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│29│ursa major


❌ESTE CAPÍTULO POSSUE VIOLÊNCIA EXTREMA (EM TODOS OS SENTIDOS) ❌


Eu não deveria ter chorado, eu não deveria ter sido dilacerado
Eu não poderia dizer nada disso
Mas de agora em diante, eu tenho uma doença incurável
Você é meu início e meu fim, isso é tudo
Meu novo encontro e minha despedida
Você foi meu tudo
OUTRO: Tear - BTS

. . .

Do lado de dentro do clube é escuro, as luzes brilham e caem sobre nós, iluminando e levando às trevas novamente os rostos dos corpos que se aglomeram nos bares, mesas e pistas. Em cabines apertadas mais de meia dúzia de pessoas se espremem para conseguir uma cheirada promocional antes que o traficante aumente o preço, em outras cabines coisas mais pesadas rolam, agulhas se afundam em braços marcados, cristais deslizam entre dedos nervosos e notas amassadas são rapidamente enfiadas em bolsos junto a anéis de casamentos e a poupança para a faculdade do filho.

Sei de tudo isso porque já perdi as contas de quantas vezes estive neste lugar, de quanto tempo perdi dentro daquelas cabines me drogando, me enervando da vida. Esse lugar é o que eu chamaria de fundo do poço, a maioria que passa por aqui está caminhando para o destino final, um pé na cova, esse é o impulso que resta.

Quem me apresentou esse clube continua aqui e é atrás dele que eu vim hoje.

Entrar não foi difícil, eles realmente não gostavam de se opor quando um grupo grande de esquisitões aparecia na porta, não gostavam de confusão ou chamar a atenção, então só saíram da frente. Se eu estivesse sozinho poderia ter encontrado alguma resistência, a essa altura não estava com paciência para planos mirabolantes, a polícia, o FBI, todo o mundo estaria atrás de mim e isso me obrigaria a pensar dez vezes mais, assim, estava satisfeito por poder me manter irreconhecível dentro do grupo.

Uma vez dentro, ordenei que se espalhassem. O avistei em uma cabine, estava com uma agulha, como nos velhos tempos.

— Leve-o para o quarto. — Disse a Cassandra, ela assentiu seguindo a direção contrária a minha.

Os meus longos anos perdidos aqui me deram certos privilégios como saber que a melhor forma de driblar os seguranças que guardavam as suítes era se esgueirar pela porta do DJ que sempre se mantinha como a pessoa mais chapada do recinto, ele tocava November Rain, a parte final escandalosamente alta e tenebrosa que o deixava alheio a tudo que acontecia ao seu redor como eu entrando na porta às suas costas, passando pelo pequeno camarim fedido e saindo no corredor estreito. Sem câmeras. Pessoas importantes frequentavam esse inferninho e faziam coisas bem erradas e não tinham o menor interesse em serem desmascaradas sobre isso, então, sigilo absoluto.

Caminhei forçando os olhos sobre os números dourados nas portas brancas, eu sabia o número só precisava lembrar... 19. Isso, 19! Uso de um grampo que fisguei do cabelo de Cassandra no momento em que entramos aqui e destranco a porta, adentrando rapidamente, fechando novamente em seguida. O lado de dentro é como sempre foi, apático, sem graça, exceto que ele notavelmente se mudou para cá, uma poltrona espaçosa de couro ocupa metade da sala, a TV é outro exagero, a adega está lotada de uísque – o que ele bebe desde que o conheço – me sirvo de uma dose, não encontro papéis, nada que remeta ao trabalho ou ao que ele faz, quanto a isso segue cuidadoso. Bebericando do meu drinque, continuo a vasculhar o quarto, há uma parede separando a sala da suíte e é bem ali que dou de cara com uma figura familiar.

Paro a uma distância segura – como se um quadro pudesse me machucar, bem de certa forma, pode – engulo com amargor, sentindo o nó crescer na garganta. É como um fantasma do passado, mas um fantasma bem vivo. É estranho concluir que essa imagem pertence a alguém de verdade, eu quase consigo associar o rosto a pessoa, na verdade ela não se parece com ele, nunca pareceu. O seu rosto me remete a uma garota pequena, os olhos ocultados seriam grandes e expressivos, porém ágeis e atentos como os de uma raposa e castanhos, enegrecidos ao cair da noite. Com um brilho de malícia.

A pele macia, aveludada, de formas voluptuosas e sensuais e ela sabe usar isso como ninguém. Absurdamente linda, tal como ardilosa. A número três. A terceira inquilina, indesejada. A impertinente, complexa, maquiavélica, fingida, cretina, sedutora, adorável, cativante, vadia, a ilustre senhorita Sugar.

Seu quadro está bem diante de mim.

Lábios rosados, feridos e inchados entreabertos, o rosto redondo, fios de cabelos soltos sobre sua nuca e uma pequena flor.

A sereia que enfeitiça e destrói.

Então, Grimshaw comprou o quadro dela. Que bom, eu não fazia ideia, mas isso soa como um lembrete, um motivo a mais do porquê estou aqui e porque vou matá-lo. Detestaria ter uma crise existencial enquanto fazia o serviço.

Bebo mais um gole, mas o final parece raspagem na boca e jogo o copo contra a pintura. Quero dar as costas e fingir que nada me abala, ainda assim estou arrastando meus pés até lá e tocando a tela, sentindo a espessura da tinta contra meus dedos, fecho os olhos, aproximando a testa de sua boca e inspiro. O cheio de uísque combina com ela. É familiar, como a primeira vez que trouxe Harry até aqui.

