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│19│monouros


— O que faz aqui? — Inquiro quando saio da sala de interrogatório.

Harry permanece imóvel, fuzilando Zayn com os olhos que não recua e sustenta seu olhar enraivecido.

— Harry! — Endureço o puxando pelo braço, ele se vira para mim contrariado — Os meninos estão bem?

— Estão ótimos! — Diz com um sorrisinho simpático, se desvencilhando de mim, fazendo questão de evitar meu toque. Ele mudou de novo. Se é assim, isso significa que... Seguro sua cintura e o trago pra mim, nos colando propositalmente e sua expressão se retorce de tal maneira que acredito que ele irá vomitar — Não faça isso, estamos no seu trabalho. — Ele luta para empurrar meus ombros e nada acontece. Ele é mais fraco?

Me afasto, observando como ele passa a mão várias vezes pela camisa preocupado com o pequeno amassado que se formou.

— Ainda não respondeu a minha pergunta... — O nome Harry coça em minha garganta.

O cacheado ajeita o fedora sobre sua cabeça, dedicando uma última olhadela para Malik e me encara.

— Você me disse para sair de casa, então pensei que poderíamos almoçar juntos.

— Almoçar?

— Uhum.

— Certo. Me espere na minha sala, eu preciso fazer uma ligação.

— Okay. — Concorda e caminha para longe. Sigo na direção contrária, a cada chamada não atendida por Niall a sensação de agonia se espalha.

— Alô? — Horan murmura do outro lado.

— Como estão as coisas? Vocês estão bem?

— Sim, está tudo bem. Por quê?

Porque acho que tem um serial killer atrás de você.

— Hum, por nenhum motivo em especial, só checando, qualquer coisa me ligue, está bem? — Concorda e eu desligo, antes de ir de encontro a Harry vou até um pequeno grupo de agentes desocupados e mando que eles fiquem de prontidão do lado de fora do prédio de Niall. Só por precaução.

Retorno a minha sala, esperando encontrar Harry, mas dou de cara com Gemma girando na minha cadeira cantarolando baixinho.

— Oh, olá?

Ela me nota e sorri.

— Oi, cunhado, como vai?

— Bem. — Respondo entrando na sala, virando a cabeça procurando por Harry — Onde ele foi?

— Acho que ele voltou pra casa, disse que não estava se sentindo muito bem. — Dá de ombros, espiando as pastas sobre a mesa.

— Assim, do nada? Ele parecia bem há um minuto atrás.

— É, ele olhou pra isso aí e disse que estava enjoado. — Ela aponta para o isso aí, que nada mais é do que o quadro com a investigação do caso Andrômeda onde fotos de corpos mutilados estão expostas e detalhes sórdidos transcritos ao lado. Às vezes esqueço como pode soar perturbador para os demais — Eu disse que ia com ele, mas ele insistiu para que fôssemos almoçar.

Parece que uma de suas personalidades quis se livrar de mim e conseguiu com maestria.

Gemma e eu vamos almoçar em um restaurante muito frequentado por mim e meu marido. Ainda no início da tarde poucas mesas são ocupadas e temos a disponibilidade de tempo dos garçons, o que é magnífico uma vez que Gemma costuma levar em média quinze minutos lendo e relendo o menu, pensando no que pedir. Ela é uma pessoa muito indecisa, após trocar cinco vezes seu pedido, somos servidos.

— E como vão os negócios? Alguma exposição em vista? — Pergunto, pulando a refeição e indo direto para o álcool.

— Hum, sim, sim, Harry não te falou? — Indaga entre uma garfada e outra. Nego com a cabeça — Que estranho! Bom, ele está me ajudando. Tenho algumas pinturas mais antigas que precisavam de uns retoques nas cores e ele se ofereceu para fazer isso, achei até um pouco suspeito, ele nunca quis tocar em um quadro meu. O que será que ele está planejando?

Eu não faço ideia.

— Mas de qualquer forma, estou muito animada. E você, quais são as novidades? Fiquei sabendo que o Pegasus foi executado.

— É Andrômeda, na verdade e não, não eram os caras certos.

— Sério?

— Sim, ele veio atrás de mim praticamente em seguida.

Gemma congela.

— Veio atrás de você? Como assim? Meu deus, Louis.

— Está tudo bem. — Tento tranquiliza-la.

