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│25│reticulum


Ela levou meu coração

Eu acho que ela levou minha alma.

Closer - Kings Of Leon


— Sei que o que está fazendo, esse é o seu jogo, certo? Mexer com a minha cabeça, me fazer acreditar nas suas mentiras. Você é manipuladora! Faz com que os outros pensem que não tem nada de errado, que não é uma doença, sabe muito bem o que está provocando em mim contando essa história falsa. É isso que você faz, Allicent, você mente. — Cuspo em um rosnado enfurecido.

Ela segue me encarando com uma expressão indecifrável.

— Se é verdade ou mentira, só cabe a você decidir. Não estou aqui para te convencer de nada, não estamos conversando, essa situação toda é mais uma despedida. — Diz, o tom de voz monótono — Onde estávamos? Ah, sim, bebês de estupro.

— Não fala assim. — Resmungo em voz alta.

— Ok... — Concorda, revirando os olhos — Apesar dos claros sinais de que estávamos ruindo, eu continuei insistindo, naturalmente bem mais distante, então, durante a gravidez dos meninos Harry esteve presente o tempo todo. Inclusive naquele dia maldito.

Por mais ódio que eu esteja nutrindo por essa personalidade perversa e mentirosa, não há como negar o seu visível sofrimento e abalo ao falar de Eve.

— Nós não sabíamos até chegarmos no hospital, os médicos ainda tentaram fazer algo, mas era um caso perdido e então, quando a cobriram, estávamos do outro lado do vidro. Eu não pude assimilar o que estava acontecendo, aquilo não podia ser real. Não podia. — Ela pisca rapidamente, vejo o lampejo de uma lágrima — Talvez se fosse eu no controle naquele momento isso poderia ter sido evitado, porém com Harry, oh, ele nunca poderia lidar com a morte dela e com a sua perda iminente.

Nos meses que transcorreram o ataque e a morte de Eve, tentei conversar com Harry a respeito, saber como foi para ele, como reagiu ao ter de lidar com tudo sozinho e em um momento tão delicado. Ele nunca soube responder, apenas dizia que suportou. Não, não suportou, meu amor.

— Pessoas iram e viram, nada ajudava, nada sanava aquela dor, aquela raiva e inconformidade. Ela era o meu porto seguro, mais do que dos outros, eu precisava me manter sã para manter os outros sãos, precisava que o Harry estivesse sob controle, mas como na época do colégio, ele voltou a tentar escapar, fugir. A verdade é que ele sempre foi um fodido egoísta que não queria encarar nada de frente e me deixava para aguentar todo tipo de merda. Só que eu não podia, não podia... Foi quando nós dois abrimos mão da luz e alguém, alguém a pegou. — Ela para, como se desacreditasse das próprias palavras — Como se houvesse um grande apagão, vultos, choro e risadas, eu senti as mãos úmidas e um som metálico estranho. O corpo de Harry se movia e não era eu quem fazia aquilo. Tudo que me restou daquela noite foi um nome, Alicia.

— Alicia? — Tenho um estalo — Alicia Morris?

O nome me era familiar, o homicídio aconteceu na época em que estava em outro caso, mas lembro que teve grande repercussão por conta da brutalidade do crime. Ele era dado como um caso não solucionado, então, April Copperfield não foi a primeira.

Allicent assente.

— Foi quando descobri que Andrômeda não estava só chateada com você, ela vivia chateada com todo mundo e gostava de matar, quando ela viu uma oportunidade a agarrou e conseguiu um amigo, alguém que a ajudaria a parecer bem mais assustadora e imponente.

Essa ajuda de Andrômeda só pode ser uma das identidades que me é desconhecida.

— Hunter. — Diz, soltando uma breve risada — Foi ela quem o chamou assim, seu cão de caça. Ele não era exatamente novo no grupo, era como uma identidade coadjuvante, em momentos raros de ira extrema ele surgia e desaparecia logo em seguida, nunca fomos próximos. Ele não fala, Andrômeda é a única que o domina totalmente, ela o solta e o prende.

Hunter.

Esse é o cretino que sempre me dá uma surra. Claro que foi ele quem me pegou no estacionamento, o responsável por causar terror em Spencer. Um cão que respondia a uma louca.

— A nossa força, por assim dizer. Eu, particularmente, prefiro manter distância. Então, quando recobramos a consciência, sabia que ela poderia trazer sérios problemas e como Sugar, ela tinha aliados. Aimee jamais escondeu seu favoritismo por ela, por isso, tentei me agarrar ao que nos restava... — Seus olhos verdes caem sobre mim — você. Quando acordou você estava confuso e tão dependente de mim, aquela seria a nossa segunda chance, o nosso recomeço. Mas menos de um ano depois de ter perdido a Eve, eu perdi você, te perdi para Michael Clifford.

