│2│aquarius
O som da chuva é fraco e constante do lado de fora, com o vento frio batendo nas janelas e se esgueirando por entre as frestas, em um mórbido lembrete de que ainda há vida neste corpo exausto, por mais que eu definhe internamente, existe um coração batendo em algum lugar e este me move a agir, principalmente quando fareja o perigo, tal como agora. Arrasto os pés com lentidão pelo corredor. É puro breu. Eu me movo por puro instinto, apertando o punho da arma, ainda travada, porém carregada.
Preciso agir com o máximo de cuidado.
Empurro a porta do quarto dos gêmeos, ouvindo-os respirar tranquilamente, examino cada mínimo pedaço daquele quarto antes de sair, seguindo em direção ao térreo, desço as escadas e meus ouvidos atentos captam um ruído vindo da cozinha. Avanço até lá, escondendo o revólver nas costas quando me deparo com Harry sentado no chão, em frente a geladeira aberta, que o ilumina com sua luz amarelada. Usando nada além de um moletom imenso - que ironicamente pertencia a mim - , as pernas abertas, com um monte de besteiras e combinações culinárias no mínimo nojentas espalhadas a sua frente.
— Oh, meu amor, eu te acordei? — Ele pergunta de boca cheia, as bochechas em torno de explodir e uma touca com orelhinhas pontudas que eu tenho certeza que os meninos tem um modelo igual.
Suspiro sonoramente, varrendo o lugar com os olhos.
— Ouviu alguma coisa, Haz?
— Hum? Não, eu acordei sozinho, estava me sentindo enjoado. — Diz simplesmente, comendo mais uma fatia do que parece ser melancia com sorvete. Argh. Massageando o ventre — Lou, porque está com isso, em casa?
Pisco confuso até me dar conta de que a mão que carregava a arma estava caída ao meu lado.
— Eu recebi um chamado. Liam está vindo aqui me pegar. — Esfrego o rosto, me perguntando que horas são.
Meu estômago ronca.
Merda! Esqueci de jantar.
Começo a revirar as bandejas em cima da bancada, me satisfazendo com as tiras de peito de peru, de repente sinto algo se esfregando na minha canela e ao olhar para baixo me deparo com Mona, nossa gatinha ainda filhote. Pego a pequena bolinha de pelos caramelo, dando apenas alguns pedacinhos para ela.
— Alguém morreu? — Harry me encara com os olhos sérios.
Por algum motivo eu detesto falar sobre esse caso com ele.
— Ainda não sei. — Dou de ombros, brincando com Mona, enquanto começo a subir de volta ao quarto, afim de me aprontar.
E em menos de meio minuto estou completamente pronto, sem saber o que fazer com o cabelo eu o deixo do jeito que está. Um desastre. Meu rosto ainda está inchado pelo sono, a lateral com marcas do travesseiro e meus olhos vermelhos e lacrimejantes.
Estou no banheiro, escovando os dentes – com muita disposição, é claro – quando sinto uma presença se aproximando e um vulto surgindo no espelho, dobro o pescoço vendo Harry empunhando meu revólver, um tanto sem jeito, colocando-o no meu coldre.
— Você deixou na cozinha, pensei que fosse precisar.
Enxaguo a boca, seco o rosto e giro nos calcanhares.
— Toma cuidado.
— Eu sempre tomo. — Sorrio, puxando-o pela barra do moletom.
— Nós sabemos que isso não é verdade. — Sussurra, pressionando o dedo contra uma marca acima da minha clavícula, que poderia facilmente ser confundida com um chupão e não um buraco de bala.
Apenas um de outros milhares que estão sobre cada pedaço do meu corpo.
— Eu aprendi a lição, okay. — Garanto, beijando seus dedos e sorrindo para o fato dele não tirar aqueles malditos anéis, nem mesmo na hora de dormir.
Um pequeno repuxar de lábios vermelhos e então ele está se jogando em meus braços, me apertando com força. Circundo sua cintura, sem entender de seu ato repentino.
Nós não somos tão afetuosos.
— Eu tenho um mal pressentimento.
— Você é vidente agora? — Brinco, beliscando sua coxa.
— Não... Só... Só me promete que você não vai se arriscar, que vai tomar cuidado e vai voltar vivo, por mim e pelos nossos filhos. Promete?
Há um desespero crescente em sua voz que me leva a ficar preocupado.
— Prometo, é claro que eu voltarei. — Beijo seu pescoço, tentando reconforta-lo.
— Eu te amo, Louis. Te amo mais do que tudo.
— Eu também amo muito você, Hazzy.
O som de uma buzina se faz presente.
— Preciso ir. — Segurando seus quadris, o afasto com delicadeza, encontrando seu rosto vermelho e banhado em lágrimas. Isso só pode ser a gravidez, tem que ser — Bebê, eu já disse que ficarei bem.
— Mas e se...?
— E se, nada, Harry! Eu já sou velho demais para ter alguém se preocupando comigo, preocupe-se com o garotão aí dentro, entendido?
