Meu corpo acerta a nova e espaçosa cama de casal, no que era o quarto da Belle, mas que agora é o nosso quarto.

Minha linda esposa com sua rabugenta expressão, ainda encara a nova decoração de todo o apartamento que meu pai fez, enquanto passamos alguns dias na praia, não muito longe de Seul.

— Isso é exagero Ji. Ele deu a festa e veio aqui e remobiliou tudo!

— Quer que eu peça para ele devolver?

Ela fica pensativa por dois segundos, mas tanto eu quanto ela, sabíamos muito bem a resposta.

Meu pai ficaria ofendido se devolvêssemos.

— Parece que estamos presos a esse apartamento mobiliado perfeitamente a nossa cara.

— Que destino horrível! – dramatizo segurando sua mão levemente inchada e finjo chorar.

— Bobo! – bate de devagar na minha mão e deita ao meu lado — Seu pai nos mima demais.

— Ele está mimando o neto, somos apenas a extensão dele. Seremos completamente esquecido depois que nascer.

Vira o rosto para mim com um sorriso sapeca no rosto.

— Acha que devemos aproveitar esses últimos dias, então!

Virou o restante do corpo para mim, mas logo ficou completamente imóvel e seu sorriso sumiu.

— Belle? – seu nome saí dos meus lábios no mesmo instante que sinto algo molhado na perna.

Quando vejo de onde a água vem, encaro minha esposa sem saber o que dizer direito.

— A-acho que minha bolsa estourou. – Sua voz é uma misturar de terror e animação.

Está na hora. Vou ser pai.

Uma onda de pânico correu pelo meu corpo. Um ser humano vai sair da minha esposa que vai depender totalmente de mim.

Volto a mim quando escuto o som da voz da Belle.

— Ji, não entra em pânico! Estou bem, ainda não senti nenhuma... – ela solta um grito agudo dobrando o corpo que faz o meu tremer. — Senhor, isso que é uma contração? – seu rosto está com uma expressão distorcida, repleta de dor enquanto agarra minha blusa olhando dentro dos meus olhos — Pelo amor de Deus, me leva para o hospital, AGORA!

Se tiver que descrever os próximos minutos, acho que não conseguiria, a não ser se for para falar do pânico que senti o tempo todo.

Lembro de chamar o motorista do meu pai que ainda fazia guarda em frente ao prédio, ele, Doyon (que com certeza ouviu o grito da Belle lá de cima), e a namorada dele, Lim Chin-Sun, ajudaram a colocar a Belle no carro, e entre gritos e um tempo longo demais chegamos ao hospital.

Ela é levada para o quarto, ia fazer um exame de algo que não prestei muita atenção porque a Belle está esmagando a minha mão enquanto a enfermeira explica.

O médico com uma expressão cansada nos cumprimentando claramente por educação enquanto coloca as luvas brancas. Mas no segundo que se aproximou das pernas abertas da Belle, fiquei claramente desconfortável.

— Vou fazer o exame do toque para sabermos o tamanho da dilatação. – Sua voz sai arrastada.

— Você vai fazer o que? – Seguro o braço do médico por reflexo.

— É um exame simples, sem dor, preciso saber o quanto ela dilatou para darmos os remédios e o quanto o bebê está próximo.

— Não tem nenhuma médica que possa fazer isso? – Senti o olhar de todos em mim, e um bem especifico cheio de raiva. Devia ter ficado calado.

— CALA A BOCA, JI! – Belle grita. – Pelo amor de Deus, olha isso logo, e me entupa de drogas. – Ordena ao médico.

Solto seu braço me encolhendo próximo a cabeça da minha esposa, enquanto o médico apoia uma das mãos em seu joelho, juntando as sobrancelhas.

— Não vai dar tempo de dar a peridural – seus olhos vão da Belle para enfermeira —, você já está com oito centímetros. Vou me preparar, a leve para sala de parto.

