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O Cortiço: Aluísio de Azevedo X Émile Zola


O cortiço é um romance de Aluísio de Azevedo, publicado em 1990. O romance descreve uma habitação coletiva repleta de pessoas de baixa renda, na cidade do Rio de janeiro, Baixada Fluminense. O narrador é onisciente, em terceira pessoa. Os personagens são tipificados, caricatos. Não há protagonista, salvo o próprio cortiço, que na ausência de um personagem de maior relevância, toma esse posto sem concorrência. Essa obra é classificada como naturalista.

Será que num aspecto geral, O Cortiço está inserido em sua totalidade nesse movimento? A proposta do naturalismo é apresentar a realidade sobre um viés cientificista, fisiológico, biológico, determinista; a realidade humana em sua essência animalesca, instintiva; a realidade nua e crua, sem enfeites, sem adornos. Para isso, um texto que se propõe a descrever essa realidade em caráter científico, logo, objetivo — onde o autor é o cientista, o médico, e o texto é o corpo a ser estudado, pesquisado, tratado —, não deveria ser influenciado por uma obra ficcional, pois isso seria duplificar a ficcionalidade de um texto, o distanciando ainda mais da realidade.

 O objeto influenciador, em um primeiro momento, em primeiro plano,  teria de ser o da própria realidade que o indivíduo está inserido, porém, Aluísio não seguiu esse padrão. Isso compromete a classificação de O Cortiço como romance realista /naturalista?

Aluísio de Azevedo foi influenciado pela obra de Émille Zola ao escrever O Cortiço. O romance de Zola, assim como o de Aluísio, retrata a vida de operários que são inqulinos em habitações coletivas, lugar parecido com uma vila, com aglomeração de pessoas que vivem quase que miseravelmente, entregando-se à promiscuidade fomentada pelo álcool, evidenciando, sengundo a obra, a degradação que a mistura de raças gera. Entretanto, o fator a incitar, na obra brasileira, não se restringe ao álcool, mas engloba outras questões, e uma delas, sem dúvida, é o clima tropical. 

Alguns personagens se repetem em O Cortiço, como: lavadeiras, a jovenzinha que vira prostituta, policial simbolizando caricaturalmente a lei, entre outros. O fato do nosso autor naturalista se valer de um texto literário produzido com base no contexto de outro país, para dar conta da realidade do Brasil, poderia se um fator a descaracterizar O Cortiço como uma obra realista, todavia, como Aluísio teve a maestria de enquadrar a fonte de inspiração à problemática brasileira, o que houve foi uma obra que suportou conter esses dois aspectos sem descaracterizar o movimento, que tinha como proposta relatar a realidade, e mais especificamente, no caso do naturalismo, uma realidade que pode ser explicada do ponto de vista biológico. Nisso o nosso escritor conseguiu a façanha de conseguir superar a linha tênue existente entre se basear em outra obra, produzindo assim quase uma cópia, e ser capaz de ainda assim, criar, ressaltando que o verbo criar está no sentido literal, e quando digo isso, refiro-me que criar remete para algo novo, original.

Quando lançamos mão de algo já existente, porém se somos capazes de empregar ali uma nova ótica, diferente abordagem, questões não exploradas, ou se simplesmente formos capazes de passar a mensagem de forma a melhor caracterizar um determinado movimento, e assim por diante, então conseguimos ser originais, mesmo tomando como partida algo já existente. O que quero dizer é que, mesmo inspirado em outra obra, O Cortiço obteve o seu grau de originalidade em alguns aspectos, e um deles foi o caráter mais abrangente, não detectado no cortiço francês de Zola, já que se restringia à classe operária, sem metáforas. O cortiço brasileiro representava simbolicamente o Brasil, e os personagens, o povo que aqui habita.

Ora, alegorias, termos simbólicos, uma obra com essa estrutura também poderia fugir à proposta realista/naturalista, e assim sendo, essa seria mais uma questão a ser superada por Aluísio. Será que ele foi capaz de superá-la? Creio que na realidade, e aqui me desculpo pelo trocadilho, penso que esse foi mais um fator favorável ao enaltecimento da perspicácia e originalidade desse autor, pois enxergou em uma alegoria, o casamento perfeito para simbolizar o naturalismo. Parece contraditório, mas não é, desde de que o objeto alegórico seja algo que esteja inserido no universo (e aqui me refiro à ideologia, tese, paradigma) proposto, defendido pelo naturalismo.