Era um dos nossos primeiros encontros e pensei que ele fosse ficar acanhado, invés disso ele deu um show, bebeu e dançou como nunca imaginei que ele soubesse e ao final da noite quando sentamos em uma das mesas, ele ignorou o sofá confortável para se acomodar no meu colo. Havia algo diferente nele que eu não conseguia identificar, mas estava lá desde o início, só não sabia o que era. Era ela.

Foi quando conheci Sugar.

— Espera, o que está fazendo? — Perguntei sem fôlego, estava uma bagunça enquanto nos beijávamos, Harry nunca pareceu tão eufórico e excitado antes, não me dando tempo para raciocinar enquanto rebolava no meu colo e puxava meu membro pra fora.

— Eu quero trepar, agora. — Respondeu com um gemido, começando a ficar de joelhos para sentar em mim, agarrei seus quadris.

— O quê? Isso é loucura! Não podemos fazer isso aqui. Estamos em público.

Ele estava acima de mim por conta de sua posição e baixou o rosto para me encarar, os cachos espessos caindo ao redor de seu rosto e os lábios inchados e molhados entreabertos ao que um sorrisinho se moldava neles, eu era como uma piada para ele naquela vez.

— Quando vai parar de agir de acordo com a opinião dos outros? — Franzi as sobrancelhas sem entender — Você se importa demais e isso é irritante. Principalmente quando é óbvio que você não está nem aí, você não quer se encaixar, você não quer ser aceito e você definitivamente não está interessado em bancar o bom moço, então porque não para de fingir que liga pra essas merdas e faz a porra que você quiser. Quem pode te julgar, meu amor?

Ouvir aquilo foi como se eu tivesse conseguido um aval, como se tudo o que eu julgava de errado comigo estivesse sendo aceito de bom grado, como se estivesse tudo bem ser quem eu era de verdade, mesmo que isso não significasse uma coisa boa e o beijei, o beijei como se tivesse recebido um novo sopro de vida e empurrei seus quadris para baixo e nós trepamos no clube as vistas de quem quisesse ver. Eu ainda podia ouvir seus gemidos, ele não tentou soar baixo ou ser discreto em nenhum momento. Sem nenhum resquício de vergonha.

Aquilo me assombrou por muito tempo, ainda mais quando lhe dei ouvidos e fiz o que queria. Quando matei um homem pela primeira vez, automaticamente eu me enchi de remorso e arrependimento e entrei para o FBI, para mascarar e suprimir ao máximo o que eu era, apagar cada ação ruim que sabia ser capaz. Eu sempre quis ser aquele que julga, nunca o julgado, de qualquer forma, nada disso serviu de porra nenhuma, olhe a onde estou?

Ao menos Sugar me ensinou uma lição preciosa e que se seguida desde o início poderia ter facilitado algo.

Naquela mesma noite eu apresentei meu então namorado a Nicholas. Eu percebi a forma como ele devorou Harry com olhos, mas nunca pensei que aquilo poderia soar como ameaçador, o quanto aquele homem iria querer o meu marido e até onde iria por ele.

Ouço o ruído da fechadura, chaves tilintando, a risada bêbada do outro lado acompanhada de uma juvenil e visivelmente forçada. Ela se abre e me esgueirei para ficar fora de vista, apesar de duvidar que ele me notaria estando tão bem envolto pelo charme de Cassandra. Os passos vão se afastando em direção ao quarto, mais risadas, Nick conta vantagem e ela se finge impressionada, até que diz com uma vozinha inocente:

— E se nós fizéssemos um jogo?

— Que tipo de jogo?

O tal jogo que ela sugeriu era uma ordem minha. Estupidamente embriagado, Nick foi contra uma das regras primordiais de qualquer tira: não se deixe ser imobilizado. E ele fez justamente o oposto, sorrindo enquanto a garota atava suas mãos com algemas de pelúcia. Quanta cafonice, mas serviria bem ao propósito, uma vez preso a cama, ele sorriu maliciosamente.

— E agora? — Mordeu os lábios com os olhos fixos no decote dela.

— Agora ela sai e eu entro em cena. — Disse, manejando a cabeça em direção a porta, Cassandra parecia reluzente em receber um gesto meu, por menor que fosse. Ela saiu alegremente.

— Porra, Tomlinson! O que faz aqui? Como saiu do hospício?

— Hospício? Que estranho, sempre me disseram que era uma clínica psiquiátrica. — Comento divagando, andando ao redor da cama, sentindo seus olhos escuros sobre mim — A essas horas meio mundo deve estar atrás de mim, você deveria estar participando dessa caçada como um membro sênior do FBI, mas acho que você tem outras prioridades.

Ele engole em seco, estremecendo. Sei o que ele está pensando, que pode prever minhas intenções. Patético.

— Então você fugiu e veio atrás de mim.

— Certo. — Concordo, escuto a porta e um dos mascarados deixa uma bolsa na entrada do quarto. Sean conseguiu outra coisa que pedi.

— E pretende me manter refém, vai exigir auxílio para fugir do país e me usar como moeda de troca.

— Errado.

As sobrancelhas grossas de Nick se unem em desentendimento.

— Louis...

— É tão óbvio que eu vim aqui te matar, Nick, pelo amor!

— M-Me matar, m-mas...? Olha, nós nos conhecemos desde sempre. — Ele tenta reverter a situação, puxando os pulsos, mas não é como se ele pudesse se soltar só com a força do querer.

— E mesmo assim você fodeu totalmente com a minha vida.

— Eu não...

— Vai chamar a Allicent de mentirosa? Cuidado, ela pode surgir aqui do nada só pra te dar uma facada, ela tem uma personalidade terrível.

— Eu não nego que estive do lado deles todo esse tempo. — Admite, por fim.

"Deles", então ele sabe, claro que sabe.

— E como foi esse momento de revelação, eles sentaram com você e abriram o coração? — Digo, um tanto incomodado, parando ao seu lado com as mãos nas costas.

