Capítulo 20 - Bem-Vinda De Volta
"Não dá para você ficar indo aos extremos Nina, olha o que aconteceu com você? Não tem controle sobre suas emoções, sua mente. Você não pode dar a outras pessoas o controle, mesmo quando você julga ser bom."
"Deixou que o Cheol apagasse uma parte sua, porque tem medo que ele te deixasse. Reprimiu tanto uma parte tão importante sua que quando não o tinha mais por perto, se jogou nessa ideia idiota de clube da luta e quase morreu!"
"O abandonou por medo do que essa outra menina pudesse fazer, e na sua cabeça realmente acredita que fez isso para ajuda-los, mas a verdade é que isso tudo é você fugindo do que ela estava te obrigando a acordar."
"Claro que você tem que controlar seus impulsos alto destrutivos, mas tem que aprender que isso tudo é você. Sei que gosta mais da Nina leve, feliz, brincalhona, que o Cheol trouxe à tona, mas você não pode simplesmente enterrar o restante do que tem ai dentro, do jeito que fez."
"Não se pode fugir dos nossos defeitos, só porque não gostamos deles. Se permita ser inteira, ser honesta com você mesma e com as pessoas que te amam."
No silêncio do quarto deixo as palavras da minha psiquiatra revirarem na minha cabeça.
Com os novos remédios tenho conseguido pensar com mais clareza nos últimos dias, e perceber o tamanho da merda que fiz quando vim embora, e do que fiz aqui.
Escoro meu corpo no travesseiro olhando para a mesma parede sem graça, que tem me ajudado muito a refletir em tudo. Bem, refletir é uma palavra tranquila demais para falar dos rios de lágrimas de arrependimentos durante a noite, e nas duas seções por dia com a psiquiatra.
Meus dedos passam pelo aparelho branco, que ilumina minha foto com o Cheol, com um sorriso grande estampa meu rosto. Um sorriso que nunca tive, e ainda posso sentir ele quase puxando meu lado bom. Com a lembrança de uma paz interior.
Vou para o kakao e mesmo me quebrando leio as mensagens, que agora são sem raiva, e muitas delas apenas contando seu dia.
Estou lendo sobre como tinha sido sua seção de fotos, quando recebo uma mensagem, que sinceramente me fez ficar com um pouco de medo.
É uma imagem com uma frase muito familiar, e já repetida, da quantidades de vezes que vi o filme e li o livro.
"O mundo não se divide entre pessoas boas e más. Todos temos luz e trevas dentro de nós. O que importa é o lado o qual decidimos agir. Isso é o que realmente somos." – Sirius Black.
Antes que pudesse analisar em como essa frase se encaixa tão perfeitamente na minha vida: COMO DIABOS ESSE HOMEM SABE O QUE ESTÁ NA MINHA CABEÇA?
A quase vinte mil quilômetros, ele me aparece com essa mensagem?
Ele só pode estar me vigiando, assistindo minhas seções em alguma câmera escondida nesse quarto, mas ainda assim não explica o timing.
Será que realmente temos uma ligação cósmica decidida pelos deuses? Ou ele pode apenas me conhecer bem demais?
É, a segunda opção é muito mais viável, mas ainda assim assustadora.
Mas voltando a frase, J.K.Rowlling e minha psiquiatra tem um ponto em comum. Todos temos dois lados, e sei que desde que conheci o Cheol, esse lado, vamos chamar de "luz", acendeu como... bem, como um sabre de luz no escuro, e fiquei tão envolvida, com medo do sabre dar defeito, que ignorei todo o resto, não apenas o que estava acontecendo com a nosso sociopata favorita, mas o meu lado escuro, o lado que deixei me consumir por completo para, que ele nem ninguém fosse atingido por ela.
Obviamente isso não deu certo, e posso ter perdido muito mais fugindo, do que se tivesse ficado e encarando meus demônios e sociopata mimada.
Minha mente gosta de me obriga a repassar tudo, principalmente o aeroporto, e a única coisa que quero é correr até a Belle pedir desculpas e chorar no seu colo.
— Está bem? – a voz grossa do Ji me faz dá um pulinho na cama.
— Caramba! – coloco a mão sobre o peito ouvindo a máquina ao meu lado apitar mais rápido. — Quer me enfartar? – o som vai diminuindo gradativamente até voltar ao normal.
— Desculpa – dá uma risadinha —, achei que tinha me visto entrar.
— Minha cabeça está um pouco longe – falo voltando a encarar a parede sem graça.
— Imagino aonde. – sua voz fica claramente triste.
— Devia ter voltado para Coréia com o Caleb. Tem que ficar do lado da Belle agora, não aqui.
— Trinta horas com o Caleb dentro de um espaço pequeno? Você realmente não gosta de mim, não é?
Estranho que apenas ele e ocasionalmente o Tae conseguem me fazer rir.
— Gosto, por isso acho que devia estar com a minha amiga grávida, de um filho seu. Não com a sua amiga doida que está presa no hospital.
