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Fogo Pálido (Queimando na superexposição das cores)

⊱✿                                           – PARK JIMIN

"Talvez não

quisesse – conter o ímpeto recorrente,

feroz, para de pés descalços, incendiar o mundo"

(Raduan Nassar)



Jimin está entre as cortinas cor-de-rosa da sala, pairando diante da luminosidade externa tal qual um frame inédito de um filme neo-noir, emanando um falso azul ao seu redor feito luz divina.

Os pés descalços se arrastam sobre o tapete de veludo vermelho, enquanto ele, despudorado e altivo, dança sem roupas mesmo com as janelas abertas.

Estava acostumada com a meticulosidade de seus movimentos, a presunção de suas vontades que não se rendiam diante de nada. Nem mesmo do embaraço. Não fazia o tipo tímido. Estava longe de se ater ao título banal de rapaz rogado.

Pelo contrário, ainda possuía aquele tom adolescente de quem acha que controla o tempo conforme o próprio passo, a arrogância juvenil que se atrelava à rebeldia infundada em traços pequenos, acrósticos* de detalhes que, juntos, eram perceptíveis a olhos curiosos: piercings decorando orelhas, atravessando dolorosamente as aréolas rosadas de mamilos, transfigurando-se em hieróglifos* tatuados pela pele, que unidos talvez fossem capazes de decodificar sua incógnita, se é que não traçariam uma nova rota perante outro mistério. Típica delinquência barata de enredo hollywoodiano, para onde eu, particularmente, exercia meu olhar devoto.

A voz vaporosa e suave, de consonância sensual e pueril, ressoava acompanhando a música, que ele mesmo havia escolhido entre os discos de Nina Simone, deixando "I Put A Spell On You" no volume máximo. Ele e sua veneração por ídolos mortos: Simone, Cobain, Joplin, Hendrix.

Depositava os rastros de sua teia espalhados pela casa, — peças de roupa pelo chão, botas largadas na entrada —, envolvendo-a ao meu redor como um predador que escolhe de forma minuciosa e calculada, sua presa; livrando-se dos anéis prateados que adornavam seus dedos, os últimos resquícios que separavam meu olhar da nudez total de sua pele, produzindo um barulho confortável dos acessórios metálicos contra a mesa e alcançando a garrafa de whisky, até se aproximar a passos lentos, com seu ar respeitoso e repleto de um cinismo óbvio que parecia alimentar a parte ansiosa e adolescente que ainda existia em mim.

Mas permaneço tão distraída vendo-o dançar, que quase esqueço o cigarro, que agora, é só um traço de cinza pendurado entre meus dedos, o filtro quase consumido pela chama fraca, tocando a base do cinzeiro e virando fuligem, mas não desvio o olhar dele por nem mais um minuto.

Quando o vi pela primeira vez, em uma aula de Arte Clássica, dentro do convívio e espaço que deveria me manter afastada, cercada da juventude que há algum tempo tinha deixado para trás, nem sabia ao certo como ele tinha ido parar naquela aula. Não fazia parte daquela turma. Conhecia os nomes e rostos de meus alunos de cor, com uma certa familiaridade habitual, mas sua presença emanava um diabolismo evidente, o suficiente para se manter marcada de imediato.

Toda e qualquer característica o diferenciava dos demais; os cabelos de tonalidade quase ruiva, um laranja desbotado que parecia ganhar vida no escuro, similar ao fogo pálido que arde na parte mais densa de uma chama acesa, com seus óculos clout branco e preto, quase sempre presos ao redor da nuca e o olhar furtivo e afiado, desconcertante. Vibrando na camada superficial das cores que pareciam monocromáticas, seguindo um curioso padrão até sua chegada, arrastando em um fio de seda atado ao pé, o vórtice perigoso das suas cores quentes encobrindo todo e qualquer vestígio de monocromia.

Minhas barreiras seguras foram incineradas pela invencibilidade da sua constância. A necessidade de um modelo-vivo fez de Jimin a primeira e última opção entre as possibilidades que me foram oferecidas. Meus vícios de memória, de tanto observar os seus divinos detalhes e acariciá-los em pensamento, não cederam a qualquer outro voluntário.

