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Rei Édipo: Vernant X Foucault


Segundo Jean-Pierre Vernant, em Édipo-Rei, de Sófocles, a dualidade, a ambiguidade, perpassa toda a narrativa. Isso faz com que Édipo seja uma figura emblemática. Ao longo do enredo, o personagem principal, Édipo, encarna a representação das instituições gregas: Édipo-divino, Édipo-tirano, Édipo-justiceiro, Édipo-pharmakós.

Édipo-divino, o salvador de Tebas, configura o aspecto mítico, religioso; Édipo-tirano, rei, representa a soberania do poder político; Édipo-justiceiro, o defensor da lei, da justiça; contudo, acaba, por fim, sendo Édipo-pharmakós, o assombro de Tebas, aquele que trouxe a desgraça, a vergonha, a maldição, e deveria ser expulso para sarar a cidade.

Inicialmente, Édipo salvou Tebas do mal trazido pela Esfinge, sendo reconhecido, conclamado como o herói da cidade; e no fim, mais uma vez, ele é a solução. Contudo, não mais na figura de um herói, de um semideus, alguém elevado e sábio, mas sim na figura de pharmakós, um maldito, alguém que iria expurgar o mal, o pecado, através do próprio exílio, pois esse era o papel do pharmakós, o ser instituído para carregar sobre si todo o mal da cidade e retirá-lo através do próprio exílio.

Em todas essas representações — Édipo-divino, Édipo-tirano, Édipo– justiceiro, Édipo-pharmakós — há ambiguidade, dualidade, duas faces de uma mesma moeda, e também reviravoltas. Assim, a peça é como um palimpsesto, com leituras embaixo de leituras, é preciso decifrar os enigmas de Édipo-Rei.

Édipo inicia como filho do rei, um príncipe, um sucessor; mas, em seguida, torna-se o enjeitado, execrado, pois é entregue à própria sorte (na verdade, morte) pelo pai, sendo ele ainda bebê, uma vez que o rei Laio temia uma profecia que dizia que Édipo o mataria. Entretanto, Édipo é adotado por um outro rei, que não podia ter filhos, assim, de órfão, passa a ser novamente filho de rei, príncipe e sucessor de um trono, de um reino. Mas quando tudo parece ir bem, Édipo descobre sobre a profecia, que mataria o próprio pai e que se casaria com a mãe, dessa forma, acaba fugindo por temer o cumprimento da profecia, e vaga pelas cidades, até que em Tebas, depara-se com a Esfinge e decifra o enigma que é proposto por ela, tornando-se assim, o novo marido da rainha, e por conseguinte, o novo rei de Tebas, uma vez que esse era o prêmio. Ou seja, de príncipe a enjeitado, de enjeitado a príncipe, de príncipe a estrangeiro errante, de peregrino desafortunado a Rei.

Mas as ambiguidades ficam melhor evidenciadas no momento em que a peste vem a Tebas e começa a investigação e posterior descoberta de que Édipo é o causador da desgraça. O Édipo-divino, o que detém o saber, é o que não sabe sobre a própria verdade. Édipo-tirano, o rei que deveria cuidar de seu povo, é o causador de sua desgraça. Édipo-justiceiro passa a ser o criminoso, aquele que trouxe a maldição por ser o assassino do rei anterior. Ele que pensava deter o saber, que queria enxergar tudo, ser conhecedor das verdades, era cego, pois não via a verdade sobre si mesmo. Édipo pensava estar no controle, mas era controlado o tempo todo, ventríloquo do destino, dos deuses, marionete de sua cegueira, ignorância.

No entanto, no momento em que Édipo sai das trevas para a luz da verdade, ele fica cego, contudo, nesse momento de cegueira física, é quando ele melhor enxerga sua própria existência, a realidade de sua vida miserável, sua desgraça: assassino do pai, um parricida; marido de sua mãe, um incestuoso; pai e irmão de seus filhos, uma abominação perante a sociedade, perante Deus.

No fim, Édipo se enxergou como um pharmakós, um papel que de fato estava condizente com a sua realidade, pois quando ele se julgou príncipe, filho querido e amado, na verdade, era um enjeitado, órfão de pais vivos; quando pensou que era um semideus, o sábio, o conhecedor de enigmas, o que tudo enxergava, era, na realidade, ignorante e cego sobre a própria verdade; quando achou que era marido, na verdade, era filho; quando pensou ser pai, era irmão; quando pensou ser o investigador, era o investigado; quando pensou ser o justiceiro, o salvador herói, era o pharmakós. E quando se enxergou como pharmakós, era exatamente o que ele era, uma aberração, um assombro perante a Terra e os Céus, finalmente entendeu o que de fato era, "aceitou" a sua terrível realidade e seguiu conformado com essa carga, com esse fardo que teria que carregar ao longo de sua miserável caminhada.

Diferente de Vernant, Foucault entendeu Édipo de outra forma. O entendimento não é sobre alguém cego, enganado, e feito de marionete, mas sim de um homem muito perspicaz, mas que preso às relações de poder, ignora os fatos que o rodeia, pois o desespero de Édipo não é simplesmente pela possibilidade de ser parricida e viver uma relação incestuosa com a mãe, mas sim o terror frente à possibilidade da perda do poder. Dessa forma, o complexo de Édipo seria, na realidade, a necessidade de poder e do saber.