— Certo. — Concorda, colocando a mão na barriga, fazendo uma careta — Acho que a melancia com sorvete de pistache não me fez muito bem.
— Você vai...? — Ele só tem tempo de se afastar para cair de joelhos em frente ao vaso, despejando todas as bizarrices que comeu durante a madrugada. Como bom marido que sou, estou puxando a liguinha que mantenho no pulso para o caso de imprevistos como esse e prendo seus cabelos, aperto seus ombros quando eles tremem novamente — Vai ficar bem?
Sua resposta vem em forma de um polegar levantado.
Depois de deixar um copo com água, junto a um remédio de enjôo e um beijo em cada um dos meninos desço as escadas da varanda e Payne já está a minha espera, com a grande Land Rover preta da agência com as siglas FBI nas laterais e na capota do carro.
— Pensei que não fosse vir mais.
— Harry estava passando mal.
— Se ele ficar como a Cherryl quando estava esperando o Bear, você está muito fodido.
— Deus me livre! — Exclamo, jogando a cabeça para trás e olhando minha casa uma última vez. Grama verde, flores na varanda e um cerca branca, dois filhos e outro a caminho e um marido que diz que me ama. Parece tudo perfeito, meu conto de fadas.
— Hora de acordar, feliz papai! O dever nos chama. — Liam me empurra um frappucino que queima a minha língua no primeiro gole e eu não resisto em dizer que seu cabelo está bem pior do que o meu.
Xx
Uma residência colonial em Greenpoint, cerâmica da mais alta qualidade nos banheiros, o chão é tão bem encerado que eu consigo ver meus poros abertos, toda a prataria, cristal e porcelana da louça vale duas vezes mais que o meu carro, há sete quartos, quatro banheiros, duas salas de jantar, cinema, sala de jogos e três cadáveres enfileirados no corredor que dá para o sótão.
Lúcia, Cory e Stephen Atkins, mãe, pai e filho. Todos com cordas nos pescoços, com a região do tórax dilacerada de tal forma que expõe as costelas quebradas e pela primeira vez, suspeito que estejamos lidando com algum animal selvagem. A forma como ele os deixa sangrando por todo o chão, com seus corpos sem vida balançando e batendo uns nos outros. A mão da mãe está entrelaçada a do filho e isso é tão perturbador que eu não consigo olhar por mais tempo.
— Olha só quem chegou! — O forte sotaque australiano é inconfundível e Luke Hemmings está bem na minha frente, com todo aquele cabelo louro, piercing no lábio inferior, sorriso cínico e um maldito pirulito. Mas o pior está sempre naquela jaqueta com CIA gravado nele.
— O que faz aqui? — Inquiro perturbado, vendo o maldito pessoal deles revirando a casa.
Esses estúpidos não sabem fazer nada além de me atrapalhar.
— Bom, seu chefe pediu ajuda pro meu chefe, sabe como é, né? Às vezes tem que deixar os adultos trabalharem.
— Vocês não trabalham, e sim arruínam tudo. Foi por isso que foi transferido, caso não esteja lembrado. — Digo, empurrando-o para fora do meu caminho — Ei, não toca nisso sem luvas. Está comprometendo toda a cena do crime! Por deus, Luke! Esses caras não sabem nem que precisam de luvas.
Hemmings dá de ombros, sugando seu pirulito como sempre faz.
Gostaria tanto que ele morresse engasgado.
— Hemmings! Tomlinson! — Liam grita.
Nos entreolhamos e eu vou na frente, é claro. Hesitando um pouco quando encontro Michael ajoelhado no carpete azul escuro do quarto de Stephen, seus olhos atentos não focam nada além da pequena área ao redor de seus dedos e eu preciso evitar que isso fique estranho. Aja naturalmente.
— Achou alguma coisa, Mike? — Luke praticamente me esmaga para poder ficar ao meu lado na porta.
— Aqui. — Suas luvas mal relam na área indicada — As unhas foram cravadas com tanta força no carpete que ele as feriu, tem até alguns pedaços, minúsculos, mas tem. Talvez isso tenha acontecido na hora da asfixia, ele poderia estar lutando, tentando fugir e foi pego no meio do caminho. Notem como as marcas das unhas vão se tornando quase invisíveis. — Mike delineia o rastro fraco das unhas que levam justamente para onde meus pés estão e quando ele levanta os olhos não há como fingir que não o vi — Detetive Tomlinson.
— Doutor Clifford. — Lhe dou um aceno estranho e ele desvia o olhar.
Isso ainda é estranho.
— Certo, então foi preciso o uso da força física. Ele já fez isso alguma vez? Costuma brigar com as vítimas? — Luke intervém.
— Não, essa foi a primeira vez, de alguma forma ele consegue pegá-las desprevenidas. — Payne responde, andando até as janelas e averiguando o lado de fora — A casa fica em um bairro nobre, provavelmente a segurança aqui é uma maravilha.
— Ele não pode ter invadido. Foi convidado, talvez? — Mike vira a aba do boné para trás e a franja loira cai sobre seus olhos.