O cortiço para ilustrar o Brasil, assim como naquele lugar de habitação coletiva havia várias raças e tipos de gente, assim era e é o Brasil em sua miscelânea racial; não apenas isso, mas a comparação do processo de construção do cortiço com a colonização do país. O Brasil explorado por Portugal, absorvido, vampirizado, vilipendiado, assim como alguns trabalhadores do cortiço que eram sugados pelos portugueses, pelos estrangeiros que vinham fazer fortuna, e muitos conseguiam através da exploração, através de fazer do nativo um burro de carga, como é o caso de João Romão com Bertoleza. Ele suga as energias da "escrava liberta", enriquece com a ajuda dela, e depois a descarta.

Nesse aspecto, Romão é a metáfora de um grande sistema capitalista que engole a todos, pois  parece que quanto mais tem, mais quer, quanto mais tem, mais derruba o outro para alcançar seus objetivos. Denuncia Bertoleza, aquela que outrora fora sua companheira, bengala, escada; está sempre se valendo dos terrenos adjacentes ao cortiço, fazendo uso sem comprá-lo — como é o caso da pedreira. Nessa perspectiva, o cortiço parece indomável, um corpo orgânico que expande, multiplica-se, quase que independente da vontade humana, assim como a natureza, selvagem, arredia. 

Por fim, o cortiço de João Romão, rebatizado por Vila São Romão, melhorado, mecanizado, verticalizado em dois andares, ultrapassando o sobrado vizinho, do patrício Miranda, ilustrando a urbanização, evidenciando o processo de dominação, de domação desse ser selvagem, orgânico, em algo controlável mediante os interesses econômicos, capitalistas. Nesse caso, temos a figura do processo progressivo da inserção do capitalismo até a sua dominação, e assim o quadro se inverte. Se antes o orgânico se sobrepunha ao mecânico, agora o mecânico que tem as rédeas.

O cortiço se proliferando, germinando, assim como se fosse um germe, bem característico do naturalismo; em expansão (horizontal na maior parte da obra e verticalmente no final da obra, porém apenas um prelúdio de verticalidade, diferente da obra de Zola), assim como o Brasil, que expande, que se multiplica também em relação populacional. O cortiço derrubado, incendiado, dando lugar a um novo projeto, um projeto mais grandioso. O povo expulso, excluído, indo viver em um cortiço pior. 

Essa imagem nos remete ao próprio processo de colonização, de dominação, exploração, e exclusão dos nativos. Mudança de economia, alteração da paisagem, natureza, para dar lugar À modernização, ao progresso, ao urbano em detrimento dos menos favorecidos; inclusive, a derrubada monárquica para o regime republicano, algo ocorrido no ano anterior ao lançamento de O Cortiço. O germe agora, a proliferar, a consumir, era o próprio sistema capitalista,

"E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo."

O cortiço como alegoria do Brasil; e o sol , como uma das vertentes para explicar a promiscuidade; o sol como fator determinante nas reações, nos aspectos biológicos, emocionais, do homem. O fogo solar a derreter a moral, assim como em Jerônimo, inquilino do cortiço "não era contra o marido que se revoltava, mas sim contra aquele sol crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens e metia-lhes no corpo luxúrias de bode". O sol interferia também nos aspectos fisiológicos, como foi o caso de Pombinha, que passou a ser púbere quando, deitada nos fundos do cortiço, sente o sol invadir as suas entranhas, ocorrendo uma simbiose entre a natureza e a jovem, resultando no advento da puberdade: "E viu-se nua, toda nua, exposta ao céu. Sob a trepida luz de um sol embriagador..." ( cap. XI).

