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│13│hércules


— Louis! Louis! Pare com isso. Você vai matá-lo. — Alguém gritava distante enquanto minha mente vagava pelo limbo, eu não sentia absolutamente nada, nada além do meu punho se chocando contra a carne esponjosa, o sangue manchava meus dedos e o impacto dos ossos era incômodo, mas não o suficiente para me parar. Nada me pararia, não enquanto ele estivesse vivo.

(...)

— Eu juro por Deus que não entendo o seu problema. — A diretora, Srta. Smiths repetia, andando em círculos por sua sala. Meus pais estavam a caminho, a polícia estava lá fora e o garoto que eu nunca tinha visto antes estava a caminho do hospital dentro de uma ambulância.

— E-Eu não fiz por mal. — Solucei angustiado, torcendo meus dedos sobre o colo — Eu juro! Quando eu olhava pra ele, não era o Jack que eu via, era outra pessoa, não foi por querer, não queria machucar ninguém. Me perdoa, por favor.

— É sempre a mesma desculpa. — Ela se sentou em sua cadeira, a mesa entre nós e seu olhar cortante caindo sobre mim — Quando você apenas gosta disso, não é, Louis? Você gosta de ferir os outros. Te faz se sentir superior? Te ajuda a esquecer que você é na verdade um fraco?

Desvio a atenção dos meus dedos para encara-la diretamente. Até então ninguém me olhou daquele jeito antes. Um olhar de repulsa e medo.

— Por que está dizendo isso?

— Porque eu conheço seu pai e sei que você está se tornando exatamente igual a ele. — Srta. Smiths colocou as mãos sobre a mesa e abaixou o rosto, alinhando-o ao meu, a voz baixa e fria, sussurrante ao dizer: — Um maldito psicopata.

Por um instante fiquei magoado, no seguinte enfiei o lápis em sua mão.

(...)

— Eu não quero ir! — Resmunguei me agarrando ao travesseiro e correndo para dentro do armário. Minha mãe que já tinha a mala pronta em mãos revirou os olhos, dando mais um trago em seu cigarro, ela estava aborrecida comigo e tinha mais uma das minhas muitas irmãs na barriga.

Porém, meu pai dizia ainda ter um pouco de paciência e pediu que ela já fosse descendo com as minhas coisas. Quando ela saiu, me arrastei mais fundo pra dentro do closet.

Mark entrou, calmamente, afastando os casacos do caminho e chutando meus sapatos, ele parou exatamente a um milímetro de me pisotear.

— Não me diga que é um covarde. — Resmungou, severo como sempre foi.

— Não sou... — Retruquei ofendido, embora apavorado, enfiei o rosto no travesseiro — mas eu não quero ir. Se eu pedir desculpas talvez eu possa ficar...

— Pedir desculpas? — Mark cuspiu enraivecido — Mas você mesmo disse que ela havia nos chamados de psicopatas, quer mesmo se desculpar com alguém que ofende você e o seu pai? Que tipo de verme é você?

— Não me chama de verme. — Gritei chutando sua canela.

Em um piscar de olhos ele se abaixou, com o punho fechado na parte de trás dos meus cabelos me arrastou para fora do armário e me jogou na cama. O cinto já estava em sua mão quando ele começou a se aproximar, normalmente eu teria medo, fugiria, choraria, me acuaria, mas por algum motivo o meu corpo queria reagir. E foi exatamente o que eu fiz, tão rápido quanto ele podia ser, puxei o abajur e o acertei na cabeça, meu pai cambaleou e caiu.

Pulei em seu peito, socando-o sem parar.

— Eu não sou um verme! Não sou! Não sou! — Berrava possesso, golpeando constantemente.

Até que ele segurou meus punhos e levantou o rosto, o sangue escorria em abundância de seu couro cabeludo, mas por algum motivo desconhecido ele me olhava com orgulho e sorria.

— Não, você não é um verme, meu garoto, você é perfeito, Louis.

— Incrível para o quê?

— Para o exército.

(...)

Depois de ter sido considerado alguém com sérios problemas de raiva e impulsividade e ter atacado a minha diretora, foi decidido que eu deveria ser transferido para uma escola militar. Aquele era o meu maior pesadelo, aquele ambiente me assustava, embora fosse de mim que todos se afastavam e sopravam boatos horríveis.

