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│23│pegasus


O único paraíso para o qual serei enviado
É quando estou sozinho com você
Eu nasci doente, mas eu amo isso
Take Me To Church - Hozier

. . .

— Isso não tem a menor graça. — É a primeira coisa que Gemma diz ao me ver entrando na sala depois de muito argumentar com Hemmings, já que claramente não deveríamos ter nenhum contato uma vez que somos da mesma família.

— Certo. Eu preciso que você se mantenha calma. — Digo apaziguador, indicando que ela se sente na cadeira. Ela nega, erguendo os pulsos algemados.

— Tira essa merda de mim!

Olho em direção a Luke que segue com os braços cruzados e negando com a cabeça.

— Eu não posso. — Suas sobrancelhas se unem em desentendimento — Você agrediu dois policiais, um deles está com o supercílio sangrando até agora.

— Ele me agarrou.

— Ele te deteve.

— Tanto faz. A questão é, eu não fiz nada e me jogaram nesse lugar e estão me tratando como uma criminosa.

Ao que parece ela ainda não tinha noção da gravidade de sua acusação.

— Gem... — Torno a sinalizar a mesa de ferro e a contragosto ela segue, sentando quando puxo a cadeira, o impacto do metal das algemas retumbando ao cair sobre a mesa. Puxo a cadeira diante dela — Certo. Você foi detida como suspeita de ser Andrômeda.

— Andrômeda, eu?

— Exatamente.

— Só pode ser piada. — Balança a cabeça descrente.

— Muita coisa foi encontrada no armazém ao lado da casa da sua mãe. Objetos que são provas circunstanciais dos crimes, troféus que foram recolhidos e nunca divulgados à imprensa, como uma garantia de que apenas o criminoso as teria. E encontramos chamadas entre você e Aaron Johnson que tinha uma ligação direta com Andrômeda, vocês se falaram antes dele morrer.

Ela suspira, apertando os lábios.

— Éramos velhos conhecidos, o que isso tem demais?

— Ser a última pessoa a ter contato com alguém que veio a óbito te coloca em uma posição muito delicada.

— Mas você não disse que essa Andrômeda foi atrás de você? — Diz com a respiração engatando, sua pouca paciência se esvaindo — Que te deu uma surra? Olha pra mim! Você acha que eu consigo dar uma surra em alguém? Que eu consigo içar um cara de 120 quilos no ar com uma corrente ou, sei lá, render uma família de três pessoas? Você sabe que não. Eu nunca conseguiria fazer nada disso, não tem cabimento, eu sou fisicamente incapaz de qualquer uma dessas coisas.

Desvio o olhar antes de dizer o que Luke me passou.

— É por isso que você foi colocada como idealizadora e tem um parceiro, alguém que te ajuda.

— Oh, eu tenho um parceiro agora? — Ela ri secamente — Hoje de manhã o meu maior dilema era escolher de que lado deixar a franja e agora eu sou um gênio do mal, meus ícones femininos são Lizzie Halliday e Mary Ann Cotton, em Julliard eu passava meu tempo livre desossando gatos e cachorros que passavam pelo Campus. Agora tudo faz sentido.

Eu ainda tentava raciocinar em como isso tudo foi respingar em Gemma, em como tudo aquilo tinha sido direcionado para ela, eram provas demais, evidências demais. Muito mais do que com o casal, aqueles dois eram tão ridiculamente óbvios, mas ela era fora de suspeitas e seu QI elevado a colocava facilmente como uma perfeita idealizadora, lhe faltava força física, mas nunca inteligência. E quem quer que fosse a pessoa que a colocou como alvo contava com um ponto fraquíssimo de Gemma.

Os ruídos do outro lado eram evidentes. Haviam mais pessoas do que o aconselhável nos observando e ela podia ouvi-los claramente, os risinhos e conversas sarcásticas sobre a "perneta mal amada destruindo famílias inocentes", assisti suas narinas inflamando e as veias salientes em seu pescoço. Me inclinei segurando sua mão.

— Você não pode ficar nervosa agora.

Ela me deu um olhar sombrio. Semelhante ao que Harry me dera daquela vez no corredor, quando sua alma parecia distante.

