontrei e mesmo sendo fim da primavera e o tempo não sendo exatamente agradável pela manhã eles foram de bermuda jeans e t-shirt. Não vejo a hora de Harry acordar e me dar um sermão por não ter colocados roupas decentes nos garotos.

Quando Harry acordar...

Estamos aqui há sete horas.

Meu braço esquerdo está com câimbra e os nervos latejando, mas eu continuo a empurrar o carinho de bebê duplo, onde eles dormem um sono agitado.

Spencer é muito ligado a Harry e é como se ele sentisse quando ele não estava bem.

— Papa... — Spen choraminga durante o sono.

— O papa está aqui, amor. — Acaricio seus cabelos castanhos.

— Papa Hairy.

— O papa Hairy — Imito seu jeito de falar, o cobrindo melhor com sua coberta — , já vem. Por que não segura isso pra ele enquanto espera? — Repouso uma das bandanas de Harry próxima ao seu rosto e ele a agarra imediatamente, colando o nariz nela e aspirando o cheiro do seu papai preferido.

Após alguns minutos ele está dormindo completamente.

Empurro o carrinho até uma máquina de café e tomo mais de três copos para tentar me manter acordado. Eu não durmo há 24hrs e minha aparência é digna de um mendigo, francamente, se eu pudesse deitaria nesse chão e acordaria só na próxima semana. Beberico mais um gole do café morno, com meus olhos lutando para se manterem abertos e minha testa raspando na superfície gelada da janela do corredor.

Harry tentou se matar.

Harry queria morrer.

A culpa é minha?

— Louis! — O grito retumba pelo corredor e eu quero esganar Liam ao que os meninos começam a acordar.

O observo caminhar em minha direção. Cabelos curtos, com uma espécie de franjinha atualmente, barba densa, tatuagens por toda a parte, jaqueta de couro e um óculos escuro preso a gola da camisa. Um verdadeiro deus grego, perto de mim. Pelo menos agora.

— Eu te liguei um milhão de vezes, Grimshaw queria falar com você. Michael disse que deveríamos passar no laboratório...

— C-como me achou?

— Eu sou um detetive. — Diz simplesmente — O que faz aqui?

Passo a mão por meus cabelos bagunçados.

— Harry... — Cortou os pulsos, melhor não dizer isso. Minta — , estava sentindo muitas dores a noite passada.

Liam pisca os cílios longos e coloca as mãos na cintura. Visivelmente preocupado, até demais.

— Meu deus! Mas sabe se ele está bem? E o bebê? Ele não perdeu o bebê, não é? Por que não me ligou? Você deveria ter me ligado.

— Você é o pai por um acaso?

— Não, claro que não, mas eu sou seu amigo. Sabe que pode contar comigo. — Liam parece chateado e eu não tenho tempo de me desculpar quando a médica surge a minha procura.

— Senhor Tomlinson, pode ver seu marido agora.

Suspiro aliviado, quase como se estivesse à beira de um desmaio.

— Vai lá, cara, eu olho eles. — Payne aperta meu ombro, segurando o carrinho.

— Obrigado, Liam. — Sorrio contido, seguindo a doutora por entre as várias portas brancas até pararmos em frente a uma com o nome Harry Tomlinson gravado — Como ele está?

A mulher de curtos cabelos negros e óculos de grau afunda as mãos nos bolsos do jaleco.

— Bem, por sorte os cortes foram superficiais. Ele perdeu pouco sangue, acho que tudo se deu mais pelo susto. — Balanço a cabeça rapidamente — Fizemos uma ultrassom só pra garantir e o feto está bem, ele ainda é muito pequenininho, mas não há dúvidas de que é forte. Harry acordou há algumas horas.

— Acordou?

— Sim, foi bastante estranho, ele não parava de falar sobre o quão pressionado se sentia pelos pais e que a escola e as provas estavam acabando com ele, além do fato de ser o saco de pancada dos atletas.

— O quê? Ele está delirando?

Ela torce os lábios, ajeitando o óculos quando ele escorrega pela ponte do nariz.

— Talvez ou pode ser uma lembrança...

— Eu acho isso impossível, Harry estudou em um colégio interno e via a mãe duas vezes ao ano, ele nunca estudou pra prova nenhuma e era um atleta, na verdade o mais popular deles. Não tem como isso ter acontecido com ele.

— Sendo assim, pode ter sido um delírio. — A médica concluí, ainda parada na minha frente — Seja como for, tentativa de suicídio é uma coisa grave e ele precisa falar com alguém sobre isso, podemos encaminhá-lo para...

— Tenha a certeza de que assim que ele receber alta irei marcar uma consulta com o nosso psicólogo. — Digo impaciente. Eu quero vê-lo.

— Por favor, faça isso. — Ela sorri e então me dá licença, com seus saltos martelando pelo chão. Viro a maçaneta, entrando no quarto de hospital.

