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| 24 | phoenix


❌ ESTE CAPÍTULO POSSUI DESCRIÇÕES DE ESTUPRO ❌


A hesitação persiste por um momento, quando meu corpo parece congelado. Meus pés fincados no chão e os membros incapazes de reagirem a pressão que esmaga todo o meu psicológico ao cogitar a possibilidade de que ele não estará de pé quando entrar por aquela porta. Já devia imaginar o que aconteceria, mas sempre fiz isso, de me prender ao improvável e acreditar em absurdos para aliviar minha consciência e tornar tudo mais simples.

Agora, não parecem haver formas de amenizar o que houve.

Então, por mais aterradora que seja a dor, abro a porta e entro no quarto. Os soluços subindo para minha garganta, mas rapidamente se extinguindo quando contemplei o vazio no interior, Harry não estava aqui, assim como a arma. A trava da janela havia sido destruída – obra de uma arma de fogo – o que possibilitou que ela fosse escancarada, as cortinas tremulavam ensopadas, a chuva soprando livremente para dentro do quarto.

E se invés de se matar com um tiro ele...?

Me lancei contra o peitoril da janela, olhando para baixo.

Não, Harry também não está sobre o gramado.
É quando fixo a atenção no telhado, o caminho que leva até o quarto ao final do corredor. Não, ele estava mancando e ferido, ele não, mas talvez um outro alguém não sentiria a dor de seu ferimento, outro alguém que psicologicamente falando pode ter um corpo livre de quaisquer danos, alguém que não estaria de fato grávido para se preocupar com os riscos de escorregar enquanto escalava pelo teto. As possibilidades são imensas, mas minha mente grita ALERTA porque aquela janela dá acesso ao quarto de Eve, dá acesso aos gêmeos.

Corro para o quarto, diminuindo o passo na entrada para não assustar ninguém ou fazer alguém se precipitar. Percebo a silhueta de Harry perto da cama, onde os meninos estavam escondidos. Com calma, sigo me aproximando.

A consciência de estar desarmado é um banho de água fria, mas a essa altura ele já me viu.

— Oh, olá, Tomlinson! Pode dizer ao saco de pulgas que se ele continuar rosnando para mim eu irei lhe dar um buraco no meio da testa? — Ele pede tão casualmente, o tom não combina com as palavras. Puxo Sonny pela guia, que segue rosnando em sua direção.

Posso captar a mudança, ele não parece combinar com seu corpo. É fato que outra personalidade assumiu o controle.

Ele está agachado, pingando dos pés a cabeça, o cabelo molhado grudado em partes do pescoço e bochecha, o cano da arma batucando em sua têmpora. Algo que Harry nunca faria, mas não se pode dizer o mesmo de alguém familiarizado a um revólver.
Houve algo também, a forma como ele falou. Parecia uma mania, um vício aleatório, mas ele puxava a boca para o canto superior da esquerda. Harry não fazia isso.

— Onde está Harry? — Indaguei com cuidado, minhas mãos livres me causavam aflição.

Ele deu de ombros, olhando para mim.

Aí está. Não era um olhar desafiador ou maligno, era só... Desconfortável. Ele olhava diretamente e sem hesitação, sem emoção. Como se visse tudo o que havia de pior em seu interior e não estivesse impressionado porque sabia ser pior.

Já vi esse olhar.

Sim, um pouco antes de perguntar se ele era Andrômeda. Ah, se eu soubesse naquele tempo o que sei agora.

Seja como for, quase posso sentir que se eu perguntar, terei a confirmação.

— Você é Andrômeda, certo?

— Sim, você insiste em me chamar assim, então acho que eu sou "Andrômeda". — Confirmou indiferente — Eu fiquei impressionada, nunca pensei que Harry iria tão longe ao ponto de cogitar morrer. Mas foi divertido por um tempo, toda aquela conversa dramática e o choro. — Solta uma risada divertida.

Eu me aborreço.

— Você se diverte ao vê-lo sofrer?

— Sim. Eu me divirto com tudo que envolva machucar, matar ou mutilar. Não me leve a mal, não estou aqui para ajudar ou proteger o Harry, algumas vieram com essa função de auxílio, mas eu sou só a externalização de algo mais intenso. — Explica, mantendo aqueles olhos amargos indo e vindo sobre mim, a mania com a boca se repetindo.

Preciso gravar isso.

Como o ódio?

— Bingo! — Grita estridente. Andrômeda é uma personalidade maníaca, ela olha ligeiramente acima do ombro e se mexe muito, em estado de urgência o tempo inteiro. O que vai na direção contrária ao seu modus operandi, seus crimes demonstram uma meticulosidade e frieza que parecem lhe faltar, ela jamais se enquadraria como um assassino organizado — Sabe, eu não podia te dizer nada diretamente, mas sempre torci para que você descobrisse. Você precisava descobrir para termos alguma emoção, matar aquela gente era divertido, mas isso, isso aqui é o Grand Finale. Então, vamos, me diga... — Sinalizou com a arma os meninos — qual desses é o Spencer? Quero atirar nele prprimeiro.

—O-Olha, não precisamos envolvê-los nisso. — Digo, me lembrando que tudo o que tenho comigo é um spray de pimenta que não serviria de porra nenhuma contra uma Glock carregada.

— Bom, eles são parte disso, querendo ou não. Sempre foram. Veja, um — Aponta para Spencer, sem saber que é ele, depois Blake —, dois — E por fim, eu — , três. Viu? Vocês são os últimos. Minhas vítimas.

Mas o Ashton...

— Ashton só foi para matar o tempo. Agora, me diga, quem é o Spencer? Vamos, se você colaborar eu posso cogitar não atirar na cabeça do outro, é Brandon, não é?