— Eu não estou nervosa. — Ela rosnou se levantando e sem mais jogando a cadeira contra o vidro, não foi o suficiente para quebrar, mas assustou quem nos assistia e principalmente enfureceu Hemmings que mandou a SWAT entrar na sala, antes disso Gemma me agarrou como pode pela lapela da jaqueta — Os quadros, tinha alguma coisa com os quadros?

— E-Eles encontraram DNA, sangue por debaixo da tinta. — Disse rapidamente, vendo os homens empurrando a porta e vindo em sua direção, ao menos uns quatro a puxaram para longe de mim.

— Foi ele, Louis. Você sabe que foi ele. — Gritou e vi a sombra de Luke sinalizando algo e logo um dos homens tapou a boca dela, arrastando-a para fora.

Foi ele.

Luke e Aaron. De repente, nada mais parece ao acaso, um grande quebra cabeças está sendo montado e todas as peças se encaixam.

— [...] Harry não te falou? Que estranho! Bom, ele está me ajudando. Tenho algumas pinturas mais antigas que precisavam de uns retoques nas cores e ele se ofereceu para fazer isso. Achei até um pouco suspeito, ele nunca quis retocar um quadro meu. O que será que ele está planejando?

— O amor pode ser uma desgraça em momentos assim, porque ele é capaz de colocar camadas de pele sobre seus olhos para impedir que você veja aquilo que está claro.

— [...] Você não é e nunca foi feliz ao lado de Harry, pode se enganar o quanto quiser, mas vocês dois juntos nunca foi uma coisa boa... Ele não é uma coisa boa.

— [...] Ele precisa que você cuide dele, que o mantenha aqui, conosco.

— Por que eu tenho um plano e não quero que me atrapalhe.

— Harry, você é Andrômeda?

Ah, meu Deus.

Xx

Bato a porta do carro e Anne olha sobre o ombro, o queixo raspando sobre o casaco grosso de inverno, o vento intenso sopra no topo de seu jardim de onde observa a equipe de investigação recolhendo evidências de dentro do galpão. Fico ao seu lado, apenas o zumbido do ar a nossa volta.

Solto um suspiro cansado e sou o primeiro a falar:

— Foi fácil? Escolher o filho que iria para o abate?

Anne baixa os olhos, não parecendo surpresa. Os cabelos escuros sendo soprados contra seu rosto me impossibilita de discernir sua expressão. Mas sei que ela está tão exausta quanto eu.

— Não é como se eu tivesse tido alguma escolha. — Responde em tom brando — Sabe, os pais costumam mentir para os filhos, falar que não existe um preferido, mas não é verdade. Nós sempre preferimos algo ou alguém, um filho terá um pai preferido, um irmão terá um outro irmão predileto, faz parte. Harry sempre preferiu Eve a qualquer um dos outros, Spencer sempre o preferiu invés de você e sei que você é o queridinho da sua mãe...

— E Harry é o seu preferido, entendi.

— Ele não é meu preferido. — Diz firme, erguendo o rosto para voltar a encarar a movimentação — Às vezes gostamos mais de alguém por se parecer conosco, mas se não gostamos de nós mesmos não vamos gostar de quem expõe o que temos de pior. Eu nunca suportei o quão parecida comigo a Gemma era, principalmente com a minha versão jovem e estúpida, ela melhorou bastante, mas sua imprudência sempre pesou contra o nosso relacionamento e então veio Harry e eu pensei que ele poderia ser o meu menino, aquele a quem eu seria devota, mas ele veio igual ao pai, a cópia exata e eu odiava Desmond, um homem fraco e tedioso e Harry era idêntico. — Ela não parece orgulhosa ao admitir aquilo — Eu queria escapar daquilo, porém meus pais jamais apoiariam que eu estivesse abrindo mão de um bom casamento com um homem com tantos bens e principalmente depois de dois filhos, acho que o desespero falou mais alto e tive aquela maldita ideia que nos colocou nessa situação.

— O que você fez?

— Eu dei ao Harry um trauma e depois deixei que muitos outros acontecessem. Pensava que ele era só uma criança, iria crescer e esquecer, mas não foi o que aconteceu. Sabia desde o início, cada coisa ruim e assustadora que acontecia ao seu redor, eles causavam isso, mas o que eu podia fazer? Eu encontrei nos meus netos todo o amor que pensava ser incapaz de dar. Só queria que eles fossem felizes, que estivessem bem, porém nunca me deixaram esquecer do meu erro e os usaram contra mim, foram tantos psicólogos que precisaram ser silenciados, tanta sujeira varrida para debaixo do tapete e se eu ameaçasse não cooperar ou te dizer algo, Eve casualmente caia do balanço ou Spencer estava acamado com uma bactéria misteriosa.