Ele é espaçoso e arejado. Cortinas de seda, vasos com flores frescas, sofá confortável e uma cama grande o bastante para que Harry pareça pequeno nela. Seus longos cabelos cacheados estão esparramados pela fronha, emoldurando o rosto pálido dele, que não tem nada de abatido. Ele parece ótimo, como se estivesse em um de seus sonos de beleza, o peito coberto pela camisola padrão e o lençol puxado até seu ventre, toco-o com gentileza, sabendo que embora o bebê ainda não possa chutar ele está lá, em segurança.

Contorno as maçãs levemente rosadas de seu rosto, descendo meu indicador até seus lábios que permanecem suaves e corados.

Ele parece bem.

Tudo parece bem.

Mas meus olhos me traem ao olhar para suas mãos em cada lado do corpo, com grossas ataduras ao redor dos pulsos.

Não me atrevo a tocar, apenas tomo distância. Sentando no sofá, do outro lado do quarto e fechando os olhos.

Eu quase o perdi...

— Você está perdido? — Encaro os grandes olhos verdes do garoto que segura a porta, ele não era bem o que eu tinha imaginado. Alguns cachinhos achocolatados escapam de sua touca preta, da mesma cor da blusa de malha com a gola tão cavada que expunha o peito levemente bronzeado, alguns rabiscos que eu presumo serem suas tatuagens e um colar prateado com uma cruz. Suas calças parecem legging feminina pelo quão agarradas ficam em suas coxas fartas e coladas uma na outra, devido aos calcanhares cruzados.

Mas o mais incrível se encontrava naquele rosto banhado em uma luxúria condensada com inocência refletida naqueles olhos atrevidos, nos traços marcantes e nos lábios vermelhos e inchados que se cerravam diante da minha presença.

Ele não parecia em nada com os traficantes que eu estava acostumado.

— Você é Harry Styles, estou certo? — Leio na ocorrência e ele assente — Agente Louis Tomlinson, da policia de Nova York. Recebemos uma denúncia de que você está traficando drogas ilícitas.

— Eu? Oh, que absurdo. — Ele ri debochado. Péssimo mentiroso, Harold.

— Seja como for, eu tenho um ordem de busca e apreensão. Com licença.

Ele não sai do meu caminho.

— Não pode entrar no meu quarto. Isto é abuso de poder.

Ergo o mandato na altura de seu rosto.

— Como pode ler aqui, senhor, não estou infligindo nenhum de seus direitos como cidadão. Agora, deixe-me fazer o meu trabalho.

Styles lê com extrema lentidão, me ignorando propositalmente.

— Senhor Styles?

Bufo irritado. Estou no corredor de uma fraternidade, com um bando de adolescentes andando de um lado para o outro, falando alto e agindo feito crianças. Quando um deles mexe comigo eu perco a paciência.

— Com licença. — Invado o dormitório de uma vez, batendo o ombro no seu.

Seu quarto é uma bagunça terrível, com uniformes do time de basquete, pôsteres do M. Jordan e garotas de biquíni, uma coleção de bonés em uma das prateleiras e outra cheia de bonecos dos Power Rangers.

Uma mistura de fratboy com nerd.

— Isso é ridículo! — Ele resmunga quando eu começo minha busca. Vasculhando toda aquela zona a procura da maconha.

Suas coisas são esquisitas e uma não tem nada a ver com a outra. Quantos garotos moram neste quarto? Parece que há no mínimo cinco pessoas diferentes.

— Eu deveria denuncia-lo por me importunar tanto.

Depois de vinte minutos não há nada.

Talvez tenha sido só mais um trote. Eles vivem fazendo isso e como sou novo no departamento eles me mandam para averiguar.

— Certo. Está limpo!

Ele sorri convencido, expondo um par de covinhas. Filho da puta bonito!

— Eu disse.

— Está bem, desculpe o incômodo. — Suspiro, afastando a franja dos olhos e Harry já está abrindo a porta para que eu saia de uma vez quando meus olhos param em uma bolsa de lantejoulas cor de rosa. A pego do closet e abro, encontrando justamente o que eu imaginava — Aqui está.

Balanço o pacote com cerca 100g diante de seus olhos que dobram de tamanho.

— Eu... Eu nunca vi isso na minha vida. Deve ser do meu colega de quarto, sim, com certeza é do Michael. — Diz apressado.

— Eu falo mais tarde com o Michael, agora você vem comigo. As mãos atrás do corpo. — Ele não obedece e ainda faz cara feia. Reviro os olhos, virando seu corpo e puxando seus pulsos para atrás de suas costas, algemando-o — Você está preso por tráfico. Você tem o direito de permanecer em silêncio; tudo o que você disser poderá e deverá ser usado contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Se não puder pagar um advogado, um defensor lhe será indicado. Entende os seus direitos?

