Capítulo 17 - Nariz Quebrado
Um cheiro forte de hospital entra pelo meu nariz e um zumbido baixo ecoa pelo meu ouvindo. Isso é muito, mas muito pior que uma ressaca. Mexo meu corpo, mas a dor me faz parar. Abro meus olhos devagar está tudo meio nublado e aos pouco uma forma começa a tomar em minha frente.
— Nina? – essa voz não me é estranha, mas está difícil de focar os olhos — Está acordada?
— Acho que sim. – minha boca está seca e minha voz saí estranha. — Eu estou morta? – pergunto já conseguindo definir que na minha frente está um homem magro de cabelos negros que dá uma risadinha morta com minha pergunta.
— Não, mas fez bastante esforço para chegar no "quase". – sinto suas mãos grandes tocarem meu braço me puxando devagar ajeitando o travesseiro atrás de mim.
Reconheço o perfume e apenas ai que percebo que não estou falando em português. Meus olhos finalmente focam quando olho para seu rosto pálido.
— Ji? – me mexo de novo e sinto outra pontada de dor.
Olho meu corpo coberto por um pijama hospitalar ridículo, gesso em um dos braços, e uma intravenosa logo acima. Consigo mexer meus pés, isso é um bom sinal, mas estou com medo de olhar meu corpo.
— Oi.
— O que diabos está fazendo aqui? A Belle está com você? Espera – olho em volta para um quarto muito, bem, limpo e arrumado demais para ser do nosso sistema público de saúde. —, você está no Brasil, ou eu estou na Coréia e os últimos meses foram apenas um pesadelo horrível?
Falo rápido demais e sinto minha garganta arder e minha voz oscila, mas continuo falando. Admito querer que a segunda seja a verdadeira e ele nota isso.
— Infelizmente eu que estou no Brasil. Sem a Belle. Mas bom saber que esse seu jeito estranho ainda está ai.
— Droga! – olho para o teto branco — Mas então onde estou? Isso aqui com certeza não é um hospital público.
— Te transferimos para um hospital particular, seu irmão, a Van e o Caleb estão lá fora conversando com o médico. Ele não achou que acordaria por agora, mas como sempre você surpreende com sua teimosia.
Não sei bem se isso é para ser uma brincadeira ou se está falando sério.
— O que está fazendo aqui? – pergunto intrigada tentando ignorar a dor.
— Vou chamar o médico, falar que você está acordada – com uma postura ereta, Ji saí do quarto e logo em seguida os três aparecem na frente de um homem mais velho, om barba grisalha, reluzentes olhos azuis vestido um jaleco branco.
Depois de dois minutos de "graças a Deus, mas que merda você estava fazendo?", o médico começa a longa lista de merdas que fiz com meu corpo, com nomes que com certeza não conseguiria pronunciar.
— Vai passar alguns dias conosco, mas vai ficar boa. – dá um sorriso velho e cansado — A psiquiatra do hospital vai vim ver você. Isso é algo que conversei com seu irmão e....
— Tudo bem. – interrompo
— Nem tente falar que não Nina, você precisa de... espera, o que? – Nate me olha com a sobrancelha arqueada.
— Sei que preciso de ajuda – olho para o médico —, quanto antes melhor.
— Pelo que eles falaram achei que seria bem mais complicado te convencer. Vou pedir para ela vir hoje atarde. Contudo evite se mover muito quando precisar ir no banheiro chame uma enfermeira. Passo a noite para te ver de novo.
Quando o doutor saí, o clima pesado caí no quarto quase me espremendo na cama. Olho para os três ao meu lado e todos eles tem o rosto avermelhado me encarando com alivio e raiva.
Van se aproxima e me abraça devagar, mas não sem doer.
Ela não diz nada. Eu não digo nada.
À apenas lagrimas e pedido de desculpas se misturam em meio aos soluços.
INACREDITÁVEL!
Quando acho que não tem como ela piorar ainda mais as coisas, Nina entra em um clube da luta. Quem ela acha que é, Tyler Durden?
Com raiva ou não dela, não consegui deixa-la naquele hospital que estava quase caindo aos pedaços, então falei para transferirem, enquanto ligava para o Han avisando do estado que a encontrei, e da pequena fortuna que iria retirar.