— Não foi preciso, eu soube por mim mesmo, quando você ama alguém você a enxerga de verdade. E eu amo o Harry. — Ele diz entredentes.

Aperto as unhas na palma para não esfolá-lo ali mesmo.

— Você não ama o Harry. — Digo devagar para que ele entenda.

— Claro que amo e ele me ama.

Eu não consigo. É mais forte que eu. Perco a compostura e começo a gargalhar.

Quando consigo reaver o fôlego meu estômago dói pela intensidade do riso.

— Não, Nick, não... Você é um lacaio, um trouxa que acoberta as merdas deles e recebe sexo em troca de manter o bico fechado, ninguém te ama, muito menos o Harry, ele teria nojo de novo. Tão patético.

É visível como aquilo o atingiu, mas ele faz o seu melhor em tentar não transparecer ao incorporar o maldito SAC arrogante do escritório.

— Nojo de mim? Bom, me amando ou não, eu continuo muito bem, e quanto a você? Você foi arruinado, Tomlinson, uma desgraça louca com a cara toda remendada.

— E mesmo assim, mais bonito do que você.

Um novo golpe. Será que consigo fazê-lo chorar?

— Às vezes eu pedia por ele, sabia?

— O quê?

— Às vezes, quando estávamos no meio de uma transa, eu pedia pelo Harry, queria que ele ficasse consciente naquele momento e sempre atendiam ao meu pedido e era incrível. — Nick sorri ao me ver travando a mandíbula — Sabe por que era incrível, Louis? Porque ele nunca entendia o que estava acontecendo, ele tinha aqueles grandes olhos confusos e inocentes e Andrômeda sempre me garantia que ele não tinha controle sobre os braços e pernas, então não tinha nada que ele pudesse fazer para evitar que eu o usasse como quisesse. E ele chamava por você, sabia? Ele chamava como se você pudesse escutar e vir ao seu resgate, mas você nunca veio, Louis. Era maravilhoso te encontrar no escritório no dia seguinte, tão desdenhoso e arrogante, você se achava o todo poderoso enquanto eu fazia o que queria com o seu marido. Ele era a porra da minha boneca inflável e você um maldito corno do caralho.

Eu não esperava ter tanto autocontrole quando ouvi e absorvi cada uma das suas repulsivas palavras, mas eu tinha um plano e queria segui-lo rigorosamente, sei que Nicholas terá exatamente o que merece. Passo uma perna ao redor de seu quadril e sento em seu colo, ele me olha confuso e se remexe.

— Oh, o que foi? Está assustado? Eu estou bem aqui, por que não me faz de sua boneca inflável também? Ah, já sei! Isso só funciona com alguém indefeso, não é? Então foi divertido torturar o Harry, você gostava, se sentia poderoso em saber que estava estuprando o meu marido debaixo do meu nariz, se aproveitando da doença dele, né? Deve ter sido incrível para você, seu doente de merda.

— Você não entenderia. — Resfolega, erguendo o queixo.

— Não entendo mesmo. Mas o que esperar de alguém como você? A propósito, enquanto estava no Hospício eu comecei a refletir sobre uma questão muito importante, algo que não se encaixava. E pelo que me disse ficou ainda mais claro, segundo a Allicent você é um aliado, mas como um aliado dela não resolveria algo que lhe causa tanta agonia, quer dizer, todo o tormento dela gira em torno da morte da Eve, então como você não moveu mundos e fundos para solucionar esse caso para a sua amada? Você literalmente fez tudo para atrapalhar, interromper as investigações, você não queria, ou melhor dizendo, não podia solucionar o caso pelo simples fato de que teria de se entregar.

Nick recua, os olhos arregalados em alerta.

— O que está insinuando?

Não há emoção em minha voz quando digo:

— Você matou a Evangeline.

Ele empalidece.

— Eu nunca entendi porque aquele primeiro disparo não me acertou. Eu pensava que havia me movido, mas a realidade é que ele não era pra mim, era pra ela. Ela precisava morrer para que Andrômeda pudesse crescer, ela nunca teria tido tanto poder se Allicent não tivesse sofrido tanto pelo luto, ou se eu estivesse por perto. Com a morte da Eve, ela conseguiu o que tanto queria, o aval para matar e ela sabia que só o teria dessa forma, foi por isso que ela te deu a ordem.

— Você não pode provar nada disso.

— Não preciso provar, eu já disse! Não vou te levar a julgamento, nem nada disso. Eu só quero que saiba que estou aqui hoje para te fazer pagar pelos seus pecados, você vai morrer pela Eve, pelo Harry e por todas as pessoas inocentes que você ajudou a morrer quando acobertou um serial killer.

— Sabe que se atacar um SAC do FBI nunca mais vai conseguir sair daquele hospício! Você vai morrer lá. — Dispara em uma última tentativa de me refrear.

Sorrio por seu empenho, tirando a faca da cintura, a lâmina afiada contorna seu maxilar.

— Eu já estou morto, Grimshaw, mas você... Eu não te dou permissão pra morrer ainda.

Empurro a faca contra sua pele e começo a cortar.

— Espera! — Berra tomando consciência do que estou fazendo — Espera! Louis! Louis, por favor!

— Era assim que ele fazia? Era como ele gritava por mim? — Movido pela raiva desço a lâmina com mais violência, seus gritos desesperados são como música para os meus ouvidos. A boate lá embaixo é tão escandalosa, eu posso fazer o que quiser e ninguém nunca sequer notará.

Aos poucos a pele vai se separando dos ossos, músculos, carne, há muito sangue, mas nada que não fosse esperado, é apenas incômodo como Nicholas esperneia sob mim. Covarde.