Allicent suspira, apertando os pulsos cobertos.

— E não havia mais nada, nada que me mantivesse estável. Eu não queria aquelas crianças, não queria mais fingir que não te odiava, porque eu te odiava e ao mesmo tempo te amava e eu só queria colocar essa dor pra fora, foi quando a vi, April, ela costumava ir até o restaurante de Anne, ela era uma boa garota, mas frívola e vazia, olhar para ela sempre me deprimiu, talvez por encontrar muito dela em mim mesma, por isso, achei que seria uma boa ideia por fim a agonia de ambos. Atrás das cortinas assisti Andrômeda entrar na casa dela, rendê-la, ela se divertia com a caçada, com os gritos, o medo era revigorante aos seus ouvidos, enquanto era tudo sem sentido para mim, Hunter também apareceu e a suspendeu pelas correntes, um espetáculo violento e tenebroso, porém, sem sentido. Aquilo não me fez menos amarga ou ferida, não mudou nada, não significou nada pra mim e ainda havia os pais aparecendo na TV, chorando e pedindo por justiça e isso me deixou pior, porque não estava em uma situação muito diferente. Também assassinaram o meu bebê, o assassino estava por aí e eu teria de sobreviver com esse vazio pelo resto da minha vida. Os filhos não devem morrer antes dos pais. O que eu fizemos com April foi pecaminoso, onde quer que os filhos vão, os pais devem acompanhá-los, essa ideia começou a tomar forma e propósito na minha cabeça, eu pensava muito sobre quando buscamos Eve no acampamento, como quase sofremos um acidente no caminho de volta, naquele instante fiquei aliviada, mas depois... Depois pensei em como teria sido perfeito se tivéssemos morrido ali, quando nossa família estava bem, quando estávamos juntos e não tínhamos sido corrompidos e separados. Eu não queria que isso se repetisse com os outros, a morte é uma forma de se salvar, de se purificar, mas ainda parecia estúpido e sem propósito, porque nada mudaria o fato de que você destruiu tudo. Você precisava pagar de algum jeito.

Chega . Eu não quero mais ouvir.

— Dia e noite, eu pensava em como acabar com você, foi quando Alexey chegou, ou apenas, Alex. Assim como você, ele é muito bem treinado, um militar experiente e habilidoso, alguém com a capacidade de pensar dez passos a frente, juntos, criamos o plano perfeito.

Alex... A habilidade. Treinamento militar.

— E como Andrômeda e Hunter ansiavam, começamos a matar, três membros de cada família, o que remetia a nossa antiga família. Eles, enfim, estariam unidos para sempre, libertos dos traumas e frustrações que acabaram conosco. O que eles tinham de perversidade e força, nós tínhamos de atenção e meticulosidade, jamais seríamos pegos porque éramos quatro em um. Sem testemunhas, sem erros, é fácil desviar de uma câmera de segurança, é fácil fingir estar perdido e receber ajuda quando se tem uma carinha como essa e claro que com amigos poderosos, tudo é possível.

— Aaron sabia!

Ela assente.

— Claro que sabia. — Ela se levanta e vem até mim, tocando meu queixo de leve — No começo, ele me lembrava você, um adorável viciado sem rumo, mas já tinha tido a minha cota de problemáticos e sabia que ele serviria bem melhor como um ajudante. Aaron vinha de um lar desfeito e tinha muitas questões quanto a isso, então, saber da minha motivação o fez suscetível a causa. E ele me ajudou muito, todas as minhas ferramentas de trabalho ficavam em seus armazéns, por isso nunca houve uma só pista nesta casa. A corrente que encontrou no carro dele, é a mesma que está te prendendo agora. — Baixo os olhos, fuzilando o metal ao meu redor.

Allicent se afasta, envolve um lenço no punho da minha faca e deslizando a lâmina superficialmente acima da sobrancelha, um filete de sangue escorre pela lateral da têmpora.

— Foi uma pena que nos últimos tempos ele tenha inventado essa coisa de sobriedade e ameaçado me entregar. Mas ele não passava de um tolo sentimental e bastou que eu dissesse que esse bebê era dele e que caso me denunciasse eu o faria em pedacinhos para que ele colocasse o rabo entre as pernas e voltasse a me obedecer.

Lembro do olhar desolado de Aaron, em como ele estava estático quando Harry se despediu dele na porta. No horror em seu semblante, um homem sem saída.

Ele me disse antes, disse sobre o que eu tanto procurava estar bem diante de mim.