Eu era o monstro. O Hulk da vida real. O garoto que perdia a cabeça com facilidade e não via dificuldade em fazer coisas monstruosas com quem quer que fosse. Eu mesmo começava a ter medo de mim, tinha medo de machucar as pessoas que amava. Será que eu nunca poderia amar alguém? Me apaixonar? Me casar? Não, seria perigoso demais, não poderia correr o risco de sujar as mãos com o sangue do meu amor, não poderia suportar. Eu era um monstro e nada mais justo do que viver sozinho para sempre.

— Ei, garoto. — Era o capitão Carter, ele se sentou ao meu lado no banco aos fundos da escola, para onde eu tinha fugido depois de me descontrolar mais uma vez — Não precisa chorar.

— Sinto muito. — Funguei, esfregando os olhos — Eu não queria...

— Eu sei disso, todo mundo sabe. O Holland vai ficar bem. — Disse despreocupado.

— Parece que só piora, eu não aguento mais ser assim, malvado e violento, ninguém quer ficar perto de mim. Eu sou amaldiçoado. — Bradei entre o choro e algo dentre estas palavras atraíram de imediato o descontentamento do capitão que tratou de me chacoalhar pelos ombros.

— Escute aqui, garoto, não ouse falar que você é amaldiçoado. Eu nunca vi ninguém tão forte assim, e você tem o quê, dez, onze anos?

— Eu tenho nove.

— Nove anos, Louis, e já é quase imbatível. Imagine do que você será capaz com o treinamento adequado, com as armas adequadas. Invencível, no mínimo. Poderia fazer qualquer coisa, contra quem quisesse.

— Mas eu não quero machucar ninguém. — Murmurei.

O capitão balançou a cabeça, rindo como se tivesse ouvindo alguma piada.

— É justamente o contrário, você quer machucar, quer tanto que aceita fazê-lo com qualquer um. De vez em quando surgem pessoas pelo mundo assim como você, que nascem cheias de ódio, você tem muito ódio dentro de si, Louis, um ódio inexplicável e mortal, que precisa ser descontado em alguma coisa. Você tem muito potencial...

— Pra ser um soldado, senhor?

— Claro, definitivamente. Potencial suficiente para ser um grande herói... — Sorri ao ouvi-lo. Eu queria ser um herói, mas então seu semblante escureceu e desfiz o sorriso — ou um exímio assassino. Eu não consigo imaginar qual dos dois você será, Louis, seja lá qual for, tenho pena de quem ficar no seu caminho.

Xx

Lucian está bem atrás de mim, o queixo apoiado no meu ombro, um sorriso maníaco partindo seu rosto eufórico em dois.

— Hum, isso é tão excitante, veja como ele está preso, nessa posição completamente a nossa mercê. Há tanto que podemos fazer. — Cantarola no meu ouvido. Eu a sinto dentro de mim, despertando e se revirando como um antigo vulcão adormecido voltando pouco a pouco a ativa, a lava efervescente começando a correr pelas minhas veias, elevando meus níveis de adrenalina, de raiva, de ódio... Não, ódio, não!

— Quieto. — Minha voz soa tão baixo que nem mesmo uma alucinação é capaz de escutar.

— Ele tem uma pele tão macia. — Acaricio a cintura de Harry como que para tirar a prova — Viu?

— Tão macia. — Repito sendo levado por suas palavras.

— Deve se rasgar tão facilmente, não precisaria de força alguma, apenas uma lâmina suficientemente afiada, igual a que você tem na bota, não é? Seria perfeita.

Torno a tocar a mesma região, mas não com carinho e sim arranhando e novamente Lucian está certo, sua pele é tão fina e frágil que logo fica marcada, um pouco mais de pressão e ele sangraria.

— Você já o viu sangrar, Louis? — Lucian indaga, se afastando para ficar do outro lado da cama, bem a minha frente.

— Já. — Puta que me pariu, eu estou tremendo.

Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim. Todas essas confusões não me deixaram ir atrás de Zayn ou Calum, ah, sim, Calum podia me ajudar, ele tinha aquilo que me mantinha sob controle, mas agora eu estava paralisado, sendo encantado pelas palavras insanas ditas por esse demônio podre e provavelmente o obedeceria em tudo porque... Bem, porque ele sou eu, certo? Ele sou eu, verbalizando os meus desejos mórbidos e sanguinários. O animal que sempre viveu em mim e agora tem a cara e a voz desse verme desprezível.