— É Blake.

— Tá, tá, Blake, que seja. Diga, em quem eu atiro? Incita novamente, uma empolgação anormal em seus modos.

Eu não...

— Louis, por favor. Céus. Bufa contrariada — Então, eu escolho. Esse! Aponta a arma para Spencer.

— Espera!

E dispara.

Sinto meu coração afundar.

O torpor e uma surdez temporária embargando meus ouvidos. Tudo parece fora de foco.

Caído em meus joelhos, espalmo as mãos sobre o chão, incapaz de me manter por si só.

Ela atirou nele? A essa distância não existem chances de escapar.

Ele é só um bebê... Ele está morto?

Andrômeda está imóvel, no mesmo lugar.

Quando reuni coragem para esticar o pescoço e olhar mais além, percebo algo que me devolve a vida. Spencer está resmungando e se virando, ainda inconsciente. De fato houve um disparo e esse aconteceu bem ao lado dele, a arma continuava rente ao travesseiro.

Isso foi proposital ou Andrômeda fez a proeza de errar?

Como uma resposta às minhas perguntas silenciosas, ela torna a se mover, vagarosamente, apenas o rosto se contorcendo em uma carranca. O restante imimóvel.

—Que merda você está fazendo?

De início penso que a pergunta é para mim, porém...

— Você entrou na porra do meu caminho. Eu te disse para nunca fazer isso. — Há um tremor no braço direito, como se tentasse movê-lo, mas não possuísse o controle sobre ele.

Isso é... Duas personalidades se desentendendo?

— Qual a sua, Kyle? Esses meninos não são seus, não finja que se importa, ninguém aqui se importa. Então, é melhor parar!

Kyle. Esse só pode ser o nome de alguma das personalidades que eu não sabia o nome. Tento reunir informações: megera, depressivo, norueguês... O depressivo era acovardado, quem se importaria o suficiente com as crianças para intervir? Já sei! O norueguês. O norueguês se chama Kyle, só pode ser ele.

— Devolva o meu braço ou você nunca mais verá a luz. — Ameaça a figura interna do seu subconsciente e arrisco, já que está tão entretida em sua conversação, em chegar mais perto. Contando com sua desatenção, poderia tentar desarmá-la.

Agora faz sentido, Andrômeda ser uma garota com tantas habilidades além de suas capacidades físicas. Ela é uma personalidade feminina em um corpo masculino. Uma verdadeira missão impossível de ser dedetectada.

— Allicent não vai gostar nada disso... — Diz entredentes e eu congelo.

— Allicent?

De repente, em menos de um segundo o controle do braço parece ter sido reavido e a arma não mais aponta para os meninos e sim diretamente para a minha cacara.

—Você já sabe demais, Tomlinson. — E atira.

Mas não rápido o suficiente para que me impedisse de desviar, agarro seu pulso, acertando-o contra meu ombro, tentando tirar a arma de seu punho. Andrômeda tem a mão firme e não cede de primeira, reagindo rapidamente em acertar uma joelhada no meu estômago.

Forte o suficiente para me fazer resfolegar, não para me parar. Devolvo o golpe contra seu peito, ela tomba até suas costas irem de encontro a janela aberta e por um triz não cai para fora, eu próprio perdi o fôlego com isso.

É só, tão fodido. Ao mesmo tempo que sei que preciso ir com tudo, continuo me contendo, porque em algum lugar ainda é Harry.

— Vai se arrepender de não ter me jogado. — Diz com um sorriso, voltando a disparar. Me escondo atrás da cama, enquanto as chuvas de balas acertam o closet, paredes, destruindo todos os tesouros que Harry guardara com tanto afinco, a memória de Evangeline.

Com cuidado, rastejo para fora do meu esconderijo, sem ser visto.

O plano parece ter dado certo. Andrômeda interrompe os disparos, olhando com atenção, à minha procura. Tem a mira fixa e a arma engatilhada ao chegar em meu esconderijo anterior, sem perceber que estou atrás da escrivaninha. Ajo rapidamente, às suas costas seguro seus braços, ela os ergue, atirando para cima, a poeira dos buracos abertos no teto cai sobre nós e o ligeiro praguejar de Andrômeda indica que seus olhos foram atingidos.

Perfeito.

Puxo novamente a arma e quase consigo desta vez, mas sem o recurso da visão, ela usa o que tem a seu favor, o corpo. E se joga para trás, luto para não cair, entretanto, não sendo o bastante para me impedir de recuar contra a parede do corredor. Antes de ficar encurralado, mudo as posições e é ela quem tem as costas sendo jogadas contra a parede, prendo sua mão, virando seu pulso, para que solte o rerevólver.

—Vamos, é melhor desistir. — Tento persuadi-la.

Andrômeda aperta a mandíbula, balançando a cabeça.

— Nunca. — Me acerta uma cabeçada. Por essa eu não esperava.

Tomo consciência do meu nariz sangrando e de seu corpo se afastando pelo corredor.

Não penso muito antes de me lançar contra ela, infelizmente bem na altura da escada e nós dois caímos, rolando pelos degraus.

Andrômeda desliza para fora dos meus braços, depois que a segurei em algum momento para que sua barriga não se machucasse durante a queda, mas ela definitivamente não levou isso em consideração quando engatinhou em direção a arma que havia sido perdida. A Glock praticamente brilhava no meio do hall.

Apanhei seu calcanhar no trajeto e a puxei de volta para mimim.

—Não, tire suas mãos de mim! Seu maldito! — Gemia e esperneava, tentando me golpear com seus punhos, mas eu já estava sobre ela, imobilizando-a no chão.

— Eu te peguei. — Ofeguei, ligeiramente tonto.