Enquanto corto penso na expressão de medo no rosto de Eve antes de receber uma bala na testa, penso em Harry confuso e assustado, tentando escapar sem ter o controle dos próprios membros ao que esse porco imundo o violava repetidamente, penso em Gemma presa em um maldito corredor da morte, em Michael tombando na escadaria com os órgãos nas mãos, na expressão de sofrimento de Luke, no corpo de Ashton apodrecendo no nosso banheiro, no olhar de Aaron antes de se arremessar daquele prédio, na pobre Adrienne e seu bebê, nas famílias das incontáveis vítimas aparecendo na TV implorando por justiça, em Spencer chorando, Blake vagando sozinho pelas ruas, o corpinho frio de Leslie em uma vala, em Mia... Em mim.

Em quantas desgraças cabem em uma história.

Eu amaldiçoo essa história.

Eu amaldiçoo quem ousar ler ou ouvir cada uma dessas atrocidades.

Eu amaldiçoo a mim.

A você.

Estou farto de tudo isso! Termino e puxo a pele, recebendo nada além de um grunhindo de Nick.

A visão me embrulha o estômago.

Levo seu rosto diante do meu, como se fosse uma máscara qualquer.

— O que acha? Fiquei bem?

Ele abre a boca, mas acho que não consegue falar.

— É, acho que sou mais o meu rosto remendado mesmo. — Dou de ombros, guardando seu rosto no meu bolso. Saldo para fora da cama e preciso de um lenço para me livrar de todo aquele sangue fétido. Feito isso, sigo até a bolsa, tirando o que há dentro, Nicholas observa tudo, sem a pele seus olhos parecem maiores do que nunca, tão alarmados quanto apavorados. Não lhe dou atenção, subindo em cima dele para alcançar a pilastra do teto, o metal desliza para o outro lado e abaixo, passando ao redor de seu pescoço — É a minha primeira vez fazendo isso, espero que não leve a mau se demorar um pouquinho. Mas eu fui generoso, não? Te deixei com todos os seus órgãos aí dentro.

Faço um nó firme em seu pescoço e solto as algemas, é quase decepcionante como Nick se apega demais ao rosto, gemendo e tateando a carne, quanto mais ele toca, mais sangra.

Prestes a puxar, sussurro em seu ouvido:

— Não se preocupe, querido. Você está ótimo. — E puxo, Nick é suspenso no ar pela corrente em seu pescoço, amarro a ponta no dossel da cama e dou a volta para poder assistir de frente e uau!

Eu vi e revi tantas cenas como essa nos últimos anos, mas depois que perdi por completo toda essa estúpida noção de certo e errado, eu consegui enxergar a beleza nisso. Cordas eram tão simplórias e podem arrebentar, mas as correntes eram estáveis, seguras e firmes e além de tudo tinham aquele brilho prateado quase hipnotizante, o sangue jorrando do rosto de Nick constava lindamente, as longas pernas de aranha chutavam inutilmente o ar e os sons de engasgos eram empolgantes porque por mais que ele tentasse não havia saída. Era a morte certa e a morte é tão excitante. Sentei no chão, os cotovelos sobre os joelhos e assisti hipnotizado o show.

Quase desejei Andrômeda aqui comigo.

Foi quando percebi que poderia tê-la, bastava visualizar seu rosto sobre o vazio de Nick. Podia ser qualquer pessoa, poderia ser Harry, poderia ser eu.

Eu sorri mais satisfeito ao imaginar o meu rosto ali. Ao me imaginar sufocando e assistindo ao mesmo tempo.

Então é assim que é a mais pura insanidade? Eu gostei daqui, estou me sentindo em casa.

Xx

Poderia ter me dado ao trabalho de perguntar a Nick onde a entidade ambulante poderia ter se escondido com Mia, até me dar conta de que eles não estariam se escondendo. Ninguém os encontrava porque obviamente estavam em um dos lugares mais óbvios possíveis e se havia um lugar que era óbvio era o prédio no centro de Manhattan onde costumava ficar a galeria de Aaron.

Faltava pouco mais de uma hora para o início do amanhecer quando entrei no carro para dirigir até o meu destino. Era realmente surpreendente que não tivessem me pegado ainda, o corpo de Nick foi encontrado quando já estava na estrada, em todas as estações só se falava sobre Andrômeda à solta. Joguei fora o celular que Niall deixou e continuei meu caminho, seguindo na rota que traficantes costumavam fazer, felizmente ninguém tentou me impedir e quando a noite se tornava menos escura, estava adentrando ao hall deserto da Expression.

Sentia como se tivesse estado aqui em outra vida, a lembrança de beijar Harry diante desse prédio, depois segurá-lo quando ele desmaiou, de assisti-lo ser levado em uma viatura do FBI, tudo isso me parecia tão distante. Perdido em um passado esquecido.

Logo na entrada me deparei com um anel. Um H dourado no chão.

Eles estão aqui.

Não havia nada no térreo, nem no primeiro andar. Eu não explorei o lugar na minha primeira vez aqui, por isso estranhei quando as portas do elevador abriram para um estúdio mais amplo do que o outro. A porta se abriu e desta vez um anel de rosa estava do lado de fora, desci no andar, recolhendo o anel e atento a qualquer movimentação, quando adentrei mais a fundo foi que me dei conta de que já estive aqui. Deve haver outra entrada, mas definitivamente estive aqui e o que me traz a certeza são as minhas fotografias ampliadas nas paredes, o meu rosto espalhado por toda a parte que Aaron me exibiu com tanto ânimo. Harry e eu ao canto, ou seria Allicent e eu? Não importa mais. Eu não me reconheço nessas fotos.