— Já posso te chamar de amiga de novo? – dá uma sorriso de canto de boca
— Não é você que estava com raiva de mim? – tento sorri — Acho que isso cabe a você.
Ji se prepara para falar algo quando meu irmão entrar rindo para o celular, mandando beijo para tela antes de nós olhar ainda com um sorriso bobo no rosto.
— Gabi mandou um beijo para você – fala estendendo uma sacola de supermercado. —, e me pediu para te dar isso.
Abro a sacola branca e vejo uma caixa de chocolate, com mais três barras e duas caixas de Kinder Ovo.
— Ah chocolateee!! – um gritinho ridículo escapa — Gabi acabou de se tornar minha sobrinha favorita! – abro a caixa e começo a desembrulhar um dos Kinder Ovo — Senhor, isso tem gosto de infância! – me derreto jogando o corpo na cama e olho para o Nate — O seu rim valeu apena, irmão. – sorri levantando o doce.
— De nada! – dá uma gargalhada. — Infelizmente é quase verdade.
— Aposto que vai vim quebra-cabeça. – falo abrindo a caixinha transparente e olho para o Ji — Cada um vem com uma surpresa diferente, mas por algum motivo comisco, os quebra-cabeças de cinco peças sempre veem no que compro. Quando éramos crianças colecionávamos, e eu ficava muito brava porque esse sortudo sempre pegava os brindes legais.
Quando abro o plástico fosco, meu destino como muitos outros é o mesmo, e sou premiada com mais um quebra-cabeça que vai sumir em dois dias.
Assim que os dois veem as peças espalhando no cobertor, caem na gargalhada. Odeio esses eles!
— Mas isso não significa que ele vá tirar algo legal – Ji aponta para a outra caixa ainda intacta.
— Exatamente por isso trouxe dois, para poder esfregar na minha cara. – reviro os olhos enquanto meu irmão desembrulha o ovinho colocando uma das bandas quase toda na boca.
Assim que o som do plástico abrindo soa, meu karma joga na minha cara meu azar, dando um carrinho azul com detalhes vermelhos para o meu irmão, que nunca perderia a oportunidade de rir ainda mais.
— Desisto dessa merda! – empurro a caixinha e pego uma das barras. — Nem queria mesmo.
Nate aperta minhas bochechas devagar e dá um beijinho nela.
— Para você. – me entrega o brinquedo.
— Por pena? Serio? Acha que ainda tenho dez anos? – arqueio a sobrancelha.
— Não quer? – ameaça a pegar o carrinho, mas puxo de volta.
— Te odeio!
— Também te amo – ainda rindo puxa uma cadeira e se aproxima da cama animado demais — Acabei de conversar com seu médico – seu sorriso largo aumenta —, ele vai te dá alta amanhã. – sinto o sorriso voltar para o meu rosto — Mas você vai continuar com o tratamento com a psiquiatra, os remédios, e volta para tirar os pontos em duas semanas.
Abraço Nate aliviada sentindo uma pontada de dor subir pelo meu corpo. Me afasto devagar e antes de encarar os olhos do meu irmão olho para o Ji que ainda tem um sorriso satisfeito no rosto.
— Não posso... – minha voz saí um pouco baixa.
— Não Nina – Nate fala alto —, você me prometeu que se cuidaria...
Seguro seu braço o apertando de leve.
— Preciso voltar. Preciso resolver a bagunça que deixei para trás, enfrentar meus demônios. Vou continuar o tratamento lá, mas não posso ficar aqui.
Eu e meu irmão trocamos um longo e silencioso olhar. Quase uma conversa inteira apenas entre os olhos.
Sei que está preocupado, mas preciso fazer isso, por mim, mesmo que doa.
— Vou cuidar para que ela vá ao médico, sem bebidas ou brigas. – Ji fala deixando o corpo ereto.
— Ei! Não preciso de uma baba. – arqueio a sobrancelha.
— Precisa sim! – os dois falam juntos, com um leve divertimento na voz.
— Não, eu não preciso! – falo firme e os dois voltam a ficar sérios — O que preciso é tomar a rédeas da minha vida, tentar concertar o que puder e aceitar as consequências das minhas ações.
Nate saí da cadeira e com cuidado me abraça, mas forte dessa vez, alguns segundos depois sinto uma lágrima molhar meu ombro.
— Bem vinda de volta! – cochicha.
— É bom estar de volta – me afasto limpado eu rosto. — Obrigada por cuidar de mim – falo em português — Eu te amo.
Ainda chorando um sorriso enorme rasga o rosto do meu irmão, que carinhosamente beija minha testa.
— Eu sabia – dá uma risadinha que me faz revirar os olhos.
— Ah! Idiota! – rio junto limpando seu rosto com as costas da minha mão.
— Acho melhor ir comprar nossas passagens. – a voz do Ji e quase um pedido de desculpa por interromper.
— Obrigada, por tudo – me estico pegando sua mão dando o melhor sorriso possível. —, mas acho que vamos precisar de três passagens.
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