— Nosso assassino tem uma boa aparência e deve ser gentil, cativante.
— Olha, Hemmings, sem querer ser estraga prazeres, mas todas estas constatações que vocês estão fazendo nós já sabemos há mais de um ano. É alguém bonito e agradável e só. Em um planeta com sete bilhões de pessoas isso não é o bastante para pegar o assassino. Precisamos de uma região, uma testemunha, um fio de cabelo seria ganhar na loteria e não temos nada. Nadinha.
— Sempre tem algo, nenhum crime é perfeito. — Engulo em seco quando Clifford me contradiz, se colocando de pé e correndo os olhos atentos pelo carpete até a porta, a fechando de repente na minha cara e de Luke e tornando a abri-la.
— O que você...?
— Perceberam isso? Ela não está fechando direito. — Ele mexe nas juntas da porta — Pode ter sido arrombada, não como se tivesse trancada. Talvez Stephen tenha corrido para o quarto, depois que seus pais foram atacados. A porta não tem tranca, então ele tentou mantê-la fechada com o peso do próprio corpo, mas foi insuficiente por se tratar de um garoto magro e fracote, bastou forçar a porta e ele caiu, o assassino entrou e o arrastou para o corredor, ele tentou se prender ao carpete, mesmo quando suas unhas começaram a se soltar. Lutando pela vida.
Mike e seu talento de visualizar esse tipo de coisa melhor do que qualquer um, não era a toa que ele é o perito criminal predileto de todos.
— Se a porta foi arrombada existe DNA ou qualquer maldito rastro, certo? — Hemmings se empolga e Mike assente — Venham até aqui e examinem essa porta inteira. — Grita para os seus homens e eu lhe lanço um olhar repreensivo — E não se esqueçam das luvas!
O celular de Liam toca e ele o atende, desligando logo em seguida.
— Ei, Tommo, Christie Atkins está aqui, a filha mais velha que estuda em Jersey, vamos conversar com ela.
— Hum, detetive, será que eu poderia ter uma palavrinha com o senhor? — Mike se avança em pedir.
— Claro. — Digo — Liam, pode começar o interrogatório, com cuidado, entendeu? E Luke, fique de olho nos seus garotos, se alguém fizer alguma merda que comprometa minha investigação você está fodido.
— Entendido. — Ambos respondem.
Sigo Michael até a área dos fundos da mansão, com paredes de madeira polida e velas aromáticas, com uma jacuzzi no centro. Ele para quando eu encosto a porta de vidro, cruzando os braços sobre a jaqueta preta que é grande demais para ele, o rosto pálido agora tem uma barba rala e os cabelos não são mais coloridos como antes, assim como o piercing na sobrancelha desapareceu.
Não parece diferente daquele garoto que eu conheci. O colega de quarto de Harry.
Merda!
— Já faz um tempo que a gente não se vê.
— É.
— Eu te liguei algumas vezes, não sei se você viu...
— Eu vi sim. — Respondo, apertando minha aliança de casamento no dedo anelar.
— Entendo. — Mike bufa, prensando os lábios e esfregando o tênis no chão de pedrinhas.
— Nós, nós vamos ter um bebê.
— Um bebê? Outro bebê? Mas os gêmeos ainda são pequenos.
— Pois é, nós queríamos aumentar a família.
— Tem certeza disso? — Ele me olha com os olhos verdes queimando em um sentimento que eu não consigo identificar.
— O que está insinuando?
— Nada. — Diz com ironia — Longe de mim insinuar que vocês ficam tendo filhos apenas para se prenderem um ao outro quando todos sabem que esse casamento está morto há muito tempo.
— Michael.
— Só não faz sentido!
— Você não sabe de nada. — Endureço a voz.
— Claro que sei, há um tempo atrás nós ainda éramos inseparáveis. Eu sou padrinho do Blake e do Spencer e melhor amigo de vocês dois.
— Michael, isso ficou no passado, você sabe. — Insisto, começando a andar de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos.
— Vão ter esse filho pra concertar o que aconteceu entre nós?
— Vamos esquecer isso, está bem? — Suplico, parando e fechando os olhos. Posso sentir os primeiros raios do amanhecer tocando minha pele fria.
— Nós estávamos apaixonados. — Diz baixo.
— Eu só sou apaixonado pelo Harry, ele é e sempre será o único pra mim.
— Mentiroso!
— Viu? É por isso que não nos falamos mais. O que aconteceu entre nós foi um erro, um erro estúpido, que só causou mais sofrimento para todos nós. Principalmente pro Harry, você não acha que ele já sofreu demais?
Ele abaixa a cabeça, enterrando as mãos nos bolsos e eu tento ignorar a vermelhidão em seus olhos, pelas lágrimas não derramadas, quando ele torna a me encarar.
— Eu vou te auxiliar nesta investigação, você é meu superior aqui e eu não quero, de forma alguma, criar um ambiente hostil ou tóxico. Nós somos profissionais e eu prometo não tocar mais nesse assunto.
— Isso seria ótimo, obrigado.