Retorno ao elevador e estou no décimo segundo andar quando a porta se abre por mais uma vez, automaticamente me esquivo quando encontro o espaço repleto de correntes presas ao teto, tilintando do alto até quase tocarem o chão. A tal exposição de Aaron. Tem um anel com um S brilhando na escuridão. Ao canto percebo um sofá escuro e algo parece encolhido sobre ele. Corro até lá encontrando Mia enrolada em si mesma, assim como os meninos daquela vez, ela está inconsciente, aparentemente intacta, exceto por um arranhão em sua bochecha, fora isso, não há nada fora do lugar.

Cogito a possibilidade de simplesmente pegá-la e dar o fora daqui, mas neste momento escuto o ruído do elevador e sua luz vermelha se apagando, ele foi desligado.

Nenhum de nós quer evitar um confronto.

Com a certeza de que Mia está bem, a deixo para pegar o caminho das escadas, não sem antes pegar uma daquelas correntes para mim. No andar seguinte não há nada de pavoroso além de espelhos, como um labirinto. No chão está a aliança de Harry.

— Parabéns por ter chegado até aqui. — Ouço o timbre rouco ecoar além dos espelhos.

— Estava esperando por mim. — Dou o primeiro passo, com a guarda alta para o caso dele dar o bote. Entro pelo caminho, os reflexos me confundem, mas consigo encontrá-lo rapidamente, em pé de frente para as imensas janelas que vão do piso ao teto, Manhattan começa a se acender diante dele, ele sopra e vejo a fumaça flutuando sobre ele. E quando se vira, tem um cigarro entre os dedos, ele não usa nada além de uma camisa branca, jeans escuros e botas.

Por alguma razão, Andrômeda não estava tentando transparecer quem realmente era.

— Você parece normal. — Observei, focando em suas mãos vazias.

O que pretendia?

— Oh, que ofensivo. — Exalou com escárnio — Mas tem razão. — Deu um novo trago, se pondo a caminhar — Eu aceitei a minha triste condição como "vítima" e caso a noite não acabe bem para mim, eu gostaria de manter o circo.

— Está pensando em salvar a própria pele mesmo depois de morta.

— Não pode me condenar por pensar em tudo. — Um sorriso divertido brota em seus lábios enquanto solta a bituca de cigarro e a esmaga com o bico da bota — Desde que chegou você parece saber exatamente com quem está falando, como isso é possível?

Mantenho a corrente enrolada em meu antebraço as minhas costas.

— Bem, eu tenho uma enorme desconfiança que você tem estado no controle há um bom tempo, provavelmente desde o meu julgamento. Você encontrou alguma brecha e deu o xeque-mate quando me fez perder a cabeça no presídio e te atacar.

Andrômeda sorri mais em deleite.

— Sabia que era eu, detetive?

— Claro! Allicent é uma louca, mas ela nunca se referiria ao seu precioso bebê como "fruto do nosso ódio", ela o amava, da forma estranha e doentia dela, amava.

— Amor... Que coisa mais brega! — Bufa entediada, ela tem um ar tão temperamental e irritadiço.

— E no outro dia em que você foi me visitar, era você.

Ela para e me encara, impressionada.

— Pensei que você não passaria daquele dia.

— Mas eu passei e acho que descobri boa parte do seu jogo sujo.

— Meu jogo sujo? — Gargalha — Por favor, eu sou um poço de transparência.

— Você é uma cadela desprezível! — Esbravejo exaltado.

— Isso também!

— Você provou ser a pior de todas, você conseguiu manipular a Allicent, tudo pra conseguir prosseguir com a sua matança, você matou a Eve!

Desta vez ela não esboça nenhuma emoção.

— Sim.

Claro que ele não tentaria negar.

— Bom, seu parceiro já pagou por isso. — Puxo a pele que costumava estar presa a cara de Grimshaw e lanço aos seus pés, seus olhos saltam levemente.

— Agora você me surpreendeu. Venha para a luz, detetive. — Dou um passo à frente e a luz rarefeita da lua ilumina meu rosto, Andrômeda parece gostar do que vê — Uau! Você finalmente começa a parecer interessante aos meus olhos, deu uma lição merecida naquele verme rastejante e perdeu a aparência de policial bonzinho, agora sim. — Morde os lábios, me olhando de cima a baixo —Se eu não estivesse prestes a te matar, foderia com você agora mesmo.

Torço os punhos, me revirando em repulsa.

— E por que estamos aqui? Por que sequestrou a Mia?

Ela dá de ombros.

— Tédio e Allicent sentia falta de um bebê. Além disso, eu sabia que você viria. E eu precisava disso, Louis, os outros são insetos covardes, pra eles basta se esconder e se encolher em suas próprias insignificâncias, mas eu não sou assim. Nada me sacia, nada me acalma, eu não sou capaz de ir contra a minha natureza, eu sou uma besta sanguinária e sei que você me entende, porque a mesma fome pelo caos que queima nas minhas veias, queima na sua também. Nós nunca teremos paz enquanto o outro estiver vivo. Então, estamos aqui para que um de nós possa, enfim, morrer. E quer saber a melhor parte? Pelo que soube das notícias você matou um homem na clínica e matou o Grimshaw e eu também matei duas pessoas, sendo assim, o último a permanecer de pé será "Andrômeda" para sempre.

— Eu dispenso o título, apenas pegue a sua arma e me deixe acabar com você.

— Arma? Você é tão sem imaginação. — Ela está rindo quando subitamente sua expressão muda para a mais endurecida possível. Os olhos cerrados. Hunter.

Ele avança sobre mim mortalmente ao mesmo tempo em que jogo a corrente, ela acerta seu braço direito, rasgando o tecido e marcando superficialmente a pele, mas não indo adiante ao que ele consegue segurar uma das pontas e me puxa contra seu corpo. Seu ombro se chocou fortemente contra meu peito, eu resfolego e ajo rápido ao passar o restante da corrente ao redor de seu pescoço e apertar.