— Isso é absurdo!

— Não ouviu quando eu disse sobre o seu direito de ficar calado? Deveria usá-lo. — Guio o traficante-mirim pelo corredor da fraternidade, com todos olhando, o garoto abaixa a cabeça e eu quase, quase, sinto pena.

Seguimos até meu carro e ele guincha quando o empurro para dentro do mesmo sem delicadeza. Entro, girando a chave e encontrando seus olhos me encarando pelo retrovisor.

— Acalme-se, garoto, esse não é o fim do mundo. Logo, logo, mamãe ou papai irão pagar sua fiança e não precisará me ver nunca mais.

Sua expressão endurece ainda mais, seus olhos aguados.

— Eu te odeio.

Será que ele me odeia?

Batuco meus dedos contra meu estômago, com a cabeça latejando e uma dormência agoniante dominando meus membros.

— Hm... — Salto do sofá no momento em que o ouço — Lou.

— Oi, gatinho, estou aqui. — Digo, me prostrando ao seu lado na cama, afastando uma mecha de cabelo que cai em sua bochecha. Ele pisca devagar, franzindo as sobrancelhas.

— Onde estou? O que aconteceu? — O timbre rouco me conforta como nenhum outro.

— Você não se lembra?

Harry se remexe, tanto inquieto quanto sonolento, sem reconhecer o local.

— Eu lembro de ter ido a lavanderia.

— Lavanderia? E o médico? Você se lembra de ter ido ao médico? — Questiono com cuidado.

— Não. Só lembro da lavanderia, eu caí lá?

Lavanderia, ele disse algo sobre ter que ir até lá de manhã, mas depois foi até o hospital onde nós tivemos o nosso desentendimento e ele deve ter voltado pra casa, cuidado das crianças, os colocado no berço e então resolveu tentar o suicídio. Eram memórias demais para terem sido apagadas.

— Hazy, você não lembra de ter me visto depois que eu saí de madrugada? Ou talvez de ter feito algo com você? Com o seu corpo?

— Nah. — Ele parece meio dopado.

— Tem certeza? — Me aproximo, deixando que ele esconda o rosto em meu peito.

— Harry só foi a lavanderia. — Ótimo, agora ele vai falar de si mesmo em terceira pessoa.

— Okay, Harry. — Beijo sua testa.

Me aproveito da cama larga para deitar ao seu lado, o abraçando com todas as minhas forças e adormecendo com sua respiração quente em meu pescoço.

Xx

Harry não se lembrava de nada.

Nem uma mísera lembrança do que aconteceu depois que ele saiu da lavanderia naquela manhã. Ele estava confuso e assustado por não saber como ou porquê foi parar em um hospital e depois de conversar com a médica, chegamos a conclusão de que ele poderia ter tido um surto e que não estava consciente quando cortou os pulsos, então não restavam memórias e o melhor a se fazer, no seu estado frágil e como gestante, seria omitir temporariamente sobre o ocorrido, mas encaminha-lo o quanto antes a um profissional.

No fim das contas, meu marido acreditou que havia caído da escada e feriu os pulsos durante a queda. Isso o deixou apavorado em relação ao bebê, porém, após saber que ele estava bem, relaxou.

Acabei por pedir o fim de semana de folga e como Nicholas estava tão preocupado com Harry aceitou na hora.

Ninguém além de mim e da médica que o atendeu sabia da verdade.

Ninguém mais precisava saber.

Foi apenas um susto.

Nada mais.

A única coisa que importa é que estamos aqui, estamos juntos, com suas costas suadas grudando no meu peito ofegante e seus quadris se chocando contra o meu, minhas bolas estalando em sua bunda a cada nova investida. Deixando sua pele de porcelana em um tom vibrante de rosa.

— Mais rápido, mais rápido. — Ele geme, agarrando o lençol e jogando a bunda de encontro ao meu pau que se encontra firmemente enterrado dentro dele. Meus dedos apertam a carne macia ao redor de seu quadris e Harry grita.

Não passa das dez e nossos vizinhos já devem estar nos ouvindo.

No entanto, não é como se eu pudesse negar ao meu marido grávido e tão cheio de hormônios uma inocente foda no meio da manhã, ainda mais de lado onde eu posso continuar a abraça-lo e ter meu pênis tão bem acolhido por sua entrada. Era o tipo de sacrifício que eu fazia com prazer, muito prazer.

Chupo seu pescoço, sugando sua pele até ter uma marca vermelha se formando. As unhas curtas de Harry estão se afundando na minha bunda, me puxando para ele, me querendo cada vez mais fundo.

— O quão fundo você me quer? — Sussurro em seu ouvido, com a voz embargada de gemidos e ofegos — Talvez aqui. — Fodo com força sua próstata sensível e ele trêmula inteiro, levantando a perna direita para poder me sentir ainda mais e minha mão sobe até seus mamilos que encontro com imensa facilidade ao sentir os bicos salientes sendo esfregados por meus dígitos conforme Harry se movimenta.