— Está dizendo que ele te ameaçava usando as crianças?

Ela assente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Claro que quando nos desentendemos mais seriamente ele precisou agir de uma maneira mais incisiva e veio o acidente de Gemma.

Engulo em seco, tentando assimilar.

— Quer dizer que...?

— Sim. Amar demais os meus netos me fez acoberta-lo e ajuda-lo e agora minha filha está na cadeia e a culpa é minha.

Eu não posso assimilar que a pessoa da qual estamos falando é Harry, quer dizer é e não é. Esse alguém tem o seu rosto, corpo e voz, mas ao mesmo tempo não é ele.

— O que acha que ele está planejando?

Ela dá de ombros, ajeitando a bolsa.

— Não sei, apenas espero que você aja rápido e pegue aquelas crianças e as leve o mais longe possível, troque seus nomes e recomece. É a única forma de escapar.

Quando ela faz menção de se afastar a seguro pelo braço.

— Anne se tudo o que está dizendo tem cabimento, se... Se for ele o verdadeiro assassino você precisa testemunhar, precisamos provar que-

— Você vai fazer isso mesmo? Vai conseguir colocá-lo atrás das grades? Você consegue não estar do lado?

Eu consigo... Eu acho.

Mas a resposta não consegue escapar por meus lábios e minha sogra sorri, como se já esperasse por isso.

— Nunca mais falarei sobre isso, deste dia até o meu último eu seguirei dizendo que ele é inocente. Porque ele de fato é. — Acaricia meus dedos, antes de afastá-los de seu casaco — Agora preciso ir ver minha filha, antes que a mandem para a cadeira elétrica.

Anne se afasta e seja lá qual a razão, resolvo corrigi-la.

— Ela provavelmente receberá uma injeção letal.

— Oh, obrigada por esclarecer, querido. — Escuto seu passos se distanciando.

As nuvens escuras pairam sobre mim, pesadas e sombrias e então transbordam, a chuva fria cai sobre a minha pele, o céu brilhando com raios, nunca houve dia mais melancólico em toda a minha vida.

Harry você...

O celular em meu bolso vibra, checo a mensagem. É de Ashton.

Venha para casa imediatamente. Acho que descobri algo muito sério!!!

Aquilo me deixa em estado de alerta e corro até o carro, pisando no acelerador. No meio do caminho surge uma nova mensagem.

Ele tinha se mantido calmo desde que cheguei, mas hoje as coisas saíram do controle. Louis acho que você tinha razão.

Saiu do controle como? Respondo perguntando sobre as crianças. A falta de uma resposta me deixa mais angustiado e me leva a infringir mais de três regras de trânsito. Os pneus derrapam na pista quando acelero ainda mais para fugir do guarda de trânsito.

Louis... Eles não acordam.

Por um triz não bato em um caminhão, assim que o automóvel atravessa. Se ele tiver ferido os meninos eu o mato, eu juro por Deus que eu o mato.

Poucas quadras de chegar em casa me deparo com um engarrafamento. Com meu carro de civil e sem sirenes fica impossível conseguir um atalho, então simplesmente abro a porta e deixo o carro para trás, correndo entre os carros sob a chuva torrencial até arrebentar o portãozinho da cerca e abrir a porta da frente. O primeiro andar está em silêncio, tudo apagado, janelas fechadas.

As tigelas de ração estão viradas, o leite da tigelinha da filhote se espalhando pelo chão da cozinha. Sigo até a entrada do banheiro do térreo, estou entrando em pânico ao pensar em Sonny morto.

Entro no banheiro, na banheira atrás das cortinas encontro Mona e Shae desacordadas, as toco sentindo que ainda há pulsação. Elas foram dopadas.

Ouço um choramingo do andar de cima, resistindo a urgência de subir com a arma em punho.

Ainda não. Ainda não.

Subo os degraus de dois em dois. A porta do quarto dos meninos está escancarada, nenhum sinal deles. Torno a ouvir o choramingo e o som de patas arranhando a porta, vem do quarto de Evangeline, vou até ele, empurrando a porta e Sonny me recebe mostrando os dentes, está em seu modo protetor.