— Não tem como estar bem, Louis. Pelo que eu sei não é normal assassinos atacando diretamente os responsáveis pela sua captura, esse cara é louco, ele pode ir atrás do Harry ou das crianças.

— Eu tenho certeza que n- — Quero negar e assegurar que isto está fora de cogitação, mas é quando a minha ficha cai. Por que ir atrás de Niall se onde mais me dói está totalmente desprotegido? Finjo ter recebido uma ligação para dar um motivo a minha escapada — É uma emergência, eu preciso ir. Desculpe.

— Claro. Boa sorte. — Diz com um aceno.

Movido por puro mal presságio, dirijo de volta para casa, estarrecido no instante em que piso no jardim e vejo a porta da frente escancarada. A polícia não está mais na casa da frente.

Caminho cuidadosamente, consciente da arma em meu coldre e na mais plena atenção para qualquer movimento brusco, embora meu emocional esteja em pedaços com a possibilidade do que encontrarei no lado de dentro.

Entro e não encontro nenhum rastro de Harry, Spencer e Blake. Até os nossos animais estão fora de vista, adentro um pouco mais, nossa sala está revirada, a mesinha de vidro virada com a superfície estourada, cacos espalhados por todo o tapete, a tela da TV trincada, fotos rasgadas sobre a lareira. Roupas e objetos pessoais por todo o chão do corredor, que parece terem sido lançadas do peitoril da escada. Cada centímetro foi remexido e nenhum sinal deles.

Os quartos estão vazios.

Vacilo ao que me deparo com pequenas gotas de sangue sobre o travesseiro dentro do berço de Spencer.

A simples ideia do meu filho machucado é demais para mim e eu ligo para o FBI. Enquanto eles estão a caminho, persisto em procurar, até que ouço um gemido baixo, seguido de um latido e então o choro estridente de criança. Corro, a procura da origem do pranto e então me deparo com a porta do sótão que fica no interim da dispensa, é um cômodo praticamente esquecido. Forço a fechadura e o choro se intensifica.

— Spencer, Spencer, tudo bem, é o papai, okay? Vai ficar tudo bem.

— Papai? — Sibila do outro lado.

— Isso, meu amor, eu preciso que você fique bem longe da porta agora, está bem? Eu vou entrar e preciso que você se afaste.

— Tá.

Respiro profundamente e chuto a porta que se abre num rompante, o lugar está mergulhado em escuridão, de repente uma figura minúscula surge, se jogando em meus braços. Aperto Spencer com força, conferindo que ele não está machucado, apenas assustado. Acendo a luz tremulante e Sonny corre para mim, assim como Shae e Mona, procuro por Blake, mas acabo encontrando Harry, encolhido ao pé da escada de madeira.

— Harry! — Grito, me lançando em sua direção, ele permanece com a cabeça baixa, abraçando os joelhos. Soluçando — Harry, o que aconteceu?

Balança a cabeça, sem emitir som algum.

Olho ao redor.

— Onde está o Blake? Cadê o nosso filho? — Ele não responde, continuando a murmurar e chorar — Harry, por favor, fala comigo. — Não há resposta — Harry! — Desta vez eu grito, acompanhado de um puxão que o faz despertar — Cadê o Blake?

Harry me encara com os olhos enormes, as bochechas manchadas pelas lágrimas. Ele não parece entender de início o que estou dizendo, mas deixa a atenção cair sobre Spencer e a falta de sua cópia idêntica, então salta ofegante.

— Eles o levaram. Eles o levaram. — Repete com a mão sobre o peito, se encolhendo até estar ajoelhado novamente — Meu Deus, não! Meu bebê não! — Ele começa a gritar e eu não tenho reação, assim como não tive quando perdi Evangeline, eu não posso perder o Blake, mas não encontro uma forma de agir.

Xx

O pânico e a agonia parecie ter durado horas, dias, anos, quando não passaram de cinco minutos. Mas aqueles foram os cinco minutos mais aterrorizantes da minha vida que nada se comparam a sensação de alívio extremo quando Liam entra em casa com Blake no colo. Harry praticamente cai de joelhos agradecendo e eu teria feito o mesmo se não estivesse tão anestesiado pelo medo.

Há vários agentes examinando cada centímetro da casa e somos todos levados até a agência. Harry continua contando a mesma história sobre dois homens terem invadido a casa, afim de roubar. Eles os prenderam no sótão e levaram Blake, planejando pedir algum tipo de resgate.