— E quando eu mandei, ele pulou, simples assim. A maioria dos homens é refém do coração. — Desce a lâmina pela mandíbula, que provoca arranhões sobre a pele frágil — Mas você não. Você é uma incógnita para mim, Louis Tomlinson. O único momento em que manteve seus olhos em nós foi quando "Andrômeda" surgiu. Você nunca quis um marido apaixonado, você queria um assassino e só quando o conseguiu você pareceu verdadeiramente satisfeito.

Com um olhar sobre o ombro, contente por me ver tão abalado, ela dá a volta, sumindo as minhas costas, sequer me dou ao trabalho de tentar entender o que ela está armando. A minha cabeça lateja e tudo é um caos.

— Nicholas também é seu amante.

— Sim. — Responde.

Faz sentido, toda a sua negligência quanto ao caso Andrômeda, em como ele sempre atendia aos pedidos de Harry, em como ele "deu um jeito" em Kacey por ele. Eu sempre suspeitei que Grimshaw tivesse interesse no meu marido, mas nunca algo nesse nível.

Ele... Ela, eles, foda-se! Tinham o FBI na palma da mão por conta de Nick.

— Foi assim que conseguiu alterar as drogas na execução de Greg O'Connel.

Nick estava tenso antes da execução. Agora sei o motivo.

— Viu? Quando você quer, sabe ser um ótimo detetive.

— Luke também está com você há muito tempo? — Questiono, torcendo o pescoço, mas ela surge bem atrás de mim, o hálito quente soprando em meu ouvido e as unhas descendo pelo meu peito, desenhando vergões ardidos, profundos demais — Porra! — Resfolego.

— Sobre o Luke, pense um pouco mais, detetive.

Pensar mais sobre o Luke?

Ele e Harry, era bastante improvável, por uma série de fatores e o principal era Michael. Luke podia ser muitas coisas, mas sempre foi irrevogavelmente fiel ao sentimento que tinha por Clifford, ele não... Olho para Allicent, ela morde os lábios, animada por ter descoberto sua armação. Não é a Allicent.

— A Sugar disse... Você é a Aimee. — Assente, puxando as mãos para longe do meu corpo e examinando suas unhas com pequenos resquícios do meu sangue — Foi você quem dormiu com o Luke.

— Ah sim e foi fantástico, por mim eu faria isso todos os dias. — O tom de voz diferenciado parece tão estupidamente óbvio depois de discernir quem é quem.

— Então, Michael não morreu por minha causa, mas porque você queria o Luke, você precisava do Luke e tinha de tirar o Michael do caminho.

— Touché, gênio. — Aimee se afasta e segundos depois, Allicent está retornando para o meu campo de visão novamente.

Há vários cortes visíveis sobre sua pele, hematomas ao redor do pescoço e uma marca avermelhada na garganta, não estava visível antes por conta do cabelo longo. Foi por isso que ela cortou, para expor isso.

— Hemmings é o meu segundo trunfo dentro do FBI. Eu me aproximei dele com a desculpa de lamentar por sua perda e fui casualmente jogando como seu temperamento e modo de agir estavam estranhos, como você era agressivo, o medo que tenho que você me machuque ou as crianças, dos seus remédios, seus delírios, como você some no meio da noite e volta sempre ferido ou ensanguentado.

Olhando para ela, meus olhos dobram de tamanho em espanto e entendimento.

— Oh, você entendeu direitinho, amor. — Ela diz, baixo e melódico como um gemido, se inclina, beijando minha boca e não penso em nada além de mordê-la. Allicent recua, o polegar dedilhando o lugar onde o sangue escorre de seu lábio inferior e ela sorri — Bom garoto, exatamente como eu esperava. — Não faz menção de limpar, apenas espalha para que adquira o aspecto de seco, como se fosse um ferimento mais antigo — Não preciso nem dizer o quão satisfatório foi matar o Clifford. Desta vez, fiz questão de participar, sem máscara ou qualquer coisa que o impedisse de ver o rosto de quem estava fazendo aquilo com ele, o horror em seus olhos. Ele não podia acreditar. — Gargalha, batendo palmas — Foi a realização de um sonho e quando eu cortei sua língua. Ah, sua maldita língua que deveria ter ficado bem longe do meu marido. A vagabunda teve o que mereceu, talvez eu vá atrás do Zayn um dia destes, lhe dar o mesmo fim.

— Não chegue perto dele! — Vocifero.

Ela volta a olhar para mim.

— Não grite, Tomlinson. Alguns de nós não são tão pacientes quanto eu sou. — Murmura pausadamente — E por fim, não tem porque se preocupar com isso, você provavelmente vai pegar pena de morte ou perpétua, não importa, Zayn não deve ser sua preocupação.