— Calma, sou só eu. — Digo tentando tranquiliza-lo e ele amansa, e se vira indo para o outro lado do quarto, arrastando a pata traseira de onde um furo jorra sangue e traça um caminho vermelho conforme se move dolorosamente.

Apanho um lenço indo atrás dele afim de fazer um torniquete para estancar o sangramento.

Harry deu a porra de um tiro no nosso cachorro.

Por falar em Harry, onde ele estará?

E as crianças?

E Ashton?

Sonny morde a ponta de um colcha e exibe o que estava escondido sob a cabaninha improvisada, Spencer e Blake usam o uniforme da escolinha, estão deitados bem próximos no tapete felpudo ao lado da cama, fico de joelhos, procurando por quaisquer ferimentos ou por um furo semelhante ao de Sonny. Nada, assim como as gatas eles estão apenas dormindo.

O sangue no dorso da mão de Blake é de Sonny, ele empurra o focinho contra o peito dele, tentando acordá-lo.

— Tudo bem, Sonny. Eles já já vão acordar. — Vou falando, acariciando seu peito e deixando que ele se aninhe em meu colo, enquanto envolvo o tecido em seu ferimento. Ele está cansado e rapidamente se aconchega ao lado dos meninos, puxo o cobertor sobre os três, me afastando silenciosamente.

A melhor alternativa é neutralizar Harry primeiro, se foi ele mesmo quem me enfrentou daquela vez no estacionamento não existe forma de bater de frente com ele trazendo Blake, Spencer e Sonny comigo. Ao menos por enquanto ele não os vê como um alvo.

Eu devia ligar para a polícia, devia ligar para alguém...

"— Você consegue não estar ao lado dele?"

Merda! Entro em nossa suíte e nada dele.

Os lençóis estão cobertos de sangue. Mais sangue do que um ser humano é capaz de perder, caminho até o centro, tocando-o, está fresco.

O celular apita. Uma nova mensagem.

Louis, você não veio rápido o suficiente.

Plink, plink, tem algo gotejando as minhas costas.

Preciso me virar, mas eu não quero.

Vamos, Louis, não é hora de ser covarde. Não é hora de ter medo.

Sem pensar mais, me viro e sigo até a fonte do barulho, mantendo os olhos baixos. Interrompo o passo antes de entrar no banheiro, o piso está coberto de plasma, uma imensa poça cintilante, ergo os olhos reconhecendo os coturnos, a skinny jeans rasgada, em frente ao seu cinto estão os pedaços de pele dilacerados de seu tronco, órgãos escapando para fora dele, pendendo como seu corpo mutilado, a cabeça tombada para frente, as espirais douradas de seus cabelos se enrolando no metal lustroso da corrente grossa ao redor de seu pescoço que o mantém suspenso no ar.

Ashton está morto. Morto como todas as vítimas de Andrômeda.

Isso não aconteceu no tempo em que estive a caminho, não daria tempo. Então, ele não me mandou nenhuma dessas mensagens, solto o celular no chão quando sinto algo passar acima da minha cabeça e circundar meu pescoço, tento reagir, virando e lutando, mas o metal frio se aperta em minha garganta, um corpo grande e forte cai sobre mim, roupas pretas e a mesma máscara de ferro.

Andrômeda.

Me enforca com mais força do que posso resistir, mesmo que eu me esforce para romper com o aperto uma corrente é demais.

Ele não tem hesitação, montando sobre mim e apertando com mais força, meus dedos tremem e o ar simplesmente desaparece, meus olhos viram para trás e tudo está escurecendo, a sensação é de que ele quer me decapitar com aquela merda e está perto. Perto demais. Desta vez eu consigo enxergar através da máscara, encontrar o verde de seus olhos.

Por mais forte que seja ele é só uma pessoa.

E pessoas sangram.

Desisto de resistir, ele não recua e investe com mais força e essa brevíssima desatenção serve para que eu dobre rapidamente a perna e alcance minha faca na bota e a crave em seu quadril e então a giro. Ele urra por debaixo do metal e suas mãos vacilam para tentar puxar a faca, e este é o momento ideal para que eu reaja, me movendo para rendê-lo no chão, Harry cai e jogo a máscara para longe, para encarar seu rosto, para que minha arma toque sua testa quando miro nela.

Meu dedo titubeia no gatilho.

Nos encaramos sem impedimentos.