— Oh, porra, assim, por favor, não para. Não para nunca! — Grita quando eu torço um mamilo entre meus dedos.

Puxo sua mão do meu quadril e a direciono até onde nossos corpos se unem, o fazendo dedilhar meu membro e sua entrada alargada e bem preenchida.

— Quer ficar assim para sempre? Com meu pau se afundando na sua... — Deixo um caminho de chupões desde seu pescoço até o ombro — pequena e delicada entrada, é isso que você quer? Deixá-la aberta e se esforçando para me receber, é isso que quer?

O som que escapa de seus lábios é tão baixo que soa como um ronronar, observo como seus dedos continuam onde estão alisando o anel de músculos avermelhado e abrindo ainda mais sua bunda, arranhando sua pele e a deixando ainda mais marcada. Ah, como eu adoraria marca-la com tapas fortes, mas Harry detestava isso, ele era sensível a dor, do tipo que chorava se recebesse um tapa e não, não tinha nada a ver com prazer. Ele realmente não gostava disso.

Ele era uma dama e eu precisava tratá-lo como tal, mesmo que ele não costumasse me tratar como um cavalheiro.

— Quero. — Sibila, virando o rosto para mim, com os lábios abertos e molhados, as pupilas enormes e o rosto vermelho. Abandono seu mamilos para segurar seu queixo e sugo seu lábio inferior, gemendo com o quão delicioso ele é, por inteiro. Contorno o superior com a ponta da língua e Harry estende a sua procurando pela minha, me afasto apenas para provocar e quando seus olhos brilham com lágrimas eu o beijo, afundando minha língua naquela cavidade quente e sendo agraciado com sua língua deslizando na minha ao mesmo ritmo que ele rebola, lento e tentador.

Ao mesmo tempo sua mão e a minha envolvem seu pênis e nós dois o masturbamos. O som de nossos dedos correndo por seu pau úmido ecoa, assim como do meu pênis socando em sua entrada apertada e o nosso beijo explicitamente sexual.

Ele vem em nosso punho, com porra espirrando pela cama e em seu tórax. Harry está mole e ofegante quando eu saio de dentro dele, o virando de costas pra cama, monto em seu peito, afastando o cabelo do seu rosto e o tendo livre para mim. Seus dedos cobertos de anéis alisam seus mamilos e ele forma um biquinho ao que pressiono a glande em seus lábios, masturbando meu membro.

Mordo os lábios, movendo minha mão com agilidade, sentindo meu orgasmo se aproximando apenas com a visão daquela face angelical esperando ser banhada pelo meu gozo. Ele fica ainda mais lindo com meu esperma escorrendo por suas bochechas, pálpebras e cobrindo seus lábios.

Estou tão perto e sabendo disso, ele passa a língua pela minha fenda, girando a língua como se provasse seu picolé predileto. E isso é demais!

Os jatos intensos vão de encontro as suas pálpebras, bochechas, queixo, testa e boca e como eu disse, lindo.

Não digo uma palavra, apenas admiro a forma como ela vai escorrendo por sua pele e seu peito se move acelerado, tal como o meu. Reviro a gaveta do criado mudo e pego nossa câmera instantânea tirando uma do rosto de Harry, apenas para eternizar esses momentos divinos.

— Me diz que você não tirou uma foto disso. — Fala com a voz risonha, limpando o rosto no lençol e piscando seus olhos verdes pra mim. Tiro outra foto — Você disse que era pra registrar momentos em família.

— Você é meu marido, ou seja minha família e nós estamos tendo um momento. — Cutuco sua bochecha e uma covinha afunda ali e eu a fotógrafo.

— Ótimo argumento. Deveria ter seguido como advogado mesmo, Tomlinson.

— Não, eu prefiro mil vezes as ruas do que um tribunal. — Digo, focando a lente em seus mamilos, prendendo a pontinha entre dois dedos e Harry se arqueia e dá uma belíssima foto — Talvez eu largue a polícia e vire fotógrafo, o que você acha? — Tenho outra ideia e também pego uma canetinha azul que vive jogada pela gaveta e a uso para rabiscar a barriga dele, limpo o gozo, é claro, antes de desenhar um coração bem grande e escrever Leslie acima do umbigo.

— Louis, quem é Leslie?

— O bebê! É um ótimo nome, serve para menino ou menina, e caso ele queira mudar de gênero, sei lá... Só vai ser mais prático. — Mais uma foto.

— Então vamos seguir o mesmo método que fizemos com o Spencer e o Blake?

— Uhum. — Deixo a câmera na cama para tornar a vira-lo, desta vez o deixando de bruços.

— Lou, o que é que você está fazendo? — Pergunta, com a voz saindo abafada por conta dos travesseiros.