Michael sorri pequeno e caminha até a porta, parando com a mão na maçaneta.
— Louis, eu acho que ainda não te informaram sobre isso, mas o Grimshaw suspendeu as investigações ao caso da Evangeline.
Meu coração erra a batida ao ouvir seu nome e meu pescoço estala com a rapidez que me viro para ele.
— Suspendeu?
— Sim, eu não sei o porquê, mas... Bem, você deve imaginar.
— Ele vai fechar o caso. — Concluo, olhando para o nada.
— Eu sinto muito. — Mike diz, saindo, mas não antes de me informar: — Os órgãos dos Atkins estão na jacuzzi.
Me permito sentar no lounge, observando rins, pulmões e corações subindo a superfície com a água vermelha, pigmentada pelo sangue dos inocentes.
Eu não consigo evitar de pensar no sangue de Evangeline em minhas mãos.
Xx
A conversa/interrogatório com a filha mais velha e agora única sobrevivente da família Atkins sai exatamente como eu esperava, uma grande perda de tempo. É óbvio que eu não a julgo por estar tremendo e chorando sem parar, afinal, toda a sua família está morta. Totalmente sem justificativa ou suspeitos. Por mim, não tentaria lhe arrancar qualquer tipo de informação em uma situação como está, mas era preciso e no fim, tudo o que conseguimos foi o de sempre.
Eles não tinham inimigos.
Nenhum relacionamento violento que resultaria em um ex parceiro a procura de vingança.
E muito menos alguém que pudesse ser incluído na lista de suspeitos.
Ou seja, nada.
Por hora nossa melhor chance era com algum vestígio que pudesse ser encontrado na porta do quarto de Stephen, se Michael estivesse certo e pudéssemos encontrar o que fosse, poderíamos seguir em alguma direção e se Deus estivesse a nosso favor, poderíamos ter um DNA. Okay, isso é pedir demais, mas não custa nada sonhar.
Acabei passando muito mais tempo do que era necessário na residência, Luke e Michael partiram bem antes de mim, Liam teve de me acompanhar por ser o meu parceiro e repetia sem parar que ficar encarando aquele trio de cadáveres mórbidos apenas me daria pensamentos perturbadores mais tarde.
Eu fiz mesmo assim.
Até eles serem levados.
Então eu consegui sair de lá, indo direto para a agência e entrando na sala de Grimshaw, sem me importar em bater. Ele estava em sua cadeira, usando uma de suas camisas de gosto questionável, indicando que ele havia chegado recentemente.
As paredes estavam repletas de quadros, com diplomas e honrarias. Fotografias com pessoas famosas e renomadas, eu mesmo estava entre elas. Uma dele segurando Eve ainda bebê repousava em sua mesa e foi está que eu segurei ao sentar na beirada da mesma.
— Vão fechar o caso? — O tom da minha voz é rouco e choroso, bem, porque estou de fato chorando.
Nicholas franze o cenho, continuando a desabotoar a camisa.
— Não foi escolha minha.
— Mas não fez nada para impedir.
— Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance.
— E mesmo assim falhou. — Chuto a cadeira que cai em um estrondo alto — Alguém mandou que disparassem mais de cem vezes contra o meu carro naquele dia, eu realmente não me importo com os tiros que eu levei, mas ela... Ela merecia justiça, ela merecia estar viva. A única coisa que eu pedi é que você caçasse quem fez isso e o colocasse atrás das grades, tenho esperado há anos e você nunca me veio sequer com um suspeito e agora o caso vai ser fechado, ou seja, ninguém vai pagar pela morte dela. Nunca.
Ele se aproxima de mim, tocando meus ombros em um aperto gentil que é prontamente repelido.
— E o que eu digo ao Harry agora? "Desculpe, querido, mas sabe o assassino da sua filha vai ficar solto mesmo, foi mal."
— Louis, eu posso...
— Não! — Grito raivoso — Você não pode, não pode fazer absolutamente nada! Seu inútil desgraçado!
Estou ponderando entre dar um soco nele ou não e perder o emprego no momento em que Liam, juntamente com outros agentes abrem a porta assustados e resolvo que a melhor decisão agora é ir embora. Passo pelos vários corpos, ignorando os puxões que me dão e esse seria o momento ideal para tomar meus remédios e ouvir alguma música Indie pra relaxar. Ao invés disso dirijo feito um louco em direção ao hospital, onde Harry disse que estaria a essa hora.
Chego batendo na traseira de uma caminhonete, fodendo com o farol do carro do FBI e não é como se eu estivesse preocupado com uma advertência agora. Desenrosco a tampa do meu cantil de prata, dando um longo gole no whisky, com uma puta dificuldade em encontrar a ala obstétrica.
Se eu não me engano é naquele andar onde todos usam rosa.
Depois do que parece uma eternidade encontro a recepção, mas é claro que eu não estou okay. E isso é tão ridiculamente evidente que não me deixam entrar no consultório e depois de uma discussão fervorosa com as duas recepcionistas e quebrar algumas coisas – deus, eu estou louco, não é possível – dois seguranças são chamados e eu deixo que eles me prendam em um salinha, cheia de uniformes para os enfermeiros, enquanto chamam a polícia.