Então é isso, é assim que acaba?

Meus olhos ardem, mas não me permito chorar, não tenho tempo pra isso.

Ao contrário de mim, uma lágrima desliza pelo olho direito de Harry e como se estivesse estado inconsciente por todo esse tempo, ele desperta. Como se houvesse sido injetado com alguma droga que o torna frenético, Harry solavanca abaixo de mim, os olhos arregalados.

— L-Louis, o q-que está fazendo? O que é i-isso? — Grita, tentando engatinhar para trás, para fugir da arma, mas a noção de seu ferimento também o abate e ele geme, olhando para baixo e vendo o sangue se acumular ao seu redor — Ah! Merda, isso dói, o que...? É uma faca? Por que tem uma faca em mim? Aí. — Ele se contorce em agonia, os olhos nervosos olhando ao redor e ele enxerga sobre o ombro sua obra — Meu Deus! Meu deus! Meu deus! Ash...! Louis...

Aperto os olhos com força porque essa merda é demais para mim e empurro o joelho, levando a faca mais fundo em seu quadril e Harry torna a gritar e desaba enfraquecido de volta no chão, ofegando e chorando enquanto sustento a minha mira sobre ele.

— Você não vai conseguir se safar dessa. E-Eu não vou deixar que você me manipule.

— Louis, e-eu não entendo. — Choraminga.

— Você — Empurro o cano frio contra seu queixo, obrigando-o a olhar para onde o corpo de Ashton apodrece suspendido — fez isso. Você fez tudo isso, seu assassino maldito.

— N-Não! Eu não fiz nada! Eu não sou um assassino! Para com isso! Para... — Seu rosto fica vermelho e ele parece estar tendo um ataque de asma, misturado com pânico e histéria. Eu já vi isso antes. Ele agiu da mesma forma quando me flagrou com Michael, quando viu a reportagem sobre aquela mãe e seu bebê, quando o confrontei no corredor, isso é... Isso é Harry não suportando algo e dando o controle para outra identidade, ele vai embora.

Eu não posso deixá-lo ir.

— Harry, Harry, olha. — Mostro a arma e a jogo para longe, e tomo seu rosto entre as mãos — Você tem que ficar aqui comigo, fica comigo, não tente escapar, okay? Você é forte, não precisa fugir, você consegue, apenas ouça a minha voz, olhe pra mim, estou bem aqui. — Peço, observando como sua respiração desacelera lentamente e seus olhos voltam a focar em algo, em mim — Fica comigo.

— Lou... — Murmura, como se estivesse me reconhecendo — dor.

Os olhos de Harry se fecham e ele amolece, puta merda, ele definitivamente não pode desmaiar.

Tomo-o em meus braços, um grunhido de dor escapa de seus lábios quando meu corpo atrita com a o punho da faca, mas soa ainda mais dolorido quando o coloco sobre a cama e seguro seu quadril, começando a remover a faca.

— Ah, porra! Eu preciso de um médico, o que está fazendo? Não pode mexer nisso. — Ele tenta se arrastar para longe, mas o firmo no mesmo lugar.

— Você não vai a médico nenhum. Eu vou tirar isso de você agora.

— Não, não, não... — Repete relutante, porém não serve de nada. Com cuidado, vou puxando a lâmina e por mais que Harry trinque os dentes, isso não impede que seus grunhidos de dor ecoem em alto e bom som — Você fez isso comigo?

Talvez esse seja o momento para conversar, já que não sei quanto tempo terei com ele até que outro assuma seu lugar.

— Sim, você quase me matou, tive de reagir.

— Eu não entendo. — Ele está voltando a quase desfalecer contra a cabeceira, então uso uma das mãos livres para segurar seu queixo.

— Você está doente. Você tem uma doença e acho que você tem convivido com ela desde que era criança.

Harry reage um pouco, me olhando com atenção.

— Doença? Que doença?

— Se chama TDI, transtorno dissociativo de identidade, é como se a sua mente tivesse se repartido, entende? Ela foi se dividindo e criou essas outras identidades.

— Outros eu's?

— Eu não diria isso, eles não se parecem em nada com você, Harry. — Estou quase, apenas mais um puxão.

— Eles? Quantos são?

Penso em Ashton, em seus oito dedos levantados apontando para Harry.