Em se tratando da construção dos personagens, pode-se ressaltar dois aspectos: a animalização (zoomorfização), e a caricaturização ( tipificação). No que concerne à animalização, como é comum no naturalismo, o ser humano é descrito, enxergado, como um animal, racional, mas ainda assim destinado às influência do meio: biológicas, fisiológicas, sociais. Ao longo do romance de Aluísio, os personagens são revelados em termos animalescos, seja pelas atitudes, pela aparência, pela personalidade. É o caso da jovenzinha impúbere, que é chamada de Pombinha, pelo seu aspecto puro de ser. 

A redução do homem à mera animalidade percorre toda a obra, muitas são as metáforas animalescas para definir as situações vivida pelos diversos personagens, como no caso de Piedade, que ao ser abandonada pelo marido, tem seu choro, lamento, comparado ao mugir de uma vaca. Muitos são os termos utilizados no intuito de não restringir o homem, colocando-o em uma espécie à parte, mas inserindo-o no universo animal. A mulher está prenha e não grávida, tem tetas e não seios; homens e mulheres são machos e fêmeas, procriam.

A outra face das personagens é o caráter plano concebido a elas, a tipificação, personagens descritas fisicamente em detrimento dos aspectos psicológicos; personagens superficiais, sem nuances, acromáticas, sem grandes oscilações no decorrer da história. Elas são previsíveis, uma vez que são apenas resultado da soma dos fatores biológicos e sociais, do meio, do tempo, usados para ilustrar a população que no Brasil vivia. O estrangeiro, no caso, português; a mulata, o negro, e assim por diante. 

Como se toda mulata fosse igual à Rita Baiana, sedutora, misteriosa, com gingado, festeira "o fruto dourado e acre destes sertões americanos"; como se todo português fosse explorador, avarento, extremamente capitalista, ou que se abrasileirasse, tendo como consequência uma vida medíocre, quase miserável, preguiçosa, cheia de vícios; como se todo negro liberto fosse malandro, ou um tipo submisso, ingênuo, servindo de burro de carga, como é o caso de Bertoleza; como se toda mulher portuguesa fosse como Piedade, fedorenta, tomando pouco banho, sem grandes vaidades, adornos, comedida, apática.

Em relação aos portugueses, há algo interessante, pois Aluísio não criou um personagem tipo, mas três personagens para dar conta dos portugueses. O português bem-sucedido, que conseguiu acumular fortuna, que foi capaz de dominar a terra, como é o caso do comendador; e o português que deixa ser tragado pelo Brasil, dominado, subjugado, tomando ares abrasileirado, deixando-se se contaminar pelos atrativos da terra, e assim sendo, colhendo o fel dela. 

O interessante é que Aluísio não trabalhou apenas com esses dois polos, mas quis demonstrar como a ascensão ocorre para o primeiro exemplo citado, para aqueles que com chicote em punho, afastava as seduções do Brasil, que era o caso de Romão; e nisso o nosso escritor naturalista inovou, pois não se restringiu a constatar que havia estrangeiros que aqui enriqueciam, ele foi além, quis mostrar como se dava esse processo. A única nódoa nessa problemática é o seguinte questionamento: será que todo estrangeiro, para obter sucesso, precisa roubar, explorar, matar, e assim por diante?

Por fim, em sua estrutura linear — onde se inicia com a explicação de como João Romão conseguiu angariar a taverna e o cortiço — finda com a morte de Bertoleza, aquela que no início do romance serviu de escada para a ascensão do português ingrato. Depois de ver o cortiço transformado em Vila São Romão, receber título de nobreza, frequentar o ambiente aristocrático, e ter um sobrado que engolia o do vizinho, Romão tenta descartar Bertoleza como se um objeto inútil ela fosse. Não tento coragem de matá-la diretamente, ela a mata indiretamente, denunciando a falsa escrava liberta aos donos. Uma vez acuada, Bertoleza se mata, seu antigo amante, e agora algoz, vai receber, ironicamente, sem remorso algum, um diploma de um grupo abolicionista, enquanto o sangue da suicida se esvai. "Nessa momento, parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito."

(Novembro de 2009)

Sabrina A.


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Bibliografia:

CANDIDO, Antonio . De Cortiço a cortiço. In: _____. O discurso e a cidade.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.Rio de janeiro: editorial Sol90, 2004.

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