— Não, não, você não está nem perto disso, detetive.

Ri secamente, torcendo seus pulsos para assistir sua expressão de dodor.

—Confesso que estou bem desapontado, como alguém tão fraquinha conseguiu fazer tudo isso?

— Fraquinha? — Seus olhos escureceram — Bom, talvez você estivesse equivocado achando que se tratava de um único assassino.

— O que quer dizer?

— Eu quero dizer que você está ferrado!

Andrômeda sorriu divertida e fechou os olhos, suas costas se arquearam brevemente e quando tornou a abri-los pude sentir que era outro alguém.

Inexpressivo.

Ele puxou os braços que se soltaram com uma assustadora facilidade do meu aperto, sendo que há um instante atrás Andrômeda mal podia se mover.

Essa é a personalidade da outra vez.

E provando ser quem eu acreditava que era, me acertou um chute que me atirou para longe dele. Cai do outro lado, minhas costelas pareciam todas partidas, apertei os olhos, engolindo a dor quando o vi se aproximando, ambos os punhos fechados.

Nunca pensei que algo poderia dar a Harry um aspecto tão sombrio, mas essa identidade fazia um excelente trabalho. Os cabelos caindo contra o rosto e a expressão dura.

Cambaleei para trás.

Tentei abrir uma porta e depois outra. Todas estavam trancadas, assim como as janelas. Não sei onde está a minha chave.

Esbarrei com o interruptor e concluí, a energia também se foi. Isso não pode ter sido obra da tempestade, isso foi obra dele...

Ou melhor, deles.

Estou preso.

Olho para o lado e sem saída, resolvo arriscar o que me resta em um plano estúpido, ao menos sei que ele marcha em meu encalço quando corro até o porão, tropeçando na escada de tábuas frágeis.

A escuridão pesa contra ambos.
Esse Harry maligno desce devagar, a cada passo fazendo a madeira gemer. Tento ser silencioso, me esgueirando entre as tralhas acumuladas ao longo dos anos.

Ele caminha, posso enxergá-lo pelo fiapo de luz que se esgueira entre as frestas da casa, aperto o que tenho entre os dedos, esperando-o se aproximar o bastante. Ele vem, pouco a pouco até mim, alheio a minha presença e quando sei que não existe erro, espirro todo o spray contra seu rosto, mais diretamente em seus olhos.

Geme e grunhe, tentando tocá-los, mas agarro seus braços para trás, algemando-o. Empurro seu corpo contra uma mesa e ele tomba o peito contra a superfície lisa, se remexendo até relaxar.

— Merda...!

— Andrômeda?

— Se eu deixasse a Sugar assumir isso facilmente acabaria em sexo.

— Eu não acho que esse truque pode funcionar, não depois de tudo o que soube.

— Mas você ainda não sabe de nada, detetive.

Eu não entendia o que ela queria dizer, apenas queria tempo. Por isso levei o pano com clorofórmio contra seu rosto, e em questão de minutos estava inconsciente.

Quando seu corpo tombou, o segurei em meus braços. Assim ele parecia o Harry de sempre, belo e inofensivo, o rosto relaxado aninhado ao meu peito, seus longos cílios fazendo sombra nas bochechas rosadas, os lábios cheios quase formando um biquinho, quem poderia imaginar que nesse mesmo corpo habitam criaturas capazes de tantos horrores?

Xx

Calei meus pensamentos quando ouvi o ruído vindo dele, indicando que estava despertando. Ele ficou inconsciente por quase quinze minutos, não foi o suficiente para que eu pudesse administrar toda essa bagunça.

Assisto-o silenciosamente, resignado na poltrona, enquanto ele pisca preguiçosamente, remexendo as mãos, algemadas em cada extremidade da cama, as pálpebras se abrem e sua reação vem com um ligeiro delay, mas ele tem um sobressalto ao estar diante do corpo de Ashton, a cena mórbida não só o assusta como o faz gritar histericamente, ele puxa as mãos, percebendo que está cativo e se desespera ainda mamais.

—Merda, o que é isso? Onde eu estou? O que aconteceu?

— Harry?

Cogito por um momento, mas a forma como ele se encolhe e treme. É só um menino muito assustado.

— L-Louis? — Ele finalmente me encontra ao seu lado — Acho que eu esqueci como chegamos até aqui. — Se esforça para adquirir uma postura mais madura, e falha miseravelmente.

Suspiro, passando as mãos pelos cabelos e sentando na ponta da cama.

— Não precisa fingir que é ele.

Os olhos verdes dobram de tamanho, o rosto empalidece automaticamente.

— Querido, eu não...

— Sem essa, onde está Andrômeda? Ela ficou com tanto medo de me encarar que mandou o aborrecente?

— Eu não sou aborrecente! Tenho quase dezoito. — Esclarece, ofendido, só então se dando conta do que disse — Quer dizer, hum, e-eu...

— Não tem que mentir pra mim.

Ele concorda, enfim, desistindo.

— Desculpe, eu não sou nenhum mentiroso, mas não podia dizer nada para o senhor. Na verdade, acho melhor eu voltar, não deveria estar aqui, se alguém perceber que eu estou com a luz agora...

— Não, não, por favor, espere! — Avanço, suplicando — Você é um dos poucos que não parece um maluco completo, então, por favor, fale comigo.

— Hum... — O garoto fica pensativo. Diferente de Andrômeda, ele não tem uma mania evidente, mas parece ter uma certa incapacidade de olhar diretamente nos olhos, ele tem um olhar vago — , meu... Meu nome é Cody, tenho dezessete anos e meio e grandes chances de ir para Princeton.

Que caralhos?!

— Oh, isso é, isso é muito bom, parabéns, Cody! Como você já sabe, eu sou Louis Tomlinson e sou casado com o dono do corpo em que você mora.

