Capítulo 29 - Cego
— Posso pagar algo para comermos? – Nina pergunta baixo enquanto descemos pelo elevador.
Fixo meus olhos nos botões, tentando decidir se aquilo é ou não uma boa ideia.
— Lamen e soju?
— Não tem como dizer não para lamen – tento sorri, mas saí forçado —, tem uma loja de conveniência a alguns quarteirões. Podemos ir andando.
— Ok!
Antes do elevador abri no térreo, ela tampa o cabelo e coloca a masca, enfiando as mãos no bolso anda ao meu lado pela rua barulhenta.
Na loja de conveniência nos sentamos nos fundo, ela de costas para porta, sem tirar o capuz.
Os três minutos do lamen, estão sendo os mais longo da vida. É muito estranho ficar sentado à frente da ex do meu irmão.
Ela está visivelmente mal, tanto quanto o Cheol. Ainda deu para notar o roxeado em seu rosto e o gesso. Não tive coragem de perguntar o que aconteceu, mas o Go Ji me assegurou que não tinha sido a Hana, mas algo me deixa inquieto por dentro.
— Isso é estranho – falo olhando para a embalagem
— Desconfortável – concorda com uma risadinha —, mas queria perguntar, longe do Han e do Ji, se quer mesmo fazer isso? Sabe que não precisa.
— Eu sei. Mas como disse, quero ajudar meu irmão.
Ela me analisa por alguns segundos depois escora na cadeira.
— Não é apenas isso. Concordou rápido demais com o que vou fazer, e para ser sincera, pareceu que até gostou. Doungsun, quer se vingar dela?
Quando quer, Nina saber ler bem as pessoas.
— Ela não apenas quer machucar meu irmão usando você. Hana mentiu e me usou por anos, alimentou um sentimento em mim, apenas para ficar perto do hyeong. Agora tenho a oportunidade, não apenas de ajudar a para-la, mas de ver de perto tudo. É, acho que quero vingança sim!
Nunca tinha colocado as palavras dessa forma, nem para mim mesmo, mas é exatamente isso que quero.
— "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena." – rindo baixinho do que parece ser uma piada particular.
— Como?
— Um personagem de um programa mexicano que passa no Brasil desde que era criança, fala isso. Em parte acredito nisso, mas infelizmente tenho que abri uma exceção para a Bae Hana. – meus olhos encontram os seus — Sei que o que ela fez te machucou, mas não deixe que o lixo que ela colocou na sua vida, te defina.
"Ela é uma pessoa horrível, que fez várias coisas horríveis com um monte de pessoas, mas isso não quer dizer que precise te transformar em uma pessoa ruim, que deseja o mal ao outro, mesmo que seja ela. Sei que soa estranho isso vir de mim, mas eu quero para-la, não machuca-la."
Arqueio a sobrancelha a olhando um pouco incrédulo.
— Ok! – revira os olho — Talvez queria machuca-la um pouco. Mas você é uma pessoa melhor que eu, não deveria deixar o que ela fez tirar isso de você. Já tiro coisa demais, de muita gente.
Coloca uma quantidade grande demais de lamem na boca, e acaba queimando, ela não fala nada, mas não consegue impedir os olhos ficarem marejados.
— Hana não tirou isso de você, Nina. Ainda é uma boa pessoa.
Me encara por alguns segundos engolindo uma parte da massa em sua boca e me dá uma sorriso.
— Talvez. Mas ela me obrigou a dá ouvidos a um lado meu que não gosto muito.
— Se não gosta, porque dá ouvidos?
Um sorriso doce cresce em seu rosto, junto com um suspiro do que parece um pensamento sombrio.
— Come, vai esfriar – empurra o lamen para mais perto de mim.
Terminamos de comer em silêncio, e depois de voltar a vestir a máscara, voltamos para a rua.
— Posso te deixar na sua casa – não ofereço por mera educação.
Gostei da Nina desde que meu irmão nos apresentou, o seu jeito leve e engraçado, me deixava com a tranquilidade de que meu irmão estava bem, feliz. Doeu muito vê-lo sofrer depois que foi embora, e fiquei com um pouco de rancor, sim. Mas depois que me contaram o que a Bae Hana fez, não consegui ficar remotamente bravo.
Isso não muda o fato de ainda ser desconfortável ficar perto dela, sem parecer que parte de mim está "traindo" meu irmão.
— Não se preocupe comigo. Vou pegar o último ônibus.
— Acha que vou contar para o meu irmão onde está morando? – sorri
— Talvez. – dá uma risadinha abafada, mas seus olhos logo voltam a ficar sérios. — Doungsun, se achar que ela desconfia de alguma coisa, ou assim que achar o que precisamos, saia de perto dela. Se precisar de ajuda, tem meu número, vou aonde estiver, ok?
— Não precisa se preocupar comigo.
Se aproxima segurando meus ombros, olhando bem nos meus olhos.
— Doungsun, vou me preocupar até que tudo tenha acabado. – aperta de leve meus ombros — Então, cuidado!
Uma preocupação real estampa seu rosto, que faz meu peito pesar.
— Vou me cuidar, prometo!
Ainda preocupada, retira seu aperto e se afasta dois passos.