A história caiu por terra rapidamente, quando Spencer disse que não havia visto ninguém e não sabia porque estavam no sótão, Blake foi mais além e acusou Harry de ter bagunçado toda a casa e o deixou sozinho na sala com a porta aberta, por isso ele saiu.

As câmeras de segurança não captaram nenhum invasor em potencial, ninguém mais entrou na nossa casa. Ela até mesmo mostrava com nitidez Blake saindo da casa e andando pela calçada. E mesmo sendo claramente desmentido ele continuava a contar a mesma história.

Quando Liam fez um intervalo do interrogatório, aproveitei para ver como ele estava.

— Eu quero ir embora. — Choraminga, puxando minha jaqueta quando ajoelho ao lado de sua cadeira.

— Amor, você não pode sair daqui enquanto não disser a verdade.

— Mas é assim que eu me lembro, Louis. Tinham dois homens, eu não lembro dos rostos, mas as vozes deles... As vozes deles ficaram na minha cabeça, deles dizendo que iriam se livrar dos meninos, de você, eles sabiam sobre você e disseram que iam te machucar. Eu fiquei com tanto medo. — Harry está chorando novamente, ciente de que não tem nada que eu possa fazer por ele no momento, cruza os braços sobre a mesa e esconde o rosto entre eles, chorando descompensadamente.

Fico a espera de Liam e quando o vejo retornar, o abordo.

— Liam, você não pode mantê-lo aqui.

— Louis, olha, eu-

— Ele está esperando um bebê, você faz ideia do estresse que está causando nele?

— Bom, estar esperando um bebê não o impediu de forjar toda uma cena e mentir para a polícia. Ele cometeu alguns crimes.

— Qual é? Você não pode estar falando sério, ele só está confuso.

— Confuso? Não sei se percebeu, mas o seu filho estava sozinho na rua, ele podia ter sido atropelado, podia ter sido levado por alguém. Você quase perdeu o seu filho hoje e nem falemos do outro, hoje foi a primeira vez que eu vi uma criança de três anos tendo um colapso nervoso e tudo isso graças ao seu marido. Eu sei que você ama o Harry e faz sacrifícios demais para manter a imagem de santo que você criou dele, mas é evidente que o Harry tem problemas. De qualquer maneira precisamos dar parte no conselho tutelar.

Engulo em seco.

— Está insinuando que vai tirar os nossos filhos?

Ele nega.

— Eu só estou informando que não me parece seguro para eles estarem sob a guarda de vocês no momento. Só estou cumprindo meu trabalho, não é nada pessoal.

— Claro. — Concordo afável, sentindo meu corpo borbulhar de puro ódio.

Tento equilibrar Spencer e Blake e fazer com que suas cabeças parem de deslizar sobre os meus ombros ao mesmo tempo que tranco a porta do meu escritório, me viro, trombando com um garoto de óculos e jaleco.

— Desculpe, detetive. É que a sua análise ficou pronta. — Me estende um envelope.

Encaro aquilo confuso.

— Eu não pedi análise de nada.

— Oh, que estranho. Junto com as outros matérias tinha uma boneca, disseram que era uma evidência colhida pelo senhor.

A boneca. Ah.

— Certo. Obrigado. — Me forço a sorrir sem a menor vontade e deixamos a agência, é doloroso partir sem Harry, mas os meninos precisam descansar. Durante o caminho me lembro do quão caótica estava a nossa casa, penso sobre a possibilidade de ficar em Anne, mas não. Bebe? Não também. Posso alugar um quarto de hotel.

Acabo decidindo quando estaciono no hall de entrada do prédio de Niall. Dentro do elevador frio, encaro meu reflexo no espelho, os dois garotos adormecidos agarrados em mim. É engraçado como me esqueço que ambos são como versões menores de mim mesmo.

Eve era tão diferente.

Como o outro bebê será?

— Boa- — Niall perde a fala quando se depara comigo em sua porta no meio da noite.

— Se importa em ter mais alguns hóspedes?

— De jeito nenhum. — Ele me ajuda, segurando Spencer. Conforme entro no apartamento, encontro Mia dormindo no sofá, trancinhas pelo cabelo escuro e uma camisa com a bandeira da Irlanda — Por aqui. — Indica, indo até seu quarto e acomodando os meninos que se enrolam nos edredons rapidamente, Niall vai até a sala e retorna com Mia, a deitando ao lado de Blake.