Hunter é forte e mesmo quando o sufoco ele não guincha, apesar de estar claramente sem ar.

Sua atenção está concentrada em outra coisa. A mão livre agarra meu quadril e com impulso ele me ergue e me lança sobre sua cabeça, meu corpo se choca com o chão e quase posso ouvir parte dos meus ossos se quebrando e logo ele está em cima de mim, a mão se infiltrando em meus cabelos e acertando minha cabeça no piso, aquilo não só me deixa tonto como desnorteado, é puro instinto de sobrevivência que me faz fechar o punho e acertar seu queixo, quando ele me solta uno os punhos para golpear o centro de seu peito e desta vez, Hunter recua e quando o faz, levanto rapidamente e chuto seu rosto, seu pescoço vira e ele cospe sangue.

E antes que tenha a chance de reagir, a corrente em meu punho ricocheteia e crava suas tranças prateadas contra o outro lado de seu rosto. Agora ele grita.

Eu vacilo ao perceber o que fiz, eu não hesitei, não houve uma só célula do meu corpo que temeu machucar Harry, o que só pode significar uma coisa, eu irei até o fim. Sinto o sangue escorrendo pela provável abertura no meu crânio, é úmido na minha nuca e quando ele me olha, há um corte profundo atravessando desde a testa até o queixo, um centímetro a mais e ele teria ficado cego de um olho.

— Oh, fez dodói, amor? — Me pego zombando dele.

Ele torce a mandíbula de uma maneira que não parece nada boa e volta a atacar, caímos em um embate corpo a corpo. Onde eu tenho desvantagem, ele é mais incisivo e brutal, seus dedos se apertam ao redor da minha garganta e empunho a faca rasgando seu antebraço, ele chia alto, apertando o braço, tentando não perder tanto sangue. A faca cai entre nossos corpos e quando tento alcançá-la, ele se coloca no caminho, o repuxar em sua boca ao sorrir me revela quem retornou e tudo o que registro é a dor latejante, baixo os olhos e quero gritar quando vejo que Andrômeda decepou meu dedo.

— Pra combinar com a outra mão. — Sorri ofegante.

Eu deixo que a fúria se apodere de mim e a agarro pelo colarinho, o arremesso contra um dos espelhos e é quando nossa luta no labirinto tem início.

Está tudo girando e tem muito sangue envolvido. Mas sei que preciso ficar atento, porém é tão difícil quando sinto que estou prestes a desmaiar, tento segurar a arma, mas ela está escorregadia entre meus dedos ensanguentados. Encosto por um instante no espelho, um instante de respiro. Ele praticamente explode atrás de mim com o impacto de seu chute. Andrômeda torce meu braço até o característico som do osso quebrando, urro pela dor e ela me joga no chão, próximo ao lugar que estava quando cheguei.

Ela vem cambaleante, o braço tomado pelo sangue que goteja pelo caminho ao que se aproxima, a bochecha rasgada cintila o vermelho quando a lua a atinge. Faço o possível para me colocar ao menos de joelhos.

— Você não se segurou em nenhum momento. Ainda bem que não o fez, tornou isso tudo tão empolgante. — Diz se abaixando e levantando em seguida, a arma em sua mão.

Eu não tenho forças para reagir, Andrômeda se aproxima, destrava a arma e deixa o dedo sobre o gatilho, empurrando o cano contra meu queixo.

— O resultado já era previsível, mas vou te dar algum crédito. Um último pedido?

— Devolva a Mia, deixe os meninos e o Harry em paz.

Andrômeda revira os olhos.

— Foram três. Mas não faz diferença, não vou cumprir nenhum deles, depois que estourar a sua cabeça, eu desço e faço o mesmo com a menina, então com os gêmeos e o Harry, bem... O Harry vai aguentar o que eu quiser que ele aguente. A fraqueza dele o tornou uma casca, eu não o respeito nem um pouco, então, nada de paz pro desgraçado. Adeus, Tomlinson, passar bem no inferno.

Ela puxa o gatilho.

Eu assisto de perto o movimento que vem quase tão rápido quanto seu pulso girando e virando o cano contra seu próprio abdômen, um disparo e depois outro. Estremece e solta a arma, uma enorme mancha de sangue rapidamente se espalhando pela camisa branca.

— Essa merda dói. — Resfolega aborrecida, os joelhos dobrando. Uso as minhas forças restantes para segurá-la.

Ela me protegeu.

Sugar.

Seu rosto vai perdendo a cor e seus dedos longos dedilham minhas cicatrizes, talvez ela nem tenha se dado conta que tem uma agora.

— Seu cabelo. — Acaricia minha franja.

Sorrio complacente, sentindo seu corpo cada vez mais mole em meus braços.

— Está bonito. Eu g-gostei. Eu gosto... — A forma como ela diz aquilo, não acho que ela esteja falando só do cabelo.

— Você atirou em si mesma pra me proteger. Você salvou a minha vida. — Toco seu rosto e ela soluça, engolindo um gemido de dor.

Ela está morrendo nos meus braços.

— Até garotas más podem fazer coisas legais de vez em quando. — Sorri fraco — Ela era minha, eu devia ter cuidado dela, mas eu preferi fingir que ela não existia e isso só causou sofrimento. Eu era a mais forte, eu devia ter cuidado dele... Eu devia... — Ela ofega, prestes a perder a consciência — Harry. — É seu último murmúrio antes de desmaiar.

Deslizo até o chão com seu corpo abraçado ao meu. A sua cabeça tomba para trás quando o puxo rente ao meu peito.

Harry, você ainda está aí?