— Tirando fotos, já disse. — Coloco um travesseiro por debaixo do seu quadril para tê-lo erguido pra mim e escrevo Daddy Property em uma banda de sua bunda e uma flecha em direção a sua entrada. Do outro lado fica BoyToy.

— Para, eu tô com vergonha.

— Vergonha de quem? De mim não pode ser. — Brinco, beijando sua entrada rubra e a fotografando também, afundo apenas a pontinha do dedo a puxando um pouco para deixá-la aberta e poder fotografa-la.

— Da câmera. Eu tenho vergonha da câmera. — Ele resmunga e fecha as pernas.

Reviro os olhos, tirando mais algumas fotos de várias partes do seu corpo até que eu volte a me deitar ao seu lado, com um monte de polaroides em cima do meu estômago, começo a olha-las e é claro que aquele cacheado curioso começa a se aproximar esticando o pescoço pra ver a si mesmo.

— Oh, eu tenho um bumbum fofinho.

Gargalho de seu comentário inocente.

— Não ria de mim.

— Desculpa, babe. — Seco os olhos depois de tantas risadas — Você tem o bumbum mais fofo do mundo. — Continuo passando as fotos.

— BoyToy, é? Daddy Property? — Harry arqueia uma sobrancelha, pegando as duas fotos para examinar melhor.

— Foi brincadeira. — Tento explicar antes que acabe em briga.

— Por acaso eu sou o seu brinquedinho sexual, que você usa como bem entender? Hein? Ou então que eu sou o baby do daddy que vive implorando pra ser fodido? — Sua voz baixa muitas oitavas e seus olhos se estreitam.

— Amor...

— Quer que eu use uma coleira com o seu nome e gema pra você como uma vadia? Você quer?

Engulo em seco, sem saber o que dizer.

De repente ele explode em uma de suas risadas esquisitas e eu não sei se deveria rir ou não. Cara estranha, me define.

— Meu deus, Louis, que cara é essa? — Ele fica de frente para mim, esfregando o nariz na minha bochecha e terminando de olhar as fotos. Apenas de olha-las eu fico excitado, principalmente com as de sua entrada abusada e vermelha — Você gosta dessa? — E é justamente sobre ela que ele pergunta.

— Muito.

— Vai andar com ela na carteira?

— Possivelmente.

— E vai fugir no meio do expediente para ir até o banheiro e bater uma apenas olhando pra ela?

— Com certeza. — Garanto, sem hesitação e Harry permanece sem expressão e então a pega e leva até os lábios, deixando um beijo nela antes de me devolver — O que vai fazer com as outras?

— Bom, todas vão para a minha caixa da punheta.

— Ah sim, aquela caixa... Ainda com um monte de fotos do Channing Tatum?

— Sabe que ele é o homem da minha vida. — Acaricio suas costas, Harry resmunga — Eu sei que você tem uma com um monte de fotos do Ian McKellen. Isso é sinistro.

— Todo mundo tem tesão no Gandalf.

— Não, todos tem tesão no Aragorn, alguns esquisitos no Frodo, mas definitivamente Aragorn.

— Talvez eu seja o mais esquisito de todos então. — Ele passa a perna por meu quadril, beijando meu queixo.

— Você é louco, Hazy.

— Tem razão. Eu sou insano. — Cantarola, arranhando minha nuca e me beijando novamente, afoito e desesperado, como se não tivéssemos transado há alguns minutos. O deixo dominar por completo, mordendo meus lábios e sugando minha língua como bem entendesse e sei lá, parece diferente. Principalmente pelo fato dele estar roçando em mim, em que mundo Harry estaria esfregando seu pênis sensível em mim? Não neste.

— Shhh, bae, calma. — Seguro seu quadril, quando ele fica enérgico demais e eu temo que ele acabe se machucando — Relaxa.

O cacheado fecha os olhos e respira fundo e assim permanece conforme o tempo vai passando e as nuvens lá fora vão dando lugar ao sol de início de verão.

— O que acha de fazermos algo especial hoje. Já que podemos estar passando esse tempo juntos.

— Tipo o quê?

— Hm, que tal piquenique?

Harry abre apenas um olho e belisca meu mamilo.

— Você me come e depois me alimenta, muito esperto, Tomlinson, muito esperto.

Xx

Ao meio dia meu carro estava debaixo do sol quente no estacionamento do central park. Harry estava estirado na toalha quadriculada, na sombra, usando seus óculos rosa choque da Gucci e pintando as unhas, beliscando ocasionalmente os cookies que conseguimos ao visitar o restaurante de Anne, já que resolvemos fazer um piquenique e esquecemos de fazer compras. Quem sabe se Harry não tivesse o costume de demorar tanto no mercado nós poderíamos ter ido, mas eu preferi não arriscar e ir até onde sabia que encontraria boa comida sem precisar pagar.