— Sim, ele fica tão bem de vermelho. Por que não faz só um cortinho, apenas por diversão.

— Onde? — Me vejo inquerindo. Eu não sei escapar disso.

Ele não diz, mas sinaliza, o indicador deslizando pela garganta.

Será apenas um cortinho.

O seguro pelos quadris e o giro, meu marido está estranhamente quieto, os olhos pequenos como se estivesse sonolento, fora de si. Ele costumava entrar no subspace nas raríssimas ocasiões em que tentávamos algo um pouco mais intenso, no entanto, não estou presente o bastante para constatar nada.

— Vamos, Louis. — Lucian insiste — Oh, espere! Roxo também pode ficar bem. — Estou confuso até que ele me lembra do cacetete em minha mão.

Olho para o objeto não me recordando de sequer tê-lo pegado.

— Onde?

Ele volta a sinalizar, a mão massageando o estômago. Lucian quer que eu acerte a barriga de Harry, existe um incomodo com a ideia, mas eu sinceramente não me lembro. O que eu estou esquecendo?

— Faça, agora. — Ele ordena e eu firmo o aperto. E como quando eu era criança, sinto que sou feito de ódio, ele me domina e eu obedeço.

Então acontece.

Uma dor que extrapola qualquer uma que eu já tenho sentido antes, fico tonto e caio ao seu lado na cama. Depois de ter chutado meu ferimento ainda em cicatrização na perna, Harry senta em cima de mim, minha cabeça está girando, enquanto ele pesca a chave das algemas na cômoda e se solta habilmente, transferindo as algemas para os meus pulsos.

— Harry... — Tento falar e ele bate com o cacetete na minha bochecha — Caralho!

— Eu não tenho interesse em palavras, meu bem. — E mantendo a mão sobre o meu pescoço ele se inclina para trás, afim de envolver meu membro entre os dedos. O mesmo toque súbito e áspero da noite da festa de Liam quando ele me masturbou sem me dirigir a palavra, ele é o mesmo daquele dia. Frio, impessoal, pensando única e exclusivamente nele, o que de certa forma alivia a minha raiva, como se esse Harry pudesse domar o que há de ruim em mim.

Apesar dele não parecer se importar muito com o que acontece comigo da cintura pra cima. Tê-lo sentado sobre o meu quadril, com a camisa preta caindo pelos ombros e a scarf amarrada ao seu pescoço, caindo por entre seus mamilos rubros e intumescidos e vestindo uma pequena calcinha é mais do que o suficiente para que eu torne a ficar duro em questão de instantes. Meu marido afasta a calcinha e sem mais está tomando meu pau inteiro dentro de si, ambos perdemos o ar, me sinto sufocando e jogo a cabeça para trás, contorcendo os pulsos sob as algemas.

— Isso não é divertido. — Abro os olhos minimamente, desconfio que eu esteja no tal subspace agora. Encaro Lucian de cabeça pra baixo, sua carranca mal humorada encara um ponto desconhecido. Não tenho energia, tampouco tempo para respondê-lo quando sinto unhas se afundando na pele da minha mandíbula e minha boca ser coberta por outra, Harry me beija profundamente, sugando minha língua e gemendo descaradamente contra meus lábios. Quando se afasta, suas bochechas estão coradas e o cabelo caindo pelos ombros toca o meu rosto.

Um fio de saliva mantém nossas bocas conectadas, não consigo pensar em nada além dele. É no que o meu mundo inteiro se resume nesse momento.

— Você não precisa pensar, nem ver nada além de mim. Eu sou tudo pra você agora, certo? — Movo a cabeça devagar, assentindo — O que houve? Não consegue falar? Mas você pode me sentir, meu bem? Bem aqui. — E como se ele não estivesse apertado o bastante, se espreme ainda mais ao meu redor, me matando um pouco mais.

— Sim, eu posso. — Respondo ofegante quando ele levanta e então desce de volta em mim.

Minha respiração sai entrecortada enquanto luto para me conter. Já perdi a conta de quanto tempo faz desde a última vez em que estivemos juntos, a única certeza que possuo é que faz longas semanas e por isso não há certeza alguma de que eu seja capaz de aguentar, principalmente quando Harry faz questão de sentar em mim com tanta força, mesmo algemado, tento trazer as mãos para frente do corpo e controlar seus quadris.