Não sei se é o Harry, mas alguém ouve o meu chamado e abre os olhos, vejo pelo reflexo em um dos espelhos laterais. Tenta se levantar, com dificuldade, o ajudo a sentar, porém seus olhos continuam no espelho.

— Eu ouvi o nome da Eve.

— Allicent? — Ela assente. É quase irreconhecível, é claro que ela perdeu o controle, o luto parece ter corroído tudo o que restava após a perda de Eve — Andrômeda mandou que o Grimshaw fizesse aquela emboscada, que garantisse a morte da Eve. E depois, ela foi até o presídio para me encontrar, ela me provocou para que eu a atacasse e ferisse a Leslie.

— Ela quis machucar o meu bebê? — Sibila em um chiado de voz. Viro o rosto, olhando na mesma direção que ela, minha bochecha tocando a sua, eu me sinto maquiavélico ao colocá-la contra uma outra parte de si.

— Sim e depois disso, ela me agradeceu.

— Agradeceu? — Cospe enojada, deixando meus braços para andar até o espelho. Olho para o revólver a mais ou menos um metro de distância, posso pegá-lo e disparar. Um tiro nas costas, algo propício a um indigno como eu, mas ela começa a falar: — Como você se atreveu a armar pelas minhas costas? Você matou o meu bebê! — Ela grita para o espelho e através do reflexo vejo seu rosto mudar.

— Você não tem bebê! Você não existe, sua estúpida obcecada, deveria ter me agradecido por dar um basta nessa insanidade. — Responde com a voz ácida — Você não merecia estar no controle! Você é fraca!

— E você é louca. Sua maldita assassina, psicopata, você acabou com tudo, arruinou tudo o que construímos. — Allicent ofega, chorando transtornada.

Eu nunca pensei que presenciaria algo assim. É absurdo contemplar o quão rápido suas expressões e vozes oscilam. Allicent está chorando, mas Andrômeda não. É como se eu finalmente pudesse ver todos eles fora de Harry.

— Não construímos nada, você só quis brincar de casinha e nos manteve reféns, tendo de aguentar suas imposições. Ninguém te queria no controle. Todos te odeiam.

— Mentira... — Allicent murmura.

— Você sabe que é verdade. — Seu rosto adquire um tom enfezado, pretensioso, as sobrancelhas arqueadas. Aimee — Você não nos dava ouvidos, quis viver como se fosse a única e se não cooperassemos, simplesmente nos prendia.

— Eu estava cuidando de vocês! — Ela retruca, um olhar raivoso sendo lançado para onde não vejo ninguém, mas ela vê — Kyle diga à eles!

— Dizer o quê? Que você nos usava como marionetes? — O sotaque norueguês surge acentuado — Quantas vezes tive de implorar para que fosse tão egoísta? Para que pensasse no grupo?

— Grupo?! Não deveria haver um grupo, eu fui a primeira a chegar! Eu era, não, não, eu sou tudo o que o Harry precisa. — Ela se exalta, o rosto ficando vermelho e uma poça de sangue se formando aos seus pés.

— E onde está o Harry agora? Oh, sim, enclausurado. — Essa fala monótona quase lembra a voz natural de Harry, exceto pelo tom imperialista. Será o tal Alex?

— Não fale como se você não tivesse ajudado a chegar nisso. Todos vocês colaboraram! Esperam o que? Que com Andrômeda as coisas serão diferentes? Ela é um animal, olhe só o que ela fez conosco. — Pressiona a palma contra o abdômen e o rosto.

— Choramingando só com alguns arranhões? Não é à toa que as suas filhinhas morreram com tanta facilidade. — Andrômeda zomba, rindo. E no instante seguinte os punhos estão se chocando contra o espelho, partindo-o em inúmeros pedaços de vidros que vão rasgando seus dedos, pulso, mas não há importância. Allicent só quer silenciar Andrômeda, esquecendo-se que ela vive em sua cabeça.

Subitamente ela cai para trás, como se tivesse sido empurrada e então é posta de joelhos, o rosto se movendo como se alguém o estivesse apertando, obrigando-a a olhar algo, ou melhor, alguém.

— Tire suas mãos de mim, seu cão imundo. — Vocifera.

Um rosnada vem em resposta.

Hunter.

— Chegamos a decisão de que está na sua hora de dormir, querida Allicent.

Seus olhos se apertam e ela geme, o peito arqueando como quando atacaram Harry. Mas ela resiste, os dentes trincados e o sangue começando a despontar de seus lábios.

— Antes disso, eu mato cada um de vocês.

E acredito que um embate violento esteja acontecendo internamente, porque há grunhidos e vocês e seu corpo se encolhe e treme. As mãos voam sobre os ouvidos e um choro desesperado começa:

— Parem, por favor, parem! Nós vamos morrer. — Cody súplica com a voz pequena.

E o confronto parece ser interrompido, seu rosto vira para a esquerda, como se estivesse procurando por alguém.

— Cadê a Sugar?

— O quarto-

— O quarto está vazio. — Kyle responde.

— Maldição! — Andrômeda rosna, antes de ficar imóvel.

Os olhos vidrados, a mão sobre o chão tenta se mover, dobrando os dedos como se fosse uma tarefa muito árdua, como se... Como se estivesse lutando para fazer aquilo.

— Saia daqui, garoto.

— N-Não. — A voz arranhada grunhe, lutando para fazer o mesmo com a outra mão — Esse... E-Esse corpo é meu! — Resfolega, erguendo os olhos verdes cristalinos, sob os cabelos úmidos de suor e sei exatamente quem me encara — Você saí.

A minha visão está turva, meu peito sangra continuamente.

Harry mantém os olhos fixos em mim e com dificuldade move uma perna, seguida da outra, lutando com seu próprio corpo para fazê-lo se mover, ele está tão ruim quanto eu. Mas é bom revê-lo, apesar das circunstâncias.