— Oito. — Digo, no mesmo instante em que puxo, a o fluxo de sangue vem imediatamente e Harry se agita, tanto pela informação quanto pelo sangue. Mas já trouxe a caixa de primeiros socorros militares sobre o meu colo e estanco parte da ferida ao mesmo tempo que começo a limpar — Você precisa ficar o mais quieto possível.

— Eu vou sangrar até a morte.

— Você não vai sangrar. Eu vou suturar a ferida.

— Não...

— Harry, eles se aproveitam do seu medo para dominarem. Por mais assustado que esteja agora, você deve se manter presente. Precisa focar na dor, ela vai te aterrar. Certo?

— C-Certo. — Diz incerto, fungando ao me assistir aproximar a agulha de sua pele — Merda! — Ofega no primeiro contato.

Fiz isso tantas vezes comigo mesmo que era estranho ver alguém se contorcendo e sentindo tanta dor ao que para mim não passavam de leves picadas.

— Você vai ficar bem, sei exatamente onde acertar sem provocar hemorragia interna ou atingir um órgão, apenas dói e está sangrando tanto pela sua agitação, mas já está diminuindo, vê? Agora, preciso que me escute. Essas personalidades, cada uma delas tem um jeito próprio, elas tem gêneros, idades e visões distintas, pelo que descobri elas vão surgindo de traumas. Traumas severos que você não soube administrar, então, você precisa me dizer quais foram eles.

Harry nega com a cabeça, os dedos apertando o lençol.

— Eu não tenho traumas.

Interrompo o próximo ponto, quase solto uma risada irônica. Santo Deus.

— Você tem. E tem de se lembrar deles. Vamos, Harry.

Ele balança a cabeça, relutante em tentar, mas sua mente não deve estar seguindo as ordens de seu corpo e sei que ele conseguiu o vestigio de uma lembrança.

— Tinha uma xícara. Uma xícara para o meu pai, ele estava com um livro no colo, sentado na poltrona...

Me movo devagar, não querendo que ele se perca.

— Eu dei o chá pra ele e ele começou a passar mal, foi... Foi horrível, parecia que ele sentia tanta dor e a aparência dele foi ficando estranha e aí alguém gritou e disse que-que eu fiz aquilo. Que eu ma-ma-mat...

— Shiu, Harry, tudo bem. — Aperto seu ombro — Não precisa continuar, não precisa ir tão longe.

Foi isso o que Anne quis dizer ao falar que deu a Harry um trauma. Ela deixou que uma criança desse ao próprio pai uma boa xícara de chá com uma generosa dose de veneno e o fez acreditar que era o culpado por isso.

No fim, minha mãe estava absolutamente certa em detestar Anne.

— E quando você era adolescente? Tem algo?

Ele passa longos instantes em silêncio e temo que outro tenha assumido, mas ele rompe ao falar:

— Na escola tinha um homem, o diretor, ele me olhava estranho. Todo lugar que eu ia, ele estava lá, com os olhos em mim e eu sentia que algo em mim gostava disso, mas eu. Eu odiava. Aquele homem era tão nojento. — Diz retorcendo o rosto em repúdio — Costumava frequentar a sua sala porque eu era líder do comitê estudantil, lembro de esperar na recepção e ouvir a sua secretária dizendo que eu podia entrar, mas eu nunca estive dentro da sala. Não me lembro de ter falado com ele uma única vez. Então como, como você disse que a Eve é filha dele? Não é possível.

É possível se uma das suas personalidades teve um caso com ele.

Com isso, pode ser como Ashton me explicou certa vez, sobre memórias compartimentadas. Harry não tem consciência do que suas personalidades fazem, ele é a parte frágil e oprimida, então elas não só o controlam, elas dominam completamente.

Ele é a marionete delas.

Suspiro, continuando a fechar a ferida, precisando apertar seu quadril e o fincando no mesmo lugar para não tornar tudo ainda pior.

— Você se lembra de alguma Mia? Se lembra da morte do Michael? Ou de estar com o Luke?

Harry está balançando a cabeça incansavelmente.

— Não, não, meu deus, não! O q-que houve com o Michael? Como ele morreu? Isso fui eu? Eu não posso ter feito nada disso, eu não tenho memória nenhuma, fiquei desolado na época, mas eu nunca quis o mal dele, jamais ousaria machucá-lo. Ele foi meu amigo, ele não pode estar morto. — Como eu imaginava, Harry é de uma fragilidade tão grande, ele rapidamente perde o chão e fica vulnerável, ao dar o último ponto corto a linha e começo a fazer o curativo.