Além disso, a análise de Foucault não está fundamentada na dualidade existente ao longo da narrativa, mas sim na defesa de um jogo de metades, no qual a peça é estruturada com enfoque no plano humano, testemunhal, em detrimento ao divino, da revelação mítica, uma vez que a investigação existente na peça se respalda, principalmente, nas práticas jurídicas modernas, tendo em vista que, segundo Foucault, o método investigativo utilizado por Édipo não se detém à mera revelação divina.

Se para Vernat o que permeia Édipo-Rei é toda uma atmosfera mítica, de deuses, destino e profecias; para Foucault, o que envolve a narrativa é "um procedimento de pesquisa da verdade que obedece exatamente às práticas judiciárias gregas dessa época." (FOUCAULT, 2009, p. 31). Esse procedimento judiciário tem como sistema: juramentos, promessa e maldição, desafio e prova. Mas a base investigativa da peça não é esse sistema, embora também utilizado.

Um mecanismo diferente é usado, o qual Foucault chama de "lei das metades". Nesse mecanismo que estrutura a peça, todo o avanço da investigação ocorre mediante fatos, informações que surgem em pares. No início da investigação, Apolo revela que houve uma ofensa, uma desonra, uma mácula, mas não revela de imediato que mancha foi essa, necessitando assim da outra metade desse primeiro passo para que a investigação avançasse, ou seja, saber que tipo de conspurcação foi.

Depois dessas primeiras metades reveladas, as segundas metades seriam: quem praticou e quem sofreu o ato. A metade de quem praticou e de quem sofreu, corresponderia a metade do assassinato, e esse por sua vez, a metade da conspurcação. Dessa forma, a estrutura é sobre metades maiores que vão se subdividindo em metades menores, até chegar à metade mínima, que seria então o pleno conhecimento da verdade.

Como Apolo não revela todas as metades, Édipo vai atrás de alguém que poderia ter também essa resposta, e no caso, como era uma resposta que apenas um deus teria, ele procura aquele que figurava a representação humana de um deus, que era o adivinho. O adivinho é a metade de Apolo, e tem a metade não revelada pelo advinho, que é a metade sobre o assassinato: quem assassinou e quem foi assassinado. Quem foi assassinado, o ser místico revelou, o rei Laio. A outra metade ficou por conta do adivinho Tirésias: quem assassinou. Após a revelação de Tirésias, o jogo das metades sobre a verdade está completo, contudo, apenas no campo profético, divino, mas falta ainda o plano testemunhal, humano, sobre tudo o que se passou. É preciso agora comprovar todas essas informações.

Inicia-se assim outro jogo de metades. Nesse novo jogo, os primeiros passos são dados mediante ao relato de Jocasta sobre o assassinato do marido e a lembrança de Édipo de ter matado um homem nas mesmas circunstâncias em que morreu Laio. A outra metade dessa primeira nova metade seria comprovar se Édipo era de fato filho de Laio e Jocasta ou não, pois só assim se confirmaria que o assassino era ele.

A última metade, que seria a comprovação de que Édipo era filho de Laio, seria desdobrada através do testemunho de dois homens: o que levou Édipo e o que encontrou o bebê deixado para morrer. Exatamente as duas pessoas do início da história seriam as que dariam um desfecho a ela. O testemunho daquele que encontrou Édipo bebê abre uma nova metade, pois ele informa que o rei Prolíbio não é o seu pai. Se Prolíbio não é seu pai, quem era? Quem poderia informar quem é o pai de Édipo seria o escravo que o abandonou no deserto, o qual o servo que resgatou o bebê viu.

Através do confronto do escravo que abandonou Édipo e o servo que o encontrou, mais uma metade é completada. Contudo, falta ainda a comprovação de Jocasta de que seu filho foi dado ao escravo para que fosse morto no deserto. Assim, uma nova metade aparece. Mas quando todas as metades se encaixam, temos o fechamento da investigação.

Dessa forma, para que esse fechamento fosse possível, foi preciso reunir todas essas metades, que faziam parte de um acontecimento que foi repartido em dois, e cada uma dessas metades foram igualmente repartidas em dois, e assim sucessivamente.

Essa é uma técnica grega, realizada nas relações de poder, em que algo é dividido em duas metades que são separadas, e apenas a união dessas metades seria capaz de autenticar a veracidade do fato, da mensagem, etc. Esse jogo de metades, e o pleno conhecimento e detenção desses fragmentos, é que estabeleceria o poder. Tem o poder aquele que detém o saber, o conhecimento, a informação. " Esta técnica jurídica, política e religiosa do que os gregos chamam σύμβολο - o símbolo." (FOCAULT, 2009, p.38).

(Análise de 2016)

Sabrina A.

***

BIBLIOGRAFIA:

BRUNA, Jaime. Sel. Teatro Grego. São Paulo: Cultrix, 1996.

FOUCAULT, Michel. A verdade e s formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 2009.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e Tragédia na Grécia Antiga. Brasília: Brasiliense, 1988.

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