— Eu não moro em um corpo. Ele é meu também. — Retruca, ligeiramente áspero.

— Ah, sim, com certeza, desculpe o meu erro. Então, vocês todos vivem aí juntos?

— É por aí, eu não fico muito com o grupo, provas finais e tudo mais.

Harry tem a porra de um vestibulando dentro dele. Que pesadelo.

— Você pode falar com os outros?

— Sim, mas eles não curtem muito falar comigo. Nem contam o que está acontecendo, é meio chato, pra falar a verdade.

— Entendo... Foi você quem cortou os pulsos, daquela vez?

Cody olha para baixo, os lábios apertados em uma linha dura e por fim balança a cabeça, assentindo.

— Você é o único com depressão neste grupo?

— Uhum. Eu fui o premiado, Aimee tem alergia a gatos, mas nunca fica triste, ela está muito ocupada adorando a si mesma.

A megera egoísta, só pode ser ela.

Harry, Andrômeda, Sugar, Kyle, Cody, Aimee.

Allicent.

Sete?

— Cody, quantos são?

Ele abre a boca, mas antes que diga algo, se assusta.

— Essa não! Alguém me viu... — Guincha angustiado, como se visse alguém e como Andrômeda, seus olhos se fecham e o corpo arqueia brevemente. Os olhos se abrem, grandes e curiosos, adoravelmente cruéis — Olha só onde o franguinho se meteu, você está tão fodido, garoto. Vão matar você. — Sorri animada, essa é Aimee, tem que ser.

Ela me olha, porém, não dá tempo de me ver, porque uma troca torna a acontecer.

Esse grupo está fora de controle.

— Louis Tomlinson, seu fodido idiota! — Essa voz rouca, melodiosa e estranhamente sedutora me é familiar.

— Sugar! — Exclamo aliviado. Ela não é exatamente uma aliada, mas diante das demais opções é a menos tetenebrosa.

— Foda-se se você me reconhece, eu tenho esfregado isso na sua cara há tanto tempo. Não importa. O que ainda está fazendo aqui? Você tem alguma noção do inferno que eu passei tentando manter Allicent fora disso, ela vai mandar seus cãozinhos atrás de mim. Sabe bem o que Andrômeda é capaz de fazer e ela vai acabar com a minha raça por ter trancado ela naquele maldito quarto, mas eu ousei pensar que você usaria um dos seus raros neurônios para sair dessa casa, pegue aquelas crianças chatas e seus bichos fedorentos e vá.

— Eu não posso, eu não posso simplesmente virar as costas para o Harry, ele precisa de ajuda.

— Não existe ajuda, Louis. Você está preso na porra de uma ilusão, isso aqui é um filme de terror, não tem como escapar, não mais. — Ela diz em voz baixa, é a primeira vez que ela não está jogando seu charme para cima de mim ou me envolvendo e é quando consigo enxergá-la, através dos traços de Harry, visualizo aquela figura que ele pintou certa vez — Eu te odeio tanto.

Engulo em seco quando uma lágrima desliza por seu rosto, ela franze o cenho, tentando parecer indiferente. Sento mais perto, tocando sua lágrima, sem secá-la, apenas sentindo.

— Há quanto tempo você vem me protegendo? — Sugar bufa — Só desta vez não precisa bancar a durona.

— Eu sou durona. Sei lá, tem um tempo. Quem liga? — Resmunga

— Eu ligo. — Digo, selando brevemente nossos lábios, me afasto, mantendo nossas testas juntas — Obrigada.

Ouço seu fungar e sua testa relaxar contra a minha.

— Andrômeda é uma psicopata, ela só gosta de ferir e matar do jeito mais cruel possível, mas ela não é o cérebro por trás disso, a inteligência, a força e a habilidade, o fato de nunca terem nos alcançado, de todos os crimes perfeitos. Isso se deve aos outros.

— Que outros?

— Louis, tem quatro assassinos aqui. — QUATRO? — Sua cadela maldita! — O grito de abrupto me apavora. O corpo de Harry começa a se debater, o metal tilintando contra a cabeceira em um ruído alto e estridente, seus cabelos caem por todo o rosto e entre as frestas encontro o olhar de Andrômeda — Me solta.

— Não. — Levanto, tomando distância.

— Detetive, não precisa ser assim. Podemos negociar, o que acha? — A voz amena é tão descaradamente fingida.

— Acho que está na hora de ligar para o FBI. — Olho para baixo, o meu telefone está destruído depois de ter ficado na linha de frente do nosso primeiro confronto.

— Claro, vá em frente, enquanto isso eu vou matar o Harry.

— O quê?

— Você ouviu, detetive. Se não tirar as algemas, eu mato ele.

— Está blefando. Não pode fazer isso.

— Eu posso tudo. — Diz pausadamente. Um segundo depois, Harry está de volta, puxando o ar com força, como se tivesse retornado à superfície depois de um longo tempo submerso — Louis! Louis! Perdão, eu achei que conseguisse, eu pensei que... Eu pensei qu–

A cabeça dele tomba para frente, o peito se movendo rápido demais, a respiração ruidosa.

— Ah, meu...

Harry grita, um grito seguido de outro, de pura dor e agonia.

— V-Você está fingindo, não é ele... Não é. — Luto para acreditar nestas palavras.

— Lou, desculpa, d-desculpa. — Sibila entre um gemido e outro.

— Não é verdade. — Coloco as mãos na cabeça, sentindo as lágrimas acumularem — Não.

Ele se dobra novamente e desta vez cospe sangue.

Okay, isso não tem como ser fingimento.