Dã, eu sou a polícia aqui, otários.
Se eu não tivesse deixado o distintivo e a jaqueta no carro tudo isso teria sido facilmente resolvido.
Viro a última gota de álcool do cantil, sentado no chão e desejando fazer com Grimshaw o mesmo que Andrômeda fez com a família Atkins quando a porta é aberta e um corpo grande passa por ela, vestindo jeans, botas caramelo e uma camisa azul xadrez e é básico e tão lindo ao mesmo tempo.
— Oh, Louis. — Lamenta, encostando a porta e jogando os cabelos para trás.
— Oi, meu gatinho. Não me deixaram entrar. Você está bem? E o bebê? — Tento levantar, encontrando muita resistência do meu corpo bêbado.
— Disseram que você está com problemas. — Diz, desviando o olhar e cruzando os braços na altura do estômago.
— Não podiam estar mais certos. Problemas é o que não me falta agora, curly.
— O que houve? Você parecia tão bem ontem.
— Ontem ficou no passado e hoje, no presente, eu tô muito fodido. — Cambaleio, agarrando a barra de sua camisa para não cair — Aquela porra assassina matou um casal de almofadinhas inofensivo e um garoto, um garoto tão frágil e ele tentou fugir, ele lutou pela vida e mesmo assim morreu, tinha que ver, o abriram tanto que estava quase do avesso e era tanto sangue, depois de algumas horas aquilo fedia como o inferno e os órgãos... Esses estavam na jacuzzi, derretendo e boiando. Tanto sangue, é estranho que eu tenha sentido vontade de me afogar nele?
Os lábios dele se contorcem em escárnio e seu rosto está pálido, demais.
— Meu pobre Harry, ouvir sobre isso te enjoa, não é? É por isso que eu te amo, porque você está longe desse mundo nojento no qual eu estou afundado. Sabe, esse assassino nunca vai chegar perto de vocês ou das crianças, eu prometo, eu juro!
Harry continua sem falar, apenas com uma expressão estranha.
— O que foi? — Falo, angustiado — Espera! Você já sabe? Ele falou com você? É claro que falou, eu sabia que não ia deixar isso barato. Harry, você tem que acreditar que eu não tenho mais nada com o Michael, o que aconteceu entre nós ficou no passado, eu não faria isso com você, de novo não.
— Do que está falando? — Então seus olhos retomam o brilho natural, quase como se Harry tivesse retornado ao seu corpo — Michael está aqui? Você o viu? Por que viu ele? Ele foi atrás de você?
Porra!
— Nós... Estamos trabalhando juntos no caso.
— Trabalhando juntos? - Suas mãos se chocam com meu peito, me empurrando com força — Você me prometeu que nunca mais chegaria perto dele.
— Eu não cheguei, mas é que as circunstâncias...
— Circunstâncias? Que malditas circunstâncias são essas que te obrigam a ficar perto daquele... Daquele cretino? Eu pensei que tivesse sido claro com você, nós só ficaríamos juntos se você me prometesse que nunca mais chegaria perto dele. — Harry fala baixo e ameaçador, seus olhos estão afiados e as unhas maltratando as palmas das mãos.
— Eu... Eu... — Não sei o que dizer — Te amo.
— Foi o que você me disse quando eu te peguei na cama com o meu melhor amigo, foi o que você tornou a repetir quando me pediu uma segunda chance e eu aceitei, mesmo com todo mundo sabendo. Mesmo sendo visto como um idiota que te perdoou depois de uma traição descarada e olha só onde estamos, mais uma vez. Algumas pessoas simplesmente não podem mudar, você é incapaz de não me magoar, pelo menos uma vez ao dia.
— Meu amor, me perdoa, eu prometo que eu largo esse caso, eu peço demissão se você quiser... Só me diz o que fazer, por favor.
— Não volte pra casa, nem hoje, nem nunca. — Diz, indo em direção a porta e eu o puxo de volta, o ouvindo grunhir quando bato suas costas contra a parede e prenso meu corpo contra o seu — Me solta, você está me machucando. — Empurra meus ombros, tentando me afastar.
O que só serve para me fazer abraça-lo com mais força, alojando meu rosto na curva de seu pescoço com minhas unhas afundando na pele de suas costas e cintura, o fazendo gemer de dor e eu me odeio. Harry é o amor da minha vida e prefiro me dar um tiro a tocar em um fio de cabelo seu que não seja com total amor e veneração.
Mas também não consigo soltá-lo e deixá-lo ir.
Fecho os olhos, esfregando a testa em sua camisa e ele soluça baixinho, se contorcendo e tentando escapar de mim.
Eu sou um maldito louco.
— Louis, por favor... O bebê. — Suspira no meu ouvido choroso e meus dedos vão se escorregando para longe dele.
Seu choro atraiu a atenção e em questão de instantes os seguranças, desta vez acompanhados da polícia entram na quarto, imobilizando meus braços e me arrastando para longe de Harry.