Na mesma semana, Jimin estava na sala de minha casa, deitado sobre sofá de tom ocre, sendo a fonte de inspiração que outra vez jorrava.

Mal tinha feito vinte e cinco e o mundo já parecia tão seu. Agarrado a uma segurança que, mesmo com uma década a mais de existência em vida que ele, nunca sequer experimentei.

Era cheio de suas certezas, como a maioria dos jovens são. Sempre enfáticos, altissonantes.

— Tô pronto, Seonsaengnim* — ele dizia, antes de iniciar o ritual que sabia de cor; estirando-se no estofado depois de sorver a última gota de whisky no copo e erguer a cabeça, sem nenhuma urgência, com seus maneirismos carregados de letargia. Desmontando a ferocidade habitual e dando lugar a um Jimin manso, suave e dócil, que acatava minhas ordens sem questioná-las: joelhos dobrados em formato de tríade, queixo curvado para alto, braços ao redor da cabeça e olhos bem fechados. 

Protegida pelo cavalete, ostentando uma folha em branco, conjuro toda imagem que vejo diante de mim. O corpo aveludado e nu de Jimin ganha contornos no papel, subindo pelas pernas torneadas e de aparência macia, os pêlos castanhos cobrindo a virilha em gradações de tons claros e escuros que acentuam as sombras de seu corpo, erguendo-se pelo peitoral, pescoço, até alcançar os lábios bonitos, em perfeita simetria, equilíbrio, movimento estático, que meus dedos, exploratórios e permissivos, acariciavam vez ou outra.

O cenário parecia fictício, adentrando no imaginário e somente nele, o esconderijo de um querubim amparado. Cheio de sensações especiais, movimentos rítmicos que meus dedos acompanham sozinhos enquanto a linha laboriosa e detalhada é traçada, presenciando a manifestação de uma criatura mitológica.

Jimin era chama acesa, de equivalência encantadora e perigosa. Perdurando e ardendo, com suas aproximações incisivas. Deixava rastros violáceos contrastando nos tons de minha pele, vestígios de fogo, sinais de incêndio.

Tateava pelas linhas, que outrora, eram só riscadas em superfícies de papel, descobrindo as curvas e a penugem eriçada quando serpenteada pelo meu toque, rasgava o véu que separava o sonho e experimentava sem culpa o gosto da realidade.

As palavras dele perdiam entonação conforme seu calor tomava todo o espaço, eram só vapor e fumaça. 

Tudo que era proibido lhe incentivava a ser ainda mais atroz, sem qualquer sinal de prudência. Quanto mais vivo e colorido sobre  tela, mais real e palpável para além dos olhos, como uma experiência sinestésica para meus sentidos aguçados, voltados para a arte que ele derramava em gotas cintilantes que algum dia seriam capazes de preencher de cor o mar, salpicando de um tom mágico de ouro em pó.

Nos desfazemos na profusão de tintas de minha pele sob a dele, queimando na superexposição das cores, no lusco-fusco transitório entre noite e dia. A mão trêmula amparando o lápis, o vórtice dos traços firmes tomando formas sólidas, concretas. 

Expandindo, crescendo, como um amontoado de células pulsando por debaixo dos dedos, em um impulso artístico e involuntário, enquanto ele colore. 

Preenche. 

Queima. 


⊱✿      


*Fogo Pálido: Título da obra de Vladimir Nabokov, lançada em 1962.

*Acrósticos: é uma composição escrita feita a partir das letras iniciais de palavras isoladas ou localizadas no início ou no interior de frases e de versos

*Hieróglifos: é como foram chamados cada um dos caracteres usados como escrita no Egito Antigo. 

*Seonsaengnim: Professor/professora em coreano.

N/A: 

Entre todas as versões de Jimin que já escrevi, essa é uma das minhas favoritas. Na verdade, considero essa one-shot um spin-off de um projeto futuro, de certo Jimin universitário que dará as caras por aqui em breve, embora seja narrada pelo ponto de vista de uma outra personagem. 

Agradeço a todos que tiraram um tempinho para ler a primeira one-shot da coletânea, eu tô bem feliz de experimentar a escrita em outros cenários e outros corações, então espero que vocês gostem de me acompanhar nessa jornada. 

— Com amor, Sofi.

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