— Harry. — Vou até ele, quando seus gemidos encerram e seu corpo estremece rapidamente, até que começa a convulsionar — Puta merda! — Tiro as algemas, puxando-o para o meu colo, completamente inconsciente, apenas seu corpo permanece tremendo até que para completamente e ele amolece em meus braços — Harry, amor, acorda. — Dou tapinhas fracos em sua bochecha e passo a chacoalhá-lo, não há resposta Não, não, não...

De repente, ele desperta e salta para cima de mim, seus movimentos vem com tamanha velocidade e força que sou facilmente rendido, desta vez não parece disposto a um confronto, seu antebraço pesa contra meu pescoço, bloqueando a oxigenação.

— Foi divertido. — Andrômeda ri ao me asfixiar.

— Você estava fingindo. — Digo com dificuldade, sem conseguir escapar.

— Não, só na parte em que mordi a língua, mas Harry realmente se foi. Olha só, Harry Edward Styles? — Olha para os lados, como se esperasse que ele fosse se materializar — Harold? Harry Tomlinson? Oh, acho que não tem mais nenhum Harry por aqui. — Finge lamentar quando estou quase inconsciente, ela sopra em meu ouvido:

—Harry está morto.

Xx

Em algum lugar há um ruído, seguido de outro, uma pancada, uma porta batendo, um choro baixo. Sinto minha pele quente, como se estivesse sob os raios de sol, aquela manhã em que acordei em uma nuvem de relaxamento em nossa cama, nenhuma preocupação, nada além de deixar que meus dedos corressem pela coluna de Harry, ouvindo sua respiração suave e sentindo seus cabelos acariciando meu rosto. Doce, suave e morno, era o céu.

Onde estou agora?

Abro os olhos de súbito. Tento me mover, mas estou completamente preso, braços, pernas, tudo bem apertado e preso envolto a uma cadeira, as correntes grossas me espremem, a porta do banheiro está fechada e o corpo de Ashton conseguiu alguma privacidade. É sempre doloroso pensar na situação em que meti esse garoto.

— Shhh, está tudo bem. — O sotaque forte me faz olhar sobre o ombro. Porra.

"Harry" está sentado na cama, embalando um dos gêmeos em seus braços, apenas o cabelinho castanho me é visível, o choramingo diminui até restar o som da respiração baixa.

— Bom menino.

E o deita cuidadosamente.

Esse é o tal Kyle.

— Ele está acordado. — Diz e ele mesmo responde — Não, não quero fazer parte disso, apenas quero ajudar o grupo nada além disso. Por favor, só os deixe de fora disso. Eu- eu entendo. Sim, sim, me desculpe...

E dada por encerrada a discussão se levanta e caminha até mim e é quando percebo a grande diferença, ele não está mais vestido como um assassino esfarrapado, agora usa jeans e camisa de botões, tudo em preto e casual, botas de cano curto e a aliança cintila em seu dedo com um brilho dourado, mas o que há de mais chamativo é o cabelo.

Ele sumiu, simplesmente não há mais os cachos longos caídos por seus ombros. Mechas curtas e lisas jogadas para trás tomaram seu lugar e ele parece outra pessoa ao se sentar na cadeira diante de mim, pernas e mãos cruzadas sobre o colo, a expressão sóbria como a de um terapeuta.

Alguém muito paciente e meticuloso, mas sem a frieza e distanciamento de Kyle. Era uma personalidade presente em demasia, que sabia demais e totalmente controlada.

— Então, vocês alteram a aparência dele também? — Indago, engolindo o nervosismo.

— Existe um propósito maior, faz parte do plano. — Sem sotaque ou maneirismos — Sinto muito por toda essa bagunça, houveram desavenças mais cedo e eu não estive presente para manter o grupo em ordem, realmente lamento.

— Quem é você?

— Quem sou eu? — Suspira com um meio sorriso, não há a amargura de Andrômeda, essa é quase... Cativante, tem uma certa doçura em seu modo de falar. O tipo de pessoa que poderia passar a imagem de inofensiva, de te convencer a deixá-la entrar em sua casa e que você não suspeitaria que ela fosse matar toda a sua família em uma espécie de ritual macabro. Enrijeço com a suposição — Sempre pensei nisso, em todos esses anos, o que eu te diria se pudesse me apresentar? É tão surreal, Louis.

— Você é a Allicent.

Ela olha para mim e deixa o sorriso se ampliar, como se estivesse encantada por me ouvir dizer seu nome.

— Sim, Allicent Rose, você não devia saber disso, senão fosse aquele meu momento de descuido. Estava num período muito atordoada, entende? Eu fiquei muito preocupada com o seu desaparecimento.

— Mas pelo jeito o meu retorno não foi o bastante para que você mandasse os seus pararem com a matança. — Disparo incisivo e uma contração desponta em sua mandíbula, aborrecimento.

— Eu não mando neles. — Ela diz, reavendo a calma.

— Sei que está mentindo.

— Você acha que sabe demais, Louis.

— Tudo bem. — Mordo os lábios, concordando — Então, me diga o que eu não sei. Como isso tudo aconteceu? Como Harry Styles ficou desse jeito? Como um assassino em série surgiu? Só me... Me ajuda a entender.

— Te ajudar... Bem, acho que posso fazer isso por você. Checa seu relógio de pulso temos algum tempo. O que dizer, o que dizer? Oh, melhor começar do princípio, não sou boa com histórias, mas ironicamente vim de uma. Ilaviam esses livros imensos com capas duras e figuras esquisitas, lá era o meu lar, entre aquelas páginas estava aprisionada, um personagem sem vida, sem forma, um brinquedo de plástico que era usado para matar, apenas. Tão monótono. A velha boneca Allicent Rose, seu divertido brinquedo demoníaco. Péssimo. Porém, tinha esse garoto impressionável e franzino que via algo em mim, ele gostava de mim, pensava em como era ser eu, fazer o que eu fazia, até que um certo dia algo muito ruim aconteceu em sua vida.