Permaneço estático por alguns minutos. Tentando administrar a cena. Os três na mesma cama, os três irmãos que sequer sabiam da existência do outro. É tão estranho ao mesmo tempo que me causa alívio e alegria.

Deixo um beijo na cabeça de cada um, hesitando antes de fazer o mesmo com Mia.

— Pelo jeito as coisas não estão muito bem. — Niall diz, voltando da cozinha com um engradado de cerveja até a sala, onde estou inerte sobre o sofá — Harry?

— Ele está depondo. — Respondo, abrindo uma latinha — Hoje foi um dia muito longo.

— Nem me fale. Pelo menos eu tive uma folga. — Diz, oferecendo um brinde — À dias mais calmos.

Sorrio descrente que voltarei a ter dias calmos.

— Por dias mais calmos. — Bebo um longo gole, me permitindo derreter contra o estofado. Percebo o jogo de um time irlandês passando na TV — Você é irlandês?

— Eu nasci lá, mas cresci em Wisconsin e tirei minha cidadania.

— Oh, faz sentido, Irlanda.

— O que é isso?

— Seu apelido.

— Um apelido, que legal. — Sorri, relaxando.

Abrimos outra cerveja, assistindo o jogo.

Xx

Desperto com o corpo dolorido, sem entender ao certo o que estou fazendo no tapete e porque estou usando um chapéu. Os mistérios do universo.

— Louis. — Ouço um sussurro, mas não sei de onde vem até sentir uma almofada se chocando com a minha cabeça.

— Niall. — Resmungo, tentado a lançar a almofada de volta. Mas ele tenta me dizer algo com sua expressão, não entendo nada, ainda não chegamos ao nível de nos comunicarmos com os olhos — Que é?

— Avião! — Blake grita rindo alto e eu olho para trás, encontrando Mia o levantando pela cintura, os braços dele abertos e os cabelos bagunçados caindo sobre seus olhos apertados a medida que seu sorriso aumenta.

— Eu, eu, eu, agora eu. — Spencer pula ao lado dele, puxando sua camisa, temendo ser esquecido. Mia abaixa Blake e o pega, fazendo o mesmo com ele, que ri de início e logo está choramingando com medo de cair, então ela torna a trocar, mas basta Blake ser erguido para ele voltar a pedir — Eu, eu, eu de novo.

Uso da almofada para acertar seu corpinho pequeno e ele para, me olhando chocado.

— Você é um chato, sabia disso? — Provoco com humor e ele me devolve mostrando a língua — Que coisa feia! — E teima em mostrar. Levanto correndo atrás dele e ele sai em disparada.

Blake insiste em ir para o chão e se juntar a bagunça, os dois se trombam e milagrosamente não choram, mas continuam a correr rindo. Pego um desvio entre a mesa e o sofá e tenho Mia bem no meu caminho, então faço algo que deixaria Malik de cabelos brancos e a ergo, exatamente como ela tinha feito com os meninos antes. Ela solta um gritinho surpreso.

— Agora eu quero ver vocês fugirem do avião. — E a faço "voar" na direção deles que gritam e saem correndo.

As risadas e gritarias são interrompidas pelo bip alto. Paramos imediamente.

— Ah, eu fiz panquecas. — Niall se lembra — Alguém vai querer?

Depois de um longo banho e um café da manhã reforçado me sinto renovado. Mia e eu jogamos FIFA e Spencer fica na frente perseguindo os bonequinhos azuis. Eu quase esqueço o contexto no qual estamos reunidos. Quase.

A campainha toca e Niall está em algum lugar deste cubículo, Mia se oferece para atender a porta.

Sua demora chama a minha atenção, deixo os meninos brigando pelo joystick e vou atrás dela, a encontrando parada diante da porta, os grandes olhos azuis bem abertos e o calcanhar direito erguido, como se estivesse prestes a recuar.

— Mia? — Chamo e não só ela olha em minha direção como o visitante, que nada mais é do que Harry.

— Louis, esse moço disse que é seu marido.

— Ele é. — Confirmo, me aproximando — Pode voltar para a sala, querida. — Toco seu ombro, percebendo como os olhos de águia seguem vidrados sobre a menina, mesmo quando ela sai de uma vez — Então...?