Também não era ele quem foi me buscar naquela noite.

De repente, percebo que eu não sei distinguir os momentos em que Harry estava presente.

E se tudo o que eu amava nele, tudo o que me cativou e se tudo isso não for ele? E se eu não tiver me apaixonado por Harry?

— E quem é Mia? Eu machuquei ela?

Nego um tanto desnorteado.

— Ela está bem.

— E o Luke? O que eu fiz com o Luke? — Ofega, indiferente a dor agora.

— Harry, eu não-

— Se o que você está dizendo é verdade, significa que estou sendo manipulado há quase trinta anos por essas coisas dentro de mim, que eu não tenho controle sobre o meu corpo, sobre as minhas ações. Eu estou ferindo pessoas... Eu... — Ele congela, as pálpebras tremulam como as asas de uma mariposa — Eu sou Andrômeda.

Abro a boca, mas as palavras me faltam. Harry desvia o olhar, encontrando a máscara largada no chão, o metal em nuances de dourado desperta algo nele.

É mais do que uma lembrança.

Ele solavanca com tanta força que penso que ele vai vomitar e por um instante, acredito que iria mesmo. As mãos voam até seu rosto e ele grita. Muito mais alto e dolorido do que quando o esfaqueei e então, o que se segue é o choro.

Um choro profundo e desesperado.

O choro de alguém que desperta depois de um átimo de loucura e percebe que matou todos que amava e então contempla o horror que causou, o buraco incurável no coração, as lacerações em sua alma. O quão aterrador é perceber que está fora de controle?

— Eu matei todo mundo. Matei todos eles. Suas vozes, o choro, eles implorando, posso ouvir tudo, eu achava que eram pesadelos, mas... Mas era tudo verdade. Era verdade.

— Harry... — Tento acalma-lo depois de concluir o curativo, mas ele escapa de meus braços, se levantando, mantendo-se apoiado na cama ao caminhar.

— Specer. Eu fiz alguma coisa com ele, eu lembro dele chorando e fugindo de mim, por favor, m-me diz que ele tá bem! Cadê ele? Cadê o Blake? Spencer! Blake! — Ele berra, tentando ir até a porta, mas cambaleando e tombando contra a parede — Louis... Cadê eles? — Chora mais forte.

Eu sempre me imaginei capturando Andrômeda.

Em uma caçada voraz.

O momento em que não teríamos mais saída.

E eu saindo vitorioso desse embate, na justiça sendo feita.

No fim, meu marido era a minha presa. Isso não é nada justo.

— Estão no quarto. V- — Não parece certo falar como se ele tivesse feito qualquer uma dessas coisas — Eles foram dopados.

— Dopados? Eu não entendo de calmantes e se eles tomaram demais, se eles tiverem uma overdose ou algo assim?

— Acho que uma das suas personalidades sabe bem administrar medicação, fizeram isso comigo por um tempo e eu estou bem, mais ou menos.

Meu marido me olha, a dor que ele sente é quase palpável.

— Eu te causei tanto sofrimento. — Diz com a voz quebrada.

Fecho os punhos ao lado do corpo para não ceder ao impulso de abraçá-lo e consolá-lo.

"— Você consegue não estar do lado dele?"

Ele se apoia na parede, cambaleando até a janela, empurra o vidro e o vento em conjunto com a torrente sopra as gotas de chuva em direção ao seu rosto pálido.

— Por que não chamou a polícia ainda? Tem o corpo de alguém no nosso banheiro, eu dopei nossos filhos e nós dois sabemos o que eu sou. Por que o FBI não está aqui?

Engulo em seco, me aproximando dele.

— Porque eu não consigo ficar contra você. — Admito o que todos sabiam, exceto eu.

— Louis, você- — Harry soluça e o percebo afundar as unhas na palma da mão. Onde está a sua cicatriz.

Aquele corte feito por um homem estranho.

O sangue sagrado do qual Greg havia falado...

Não existem mais peles sobre meus olhos, mas permaneço refém desse sentimento, desse amor.

— Você não pode estar pensando em me proteger depois de tudo isso. Depois dessas monstruosidades!