Spencer pedalava em sua motoca do Homem-Aranha com um boné xadrez, igual ao meu e Blake corria sem camisa pela grama usando o Fedora de Harry que cobria seu rosto quase inteiro. Ele ria alto com seus pés descalços e ligeiros indo o mais longe possível de mim, mas eu sempre o pegava em questão de segundos e então era a sua vez de correr atrás de mim tentando me pegar.

— Eu pega você! — Blake anunciava, tentando chegar até mim.

Tive um momento para me orgulhar por ele ter dito aquela frase quase que completamente certa e voltei a correr, desviando de Spencer em seu dirigível.

Estávamos indo bem. Com o dia fresco e agradável, sem possíveis assassinatos sanguinários ou tentativas de suicídio a vista. Era apenas eu e minha família se divertindo, até os outros integrantes dela surgirem.

Sonny, que perseguia um pássaro corria feito um louco e no meio do caminho trombou com Blake que caiu e bateu o joelho em uma pedra e qualquer um num raio de 20km podia ouvir seus gritos.

— O que foi? — Harry correu até nós, me afastando como se eu fosse um intruso e checando o joelho ensanguentado do bebê — Droga, Louis! Você não consegue nem ao menos cuidar deles, olhe só pra isso. — Agarra Blake e o esconde sob sua asa, voltando para a toalha.

Deve ser só mais uma oscilação de humor. Resolvo deixá-lo cuidando de Blake e vou dar uma volta com Sonny e Spencer, mesmo sendo minúsculo ele insiste em levar a guia do cão e eu deixo.

Paramos em frente a um sorveteiro e eu pergunto qual ele vai querer.

— Moango, por favô. — Diz com a voz infantil e então pego seu picolé e o entrego. Comprando para os outros dois também.

— Gostou? — Indago, quando ele termina, me ajoelho para limpar seu rosto todo sujo.

— Sim, papai, porque o papa bravo?

— O papa não está bravo, apenas preocupado. Ele não gosta quando vocês se machucam. — Explico, tentando limpar as manchas rosadas da gola de sua regata sem sucesso.

— E fala sozinho?

— Ele fala sozinho? — Ele balança a cabeça devagar, com os olhinhos assustados

— Papa oco?

— Não, Spen, papa não é louco. Isso é normal, okay. — Aperto seus ombros miúdos.

— Mas você não fala sozinho.

— Claro que falo, de vez em quando tudo bem.

— E brigar sozinho?

Ele fala e briga consigo mesmo? Mas que porra é essa?

— Acho que precisamos nos apressar e levar esses sorvetes antes que eles derretam. — Spencer concorda e me dá a mão, chamando por Sonny que está farejando os pés de uma senhora.

Quando retornamos Harry não está mais tão puto comigo e voltamos a aproveitar o passeio, Mona e Shae dormem dentro da cesta de piquenique vazia após comermos tudo o que havia lá, as barrigas dos gêmeos estão estufadas e Blake virou um bebezão depois de ter se machucado, agarrado a Harry como um filhotinho ele dormiu em seus braços e não acordou mais. Spencer e eu jogamos bola e frisbee com Sony até o sol ir baixando e ser hora de ir embora.

Prendi os dois em suas cadeirinhas, mesmo se engalfinhando Sonny, Shae e Mona ficaram em harmonia. Terminava de guardar a cesta no porta-malas quando notei Harry ainda em pé, com a porta do carro aberta. O fechei e caminhei até ele, dando um toque na piranha escura na parte de trás de seu cabelo.

— Qual é da piranha?

— Meu cabelo fica caindo no rosto. — Bate nos bolsos do shorts da Adidas, provavelmente a procura do celular.

— Deveria fazer um trança. A Lottie gosta tanto quando você trança os cabelos dela. — Um vento mais forte sopra contra nós e ambos os cabelos se revoltam e caem em nossos rostos — Acho que eu preciso de uma trança também.

— Seria ótimo se eu conseguisse fazer em mim.

— Então me ensina e eu faço em você.

— O quê? Você faria isso por mim? — Pergunta com descrença.

— É claro que sim. Não há nada que eu não faria por você. — Dou um passo pra frente, beijando o sinal próximo a sua boca — Eu te amo.

Os ombros do meu marido caem e ele entrelaça nossos dedos.

— Desculpa por ter sido rude mais cedo.

— Não precisa se desculpar, eu entendo. — Seguro seu queixo — Na verdade eu fico feliz que você vire um leãozinho quando se trata dos nossos filhos.

— Leãozinho? — Faz careta, soltando minha mão — Respeite meu espírito aquariano.

Não consigo segurar a risada.

— Me esqueci que você tem essa coisa com signos e tal, lembra quando você me veio com essa de aquariano?

— Você pensou que era algum tipo de religião. — Responde, desapontado como sempre por eu ser uma merda nessa coisa de astrologia.