— Eu contei a mentira que eles queriam ouvir e agora acham que eu sou um surtado que inventa historinhas para chamar atenção, vou ser processado e vamos receber a visita de uma assistente social, também passei a noite numa sala de interrogatório, mas você parece estar se divertindo bastante. — Diz ríspido, com as mãos metidas nos bolsos de seu sobretudo e um coque contendo seus cachos.

— Niall é meu amigo e eu não tinha mais para onde levar as crianças. — Retruco em voz baixa.

— Sei, bom, eu fui para a casa da minha mãe, mas não sei porque você veria a casa da avó deles como um bom lugar para passar a noite. Eu nem imagino como funciona a porra da sua cabeça. — Ele eleva o tom de voz e sei que estamos brigando, prefiro sair e bater a porta as minhas costas para poupar os demais — Que merda é essa? Por que essa menina está aqui?

Ele fala como se tivesse alguma noção de quem ela é.

— Essa menina? Como assim?

Harry ri, batendo com os saltos da bota de couro pelo corredor lustroso, indo até às janelas.

— Eu sei quem ela é. Claro que sei. É a filha de Zayn Malik, com você, meu querido marido.

Oh, porra.

Fico sem chão e reação.

— Pela sua cara essa foi uma grande surpresa. — Seu sorriso cresce expondo as covinhas — Não foi muito difícil, há uns quatro anos ela mandou uma cartinha para Eve desejando feliz aniversário, ela me perguntou quem era Mia Malik e porque a garota a chamou de irmãzinha. Foi questão de juntar os pontos.

Senti meu rosto empalidecer, não apenas Harry sabia, como Mia também sabia há anos. Ela sabe que eu sou o pai dela.

— Harry, eu-

— Eu não me importo. — Diz cortante — Pelo menos ela é mais velha, o que me dá a esperança de que não tenha sido concebida com uma traição, o que me impressionou foi a aparência dela.

— Você nunca a viu antes? Como a reconheceu?

— Eu não a reconheci, ela disse o nome quando eu disse o meu. É de se surpreender que alguém como aquele homem tenha criado uma criança tão bem educada.

— Ele é um bom pai. — Sério que eu vou defender Malik para Harry?

A forma como ele me olha parece dizer justamente isso.

— Ela é muito parecida com a Eve.

— Você acha? Ela tem muito do Zayn.

— Mas não é só a aparência, ela tem alguma coisa que me faz lembrar dela, quando eu a vi foi como se ela estivesse diante de mim. Um pouquinho diferente, mas a minha garotinha estava de volta. — Harry não me olha ao divagar, é como se ele estivesse olhando para dentro, conversando com outro alguém. Fico em alerta.

Abro a boca, porém meu celular recebe uma notificação. Zayn está me informando que foi solto e está a caminho para buscar Mia.

— Ela vai voltar para a casa dela.

De repente, ele está perto demais, me puxando ao que súplica no que parece mais uma exigência incisiva.

— Não pode deixar que ela continue com o Zayn, ele é um criminoso. Você precisa tomar providências, é o pai dela.

— Não exatamente, Harry. Eu sou mais um progenitor, ele nunca me deixou sequer tirar uma foto com ela.

— Foda-se, ela é sua, é nossa, okay? Viu, eu posso aceita-la, eu quero ela, vamos leva-la para a casa. Vamos ser uma família completa de novo. — Ele segura meu rosto, aproximando nossas testas e a fala macia flutuando por meus ouvidos: — Nós perdemos a Eve, a Mia pode ser a nossa segunda chance. Não podemos perder ela também.

— Zayn jamais permitiria...

— Eu jamais permitiria o quê? — O timbre ácido ecoa pelo corredor. Viramos para vislumbrar Zayn nos olhando de volta com uma expressão de poucos amigos, ele não gosta de mim e definitivamente não gosta de Harry.

— Eu vou buscar a Miranda. — Digo, não querendo alongar o momento.

Mas é claro que o tiro sai pela culatra quando Harry se volta para Malik.

— Você é um egoísta, sabia?

— Mentira, eu nem fazia ideia, obrigado por me contar.

Observo como a mandíbula do cacheado se aperta em nervoso.

— Estou falando sobre a Mia.