— Harry, isso tudo, não era... Não era você, a gente pode só ir embora e recomeçar em outro lugar, um lugar onde você pode conseguir um bom tratamento e...

— Existe cura? Existe uma cura para o que eu tenho?

— Bem, ainda não.

— Então, sabemos que mesmo que recomecemos em outro lugar eu vou continuar matando. E não existem dúvidas que você e os meninos vão acabar sendo minhas vítimas em algum ponto. — Sua voz soa tão fria e cruel ao falar de si mesmo.

Harry não só se enoja, como ele odeia a si próprio de uma maneira que me assusta.

— Não fale como se fosse você quem fez essas coisas. — Digo, com cautela.

Mas Harry explode.

— Louis, fui eu! Eu fiz, era o meu corpo, eram as minhas mãos. A minha estupidez, a minha fraqueza causaram tudo isso. A minha covardia custou a vida dessas pessoas. — Ele faz uma pausa momentânea e expira — Eu não iria para uma cadeia convencional, não é?

— É, você receberia a alegação de insanidade mental e seria condenado a cumprir pena em uma instituição psiquiátrica.

— Eu iria para um hospício.

— Bem, se fosse possível comprovar sua autoria nos crimes e claro, se ocorresse o diagnóstico do TDI, mas as suas personalidades, elas não deixam que isso aconteça, Harry.

— Elas escondem a doença?

Assinto.

— Oh, estou preso numa ratoeira dentro da minha própria cabeça. — Harry fala em voz baixa e franze a testa — Tem minhas digitais no corpo do Ashton, todas as armas que eu usei para fazer aquilo com ele, tudo tem as minhas digitais, as correntes que usei para te enforcar, a máscara. Tudo isso são provas, provas que você pode usar contra mim, você pode revelar que eu era Andrômeda.

Dou um passo a frente, confuso.

— Era?

Harry contrai os lábios ao se abaixar, quando ele torna a se erguer está com meu revólver na mão e recuo.

— Ainda sou eu. — Esclarece, me oferecendo a arma — Os outros nunca vão permitir que você saia daqui ou que fique com essas provas, mas se eu estiver morto, eles vão comigo.

Recuo mais até bater as costas na poltrona.

— Eu não vou matar você!

— É o único jeito.

— Não, tem que ter outro.

— Mas não tem. Não tem nenhum! São praticamente três anos assassinando pessoas inocentes, ninguém descobriu, ninguém conseguiu me parar. Eu sou um perigo, eu não posso ser detido, não temos outra saída. Por favor. — Harry continua a me oferecer a arma, em um gesto suplicante — Por favor, me salva.

Aperto os lábios, negando. Estou cego pelas lágrimas.

— O bebê!

— Eu nem sei se ele é seu! — Murmura envergonhado — Já não basta o que os meninos estão passando, é cruel trazer mais alguém para o meio desse caos. Então, faça isso, por nós.

— Não consigo, eu não consigo. — Baixo a cabeça, mal conseguindo respirar.

Ouço os passos, sua respiração próxima da minha orelha, o nariz acariciando a lateral do meu rosto quando ele beija minha bochecha e se afasta.

— Tudo bem, você não precisa fazer nada.

Ele volta para perto da janela, apreciando a chuva, o dedo sobre o gatilho tão casualmente.

— Harry...?

— Pode me dar um minuto, querido?

— Por favor.

Ele me encara com os olhos sombrios e intensos para em seguida dar um lindo sorriso de covinhas.

— É rapidinho.

Concordo timidamente com a cabeça e acato ao seu pedido, deixando-o só. Olho por cima do ombro, observando sua silhueta uma última vez, emoldurada na janela, os primeiros raios de sol florescem depois da tempestade.

Talvez nasça um arco-íris.

Ou talvez o dia permaneça cinzento.

Fecho a porta e quando estou do lado de fora, escorrego até o chão. A cabeça tombando para trás.

Tudo vai ficar bem.

Vamos encontrar um jeito. Só precisamos ficar sozinhos e pensar, sempre pensamos melhor separadamente.

É apenas isso, um momento de reflexão.

Brinco com a minha aliança, puxo-a do dedo e leio a escrita na parte interna, a data é... É hoje.

É nosso aniversário de casamento.

Levanto para entrar novamente no quarto, para mostrar a Harry. Para lembrá-lo disso, mas o som cortante do outro lado da porta me paralisa.

Harry está... Morto?

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