— Queria o quê? Você me disse que não podíamos ficar juntos por capricórnio e aquário terem poucas chances e a lealdade não era das melhores. Eu pensei que era coisa de religião mesmo. — Rio dando a volta e entrando no carro, junto com ele.

— Vimos que pelo menos na parte da lealdade eu estava certo. — Harry retruca e um mal estar me sobe na hora.

É, tem isso ainda.

Se ele esqueceu do resto daquele dia, também deve ter esquecido que Michael Clifford está de volta a cidade e trabalhando em um caso comigo.

Abro a boca, prestes a contar a ele sobre isso, mas me interrompo antes mesmo de falar. Tem uma menina, do outro lado da calçada pulando corda. Jardineira rosa e cabelos soltos, longos cachos grossos que pulam a cada salto que ela dá, grandes olhos verdes brilhando pela animação de não ter errado nenhuma vez, ela é pequena, sete, oito anos no máximo e por mais que ela não seja idêntica é o bastante para resgatar a lembrança de Eve.

Eu sei, apenas de observa-la isso acontece.

Harry está encarando, ele nem ao menos pisca, sua mandíbula treme e eu não sei o que dá em mim quando digo:

— O caso vai ser fechado.

— O quê?

— Grimshaw me disse que a diretoria decidiu assim. Não tem provas, nem nada, três anos e nenhum resultado. É perda de tempo. — Olho para a frente, porque não quero ter de encara-lo enquanto digo isso.

Ouvi-lo soluçar machuca do mesmo jeito.

— Eu sinto muito. Me perdoa, eu causei tudo isso.

Me atrevo a olha-lo de soslaio e Harry está com os joelhos dobrados contra o peito, escondendo o rosto de mim, do mundo. Ele gostaria de poder sumir agora.

— Eles queriam te matar, a culpa não foi sua. Eu sabia dos riscos quando quis ficar com você, eu sabia, sempre soube.

Aperto meus olhos para não me deixar chorar, tento tocar seu joelho, mas ele recua.

— Só me leva pra casa!

— É claro, querido. — Engulo o bolo em minha garganta e começo a dirigir.

Xx

Quando a lua está beijando o céu e as estrelas salpicam toda a negritude infinita, meus filhos estão desmaiando depois de fazerem uma maratona de Bob, o trem. Depois de levá-los para seu quarto e lavar a louça do jantar, caminho em minhas meias com estúpidas girafinhas – cortesia da dona Johanna – pelo assoalho de madeira, um pouco lascado e manchado por nunca ter sido trocado desde que compramos a casa, mas eu sempre gostei do quão rústico ele é e dos rangidos que faz a um passo mais pesado.

Eu passo reto por nosso quarto, porque sei bem a onde ele está.

A porta tem um rangido sofrido quando eu a abro, encontrando Harry descabelado e ainda de roupão sentado na cama, abraçado a colcha cor de rosa, em meio a bonecas, ursinhos e almofadas coloridas. Os livrinhos de colorir nas prateleiras permanecem em branco, assim como todos aqueles vestidinhos da queima de estoque da Gucci de 2015.

Nós nunca tiramos uma poeirinha sequer de lugar, apenas passávamos o aspirador por cima e abríamos a janela para entrar um pouco de ar, de resto era exatamente como ela deixou naquela manhã, antes de ir para o ballet, indo nas pontas dos pés até Harry que lia um livro sentado no sofá lhe dar um beijo de despedida e um tapinha em sua barriga redonda que era uma espécie de high five com os irmãos. Evangeline bagunçou o pelo de Sonny e prometeu que voltaria antes do almoço, Harry me disse que ele ficou na janela esperando e bem, até hoje é onde ele fica quando a hora do almoço se aproxima.

Não como se ele pudesse entender que ela não vai mais voltar. Eu mesmo tenho dificuldades para compreender isso e tem vezes que espero com ele.

Evangeline está morta há três anos, mas neste quarto é como se ela ainda estivesse bem aqui. Talvez lá embaixo, assistindo televisão enquanto janta seu macarrão instantâneo com catchup.

Eu sinto falta dela.

— Eu também. — Harry diz e percebo que disse aquilo em voz alta — A terceira gaveta da escrivaninha. — Ele aponta com o dedo trêmulo e eu sei bem o que guardamos ali.

Uma avalanche de sentimentos parece estar sempre pronta para rechear nossos dias. Pela manhã estávamos nos ocupando em transar e tirar fotos indecentes e a noite ele me pede isso.

— Harry, eu não...

— Eu preciso disso, por favor, apenas faça.

Prenso os lábios e a contragosto vou até a escrivaninha e tiro da terceira gaveta a pasta azul. Dou o play em seu radinho da Barbie e o único CD que ela tinha e que costumava ser o seu preferido começa a rodar.