— Miranda. — Zayn corrige, puxando um maço de cigarros do bolso de seu Armani e acendendo um, expelindo a fumaça em direção a janela — Não use apelidos, estraga o nome da criança. Evangeline foi banalizado com aquela coisa de "Eve".

— Como você ousa falar o nome da minha filha?

— Você falou o nome da minha filha primeiro.

Harry fecha os olhos e vira o rosto de uma maneira um tanto esquisita. Não é normal, Zayn também parece perceber.

— Ela também é filha do Louis.

— Não, ela é apenas minha. — Garante, dando uma nova tragada — Ele tem filhos demais, graças a você, algumas pessoas só servem para isso. — Harry avança e eu preciso entrar no caminho.

— Zayn, não faça isso.

— Você deveria tomar muito cuidado em como fala comigo, não faz ideia do que eu poderia fazer com você. — Ameaça raivoso.

— E o que seria? Pretende tacar um pincel na minha cabeça? Me sujar de tinta? Estou curioso para o que alguém que sequer reagiu ao encontrar o marido com outro na cama pode fazer a minha pessoa. — Ele provoca para ter uma reação explosiva de Harry, mas desta vez ele não tenta esmurrar Malik ou xingar.

— Eu vou tirar a sua filha de você. — A maneira como ele diz, o tom sombrio e ameaçador, não transparece uma simples ameaça ou algo dito no calor do momento. Parece uma promessa — Eu vou tomar o seu coração entre os meus dedos e vou esmaga-lo e você só vai poder assistir, incapaz de reagir.

— Harry, que merda é essa? — Me volto para ele, mas sua atenção permanece em Zayn, que perdeu a áurea superior e sarrista. Isso o afetou.

Maldição, se Malik achar que Harry está ameaçando ferir Mia ele vai mandar matá-lo.

— Oi. — Uma vozinha baixa surge em meio aos ânimos exaltados. Mia vem em passos pequenos, segurando o uniforme lavado contra o peito, perfeitamente dobrado.

Zayn podia abraça-la e chorar por ela ter se salvado, ou dizer algo bonito e emotivo, ao menos um sorriso, invés disso ele preferiu focar na única coisa que não fazia a menor diferença.

— Que roupa é essa?

Mia baixou os olhos para seu uniforme de futebol do time irlandês, largo e um tanto gasto, mas ela tinha gostado.

— Foi um presente do Niall. — Disse sorridente.

— Niall? Que diabo é um Niall?

— Ele é meu parceiro. — Digo.

— Oh, vem, vamos embora.

— Certo. — Mia anda em sua direção, porém ele a para ao notar algo — Seus colares, onde estão?

— Eu dei para o Spencer e o Blake. — Como se fosse sua deixa, duas cabecinhas curiosas despontam da curva do corredor, os pingentes das correntinhas brilhando em seus pescoços — Eles fizeram aniversário recentemente e eu quis dar um presente.

A expressão de Zayn era um claro "e por que você se importa com isso?", mas ele não disse, só indicou que ela entrasse no elevador.

— Tchau, Harry. — Mia acena, Harry retribui e ela faz o mesmo comigo — Tchau, Lou.

Ao ver ela partindo sinto o átimo de dizer algo, foi a primeira vez que estivemos juntos por tanto tempo e tão pouco foi dito.

— Mia, eu- — Engulo as primeiras palavras que vem a minha mente, porque de um lado tenho Harry, Spencer e Blake me encarando e do outro está Zayn e Mia, é quase como uma escolha. A família que eu poderia ter tido e a família que eu tenho. Eu não sei o que dizer.

Mas ela não vê mal algum na minha súbita mudez e sorri, repetindo seu tchauzinho.

— Eu sei.

Zayn aperta o botão e as portas se fecham e seja um lapso, uma ilusão de ótica ou uma peça da minha mente conturbada, nos instantes em que as portas de ferro estão se unindo, Mia parece idêntica a Eve.

E eu temo não ter sido o único a notar isso.

Xx

A nossa casa não é uma cena de crime, uma vez que tudo foi considerado um grande surto de Harry e ninguém é tecnicamente incriminado por bagunçar a própria casa, mas ele ainda teria de lidar com um processo e teríamos de parecer a família perfeita quando recebermos a visita da assistente social na quinta. Enquanto nossa casa é colocada em ordem passamos o dia na casa de Anne.

Nós não estamos nos falando, então é estranho estar debaixo do teto dela.