Engulo em seco, apertando os punhos ao lado das pernas, maldita impotência.

— Ashton não morreu em vão, ele teve um papel crucial em tudo isso. As correntes, o corpo dele, tudo está com as suas digitais, os meninos estão dopados com os seus remédios, a noite anterior não foi só proveitosa para Sugar como para o meu propósito. — Começa a desabotoar a camisa, o tronco repleto de marcas, os rastros que eu deixei da noite passada. Ela pega um fraquinho transparente, um líquido perolado, espalha pela frente da calça e peito.

— Isso é?

— Sim. Sabia que seria útil em algum momento. Todo aquele sexo de ontem a noite está bem vivido por todo o meu corpo, os sinais claro do que... — De repente, ela se cala, fecha os olhos e quando torna a abri-los, eles estão lacrimejantes e avermelhados, os soluços subindo por sua garganta e a postura altiva dando lugar a uma fragilidade inesperada, ela cai em seus joelhos, abraçando o corpo como se alguém o tivesse violado — Eu te amava tanto, eu sabia que havia algo errado, mas não queria acreditar. Não podia, devia ser coisa da minha cabeça, desde que a Eve morreu eu ando tão confuso e não podia ser v-verdade, você não podia estar matando todas aquelas pessoas, você não podia ser Andrômeda, só que quando você saiu e eu vasculhei as suas coisas, só pra tirar essa desconfiança de mim, eu descobri, des-descobri tudo. Com a minha própria irmã...

— Não! — Murmuro baixo.

Ela só vê isso como um incentivo para prosseguir com seu teatro.

— Eles estão juntos desde o início, tem mensagens deles e fotos pert- — Se finge enojado — Perturbadoras. Eu não sabia o que fazer e quando você chegou, fiz a estupidez de te confrontar e você ficou tão bravo, você me bateu e quando tentei escapar me jogou da escada, pobre Ash, ele tentou me ajudar e você o asfixiou, bem ali, na nossa cama. Eu não consegui reagir, enquanto você estripava o meu querido primo, então depois, você veio atrás de mim e me esfaqueou. — Seus dedos pairam sobre o curativo e começam a desfazê-lo, sem hesitar rompe os pontos e o corte está aberto novamente, sangrando — Eu não sabia o que tinha acontecido com os meninos, eu ouvi os tiros e o Sonny estava choramingando. Tudo parecia um pesadelo e você voltou pra cá, colocou eles na mesma cama que matou o Ashton e fez o que queria comigo, você ia me matar, você disse que ia, esse era o plano de vocês, eu, Spencer e Blake seríamos suas últimas vítimas, a Gemma disse que você deveria fazer isso. Foi o que ela te mandou fazer quando você esteve a sós com ela.

Estava prestes a indagar como soube que estivemos a sós, mas como dito anteriormente, Luke era uma de suas marionetes e ele estava lá, ele nos viu conversar. Ele também sinalizou para que calassem a boca de Gemma, porque ele sabia, porque ele sabia do plano, assim como Nicholas sabia o plano.

Nunca existiu a mais simplória possibilidade de escapar disso com a ajuda da polícia. Se eu tivesse ligado antes só teria ido para a cadeia mais cedo.

— As máscaras, as roupas... Tudo está com o meu DNA?

Assente, sorrindo com os lábios ensanguentados.

— As mensagens e fotos perturbadoras existem?

— Sim, tenho trabalhado nisso há muito tempo. Virtualmente vocês tem um caso, sem sombra de dúvidas. Obviamente eu não consegui forjar nenhuma sex tape, mas há testemunhas em vários dos seus momentos íntimos, como da conversa inadequada na exposição, na troca de carinhos no hospital...

— Troca de carinhos? Você a pediu para me dar um beijo em seu n- Oh, até isso fazia parte do seu plano.

— Evidentemente, depois na ação de graças, os hormônios à flor da pele, você não se conteve em entrar no quarto dela e depois dar a desculpa de ter errado a porta, minha família não esqueceu disso. Assim como quando tiveram um almoço muito agradável no nosso restaurante favorito, a luz do dia. Vocês são cúmplices, amantes, os serial killers mais procurados do século e eu sou só uma vítima nisso tudo.

O quão doentio é tudo isso?

— Eu entendo o seu ódio por mim, mas porque a Gemma? Ela é sua irmã.

— Irmã? — Repete, como se não entendesse o que a palavra significava — A minha "irmã" sempre soube que havia algo de errado, mas ela nunca se importou em saber o quê. Ela sempre viveu ocupada demais com ela mesma.

Será que Allicent não percebe que Gemma é Aimee? Assim como ela própria age muito como Anne.