— A morte de Desmond.

— Sim, a morte do pai por suas próprias mãos, veneno é um artifício cruel, assistir alguém praticamente se desintegrando, sofrendo tão dolorosamente ao ponto de quem vê sentir na pele. Pobre Harry, ele adorava o pai, mas sua mãe tinha outros planos e não era bom que o filho saísse por aí contando o que ela armou, por isso o convenceu de que o culpado por aquilo era ele. Ela o segurou pelos ombros, olhou bem em seus olhos e disse: você fez isso, por quê? Ele era o seu pai e você o matou, que tipo de monstro faz isso?" Harry Styles definitivamente não, ele era um bom garoto, um garoto com tanto medo e tão horrorizado com a possibilidade de ter sido o causador daquilo. Afinal, apenas tinha levado o chá que a mãe pediu. Harry não podia lidar com aquilo, foi quando eu cheguei, eu pude ouvi-lo me chamando, suplicando que eu ficasse com ele, que cuidasse de tudo e eu cuidei.

Então o trauma da morte de Desmond trouxe Allicent.

— Eu era a primeira e por muito tempo achei que fosse ser a única. — Diz com nostalgia Nunca estive fora de um livro antes, agora eu tinha pernas e braços, podia correr e falar e crescer, era tudo tão incrível e intenso e eu adorava Harry, adorava-o com todo o meu coração, o motivo da minha existência era cuidar dele, protegê-lo. O que houve com seu pai jamais o atormentaria, eu havia tirado aquele sofrimento de sua cabecinha e tudo estava bem. - Uma pontada de decepção perpassa por sua voz ao dizer a última palavra — Mas Anne teve a péssima ideia de colocá-lo naquele colégio. Aquilo seria o nosso fim, era óbvio. Os primeiros anos foram terrivelmente ruins, nem mesmo eu podia cuidar de Harry naquele lugar, as outras crianças eram cruéis e más e de repente, tinha alguém choramingando e se escondendo, foi quando percebi que mais alguém tinha chegado. Cody veio como resultado de todo o bullying e perseguição, ele era duas vezes mais covarde que Harry. Não estava preparada para aquilo e não sabia como impedir que aquele menino se machucasse ou arriscasse não só o Harry, como a mim mesma.

— Então, você não sabia sobre a possibilidade dele ter TDI?

— Claro que não. — Ela nega — Mas logo estávamos recebendo um novo membro ao grupo, quando Harry passou a desenvolver certa admiração pelas meninas que ele via do colégio ao lado, garotas marrentas e sem escrúpulos, ele começou a pensar muito em como seria poder agir como elas agiam. Sabe, as personalidades não são moldadas ao nosso bel prazer, elas se criam sozinhas, mas o pensamento obsessivo do hospedeiro pode ajudar a conceber alguns traços dela e foi o que aconteceu com a Sugar.

Allicent se remexe na cadeira, uma pitada de desconforto denuncia que Sugar é uma inimizade declarada, mesmo assim tento confirmar.

— Uma outra personalidade feminina, você deve ter gostado da companhia.

Ela me fuzila com os olhos.

— Eu não precisava de companhia, eu já tinha o Harry e precisava lidar com um garoto problemático, a última coisa da qual precisava era uma puta.

Certa, ela a odeia.

— Porém, ela teve sua utilidade, Harry cresceu muito em popularidade com o auxílio dela e na adolescência já não tínhamos mais contratempos com os valentões, no entanto, ela tinha essa mania repulsiva de se envolver mais do que devia. — Franze os lábios — Ela gostava de se divertir e nenhum de nós queria isso, mas ela não se importava e em um claro desafio a mim começou a se encontrar com o diretor.

— Era a Sugar. — Concluo para mim.

— Óbvio que era a Sugar. Somente ela se prestaria ao papel de... Foi uma experiência bastante traumática, Louis. Talvez seja difícil para você compreender, mas apesar de não compartilharmos dores físicas nós partilhamos de sensações e quando está ao nosso alcance tentamos intervir, existe algo que chamamos de "luz" que nada mais é do que o poder de estar consciente, naquela época em que éramos apenas quatro qualquer um podia tomá-la no momento em que quisesse, mas Sugar abusou disso, ela sempre estava com a luz e nunca pensava no grupo, nunca pensava em Harry. Sabia o que ela fazia com os garotos e quando escapava do colégio e ia as festas universitárias, porém, aquilo com o diretor, todos nós sentimos e não podíamos fazer nada, porque ela estava no controle, era como se o corpo de Harry fosse só uma casca para ela, ela não o respeitava, precisava ser detida, foi por isso que a outra veio.

Começo a assimilar o que ela está dizendo.

— Isso significa que nem todas vieram de traumas?

Allicent examina as cutículas, desinteressada.

— Sim, as próprias identidades podem conceber outras. Claro que esse é um nível bem elevado, mas Harry e eu estávamos juntos há tantos anos e não podia permitir que a Sugar o destruísse, então, Aimee surgiu e ela era uma ótima garota, interessada única e exclusivamente nela, para ela pouco importava as nossas desavenças e quando a garanti que ela teria todas as roupas e extravagâncias que desejasse, ela ficou ao meu lado. Então, éramos três contra dois, Cody veio para o meu lado rapidamente e eu tomei a luz para mim, e como você disse, assumi o controle.

— E o Harry no meio de tudo isso?

— Oh, o Harry estava fantástico, ele tinha amigos, uma ótima rotina de estudos e conseguiu uma bolsa para a faculdade dos sonhos dele.