Gemma estava em algum lugar da casa com os meninos e eu me sentia tentado a me juntar a eles, invés de ouvir a conversa de "adultos" que tínhamos na cozinha com Anne exaltando a equipe de limpeza e organização que estaria cuidando da nossa casa.

— Eles são excelentes! Deixaram o restaurante um brinco. — Dizia fazendo o almoço que cheirava muito bem, diga-se de passagem.

Harry franziu o cenho, não parecendo muito animado enquanto continuava cortando em pedacinhos a mesma cenoura há duas horas.

— Eram só algumas coisas fora do lugar, não precisava de tudo isso.

— Não seja bobo, querido. Eu já queria cuidar disso há muito tempo. Pedi que eles lavassem o sofá.

— Lavar o sofá? — Me fiz presente.

— Sim, considerem isso como um presente de natal. — Harry e eu nos entreolhamos.

Ele está diferente de novo. Parece o meu Harry de sempre e não aquele que literalmente deu um ultimato para Malik. Aquela faceta me preocupa.

Sem ânimo para ouvir sobre lavagem de sofás, decido guardar minhas coisas no quarto de hóspedes. Pego minha bolsa e o envelope cai, já não lembrava mais dele.

Deixo os demais objetos de lado e abro de uma vez. Foi um desperdício, era o cabelo de Eve na boneca, os resultados seriam óbvios... O quê?

Leio novamente e de novo, de novo, de novo. Esfrego os olhos, não confiando no que vejo, devo ter algum problema, só pode ser o cansaço, não pode ser isso mesmo, está errado, é um engano.

Mas se fosse um engano não haveria o nome de nenhum de nós no resultado, porém o de Harry está presente, apenas o meu que não. Tem o nome de um outro homem.

Prescott. Eu já ouvi esse nome...

Jonnah Prescott, o diretor do internato.

Por que essa merda de análise está dizendo que esse homem é pai da minha filha?

Sinto as lágrimas brotando em meus olhos e não tenho estruturas para continuar aqui.

— Louis? — Escuto Harry chamando quando bato a porta e entro no carro, acelerado para sair daquele lugar.

Eu não sei para onde ir, só quero sumir.

Piso no acelerador e em questão de minutos estou na autoestrada, dirigindo rápido demais, trocando de faixas quando reviro o porta luvas para pegar meu cantil de uísque. Uma viatura começa a me seguir, exigindo que eu encoste por conta da direção irresponsável, mas sei perfeitamente como despistar uma viatura. Não é difícil, os criminosos fazem isso o tempo todo, eu sei ser bem mais esperto que a maioria daqueles que caço.

Eu sei ser pior que eles.

Eu sei... Porra! Malditas lágrimas.

O sol está se pondo quando estaciono em um posto de gasolina, equilibrando quatro garrafas de vodka nos braços porque não quis uma sacola, despejo tudo no banco do carona. Meu celular está tocando mais uma vez e a foto irritante de Harry continua aparecendo.

O que essa maldita prostituta quer agora? Que eu assuma outro filho bastardo seu?

Jogo o telefone no meio da rua e depois passo por cima com o carro. E sigo meu passeio agradável com uma ligeira tontura e errando de vez em quando a questão dos faróis, eu passo por alguns e encontro com outros carros, mas não é grande coisa. Tá tudo bem.

No apogeu da noite, tropeço por entre o terreno irregular, com tufos de grama se agarrando no meu sapato. Tenho uma das mãos ocupadas e um cigarro apagado na boca, o lugar é escuro, mas não é como se os morados se importassem com a falta de luz. Eles não precisam.

Esforço meus olhos a enxergarem a lápide que eu sei que está em algum lugar. Ah, ali está. É pequena, se destaca entre os mausoléus. Caio de joelhos diante dela, sorrindo para a fotografia, ela parece uma adulta com o cabelo preso, olhando sobre o ombro. Eu tirei essa foto.

— Como você pode não ser minha?

— Eu sou sua. — Tenho a sensação de braços frios envolvendo meu pescoço, uma pequena cabeça deitando em minhas costas. Ela está de volta, mas eu não a quero mais aqui.

— Não, você não é. É só mais uma mentira. Uma farça criada para me machucar.

— Não é isso, você é meu pai, eu te amo. Eu quero te proteger.