Ele é mais rápido e segura a corrente entre as algemas, mantendo minhas mãos sobre a minha cabeça e propositalmente arranha desde o meu pescoço até a clavícula como uma forma de punição. Os vergões são ardidos e vívidos sobre a minha pele onde pequenas gotículas de sangue se revelam.

Não sou o único propenso a violência aqui.

Resolvo ser obediente e deixar que ele tenha total controle da situação, apenas observando como seus olhos, agora escuros, ardem de desejo. Lascivo. Harry geme alto, arqueando todo seu corpo maravilhosamente delicioso em cima de mim, jogando a cabeça para trás, o cabelo cascateando em uma bagunça de cachos pelas costas e mais do que nunca desejo enterrar meus dedos neles.

Rendido por completo, fecho meus olhos, saboreando deliciosamente cada centímetro dentro dele. Ansiando por mais, me atrevo a erguer o quadril, indo de encontro ao dele.

Puta merda!

E isso consegue tornar tudo ainda melhor. Mordo os lábios para não gritar ao que juntos encontramos o nosso ritmo selvagem com ele montado em mim, gemendo alto e me mantendo sob seu domínio. Posso sentir a sensação familiar se projetando no baixo ventre, o furor, a sensação de urgência e adrenalina tomando todo o meu corpo. Estou perigosamente perto quando sinto sua mão se fechando na minha garganta, a princípio não espero por nada além dele simplesmente mantê-la lá, como sempre fez.

Harry não gostava de violência, não gostava de correr o menor risco de ferir alguém. Ele era o tipo de pessoa que se fosse eleita presidente ordenaria que todos vivessem dentro de bolhas pra não correr o risco de caírem, serem picadas por uma mosca ou receber uma rajada de vento frio e ficarem resfriadas. Ele era do tipo que protegia, enquanto eu era do tipo que feria.

Mas hoje ele decidiu ser incoerente.

As minhas mãos estão presas e meus olhos fechados, minha mente flutuando na borda do meu orgasmo quando ele começa a apertar, fico surpreso, mas longe de ser o bastante para incomodar, até que a pressão cresce de forma que o oxigênio se torna rarefeito e meu coração acelera, na verdade tudo em mim acelera, o meu corpo, meu cérebro, tudo reage em alerta. Eu não consigo respirar, tento puxar o ar e não vem nada, nada além da dor insuportável inundando o meu peito de maneira desesperadora.

Puxo minhas mãos e elas mal se movem, desta vez impunho bem mais força e nada acontece. Não consigo me livrar de seu domínio, o que me é inédito. Ele consegue ser mais forte que Lucian. Ele sempre foi tão forte assim? Tão mais forte do que eu?

Com dificuldade consigo abrir minimamente meus olhos, incapaz de enxergar seu rosto, o cabelo atrapalha a visão, mas sei que Harry tem os olhos vidrados.

Minhas pálpebras pesam e volto a fechar os olhos, a ponto de desfalecer, percebo seu peso caindo sobre meu peito e sua respiração tranquila soprando em meu ouvido.

— Com correntes isso é bem mais excitante. — É o que eu penso ter ouvido. Os tons de vozes se misturam, parece a minha voz, a dele, de Lucian, Jéssica, Hailee, Eve e mais um milhão de outras que eu não conheço. Aquilo é real, eu não sei mais, só sei que a escuridão me envolve e me possuí como se eu fosse uma pequena peça em um jogo muito maior.

— Para, por favor, p-para...

E ele para.

É difícil assimilar os momentos seguintes, mas ele não está mais me sufocando, meus braços estão dormente acima da minha cabeça e Harry não os segura, meu pescoço arde, no entanto consigo respirar novamente. Ruidosa e desesperadamente, porém respiro. E é só quando os vultos se dissipam que consigo enxergar as paredes azuis cheias de quadros pintados por Harry, o sofá amarelo com almofadas vermelhas ao canto, o ventilador de teto e aquela honrenda cabeça de cervo acima da cabeceira da cama. Eu estou em casa. E meu marido está deitado encima de mim.

Me contorço embaixo dele que se agita e esfrega o nariz na minha orelha, completamente adormecido, e então noto que algo passou desapercebido por mim, um pouco mais abaixo de nossos quadris. Nós dois gozamos. Muito.

Eu gostei disso?

Me movendo com cuidado faço com que ele deslize para o colchão e eu consigo recuperar a chave entre os lençóis, solto as algemas que caem no tapete em um baque surdo.