— E estava completamente alheio ao que se passava dentro da própria cabeça.

— Ele não precisava daquele estresse, não precisava saber de nada além do futuro brilhante à sua frente.

— Ele nunca soube sobre vocês?

— Hum, naqueles primeiros meses, ainda na infância, nós conversamos, brincamos, mas depois ele pareceu se esquecer da minha existência e foi melhor assim. Ele estava seguro desse jeito.

— Seguro, mas cada vez mais doente. Você podia tê-lo ajudado de verdade, permitindo que ele encontrasse um tratamento para a doença.

— Não existe doença, logo, não há necessidade de tratamento. Nós somos a família dele, sabemos o que é melhor pra ele.

— Vocês–

Allicent revira os olhos e se levanta, contornando a cadeira e se apoiando nas costas dela, uma mecha de cabelo desliza por sua têmpora.

— Na faculdade vieram os dias de glória. Harry fazia o que queria e não haviam ameaças, todos nós estávamos bem, até que você bateu a nossa porta.

— Quer dizer que quando o conheci ele já tinha...

— Sim, cinco personalidades.

— Meu Deus! — Fecho os olhos, descrente de tamanho absurdo.

Observando o meu abalo, ela inclina a cabeça para o lado e se aproxima, ficando de joelhos diante de mim e uma mão deslizando pela minha bochecha, recuo, estranhando o gesto, mas ela não para.

— E você foi a melhor coisa que nos aconteceu. Não, não, que me aconteceu. — Diz sorrindo, quase maravilhada só de me olhar.

— Te aconteceu?

— Sim, porque fui eu quem me apaixonei por você.

O quê? Sinto meu corpo enrijecer por debaixo das correntes.

— Não, não, o Harry...

— O Harry eventualmente também gostou de você, mas desde o início você era meu.

— I-Isso é mentira! — Elevo o tom de voz, sabendo que ela está brincando com a minha cabeça — Você já está aqui. Já destruiu tudo, já tirou ele de mim, não precisa acabar com o passado também.

Allicent recolheu a mão, deixando-a sobre o colo, as sobrancelhas unidas em irritação.

— Eu não destruí nada, tudo o que eu fiz foi por você, pelo Harry, por essa família. — Fala cortante — Você pode até não aceitar, mas fui eu quem me apaixonei por você, foi comigo que você dançou naquele bar e também era eu na nossa primeira vez.

Continuo negando em silêncio.

— Eu fiz muitos planos para nós dois, era a minha primeira vez amando e estava tão feliz que é óbvio que a Sugar tinha que estragar.

Interrompo meus pensamentos para escutá-la com a devida atenção.

— Ela voltou aquele internato, voltou para aquele velho repulsivo e... — Sua expressão se contorce em nojo — deixou que ele fizesse coisas tão repulsivas quanto conosco, ela sabia como aquilo me deixava possessa, como aquilo bagunçava a mente do Harry. Talvez hoje em dia, diante das demais personalidades ela pareça ser muito boazinha, mas houve o tempo em que ela era a pior de nós e quando aquele monte de lixo estava terminando de se vestir, ela me devolveu a luz que havia me roubado, apenas para que eu sentisse meu corpo pegajoso e fedendo aquele homem. Ela adorava mostrar que podia me rebaixar, me levar a lama junto com ela e naquele momento eu fiquei tão irada e fora de mim, não podia fazer nada contra Sugar, mas o Sr. Prescott, bem, com ele sim. Então só peguei o abridor de cartas que observei por tantos anos, quando estava presa tendo de assistir ao horror que eram as transas imundas com ele e perfurei seu pescoço quando estava entretido em fechar as calças, podia ter parado ali, mas eu sentia tanto ódio que sabia que não ficaria satisfeita enquanto não rasgasse toda a sua garganta e isso me provocou uma sensação maravilhosa. Mais tarde naquele dia você me levou ao nosso restaurante preferido, foi uma noite divina.

Sinto meu estômago revirar ao pensar que uma coisa dessas aconteceu naquela época em que Harry tinha aquele rostinho doce e era pouca coisa mais alto do que eu. Ele era um anjo, com um demônio o guiando.

— A história podia ter sido encerrada ali, se semanas depois os sintomas não tivessem aparecido. Sugar tinha engravidado de Prescott e por um triz ela teria feito um aborto, lembro de despertar no corredor, a espera de ser chamada. Ela não queria um bebê de jeito nenhum, mas havia algo em mim que se apegou aquele sentimento de estar gerando uma vida, mesmo que não fosse minha, mesmo que eu não fosse capaz de sentir por inteiro, ela podia ser minha, podia ser toda minha. E sua. Sim, eu queria que ela fosse sua também.

— Por isso mentiu pra mim. — Sussurro com a voz séria.

— Eu não menti! Ela era sua, tão sua quanto minha. O sangue não importava, ele estava morto e eu te amava e nós estávamos construindo a nossa família, pela primeira vez eu tinha um propósito a mais do que o Harry, eu tinha você e a Eve. Tinha tudo o que sempre sonhei, uma casa linda e um cão. Era perfeito! Exceto você, você não era perfeito como eu acreditava, não importava o quanto eu te amasse ou me esforçasse para termos um lar agradável e amável só para você, tudo o que te interessava era beber e se drogar, Louis. E daí você também tinha uma outra filha com Zayn Malik e isso partiu meu coração, então, pensei no que poderia partir o seu coração também. Você e Kacey viviam grudados graças ao vício de vocês, ela era uma péssima influência, mesmo depois que deixaram de ser parceiros vocês não se desgrudaram... Precisei tomar medidas mais drásticas para salvar nosso casamento.

Meus olhos crescem em espanto e horror.

— O que você fez?