— Se ela tivesse se importado um pouco, se ela tivesse me ouvido alguma vez, mas tudo o que ela fazia era ter inveja e raiva o tempo todo. Na sua cabeça deturpada eu era o favorito e por isso me queria longe, foi por culpa dela que acabei naquele internato. Quando encontramos um sonho, uma paixão pela arte, ela teve de arruinar isso também, em se mostrar como superior. Eu senti tanto ódio dela por tanto tempo e cedi ao meu desejo de me livrar dela quando provoquei o seu acidente, ela devia ter morrido, mas ao invés disso voltou, pior do que antes. Aquela sombra maldosa que sempre esteve ao meu redor, torcendo pelo meu fracasso, pela minha ruína. Nunca pensou em como eu cheguei exatamente no momento em que você e o seu amante estavam na cama?

Allicent dá um sorriso malicioso.

— Ela me disse, ela me contou cada detalhe com um sorriso no rosto e acrescentou que eu merecia aquilo. Então, eu pensei, acho que a Gemma também merece algo, mas não qualquer coisa, tem que estar a altura dela. Algo que vai perdurar mesmo depois de vinte, trinta, quarenta anos, um legado. Pois bem, o nome, a obra, Andrômeda é dela, e como brinde, ela pode ficar com meu marido. Eu não preciso de nada disso. Está feito, Louis, xeque-mate. — Visivelmente enfraquecida depois de perder tanto sangue, ela começa a desfalecer sobre o carpete — Ah, e eu soltei o cadeado das correntes quando estive atrás de você.

Puxo os braços e como dito, as correntes estão frouxas, um pouco mais de impulso e elas se soltam com facilidade, ao mesmo tempo que as sirenes chegam aos meus ouvidos. Não se trata de uma ou duas, é uma frota, tão veloz e mordaz que antes que eu possa raciocinar a porta está sendo arrombada e dezenas de agentes estão me cercando. Luke Hemmings vem em disparada, a excitação em seus olhos ao apontar a arma para a minha cabeça enquanto me ajoelho.

Grimshaw também veio e é o primeiro a ir até Harry.

Nada nunca soou tão óbvio.

Eu nunca tive a menor chance.

Xx

No instante em que a viatura dobra a esquina avisto os furgões das redes de imprensa, televisão, revistas e tablóides, todos estão aqui, indo contra os agentes, tentando me alcançar, microfones sendo empurrados em direção ao meu rosto, me mantenho de cabeça baixa, apenas querendo sumir.

As perguntas ecoando pelos meus ouvidos:

"Você é realmente Andrômeda?"

"Por que fez isso?"

"Uma palavra às famílias das vítimas."

Isso se tornaria ainda pior quando a notícia se espalhasse.

O escritório estava silencioso, rostos empalidecidos e consternados fixos no meu. Liam estava estático com uma xícara de café na mão, o líquido borbulhante quase caindo e ele alheio a tudo. Eles não podiam acreditar, eu tampouco.

Horan vinha lendo algo distraidamente quando quase trombou comigo, seu semblante alegre perdendo a cor quando percebeu que o prisioneiro da vez era eu.

— Chefe? — Indagou com a voz miúda.

— Está tudo bem, Irlanda.

Ele fez menção de se aproximar, mas um agente colocou o braço na frente e continuaram a me encaminhar até uma das celas, olhei por sobre o ombro, eu não sabia que temia decepcioná-lo até que o fiz.

Os agentes me conduziram até uma cela vazia, mas Hemmings fez questão de intervir.

— Coloque-o com os outros. — Ordenou.

— Ele é um agente. — Um deles disse.

— Não importa, agora ele é igual aos outros, sem tratamento especial para assassinos. — Fez questão de dizer a última palavra me olhando diretamente.

— Certo. — Concordaram, abrindo a cela e me jogando lá dentro.

As algemas permaneciam em meus pulsos e em qualquer lugar isso seria como um aval para que eles me matassem de espancar, mas invés disso os homens se afastaram, como se eu fosse o monstro ali. Ninguém se aproveitou da maior estatura ou força para um acerto de contas, alguns homens estavam detidos por minha causa e nem eles tinham coragem de me encarar.

Deu um passo e nenhum rosto me encarava.

Caminhei até o banco frio de metal e quando me sentei, todos que o ocupavam se levantaram.

Okay, eu sou o que há de pior aqui. Está mais do que claro.

O interrogatório demorou mais do que o rotineiro para ter início, o que mostrava que Luke tinha esperança de que alguém acabasse me dando um soco que fosse, mas não aconteceu e sem escolhas ele veio colher um infrutífero depoimento.