— Melhor ir descansar. Assim que falar com ela que vai passar uns dias aqui, seu celular não vai parar. – brinca
— Ele já não para – retiro o aparelho do bolso e mostro o amontoado de mensagens que se acumulou nas últimas horas.
— Essa garota precisa muito de hobby.
— Ela está precisando é de um... – contenho minhas palavras lembrando que não estou do lado de algum amigo da faculdade.
Ela rir, enquanto sinto meu rosto esquentar.
— Concordo. – faz sinal para que o táxi pare — Agora, vai para casa e descansa.
Coloco parte do corpo dentro do carro, mas paro voltando a olhar, com uma dúvida que me corroeu quase toda noite.
— Porque não perguntou sobre meu irmão? Eu meio que fiz um discurso interno, quando o Go Hansol me pediu para encontra com vocês, mas, bem...
— Não quis te deixar desconfortável, e – respira fundo — é mais fácil não saber muita coisa, já basta o que fico procurando na internet. – dá uma risadinha. — Não conta isso para ele.
— Pode deixar. – sorri entrando por completo no carro — Boa noite.
— Boa noite!
A vejo dar tchau enquanto entro no transito, indo para casa.
Vou direto para o quarto que um vez em um passado distante dividi com meu irmão, e encaro o teto, pensando na melhor performance da vida que teria que fazer no dia seguinte.
Ela não pode desconfiar de nada.
— Sério? Não acredito! Tenho que te ver agora! – sua voz anasalada e animada exigi minha presença.
— Estou próximo ao café perto da nossa antiga escola, quer me encontrar aqui?
— Claro! – seu tom é tão alto que afasto o aparelho do ouvido. — Me espera ai, chego em vinte minutos.
Desliga o aparelho sem antes de receber minha confirmação.
Respiro fundo e me sento na que seria nosso habitual local, que um dia foi onde perdi tantas horas da minha vida, encantado com uma garota mimada que só mentiu e me usou.
As coisas começaram a fazer mais sentido depois do seu desabafo cruel na casa da praia. Como ela sempre queria fazer os trabalhos na minha casa, sempre levava presente para nossos pais e irmã. Nem sei quantas bolsas de grife deu para elas.
Sempre à espreita com agrados, com um sorriso largo, sempre tentando agradar a toda minha família, e eu, o trouxa do século achando que era por minha causa.
Estudei tanto para entrar na melhor faculdade da minha área, ter um bom emprego, para finalmente poder lhe pedir em namoro. Queria que ela não tivesse nada do que a melhor versão possível de mim, mas nunca fui o suficiente.
Fui apenas uma ponte.
Minha mente vaga, zombando de mim mesmo quando sinto lábios tocarem minha bochecha e sua risadinha ligeiramente anasalada me faz dá um pulinho do sofá.
— Como assim não pediu meu café com caramelo Dong? – faz um biquinho sentando a minha frente.
Ela está usando um vestido verde coberto por um casado branco com listras prestas e um tiara branca deixando os cabelos escuros e longos soltos.
Um sentimento estranho de nostalgia, com raiva se mistura no meu peito e tenho que me controlar mais do que imaginei necessário, para manter meu rosto sereno.
— Continua do mesmo jeito! – ela percebe a acidez na minha voz, mas tento amenizar com um sorriso.
Ela é tão egocêntrica, arrogante e narcisista, que mesmo depois de anos de amizade, ela não faz ideia que estou com um sorriso mentiroso e falso estampado no meu rosto.
Mas lembro do olhar temeroso da Nina, o sofrimento que sua manipulação causou e abro mais o sorriso imaginando o final de tudo.
— Desculpa Hana – pego sua mão gentilmente e mesmo com meu estômago revirando um pouco dou um beijinho nela. — Fiquei um pouco distraído com nossas lembranças nesse lugar. – olho em volta soltando sua mão e sem que perceba, a esfrego na calça jeans
— São muitas, não é? – faz um sinal com a mão e a garçonete aparece — Querida, você não pode ser lenta assim! Daqui a pouco o café que está na cafeteira vai esfriar. Anda quero um café preto com caramelo.
Como fiquei tantos anos sem perceber essas coisas?
— Desculpa senhorita, mas não temos caramelo a parte...
— Querida, me poupe da sua incompetência e traga o que pedi, rápido!
No fundo vejo o dono dar um longo suspiro quando nos vê, e chama a garota que tem um olhar perdido.
— Um cappuccino está ótimo para mim. – ser agradável, saí quase uma resposta automática, para compensar a falta de noção dela.
Será que sempre tentei suprimir a arrogância dela assim?
— Me conta tudo! Quero saber como estão as aulas, e sua família? Estão bem? Tem um tempo que não os vejo, bem, menos seu irmão, o vejo sempre pelos pôster pela cidade. Ele está melhor com o fim do namoro? Aquela estrangeira cruel, sabia que iria magoa-lo.
"Sabe, tentei avisa-lo de que não valia nada, que ia acabar assim, mas ela fez uma lavagem cerebral..."
Minha mente desliga por alguns segundos, e me pergunto, como, como pude sentir algo por ela? Como não vi sua obsessão? Como pude ser tão cego? Isso é tão culpa minha quanto dela?
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