Ele nem ao menos me encara.
Xx
A ida a delegacia local é uma grande perda de tempo, já que assim que eles me reconhecem como agente federal sou liberado com um pedido de desculpas, eles não tem culhões para me dar um puxão de orelha.
Isso chegava a ser engraçado, a forma incandescida como eu gostava de me imaginar mais velho e longe da figura rígida do meu pai, eu detestava ouvir suas repreensões e ter de seguir suas regras imbecis. Eu queria ser o tipo de homem que as pessoas respeitam, temem e não ousam repreender. Eu queria ter poder, queria ser forte, mais forte que os outros.
Porém, eu não passo de um fraco.
Um fraco que por algum motivo está acima de outros muito mais dignos.
O rapaz que devolve meus pertences me olha como se eu fosse o Super-Homem e na hora sinto um gosto amargo na boca, o gosto da decepção.
Não passo de uma farsa.
Eu posso ter uma arma e um distintivo, mas não fui capaz de proteger uma menina de oito anos que acreditava que eu seria seu herói.
— Eu preciso parar de pensar. — Digo a mim mesmo, apoiando a testa no volante. Abro o porta luvas e reviro o pequeno compartimento, repleto de chupetas mordidas, pecinhas de brinquedos e os esmaltes de Harry.
Nada.
Eu acabei com tudo o que tinha no escritório e em casa, estou oficialmente sem.
Puta merda, viu.
Minha única saída é ir até ele e eu definitivamente não queria ter que revê-lo tão cedo.
Depois do que parece uma eternidade me encontro do outro lado da cidade, mais precisamente no Queens, dirigindo entre as mansões de luxo, adentro ao caminho de altos murros de tijolos brancos, com portões de aço que não revelam nada de seu interior. Um homem mal encarado está de vigia e ele me conhece a tempo suficiente para não me barrar, ele interfona e então resolve liberar a minha entrada. Os jardins são imensos e excêntricos, tal como sua persona, um chafariz é feito a sua imagem – sim, ele teve a coragem de mandarem fazer um chafariz consigo montando um cavalo e segurando uma espada – Bizarro.
Tento ao máximo ignorar, correndo os degraus e encontrando mais dois outros homens em ternos pretos com óculos escuros prontos para me revistar dos pés a cabeça. Eles ficam com meu revólver e todas as armas adicionais que eu gosto de manter espalhadas pelo meu corpo, por prevenção, sabe.
Johnny, um homem com o dobro do meu tamanho e provavelmente um viciado em anabolizantes está apalpando minhas pernas quando escuto passos altos ressoando pelas escadas e então um gritinho agudo.
— Você veio nos visitar mais cedo! — Mia berra, levando as mãos as bochechas em descrença.
Ela está impecável, usando um vestido preto e blazer branco, os cabelos negros e lisos estão presos em um rabo de cavalo e mesmo assim eles batem abaixo de sua cintura. Grandes olhos azuis, idênticos aos meus brilham em minha direção.
E aí está a minha filha ilegítima de treze anos.
— Senti saudades, como está? — Pergunto, me vendo livre das mãos inconvenientes me tocando.
Ela vem até mim, me estendendo a mão e eu a beijo. Suas bochechas ficam rosadas e seus olhinhos se apertam timidamente.
— Bem, Zayn disse que não viria mais este ano.
Ah, Zayn, ele vai odiar me ver aqui.
— Tive uma emergência e precisei vir falar com ele. — Explico sorrindo amigável, tocando o brinco de pérola em sua orelha.
— Talvez possamos conversar um pouquinho, depois.
— É claro, Mia. Agora me leve até o Zayn, sim? — Ela assente, caminhando a minha frente, conforme vamos nos aproximando de seu escritório, os seguranças só aumentam. Calum é quem abre a porta, enxergo Zayn sentado em um sofá dourado, soprando a fumaça de seu charuto, os cabelos estão quase totalmente raspados e descoloridos, a barba mais baixa e um piercing no nariz e acredito que suas roupas saíram da máquina do tempo de algum filme de gângster dos anos oitenta.
— O Lou... — Mia começa.
— Você tem dever de casa, vá para o seu quarto terminar. — Zayn a dispensa com toda a facilidade do mundo. A menina anui e me dá um sorrisinho brando antes de refazer seu caminho.
— Tomlinson. — Cal me cumprimenta.
O escritório de Malik está cheio de gente da pior espécie, traficantes, usuários, arrombadores, estelionatários, agiotas e ladrões. E Zayn era o pior tipo deles, o chefe.
— Zayn. — Falo, sentando na poltrona a sua esquerda, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Olha só, quem é vivo sempre aparece. Embora eu tenha deixado bem claro que se você pisasse na minha área novamente acabaria com uma bala na cabeça.
— Não é como se eu tivesse medo de levar um tiro. — Resmungo, aceitando o copo de conhaque que o garçom me oferece — A Mia cresceu.