Todas as suas perguntas receberam respostas negativas. Me recusei a fazer o teste do polígrafo e menos de uma hora depois de ser detido, minha mãe anunciou que estava chegando na cidade com o advogado da família.

Mais provas foram encontradas, todas bastante incriminatórias para a minha pessoa.

Harry era uma forte testemunha contra mim e ele também tinha provas difíceis de desmentir. O que eu tinha? Minha palavra. De que isso valia? De nada.

— Foi bom? —

Luke ergueu os olhos desinteressado.

— O quê?

— Trepar com o meu marido? Achou mesmo que estamos quites? Porque não sei se você se lembra, mas você e Michael não estavam mais juntos. — Comenta, sentado desconfortável em minha cadeira de metal preso a merda da mesa.

— Qual é? Vai tentar ganhar um soco só porque não conseguiu nada na cela? Sabe que comigo não precisa insistir. — Sorri, virando o palito do pirulito entre os lábios — Mas se quer mesmo saber, sim, foi ótimo. Incrível e não foi a primeira vez.

Ele acha que está me provocando. Devolvo o sorriso.

— Deve ter sido mesmo, pra você ter se tornado um pau mandado nesse nível, sério, é vergonhoso o quão baixo você chegou, Hemmings. Mike teria nojo de você.

Luke enrijece a mandíbula, os dedos se fechando com mais força no palito, os olhos escurecendo à medida que a mesma áurea feroz que habita em mim o domina.

— Eu poderia arrebentar a sua cabeça nessa mesa agora mesmo, mas sei que é exatamente o que você quer. Se acha o esperto, não é? Não dessa vez! O Harry me disse tudo, o que você e a manca andaram aprontando todos esses anos, claro que era você, seu louco maldito. — Diz em voz baixa.

— Não pode acreditar nisso, sabe que eu não matei o Michael.

— Matou, matou sim, não importa se você é Andrômeda ou não. Ele só veio pra cá por sua causa, ele só se envolveu por você. Por sua culpa ele está morto.

Me afasto.

— Então, não é sobre justiça, é sobre vingança.

— Sempre foi sobre vingança. — Seu rosto está coberto por sombras e pela primeira vez, elas me fazem estremecer.

Retorno a cela onde permaneci por horas a fio. A recordação de quando estive atrás destas grandes com a cabeça deitada no colo dele, chorando até adormecer.

— Eu vou te destruir.

Estou quase dormindo quando uma voz chama pelo meu nome.

— Louis Tomlinson. — Abro os olhos, descobrindo porque me pareceu tão estranho ouvir o nome saindo da boca de Niall, tão não usual.

Vou até ele que me conduz para fora da sala, suas mãos estão trêmulas ao que ele recoloca minhas algemas, tentando parecer indiferente, profissional.

— Quer ajuda? — Pergunto.

E ele treme, deixando as algemas cair.

— Não, você... O senhor, bem, v-você é um prisioneiro.

— Certo. Desculpe. — Digo, abaixando a cabeça e esperando pacientemente até que ele consiga.

Niall o faz e me guia pelo corredor, silenciosamente, até que para, os olhos imensos sobre mim.

— O que aconteceu? Como isso é possível? Eu sei que não é o senhor.

— Eu me casei com alguém persuasivo o bastante para convencer a todos que eu sou o culpado.

— Harry? — Seu queixo cai — Mas ele é inofensivo.

— Ele é. — Concordo com um suspiro — Ele tem uma doença, TDI, é um transtorno, ele tem várias identidades. É tudo muito confuso, mas uma delas é Andrômeda.

— O quê?!

— Isso, uma delas é Andrômeda. São nove ao todo, e outras três estão do lado de Andrômeda, Allicent é quem manda em todos. Ela armou isso pra mim e pra Gemma. Ela é perigosa, as crianças estão em perigo, Niall, eu preciso que você fique de olho nos meus filhos, por favor, faça algo.

Horan pisca atônito. É informação demais.

— Tá... Okay. Eu vou fazer o que puder, senhor.

— Obrigado, obrigado de verdade.

Então, concluímos nosso trajeto até a sala de interrogatórios novamente. O advogado não está com a melhor das expressões e pelo sorriso vitorioso de Hemmings as coisas não parecem bem para mim, Payne está ao seu lado, apertando nervosamente as mãos quando me sento diante deles.

— Bom, senhor Tomlinson, agora em companhia do seu advogado poderemos ter uma conversa mais formal e objetiva. — Hemmings começa, é a primeira vez que o escuto dizer mais de uma frase sem um palavrão envolvido. Ele tem fotos nas mãos — Conhece este homem? — Ergue uma foto de Lucian, ele parece bem mais novo, uma fotografia do ensino médio — Este é ele depois de encontrá-lo. — Exibe a imagem dos restos do homem que foram espalhados pelo esgoto, todos reunidos em uma bandeja — Lucian DuPont, lhe é familiar?