Admito que um aliviado passa pelo meu corpo quando a vejo com os olhos abertos. Um peso enorme cresceu no meu peito quando a Van contou o que aconteceu e um pouco de medo.
Está bem, muito medo.
Em cada segundo que durou para a Van contar fiquei pensando em como seria sem ela. Como tem sido.
Sei que fui muito duro, egoísta e cruel com ela depois do hospital. Nina não merecia toda a carga de culpa que joguei nela no dia, nem nos meses seguintes, ela sempre foi uma boa amiga para mim.
Mas os sentimentos no meu peito ainda é confuso. Parte de mim ainda está com raiva, não pelo que aconteceu com a Belle, finalmente minha raiva desse evento é direcionado a pessoa certa. Mas raiva por não ter falado comigo o quanto ela estava perto, sobre os "presentes" que enviava, as mensagens. Por não ter pedido minha ajuda. Antes de me tornar um completo idiota.
Não que agora seja a melhor pessoa do mundo, mas ficar mais de trinta horas entrando e saindo de avião, lendo e relendo a pasta que meu irmão me deu, fez com que mudasse minhas perspectiva sobre várias coisas.
Os quatros estão conversando algo que não entendo e acabo saindo do quarto e tento ligar para a Belle de novo, e de novo. O máximo que recebo é um: "o bebê está bem", "já tomei minhas vitaminas" e a mais frequente de todas: "para de me ligar!".
Tem hora que acho que não tem nada nesse mundo que vai faze-la voltar a falar comigo, e que o meu próprio medo de perde-la, me fez perde-la.
Dou uma volta olhando a manhã clara, respiro e tento colocar meus pensamentos em ordem, mas não sei se está dando certo. Ainda é muita coisa para absorver.
Quando volto para o quarto desistindo da minha tentativa de consegui formar qualquer coisa que seja na minha cabeça, Nate e o irmão da Belle – que nem olhou para mim direito – tinham saído e ela está sozinha com a Van.
— Oi. – Nina sorri quando me vê — Van – desvia o olhar de mim acenando para amiga que levanta da poltrona dando um tapinha de leve no meu ombro indo para porta enquanto tomo seu lugar.
— Como está se sentindo? – pergunto escutando a porta fechar.
— Estou bem. Fez boa viagem?
— Sim, apenas muito longa.
— Ji – fala depois de alguns segundos —, por que você está aqui?
— Não precisamos falar disso agora, é mais importante que você fique bem. – me ajeito na cadeira.
— Eu literalmente não tenho nada para fazer que não seja ficar encarando a televisão. Desembucha. – tenta soar como a Nina durona, mas um bocejo saí sem sua permissão, com os olhos pesados.
— Descansa. Não vou a lugar nenhum, e te garanto que a Belle e a Line estão bem, estão todos bem. – coloco a mão em seu ombro enquanto relaxam deixando o remédio fazer efeito.
— Ela não machucou ele, não é? Fiz o que combinamos. – pergunta com os olhos quase fechando, mas ligeiramente marejados.
— Cheol está bem. Ninguém está machucado, pode descansar – claramente aliviada Nina deixa que seus olhos ganhem a briga e cai no sono.
— Está todo mundo realmente bem? – Van pergunta aparecendo do nada.
— Estão sim. Vim por causa dela, para levar ela de volta.
— Pelo que me lembro vocês não estavam se dando bem antes de ela volta.
— É – suspiro —, não estávamos. Deixei o medo de perder a Belle, falar mais alto e enterrei com a raiva que senti de mim mesmo por não ter estado lá. – uma risada reprimia que escapa pelo meu nariz me faz olhar para Nina na cama — Ironicamente tive que perder a Belle para perceber isso.
— Ela me ligou contando – Van escora na parede a minha frente — Você realmente conseguiu irritar a fera. – dá uma risadinha. — Belle está tão irritada, que ainda nem bateu a tristeza. – seus olhos encaram os meus — Você está bem?
— Não – a resposta pula da minha boca. — Belle sabe? – olho rapidamente para Nina.
— Não. Eu e o Caleb achamos que é melhor contar quando a Nina estiver melhor, ela já está bem nervosa com vocês dois para também ficar preocupada.
— Concordo.
Conversamos mais alguns minutos até que Nate e Caleb entram no quarto. Educadamente Nate me comprimente, mas Caleb passa como se não estivesse ali. Se ele tiver um terço do temperamento da Belle, realmente prefiro que me ignore.