— Está igual pra mim. — Zayn cruza as pernas, apagando o charuto no cinzeiro — Dirigiu até aqui? Não devia ir tão longe atrás de maconha, sabe que eles vendem em Manhattan também, não é?
Corro os dedos por meus cabelos, batendo os pés contra o piso.
— Eu fui da narcóticos por cinco anos, tem noção da merda que seria se alguém me visse comprando maconha por aí?
— Realmente um escândalo. — Zomba com a voz esganiçada — Cal, traga a erva do detetive Tomlinson, por gentileza.
Torço o nariz para a inclusão do detetive. Eu realmente não preciso desses marginais sabendo o que eu faço.
Hood retorna com a erva despojada em uma maldita bandeja de ouro, com folhas de seda para se enrolar, ele faz o meu como um verdadeiro profissional - coisa que ele, de fato, é - me entregando apenas para que eu acenda, dou um trago, sentindo a fumaça massageando com doçura meus pulmões maltratados e então posso respirar com o peso em meus ombros ficando mais leve.
Quando o relógio em formato de gato marca 02:30min meus olhos estão se fechando lentamente, apenas consigo captar as persianas balançando e o conforto do sofá acolhendo meu corpo moribundo, mas também há alguns sussurros:
— Eu só queria dizer boa noite. — Mia diz aos sussurros.
— Era pra você estar dormindo, amanhã tem aula. — Zayn a repreende.
— O Lou vai dormir aqui?
— O que eu falei sobre apelidos, pra você é senhor Tomlinson e isso não te diz respeito, agora vá para a cama e é melhor acordar na hora amanhã, ouviu bem?
— Sim, senhor. Boa noite, Zayn. — A tristeza em sua voz é quase palpável.
Ela deveria se sentir sozinha vivendo em uma casa tão grande, sem companhia. Tenho certeza que Mia adoraria poder brincar com Blake e Spencer, mas infelizmente eles não podem sequer saber da existência uns dos outros.
Mia e Eve poderiam ter sido grandes amigas, poderiam.
— Por que não a deixa chamá-lo de pai? — Minha voz rompe o silêncio, depois que o moreno fecha a porta.
A sala está vazia. Todos se foram.
— Eu já te disse, laços afetivos são uma grande bobagem. Quero que ela me veja como qualquer um.
— Mas que grande bobagem.
— Então porque não diz a ela que é sua filha e a deixa te chamar de papai até os cem anos? — Retruca, indo até o bar, recolhendo dois copos e uma garrafa de vodka.
— Sabe que não posso fazer isso, você nunca quis que eu me metesse. — Me sento, estralando o pescoço e desabotoando alguns botões da camisa, Zayn desvia o olhar quando o pego encarando meu ato.
— Você só iria me atrapalhar e além disso já estava de quatro por aquele mauricinho do West Side.
Ele coloca os copos na mesinha de centro, despejando o líquido em cada uma delas e me entregando uma, fazendo um breve e costumeiro brinde.
— Ele não é mauricinho. — Resmungo, dando um gole.
— Ah tá bom, eu lembro quando o vi pela primeira vez, com aquele cabelo cheio de cachinhos, todo sedoso e brilhoso, com suas roupas bonitas, sem manchas ou amassados e os sapatos... Italianos, se não me engano. Você disse, "ele é legal e simples como a gente" mas o cara andava na ponta dos pés com medo de ser contaminado pela nossa pobreza e aquele narizinho franzido e o bico desgostoso a cada vez que eu abria a boca. Aquele pirralho era um nojo, pensei que te dispensaria em uma semana e de repente você casou e fez um filho nele. Francamente, eu e Mia não tínhamos a menor chance contra as duas princesinhas de cabelos cacheados.
Giro o copo entre os dedos quando termino de beber.
— Eu teria assumido ela.
— Cara, relaxa, nós éramos jovens e idiotas e tudo bem, ela tem uma vida ótima.
— Não é nem de longe o ambiente apropriado. Não poderíamos ter escolhido rumos mais diferentes, Z.
Zayn morde os lábios, parecendo desconfortável. Falar sobre o passado nunca é uma boa. Nós crescemos juntos, nos descobrimos juntos e foi uma grande surpresa quando, ao invés de sair vendendo drogas como os outros garotos da minha idade, eu entrei na academia de polícia. Foi como se um muro tivesse sido levantado entre nós dois, eu era da narcóticos e ele um dos maiores chefes do tráfico de Nova York, a justiça dizia que seu lugar era atrás das grades, mas eu não conseguia. Harry e minha família, não sabiam que havia uma criança, mas ela estava lá. Mia.
Ela era só um bebê e eu não podia estar lá por ela, o mínimo que me cabia era garantir que Zayn estivesse.
Quando ficou claro que eu estava fazendo vista grossa fui transferido até acabar no FBI, onde me destaquei como investigador.
Eu dizia que vinha pela maconha, contudo, a verdade é que eu vinha por eles, queria saber como estavam. Era só mais uma canalhice da minha parte, mas quando a minha família "oficial" entrava em colapso eu corria para essa, mesmo que Zayn mal me olhasse nos olhos e Mia era afastada como se eu sofresse de alguma doença contagiosa.