Ele abre a boca e cambaleia, por um tris não cai no chão. Ele tenta de novo, a voz rouca e fraca, como de alguém que passou muito tempo entubado.

Minha mente tenta prever quais serão suas palavras, o que ele dirá?

"Tudo bem. Eles foram embora para sempre. "

"Eu sinto muito."

"Te odeio."

"Te amo"

— Me salva, p-por favor. — Implora, com os primeiros raios de sol batendo em suas lágrimas.

Ele já me fez esse pedido uma vez e eu recusei. Não tive forças. Minha mão está a caminho da arma, mas não tenho coragem de simplesmente atirar, eu não encontro uma forma de pôr fim ao seu sofrimento sem que eu esteja assistindo de perto.

Olho para além dele, para o sol nascendo.

Como Harry, obrigo meu corpo a ir além de seus limites, é uma tortura conseguir me mover, mas rastejo até conseguir me colocar de pé. Tomo um último suspiro, olhando para onde ele espera por mim.

— Eu amo você, só você, Harry.

Ele sorri, as covinhas marcando suas bochechas.

— E eu amo você, Lou.

Assinto e baixo os olhos por um momento, certo. Apenas faça. Dobro o joelho, pegando impulso e corro, meu corpo se chocando com o seu no caminho, o aperto em meus braços e ele me segura de volta, em um abraço firme, deixando que eu o arraste comigo quando persisto em seguir em linha reta, até que não reste nada além do vidro, nada além daquela imensa janela a ser estilhaçada pelo impacto de nossos corpos contra ela. Ouço o vidro estilhaçado, a ventania impiedosa sobre meu rosto, o perfume dos cabelos de Harry, o frio na barriga e suas mãos apertadas em meus ombros e não há espaço para temor, dor ou incertezas, nós simplesmente caímos.

Caímos do décimo terceiro andar da galeria no centro de Manhattan. É rápido. E eu não sinto nada. Minha mente desliga antes que cheguemos ao chão.

E quando eu acordo, há luzes, carros, gritos e sirenes. Tem pessoas ao nosso redor, sem se aproximar. Tento me situar, pisco, sentindo dor em cada pedacinho do meu corpo, mas o que mais estranho é o fato de estar vivo, como eu posso ter sobrevivido? É quando percebo que estou inteiramente deitado sobre o corpo de Harry, seus braços que estavam ao meu redor caíram para os lados, mas minha cabeça permaneceu segura em seu peito.

"Você me protegeu" podia ouvir a sua voz maravilhada quando fiz o mesmo por ele, porém, essa não foi uma queda ridícula como aquela. Isso foi ele dando a sua vida pela minha.

Sua vida.

Tomado pela adrenalina correndo ferozmente pelas minhas veias me coloco de pé, escorrego um pouco para conseguir enxergar direito. Seu corpo está estatelado diante da galeria onde alimentou tantos sonhos grandiosos e fez sua única exposição solo, seus braços abertos, a camisa só tem pequenos pontos esbranquiçados, ela foi tomada pelo sangue. Uma poça gigantesca de sangue se formou ao seu redor.

O que a cigana disse, vem a minha mente como um murro:

"Eu vejo os pedaços, os seus pedaços espalhados sobre o chão frio. Um rio vermelho, o seu sangue embargando tudo ao seu redor."

Agora faz sentido. Pedaços, eu também vejo esses pedaços, quatro em específico em cada lado de seu corpo.

Eu vejo eles.

A narcisista, Aimee.

O assustado, Cody.

O sistemático, Kyle.

O cão de caça, Hunter.

O misterioso, Alex.

A inesquecível, Sugar.

A monstruosa, Andrômeda.

A desiludida, Allicent.

E aquele que não era um mero pedaço, mas o centro de tudo isso. Aquele que mais sofreu.

A vítima, Harry.

As luzes se tornam mais intensas, vermelho e amarelo piscando e a sirena chega alto em meus ouvidos, as portas são batidas e uma voz familiar grita:

— De joelhos, Tomlinson! — Hemmings exige com a arma apontada para mim.

Enxergo Liam e Mitch nos outros carros, Niall está no passageiro de Luke, e vira o rosto quando o encaro.

Sinto muito, Irlanda.

Hemmings torna a exigir me chamando de "Tomlinson". Eu não gosto desse nome, não o reconheço como meu.

Lembro do que ela disse. "O último a permanecer de pé será Andrômeda para sempre."

Eu ainda estou de pé.

— Diga meu nome e eu obedeço.

Luke tencionou a mandíbula e acatou.

— Renda-se, Andrômeda.

Balanço a cabeça e no caminho de ajoelhar, tombo para o lado, desabando ao lado de Harry, deitando sobre seu sangue. Daqui posso observar seu rosto de perto, a cabeça dele está jogada para trás, o cabelo macio fora de seu rosto, pequenas ondas suaves tocando o asfalto, o rosto bonito, pálido e imaculado, ao menos do lado que posso ver. Ele parece exatamente como no dia em que o conheci, os cílios longos tocando as maçãs do rosto, sem qualquer tremor, indicando que ele não voltará a abrir aqueles olhos nunca mais.

Harry quebrou o pescoço.

Eu o invejo por isso. Ele me tirou o direito de morrer também.

Estico a mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos.

Amanhã que se apresenta é fria e cinzenta, o sol parece ter mudado de ideia e em seu lugar envia a chuva, a água toca meu rosto e eu sequer pisco. Eu queria saber se meu coração bateria depois que o dele parasse e a resposta é não.

Tudo aquilo não durou mais do que dois minutos, mas eu ficaria preso naquele momento pelo resto dos meus dias.

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