Admito que é meio perturbador como eles se parecem, olhos, boca, nariz. Os dois até tem a mesma pinta no pulso esquerdo, mas o principal são os trejeitos de conversar, balançar a mão e a ruguinha entre as sobrancelhas. Muito perturbador.
Ao lado da Van, Caleb me olha de lado de uma jeito quase mortal e cochicha algo com ela. Única coisa que acho que entendi é a palavra polícia, mas não tenho cem por cento de certeza.
É extremamente inconveniente não falar português agora.
Van não parece muito satisfeita seja lá com o que Caleb falou, mas parece desistir quando Nate entra na conversa, parecendo concordar com ele.
Achei que eles não se gostavam. Estranho.
— Ji – Van revira os olhos para os dois vindo na minha direção —, vamos para casa. Nina não vai acordar tão cedo e os dois vão ficar aqui hoje, e acho que a gente precisa de dormir um pouco.
Concordo olhando para os dois. Nate dá um tchau cansado e Caleb mantem os olhos no celular.
Quando saímos quase trombamos com dois policias meio roliços parados do lado de fora.
Só agora estou me tocando o quanto o que está acontecendo é sério.
— Fique à vontade. Quer comer alguma coisa? – Van pergunta indo para cozinha enquanto me sento no sofá.
— Acho que não. – jogo a cabeça para trás.
Escuto som da geladeira ser fechada e o que parece ser um forno rangendo ser aberto. Alguns segundo depois, Van aparece me entregando uma latinha de cerveja e abrindo uma para si.
— Me conta a verdade Ji, por que está aqui?
Engulo seco. Por mais que tenha passado isso na minha cabeça inúmeras vezes nos últimos quatro dias, ainda não coloquei para fora.
— Fiz algo horrível para Nina, e sei que em parte é culpa minha ela ter ido embora. – não a olho, apenas passo o dedo pelo suor da lata.
Mas consigo vê-la ficar tensa e fazer um certo esforço para manter a respiração regular.
— O que você fez? – pergunta entre dentes.
Abro a lata e dou um gole grande antes de olhar para seus olhos castanhos impacientes.
— Quando a Belle passou mal depois de ver a mensagem sobre o Tae, eu culpei a Nina. Falei coisas horríveis para ela naquele dia, no calor da raiva e medo, mas nunca pedi desculpa. Em parte porque não achava que devia desculpas, que ela mereceu ouvir aquilo por ter deixado as coisas chegarem naquele nível.
"Cada dia ficava com mais raiva e descontava nela. Coloquei todo o peso da raiva que senti de mim, da situação, da Bae Hana, nas costas dela e fui ruim e cruel com uma pessoa que sempre me ajudou. Demorei tanto para..."
Sinto o impacto antes da dor espalhar pelo meu rosto e ouvi algo estralar e sentir o liquido quente escorrer sobre minha boca.
Não vi a Van levantando nem mesmo seu punho aproximando do meu rosto, apenas sentir a dor.
— Você tem o mínimo de noção do que fez? – ela contém a voz, mas não a raiva. — Seu desgraçado, ela podia ter morrido! – me segura pela gola da blusa. — Você é um merda! Não merece a amizade da Nina, não merece o amor da Belle, não merece porra nenhuma! – joga meu corpo contra o sofá.
Van levanta indignada enquanto sinto a dor aumentando. Tento limpar o sangue, mas meu nariz lateja.
Ela anda de uma lado para o outro visivelmente tentando se controlar para não me socar de novo.
— Devia te chutar para fora daqui, não deixar se aproximar de nenhuma das minhas amigas, e contar para o Nate o que fez com a irmã dele. – dá uma risadinha irônica — Ele sim te daria o soco que você merece. – respira mais algumas vezes, e fico calado. — Cacete, sou trouxa que nem as minhas amigas, mesmo! – fala mais para si mesma depois volta a me olhar — Pelo bebê. Apenas pelo bebê, você pode ficar aqui. – se aproxima um pouco — É melhor arrumar essa merda que fez!
Van volta para cozinha e parece desligar algo e passa por mim indo para o quarto e logo escuto a porta bater com força.
Escoro a cabeça nas costas do sofá e com minha própria blusa tento estancar o sangue.
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