Meu advogado, Dr. Reynald parece tão consternado quanto eu, o que esperar de um homem acostumado a casos bem mais leves.

— Sim, era o maníaco que vinha assolando a cidade, eu precisei confrontá-lo. Ele me sequestrou, decepou meu dedo e quase me matou e a uma outra vítima.

— E era realmente necessário desmembrá-lo?

Eticamente não, mas movido pela raiva foi bastante cabível.

— Vale lembrar que muitos recursos e tempo foram gastos à procura de um criminoso que você sabia estar morto. Bom, também temos o senhor, Gerald Thomas. — Desta vez mostra a foto do senhor que me salvou de morrer queimado no cemitério. Sinto um aperto no peito, semelhante a culpa — A câmera de segurança do cemitério flagrou você disparando contra a testa deste simples trabalhador que vivia por sua família, a neta dele nasceu na semana passada, aliás.

Aperto os olhos, engolindo em seco.

— E o senhor, Owen Waters, um ótimo rapaz, que foi subitamente atacado no casamento do melhor amigo. Ele teve um traumatismo craniano e quando acordou apontou você como o responsável pelo ataque, o que me diz disso, Tomlinson?

Não há porque negar.

— Fui eu.

— Como imaginava. — Suspira, recolhendo suas coisas — Seu advogado deixou claro que não falará nada sobre o caso Andrômeda, então, teremos de ver o desfecho de tudo isso nos tribunais, que emocionante. Aliás, saberia me dizer por que Aaron Johnson deixaria sua fortuna pra você?

— Ele o quê?

— Oops, acho que isso faz parte do caso Andrômeda também. Que seja, tenho certeza que o julgamento será marcado o mais rápido possível, ninguém quer que isso perdure ainda mais.

Xx

Após dois dias sou transferido para o presídio.

Gemma está em algum lugar não muito longe daqui, pelo que soube.

A única visita que recebi foi da minha mãe, que garantiu que tudo seria resolvido. No momento eu amaldiçoava o dia em que saí de casa, ao menos, Niall dizia que as crianças estavam bem. Eu nunca perguntei sobre Harry.

De cabeça baixa, não prestei atenção no caminho, presídios tinham o mesmo mecanismo onde quer que fossem, mas nenhum era tão silencioso ou escuro, então, quando ergui a cabeça percebi que não estava sendo levado para uma cela normal.

— Isso é... — Olhei de um lado para o outro — Isso é a solitária! Por que estou sendo levado pra solitária?!

— Ordens! — O guarda respondeu.

Comecei a me contorcer, me negando a ser arremessado na escuridão, mas não podia contra eles.

— Vocês não entendem, eu não posso ficar aí. Eu não posso ficar sozinho no escuro.

O guarda da esquerda começou a rir.

— Tem medo do escuro?

— Não! Eu tenho medo do que a minha cabeça faz no escuro. Por favor.

— Não seja um bebezão. Você é um assassino. — E sem mais me lançaram naquele vácuo escuro e úmido, uma única fresta de onde uma facho de luz rastejava timidamente pra dentro, mas uma nuvem caminhou para cobrir a única claridade e então... O escuro reinou.

Eu não podia ver nada.

Ouvi os ruídos característicos do mundo exterior, algo fazendo cócegas na minha canela. Baratas. Chacoalhei a calça e algo maior passou pelo meu pé. Ratos.

Suspirei e senti um puxão na parte de trás da cabeça, unhas pontiagudas arranhando meu pescoço.

Meus demônios.

Tudo bem, vai passar, vai passar.

— Essa será uma longa noite. — Uma voz distorcida zumbiu em meus ouvidos.

Xx

Um mês e meio, novamente a justiça correndo contra o tempo para se livrar de um infortúnio, o julgamento havia sido marcado. A população estava alvoroçada depois do papelão que foi a errônea acusação e execução do casal como os supostos Andrômeda. O nome do FBI não estava exatamente em seu melhor momento e dar Gemma e eu aos leões era sua última escolha e algo me dizia que desta vez Andrômeda não voltaria a matar ou nos chamar de farsante, segundo Allicent, isso era um presente.

Bem, Allicent disse, mas e quanto a Andrômeda, é possível que ela seja assim tão dócil e controlável? Essa é uma questão que ainda ronda meus pensamentos.