E cá estou, paralisado ao lado dele, sentado na cama sem saber o que fazer ou pensar.

Por fim, resolvo abrir a gaveta a procura de lenços e logo de cara me deparo com um DVD.

— Império dos sentidos. — Leio o título, torcendo a boca ao lembrar da história. Foi daqui que ele tirou a brilhante ideia de me enforcar? Péssima referência, péssima, péssima, mas em comparação ao fim do cara, eu me dei bem. Deixo o filme e pego os lenços, depois de limpar nós dois e debater comigo mesmo por quase meia hora sobre ir embora ou ficar, caio de volta na cama, exausto.

Estamos frente a frente. Ambos deitados de lado e muitos centímetros de distância entre nós.

— É mais seguro assim. — Sussurro sonolento. Estico a mão até poder envolver a sua que repousa a frete de seu rosto.

Nós temos os pulsos feridos das algemas. Sua cintura está marcada assim como o meu pescoço. Eu pensei, ele fez.

Eu não sei exatamente o que está errado, mas tenho a impressão de que seja tudo.

Tudo está errado.

Eu sou errado pra você.

E você é errado pra mim, Harry.

Isso precisa acabar antes que... Antes que um de nós se machuque fatalmente.

Xx

Quando abro os olhos, estou enroscado nos travesseiros. Estou desorientado, me sento, bocejando e esfregando os olhos com uma imensa vontade de mijar. Corro em direção ao banheiro e após cumprir minha missão de máxima prioridade vou até a pia lavar as mãos, o espelho me dá o vislumbre de meus cabelos desgrenhados apontando em todas as direções possíveis, tenho um lado do rosto avermelhado com as marcas de travesseiro nele, o que acaba por combinar bem com o tom do meu pescoço.

O toco, me preparando psicologicamente para a ardência, mas ele não dói. Tem algo pegajoso nele, com um cheirinho de remédio. Uma pomada. Harry passou pomada no meu pescoço e nos pulsos também e não só isso como ele também me trocou, me vestiu com o pijama e até mesmo colocou meias de pelúcia.

Certo.

Okay. Eu estou acordado. Ele está acordado. Essa é nossa casa e nós somos adultos. E como um adulto eu sei o que devo fazer.

Aperto a porcelana da pia, uma gota cai sobre a superfície lisa, seguida de outra e depois mais uma. Estúpidas lágrimas.

— Tudo bem, Louis, respire! — Repito fazendo o meu melhor para respirar adequadamente. Seco o rosto com o antebraço e volto a encarar meu reflexo — Não tem nada de errado com isso, algumas pessoas são apenas incompatíveis e não importa o quanto você as ame não tem como mudar isso. O melhor a se fazer é aceitar. Todo mundo se divorcia hoje em dia. Todo mundo, é normal. Vamos encarar isso numa boa. Vamos sim. — Estou tentando me convencer quando meu celular começa a tocar em algum lugar do quarto.

Abandono a sessão de auto piedade para sair a sua procura, mas quando encontro já é uma chamada perdida, junto com mais outras trinta de Liam, Niall, Michael e Luke. Que porra aconteceu?

Um barulho agudo vem do andar de baixo. Alto e sinistro o suficiente pra me assustar.

— Harry? — Grito da porta, esperando que ele diga que deixou algo cair e não foi nada. Invés disso sou contemplado com o silêncio. Aconteceu alguma coisa aqui também. Disparo em direção ao andar inferior, tudo parece bem, em ordem, calmo. Tem música na cozinha e cheiro de massa de bolo de morango, porém, ele não está aqui.

Escuto a televisão baixinha, rumo até a sala, hesitante e atento. Tudo parece igualmente bem, Harry está aqui, inerte diante da televisão, também de pijamas, o cabelo preso em um coque e uma faixinha vermelha, a tigela do finado bolo está a seus pés, massa e vidro espalhado pelo chão aos seus pés descalços, tem sangue misturado, mas ele parece alheio a dor.

— Harry? — Me aproximo, preocupado e é quando presto atenção ao noticiário.