— Vai embora. Eu te odeio. — Suplico com a voz arranhada, tem algo dentro de mim se contorcendo furiosamente.

— Eu não posso ir, você precisa de mim. — Ela me segura com mais força e eu odeio isso.

— Não preciso de ninguém! Muito menos da porra de um cadáver! — Soco a cova, cavando a terra entre meus dedos.

— Não sou um cadáver, não sou um fantasma. Eu sou você, o que resta de você. — Diz com a voz chorosa — Não entende, estou aqui por você. O que está acontecendo, o que você está se tornando, papai... Você...

— Não sou seu pai. — Levanto, abrindo a garrafa que trouxe comigo, derramando o líquido ao redor do túmulo — Eu não sou pai de ninguém, marido de ninguém, eu não sou ninguém.

— Está tão doente. — Sibila, olhando o que estou fazendo — Por favor, não. Você não é assim.

Paro diante dela, um sorriso encubido de perversidade crescendo em meu rosto.

— Você não me conhece.

— Se me mandar embora, não vai conseguir voltar nunca mais.

Dou de ombros, soltando a garrafa vazia e acendendo meu cigarro. Dou um longo trago e solto o esqueiro, as chamas caem em contato com a gasolina espalhada e o fogo se alastra rapidamente ao nosso redor. O fogo intenso se reflete em seus olhos verdes que se tornam cristalinos a medida que as lágrimas se propagam.

— Não precisa ter medo, você já está morta, meu bem.

A última coisa que vejo é seu corpo miúdo se encolhendo rente ao túmulo, fecho os olhos quando o calor se aproxima.

— O que você mais ama no mundo todinho? — Ela perguntou, rindo com a janelinha amostra, se espremendo entre os espaços do banco quando parei no sinal.

— Hum, eu diria que você, e o papai e os seus futuros irmãozinhos. E você, Eve?

— O ballet. — Gritou, fazendo sua coroa escorregar um pouco. Estendi a mão para arrumar e foi quando percebi o carro parando perto demais — E você, papai, você é o que eu mais amo.

Estava prestes a devolver o "eu te amo", no entanto, havia outro carro parado na nossa frente. Escorreguei a mão pelo encosto do banco, sem querer chamar a atenção fazendo movimentos bruscos. Eve percebeu e ficou nervosa.

— Papai, o que foi?

Mesmo sabendo que seria baixar a guarda, me virei para ela.

— Vai ficar tudo b- — Pude sentir quando o vidro rompeu e a bala passou a um milímetro do meu rosto e a atingiu em cheio na testa e ela simplesmente emitiu um último suspiro e caiu e a chuva de balas se seguiu.

Estou morto desde então.

— Eu nunca disse que ficaria tudo bem. Eu sou outro mentiroso. — Subitamente algo se lança contra mim, envolve um tecido ao meu redor e me puxa através das chamas e estou fora.

Mas não ileso.

A dor seria insuportável se não estivesse tão bêbado, mas sinto minha garganta queimando e o sangue fervente em meu pescoço, como se a pele estivesse tostando. As chamas estão rentes aos meus olhos e crescem e sou puxado para mais longe.

— Meu Deus, garoto, essa foi por pouco. — O homem, que eu acredito ser o coveiro diz. Empurro seu casaco para fora do meu corpo e começo a levantar — Você não está em condições.

— Me deixa em paz. — Fico de pé com dificuldade e tento me arrastar de volta ao carro.

— Precisa de um médico. — Ele insiste, o velho manca indo em meu encalço — Você fez isso, vou precisar chamar a polícia.

Interrompo meu caminho e me viro para o homem.

— Eu disse para me deixar em paz. — Puxo a arma do coldre e dou um único disparo em sua cabeça, ele cai morto.

E eu não sinto absolutamente nada contemplando seu cadáver.

Matei um inocente e não me importo nem um pouco.

— Tenho certeza de que será bem mais divertido quando atirar nele. — Sinto a fala serpenteando ao meu redor e então os coturnos pretos surgem esmagando a grama, o sobretudo longo e os cachos louros. Ele admira o sangue correndo do crânio do homem com devoção — Senti saudades, detetive. Enfim mandou a garotinha embora, ela acabava com toda a diversão.

Suspiro e ele não está mais na minha frente, mas atrás de mim, ouço sua voz rouca sussurrando em meu ouvido:

— Vamos acabar com eles, Lou.

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