Assim como a história do... Não, eu jamais faria uma coisa dessas e se fizesse, ao menos me lembraria. Como algo tão hediondo como um estupro, um estupro contra o meu próprio marido poderia ser simplesmente apagado da minha memória. Sem falar que Allicent se mostrou mais do que performática ao contar a sua história incriminatória, ela deve ter refeito a cena diante da polícia e eles caíram. É tão fácil acreditar em um lindo rostinho choroso.

E em algum lugar debaixo de toda aquela falsidade está Harry. Ele precisa estar ali, em algum lugar, não é possível que possam matá-lo. Foi mais uma mentira.

— Você está muito pálido. — Meu advogado observa, olhando com desgosto para minha pele branca em demasia.

Dou de ombros, poderia ser pior.

Minha estadia na solitária não pode se estender tanto quanto alguns querem, mas a vida em cárcere também não vinha sendo das melhores. Meus colegas de cela não me aceitavam ter em seu convívio, os boatos sobre mim cresceram em tal proporção que no refeitório ouvia os cochichos sobre eu ter comido um canibal, as vezes eu mesmo tinha comido o meu dedo e dado um tiro na testa da minha filha. Seja como for, mais de um tinha cometido suicídio para escapar da minha companhia.

Pela minha impopularidade, não tinha horário de sol e vivia entre aquelas paredes úmidas e frias, o cinza da tinta descascada bloqueando a imagem do céu azulado. A enfermeira disse que eu estava com alguma insuficiência vitamínica e eu só fingia prestar atenção, de olho nos calmantes atrás dos armários de vidro.

Em breve eu teria remédios à vontade.

Eles vão descobrir. Não tem como manter uma coisa dessas em segredo.

— Certo, precisa parecer um bom rapaz e arrependido, está bem? — Assinto e o Dr. Reynalds, sorri confiante, ajeitando a lapela do meu terno.

Esse terno é um lixo, é claro que Harry mandaria o que há de pior no meu guarda-roupa.

Seguimos em direção à corte pela porta lateral, o guarda retira minhas algemas e nos sentamos na mesa da defesa, Gemma está sentada na ponta, junto a sua advogada e me dá um olhar atravessado, já que ela me culpa por isso também.

Como um "casal" perante a acusação, nosso julgamento é em conjunto.

Haviam centenas de repórteres e câmeras registrando tudo do lado de fora, a corte estava cheia, embora todos os bancos as nossas costas estivessem ocupados poucos se declararam como nossos apoiadores, talvez apenas minha mãe e irmãs, era a primeira vez que minha família estava na cidade, reunida e sem gritaria envolvida.

Estiquei o pescoço para avistar a mesa da equipe de acusação. Conhecia a maior parte da promotoria escalada para o caso. Um ou outro acenaram para mim, sem jeito. Era estranho.

Fixei meus olhos atrás deles, mais precisamente, onde Anne parecia particularmente nervosa em manter os gêmeos quietos, eles estavam olhando para mim e me chamando, mas ela fazia um ótimo trabalho em me ignorar.

Hemmings entrou e sorriu ao me ver no banco dos réus.

E junto com ele, outra pessoa entrou.

Harry parecia ótimo, dadas as circunstâncias, sobretudo, camisa branca, óculos escuros, o cabelo havia crescido um pouco e os cachos começavam a se formar novamente. Ele ainda era uma maldita visão de tirar o fôlego e quando se sentou, me permitir observar como sua barriga havia crescido, agora era evidente que ele estava grávido. Pelas minhas contas, Leslie não demoraria muito mais tempo.

Eu gostava desse nome.

Gostava de ter mais uma filha.

Ou gostaria.

O guarda ordenou que todos se levantassem.

Anunciou a data e o horário, mas eu mantinha os olhos presos nele.

— Juiz Norman Roffman presidindo, deus salve os Estados Unidos da América e está honorável corte.

O juiz Roffman se sentou e pediu que fizéssemos o mesmo.

— Senhor policial, traga nosso júri.

Como pedido, o policial abriu a porta e o júri entrou. Olhei vagamente para os doze jurados que se acomodavam em seus assentos, ninguém me inocentaria. Eu não me inocentaria.

O juíz conversou brevemente com os jurados, o mesmo que eu já vi acontecer nas milhares de vezes em que estive em situações como esta, sempre como testemunha de acusação e nunca como um acusado.

— Sra. Kops, cite o caso para a corte.

Perdi o início da fala da mulher, não faria diferença alguma para mim, de qualquer forma.

— Estados Unidos da América versus Louis William Tomlinson e Gemma Anne Styles.

Dessa distância Harry jamais me ouviria, mas mentalmente eu lhe dizia:

— Parabéns, você conseguiu. Você me destruiu.

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