— Eles vão fechar o caso.
Isso atrai a atenção dele. Seus olhos âmbar pela primeira vez se fixam aos meus.
— Não terá solução.
— Louis? — Zayn diz preocupado e é quando me atento aos meus dedos trêmulos soltando o copo para esconder o rosto nas mãos.
— Eu pensei que a polícia era capaz de tudo, que nós conseguiríamos resolver todos os mistérios do mundo e proteger as pessoas, mas eu não podia estar mais enganado. A cada dia surge um novo corpo e eu não encontro esse serial killer e a minha filha, minha princesa, meu amor que morreu por nada não tem justiça nenhuma e como se isso não fosse o suficiente tem o Harry me expulsando de casa. Tá tudo desabando em cima da minha cabeça e eu não sei o que fazer, eu não sei como sair dessa. — Choro cada vez mais forte, escorregando do sofá até me encontrar encolhido no chão em uma pequena bola de autopiedade.
Zayn não se abala, balançando seus sapatos de bico fino e acendendo um novo charuto.
— Você deveria chorar com mais frequência, porque quando faz isso a cada dez anos parece estar prestes a ter um infarto ou algo do tipo.
— Cala a boca! Eu deveria te levar preso e acabar com essa merda toda. — Guincho, puxando meus joelhos para perto do peito.
— Vai fundo, mas vou logo avisando que vai ficar com a guarda da Mia e já que a princesa te expulsou do castelo os dois vão acabar debaixo da ponte.
— Você faz piada agora?
— Talvez... — Sua risada fraca me leva a rir também, esfrego o rosto, secando as lágrimas com alguns soluços ainda escapando do fundo da minha garganta — Sobre a sua filha eu sinto muito. Mesmo que não acredite eu tenho um coração e ele partilha da sua dor, sabe que no momento em que quiser justiça, não essa babaquice legal, mas justiça de verdade. Olho por olho, dente por dente. Estarei aqui pronto para ajudá-lo. Apenas diga e eu mando meus homens atrás desses desgraçados.
— O FBI não foi capaz de acha-los, você acha que conseguiria?
— Eu sou bem mais poderoso que o FBI, Tomlinson. — Diz arrogante e eu reviro os olhos.
Me sinto tonto, em todos os sentidos da palavra.
— Certo, eu vou indo agora. — Tomo impulso para levantar e caio de volta.
— O quê? De jeito nenhum. Sair nesse estado é suicídio!
— Eu preciso voltar pra casa, meus filhos, meu cachorro, meus gatos, meu marido, eles estão esperando por mim.
— Uau, quanta coisa viva te esperando em casa, mas essa não é uma boa ideia, Louis. — Malik salta de seu assento, para me deitar novamente no sofá — Fique aqui, só essa noite. Amanhã será um novo dia.
Quero reagir, mas meus olhos e meu corpo me traem, amolecendo e se acomodando com gosto no estofado macio e aconchegante.
— O Harry...
— Ele vai estar a sua espera. — Sussurra e então estou adormecido.
O que não acaba durando muito. Depois de mais de uma década dormindo ao lado de alguém, não tem jeito de dormir longe desta pessoa. Ao acordar sozinho no escritório de Zayn decidi que estava na hora de seguir viagem, a embriaguez já havia se dissolvido, restando ainda uma bela enxaqueca e um embrulho desagradável no estômago. Nada fora do comum.
Minha saída foi liberada, junto com meus pertences e tornei a dirigir mais tempo do que meus ossos frágeis poderiam suportar naquelas condições, mas tudo valeu a pena quando me rastejei pelo corredor principal, ouvindo os roncos suaves dos gêmeos e o perfume do meu amor embargando o ar, ele provavelmente estaria bravo comigo depois do incidente no hospital. Porém, ainda são seis da manhã, nessa hora não existe ninguém com pique para brigar e é disso que eu pretendo tirar proveito.
Quando afasto a porta do nosso quarto encontro lençóis amarrotados, sem o corpo despojado e adormecido que eu esperava envolver em meus braços e acariciar por horas a fio.
Meus sentidos estão bastante amortecidos ao que escuto não obstante algo como um gemido e sou guiado até o banheiro. Forço a entrada, mas a porta está trancada.
— Hazza? —Bato na madeira. Sem resposta — Haz? — Silêncio — Harry, abra a porta agora, senão eu irei arrombar. — O silêncio se prolonga e eu não hesito em me afastar e chutar de uma vez a porta, a fechadura arrebentando e ela se escancarando.
Na pior das hipóteses imaginava um Harry prostrado em frente a privada, sofrendo com seus enjoos e nutrindo ódio a minha pessoa.
E isso era ótimo, realmente maravilhoso se comparado ao que encontro.
Ele está no chão, inconsciente. As mesmas roupas que usava mais cedo, com a única diferença de que a camisa está manchada pelo sangue abundante que escorre dos cortes de seus pulsos.
Porra!
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