E enquanto os Extreme cantam More Than Words, tão adulta, penso ao abrir a primeira página do arquivo, sentando em uma poltrona onde eu costumava sentar para lhe contar histórias de dormir.

— Evangeline Anne Tomlinson, nascida em 11 de fevereiro de 2007, em Manhattan, Nova York. Filha de Louis William Tomlinson e Harry Edward Tomlinson. — Pulo os demais detalhes que estou cansado de reler e vou direto ao relatório — No dia 8 de maio de 2015, às 13h45min, na Fulton Street, uma emboscada foi armada contra o agente especial do FBI, detetive Louis Tomlinson, na segunda parada feita pelo veículo, modelo Mustang Shelby GT, dois carros os cercaram, na traseira e na frontal, efetuando os disparos com as armas de fogo ( não identificadas ). Foram encontrados exatos noventa e seis projéteis. A vítima foi alvejada, recebendo trinta tiros, oito destes na cabeça e falecendo no local. — Prendo o ar, piscando algumas lágrimas que tentam se desprender dos meus olhos. Eu odeio chorar. Ainda mais quando a imagem dela surge de modo tão vivaz, pequena, frágil, meiga e morta.

Os pais não deveriam ver os filhos morrer.

Muito menos com oito tiros na cabeça, deixando sua coroa de rainha das fadas manchada de sangue.

Desvio a atenção do papel quando ouço um som de engasgo, encaro Harry que permanece estático, com o punho fechado rente a boca, relutante ao enjoo que eu sei que sobe a sua garganta. Eu faço o mesmo.

— As fotos. — Geme, me estendendo a mão.

— Eu não... — Ele rosna e eu cedo. Puxo as fotografias, mantendo-as viradas porque eu sinceramente não suporto mais ver isso.

As despejo no colo dele e Harry as vira lentamente, enquanto eu retorno ao meu lugar, seus olhos examinam vagarosamente cada imagem assustadora. Aquilo tudo ainda parecia um filme de terror para mim.

Então ele está chorando e só me resta olhar. Sei que quem olha de fora pensa que eu sou um marido de merda – coisa que eu também sou – mas acontece que nenhum de nós é bom nessa coisa de ser casado, de ser um casal mais especificamente, éramos basicamente incapazes de se apoiar e buscar força um no outro, sempre fomos individualistas e até mesmo egoísta quanto aos nossos demônios e sofrimentos.

Prezamos religiosamente por nosso espaço, nosso momento de solidão para desfrutar plenamente da dor.

E ao outro só resta olhar e esperar, tomar um banho, assistir algum filme e poder retornar aos braços do outro como se nada tivesse acontecido. É assim que a gente faz e tem funcionado ao longo dos anos.

Doze anos. Uau.

— Leia, de novo. – O timbre rouco ecoa. Obedeço retomando a leitura.

Após o que parecem ter sido horas posso observar Harry desmaiado na cama de Eve, depois de devolver o arquivo a gaveta, debatendo comigo mesmo a possibilidade de me desfazer dele na lareira e desistindo logo em seguida, o cubro com a mesma colcha que ele permanecera agarrado, fecho as janelas e me despeço com um beijo na testa.

Deixe que ele passe essa noite com ela.

Saio do quarto seguindo até o nosso. Minhas roupas são jogadas no velho sofá amarelo de canto, as imensas janelas dando abertura para a noite ventanosa e uma careta pouco atraente se forma em meu rosto quando paro diante do espelho do guarda-roupa, ele sendo longo o bastante para me dar uma visão completa do meu corpo.

— Um. — Conto, dedilhando a marca em meu ombro — Dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito... — Persisto tocando meu peito e estômago — , nove, dez, onze... — Todas as três na mesma região do antebraço e eu continuo, contando cada uma das marcas que nunca desapareceriam da minha pele. São tantas. Algumas balas ainda alojadas por motivo de é melhor não mexer e por aí vai, mesmo espalhadas por toda a parte nunca me incomodaram, eu meio que gostava delas por serem um lembrete constante de que eu falhei na única coisa que não tinha o direito de falhar. Passo a palma da mão pelo rosto, afastando minha franja da testa e expondo a pequena cicatriz ali presente. Um pouco mais para o meio e eu não estaria aqui, a mesma bala que me acertou de raspão acertou em cheio a minha filha... Como conviver com tamanha culpa? Nem eu sei, acho que eu venho apenas existindo a procura da resposta dessa pergunta. Respiro profundamente, encarando minha imagem refletida, gostaria de poder dar um soco na cara do idiota que encara. Eu não gosto dele — Vinte e três. — Concluo com o meio tiro em minha testa.

Eu fui acertado vinte e três vezes e aqui estou.

Um sobrevivente, um herói, um maldito.

Apago as luzes, fecho os olhos e por pelo menos algumas horas finjo que tudo não está um verdadeiro caos. Ao menos por hora vamos fingir que tudo está bem.

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