— E mais uma vez, o serial killer que vem amedrontando a cidade de Nova York faz uma nova vítima. Indo contra seu modus operandi, a vítima desta vez foi a jovem universitária de vinte e dois anos, Adrienne Peterson. — Colocam na tela a imagem de uma garota bonita de expressivos olhos verdes e cabelos cacheados, ela parece com Harry — Adrienne foi encontrada morta em seu dormitório na Universidade de Nova York, segundo as autoridades, a jovem havia sido estrangulada e mutilada, sendo deixada dependurada pelo pescoço por correntes. O que mais é de se assombrar no caso é que Adrienne estava grávida de seis meses, a garotinha que já era chamada pela mãe de primeira viagem e amigos, de Emma, enfrentou o mesmo trágico fim que a mãe, que ao invés de ser suspensa por uma corrente... — A jornalista fez uma pausa, dando um longo gole em sua água, ela estava chocada e enojada. Eu também estava — , a polícia diz que o bebê tinha as tripas da mãe enroladas ao pescoço.

A bile subiu instantaneamente e foi preciso muita força de vontade pra não vomitar ali mesmo. Eu estava enjoado, furioso, inconformado. A mesa de vasos de vidro estava a minha frente e eu tinha que descontar em algo, soquei cada um dos vasos, amaldiçoando tudo e todos.

— Maldita Andrômeda! Maldita! Eu queria você na minha frente. Desgraçada! Maldita! Maldita! — Quando não há mais vasos faço da parede um alvo. O impacto faz o quadro despencar, a moldura se desmancha e o vidro espatifa, entre os cacos está o sorriso meigo dela.

Eve.

Uma mão pequenina surge no meu campo de visão, recolhendo a fotografia. Ela não diz uma palavra, enquanto encara a si mesma.

— Isso é culpa minha. — Diz baixo e quando me olha seu rosto está manchado de lágrimas.

— Eve... — Digo, sendo acompanhado por outra voz. Desvio o olhar em direção a Harry.

— Eve. — Repete angustiado e subitamente começa a caminhar, tento me colocar na sua frente, mas ele segue rapidamente para o segundo andar. Vou acompanhando até o momento em que ele entra no quarto da nossa filha, e se ajoelha diante da cama, pressionando o rosto e as mãos na colcha — Me perdoa, eu te imploro, não me odeie.

— Amor... — Me aproximo atordoado, meus punhos feridos deixam pequenas gotas de sangue pelo caminho.

— Foi por você, sempre foi por você. — Declara fervorosamente — Não! Cala a boca, assassina! Não ouse dizer que foi por ela, você é um monstro. — Paro no mesmo lugar, seu modo de falar está completamente diferente — Um monstro! — Grita alto e de repente se encolhe, a postura dele é mais receosa, como se estivesse com medo, ao mesmo tempo que transparece alguém mais novo, acovardado — Por favor não gritem! Eu tô com medo.

Que porra...!?

Meu celular volta a tocar. Olhamos ao mesmo tempo em direção ao outro quarto, quando olho pra frente nossos olhares se encontram. Ele me encara sem desviar, um olhar penetrante e nada humano, é como se eu estivesse diante de uma fera selvagem. Me lembra os olhos da cabeça de alce de Lucian, os olhos de uma criatura assassina.

Eu também estou com medo.

E tão de repente quanto surgiu, se vai. O rosto de Harry se contorce e ele solta um grito de dor, de primeira não tenho reação, até ele colocar a mão na barriga e me chamar.

— Lou, tem algo de errado com o bebê. — Não respondo — Louis, você não me ouviu? — Ele volta a me chamar mais agitado. Quando não dou resposta ele tenta se aproximar, eu recuo — Qual o seu problema... Ah! Louis!

— Talvez seja um castigo, você matou o bebê de alguém e agora o seu morre.

Harry me olha estarrecido.

— Você enlouqueceu? Do que está falando? — Grita espantado, falhando miseravelmente em se colocar de pé — Eu não sei o que está acontecendo com você agora, deve ter sido o choque daquela notícia, mas será que você pode deixar esse surto pra depois? Eu acho que é um começo de aborto. Me leva para um hospital agora. — Estende a mão em minha direção.

Respiro profundamente, decidindo o que fazer.

— Querido. — Falo com a voz amena.

— Lou- Aí meu deus! — Grunhe recuando até bater as costas na cama. Eu espero encontrar aquele olhar predatório de antes quando aponto minha arma em sua direção, mas no lugar dele está todo o pânico e temor que eu esperava de Harry.

Dou um passo adiante, mantendo a arma apontada para seu peito.

— Eu vou perguntar só uma vez, então é melhor que não minta pra mim. Harry, você é Andrômeda?

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