A enfermeira ajeita para leva-la. Passo a mão em sua testa e cabelos empapados pelo suar, mas sinto um tapa forte no meu braço.

— O que você está fazendo? Não me toque! Isso é tudo culpa sua, seu desgraçado. Sai daqui, não quero olhar para sua cara. – Me empurra para longe, e é isso que faço desnorteado, vendo a enfermeira empurrar a cama dela para fora do quarto.

Vira a cabeça com os olhos cheio de lágrimas me encarando de novo.

— O que está fazendo? – Sua voz chorosa é acompanhada de lágrimas. – Porque você está me abandonando? Volta aqui amor.

Meu Deus, o que essa mulher quer de mim?

Quase corri em sua direção e lhe dei um beijo na testa segurando a sua mão.

Ela vai me deixar louco.

No corredor vejo Doyon e o vulto de mais algumas pessoas com ele, mas não os olhei. Segui minha esposa até o ponto que uma das enfermeiras me parou pedindo para trocar de roupa.

Ela grita com uma dor que faz todo o meu corpo tremer de medo. É aterrorizante vê-la em tamanha agonia. Mas faço de tudo para não transparecer meu medo, e não saí do seu lado em nenhum momento.

Depois de um tempo gritando e empurrando finalmente escuto o choro do nosso bebê pela primeira vez. Quando olhei em direção ao som, vi...

Placenta, sangue envolta do bebê roxo, que não para de chorar. Tem tanto sangue...

Minhas pernas estão fracas o cheiro do quarto fez meu estômago dar uma volta e tudo ficou preto.

De longe escuto a voz da Belle, mas não entendo o que fala, senti um cheiro forte que me fez abrir os olhos e encarar a enfermeira que claramente segura para não rir de mim, caído no chão.

— Ji, você está bem? – Olho para cima e vejo a Belle com os olhos brilhando, mas com um tom de preocupação.

Levanto devagar e sinto minha cabeça latejar.

— Estou bem. – Passo a mão aonde está já começou a inchar. – Nossa, você não tem ideia do quanto isso está doendo. – Assim que falo todos olham para mim e a Belle está com a sobrancelha arqueada.

Hoje é um daqueles dias que eu devia manter minha boca fechada.

Ela apenas revira os olhos e aproxima ainda mais do peito nosso bebê, todo embrulhadinho.

— Vem aqui conhecer sua filha. – Seu rosto se abre para um sorriso enorme e radiante, e finas lágrimas descem pela sua bochecha.

— Filha? É uma menininha? – Minha voz sai alta me aproximando para olhar seu rostinho de joelho inchado.

— Não é que pela primeira vez, você estava certo? – dá uma risadinha.

Ela não deveria estar gritando? Eu passei tanto tempo assim apagado?

É totalmente estranho. Sinto uma quantidade de amor inexplicável, inesgotável. Não tem absolutamente nada que não faria por esse pequeno e perfeito ser humano. Minha filha.

Meu coração vibrava de felicidade assistindo-as.

Belle agora é mãe, e eu, pai.

Estou com a mulher mais linda desse mundo ao meu lado e ela acabou de me dar a menina mais linda. Meus olhos voltam para a Belle, e nunca tinha a visto tão linda como agora.

— Por que está me olhando assim? – Pergunta sem desparafusar o lindo sorriso em seu rosto

— Você me faz feliz todos os dias, Belle, mas hoje... – Suspiro — Hoje sou o homem mais feliz por ter vocês duas. Só tem alguns minutos e ainda assim acabei de entender coisas que me pai me disse durante a vida. E é graça a vocês duas. – Passo o dedo na testa de nossa filha. – Ela... – Sinto que vou chorar de novo. — Eu amo você, obrigada por ter passado por tudo isso para trazer a nossa princesa.

Beijei a testa da nossa filha e voltei a olhar para ela, me sentindo o homem mais sortudo que já pisou nessa terra.