Allicent dá de ombros.

— Pedi ao Nick que cuidasse disso, contudo, ele foi além do que eu esperava e não importa, todos acreditaram que era suicídio e você podia voltar a ser o Louis de antes. Mas não foi o que aconteceu, você piorou... Piorou ao ponto de chegar em casa completamente alucinado, devia imaginar que era melhor só sair do seu caminho, porém, antes que eu pudesse raciocinar você já estava gritando com a Eve por ela estar tocando violão aquela hora da noite, eu não podia tolerar que alguém falasse daquele jeito com o meu mundo, nem mesmo você.

— Eu não lembro disso.

— Claro que não, estava tão bêbado. — Ela acaricia meu cabelo — E não gostou nem um pouco quando o confrontei, então encheu um copo de uísque e invés de beber você o tacou em mim.

— Não... Eu não fiz isso, não fiz. — Balanço a cabeça, eu não tenho nenhuma lembrança disso.

— Fez, veja. — Aponta a cicatriz fina abaixo do queixo — Isso foi você, meu amor. Na hora eu fiquei tão em choque, você tinha me machucado e sangrava tanto, não queria que a Eve me visse daquele jeito, então corri para o banheiro, tentando limpar aquilo, mas você veio atrás de mim e sabe o que você fez?

Engulo em seco, sentindo meu pomo de Adão arder. Eu não sei, mas posso imaginar.

— Você puxou os meus quadris para trás e pressionou meu rosto contra a pia quando eu protestei, eu não queria, é óbvio que não queria. Só que isso não te impediu de rasgar as minhas roupas e meter a seco como se eu fosse a porra de uma boneca inflável, você me disse que estava infeliz e não suportava que eu fosse tão alegrinho e sorridente, me queria infeliz também. Foi uma situação que eu não pude calcular, então houveram oscilações, você não estuprou só a mim, você estuprou a Sugar, você estuprou o Cody, você estuprou a Aimee, você, principalmente, estuprou o Harry.

— Não! Para de mentir! Para com isso! — Vocifero, tentando me desfazer das amarras a força, forçando minhas pernas e braços a romperem como for as correntes — Para...

— Eu lembro de te pedir pra parar. — Suas mãos correm por minhas coxas, se apoiando nelas para erguer o rosto até o meu — Mas você continuou, e não satisfeito me empurrou contra o chão e continuou porque sabia que aquilo estava me machucando, queria me ferir de todas as formas possíveis e quando veio dentro de mim, fez questão de dizer o quanto me desprezava. Bem, foi um belo banho de água fria para quem te tinha como um príncipe encantado. Então, você se levantou e tropeçou até a nossa cama onde caiu desacordado e eu fique lá, no chão do banheiro, pela primeira vez nenhum de nós conseguiu reagir. Todos estávamos feridos e machucados, engolidos por um trauma tão inesperado. Eu não sabia o que fazer, foi quando percebi que nosso corpo estava se movendo, indiferente a dor latente e ao sangue escorrendo pelas nossas coxas que deixou o Cody em choque até hoje, essa força súbita não se importava com dor ou vergonha, ela só... Se movia. Ao passarmos pelo espelho eu a vi, você só consegue enxergar o rosto do Harry, mas aqui dentro podemos ver o rosto de cada um e somos todos distintos um do outro, mas ela... Andrômeda é deformada, há uma ligeiríssima semelhança comigo, porém sua pele repuxada e derretida e os buracos no lugar dos olhos não são agradáveis de ver, é como quando Dorian Grey vê a podridão da sua alma no quadro, eu pude enxergar a podridão da nossa dor na imagem refletida e soube que aquilo não poderia ser controlado facilmente e que ela era mais minha do que do que Harry. Andrômeda se arrastou até você, como um morto-vivo, chegou bem perto do seu corpo e colocou ambas as mãos ao redor do seu pescoço, bêbado como estava seria tão fácil, tão rápido, eu desejei que ela fizesse. No entanto, alguém me chamou, a minha voz predileta no mundo todo, Eve estava lá, encolhida em seu pijama, longos cabelos armados com os olhos vidrados onde eu o tocava, ela me pediu pra não te machucar. Não te machucar? Depois do que você fez. Andrômeda o deixou para ir até ela, eu sabia que ela iria matá-la, Eve iria morrer e só havia aquele desejo enlouquecedor de esquecer tudo e pensar só nela, só na minha filha, nada mais importava além do meu bebê. Então, Kyle nasceu, segundos após Andrômeda, ele a pegou nos braços, a tranquilizou e a colocou para dormir, se limpou e dormiu no quarto de hóspedes, tão indiferente quanto eu jamais seria. Mas sabe a melhor parte em tudo isso? — Nego, incapaz de achar algo de "melhor" nisso tudo, Allicent sorri — Você engravidou o Harry naquela noite, os gêmeos vieram disso.

— Não, não... É mentira!

Ela se inclina sobre mim, o sorriso crescendo.

— É verdade, você fez isso e toda vez que eu olho para eles, me lembro do que você nos fez. A prova do seu crime perverso está bem às suas costas. Andrômeda só existe por causa de você.

— Está mentindo só pra fazer com que eu me odeie — Consigo dizer.

— Você sempre se odiou, Louis.

— Então, quer que eu odeie os meninos, quer me convencer a matá-los.

— Isso seria ótimo, só daria mais veracidade ao meu plano.

— Qual é o seu plano?

— Vamos chegar lá, ainda preciso te apresentar a mais duas adoráveis personalidades de Harry. — Diz, retornando a sua cadeira.

— Duas?

Isso significa que são nove?

Nove personalidades.

Quatro assassinos.

Os dois assassinos que ajudam Andrômeda e Allicent.

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