Capítulo 16 - Vazia
Oie pessoas, como estão?
Só uma coisinha antes de lerem o capítulo. Leiam o capítulo com a música aqui em cima, ou escutem antes. Essa música pega bem o espirito do personagem que está narrando.
MAS, contudo, se você tem ansiedade, depressão, NÃO escute a música.
Se você é sensível a assuntos relacionados a depressão, ou não está se sentindo bem com o isolamento social, não recomende ler esse capítulo. Se preferir, apenas vote e me chame no privado que dou um resumo mais "grosseiro" do capítulo para que o próximo faça mais sentindo.
Lembrando sempre que você pode ligar para 188. Pode Me chamar para conversar se preferir, não sou profissional no assunto, mas sou boa ouvinte.
Que Deus nós proteja!
Tenham uma leitura mara!
Ah! Se você pode, FIQUE EM CASA!
Meus olhos pesam com inchaço e volto a fecha-los. Viro o corpo na cama macia e volto a abri meus olhos, encarando a parede repleta de fotos. Fotos dele, nossas.
Cada dia que se passou nesses messes minha alma, meu coração se quebrou em milhares de pedaços até não restar mais nada aqui. Agora sou apenas a casca vazia de uma Nina destruída.
Os dias passam por mim sem realmente vê-los. Apenas vazio.
Nos raros momentos que sinto algo aqui dentro, é apenas uma onda inexplicável de ódio e culpa. Fico revivendo a noite na delegacia, a dor nos olhos do Cheol no aeroporto.
Destruo tudo que toco, minha mãe sempre teve razão nisso, tudo que sempre faço é isso.
Vejo o olhar desesperado da Van em mim as vezes, sem sabe o que fazer comigo. Sei que não vai me mandar embora, admito vergonhosamente que isso é um dos motivos que escolhi vim para casa dela em vez de ir atrás da minha família. Um último ato de autopreservação da finada Nina Silva.
Bem, isso e o fato de que provavelmente já estaria literalmente a sete palmos se tivesse ido para casa de qualquer um dos meus pais, e não tenho coragem de deixar a Gabi exposta ao meu estado deplorável.
Meus remédios não estão mais fazendo efeito, então parei de toma-los.
Durmo mais depois que parei, mas os pesadelos são ainda mais frequentes.
Ele gritando, caindo em um precipício pedindo minha ajuda, mesmo tento outras pessoas ao seu lado, até que uma mão o segura, e é ela. Os gritos de ajuda ainda continuam, se possível ainda mais desesperados
Tento corre alcançá-lo, mas meu corpo é engolido por um buraco negro e tudo que vejo é seu rosto cheio de dor, o rosto do aeroporto, antes que volto para a minha realidade e a uma enxurrada de lagrimas antes de me jogar no vazio.
Toda noite o mesmo sonho, a mesma dor e desespero.
Não consegui arrumar um emprego depois que voltei. Até fui em algumas entrevistas, mas não consigo falar, nem ser simpática e sorrir. Desistir de tentar quando me falaram que preciso primeiro "concertar" meu estado de espirito.
Como se não tivesse como me sentir ainda pior.
Concertar. Por que uma palavrinha consegue piorar ainda mais a minha miséria? Talvez porque saiba que não tem concerto.
Em algum momento depois que cheguei, Van conseguiu me convencer a ir em uma das suas aulas de krav maga.
Odiei a ideia no começo, mas devia isso a ela, então fui, me embolar em uma aula cheia de mulheres procurando transformar seu próprio corpo em uma arma para ter algo com que se defender quando algum homens as atacar.
Por que esse é o real motivos delas estarem aqui, proteção contra a falta de respeito do homem quando escuta um não, ou é desafiado por uma mulher. Sejamos sinceras, o homem branco, macho "hétero top", tem perdido território nas últimas décadas, e nada é mais perigoso do que um neandertal em extinção. Vão lutar para manter seu "status" e é agora que entra a nossa autopreservação.
Van, como as outras mulheres aqui escolheram por esse motivo, sendo ele consciente ou não. Ou talvez pelo professor gato que pelo olhares que trocaram, com certeza já pegou.
Quem sou eu para falar alguma coisa? Qualquer coisa na verdade.
Droga! Devaneios em assuntos aleatórios tem sido uma forma do meu cérebro se poupar de tudo por alguns segundos. Não prestei atenção no que o professor falou, ou na minha amiga. Mas fiquei bem atenta quando sou chamada para tentar, o que só consigo descrever como ser jogada de corpo e alma (se é que ainda tenho uma), para uma nova e viciante droga.
No segundo que meu corpo sentiu o alivio toma-lo quando dei o primeiro soco, sabia que estava ferrada. Comecei a ir com a Van em todas as aulas, tentando sentir apenas aquele gostinho do alivio. Mas como toda droga, um "gostinho", não é suficiente por muito tempo e resquício do meu abuso começaram a ficar evidentes, mesmo minha amiga tentando fazer vista grossa.
As coisas começaram a ficar ligeiramente fora do controle em uma aula que estava lutando contra a Carolina, uma mulher loira que tem um ótima esquerda. Admito que quando luto imagino ela várias vezes, mas na grande maioria olho para mim mesma.
Nesse dia tinha tomado minha dose diária de mensagens do meu ex. algumas doloridas, outras raivosas, mas todas com muito amor, escondido ou não. Mas a daquele dia fez todas as outras doerem infinitas mais, com a droga de uma frase da música Slip do Jacob Lee.
"Você me prometeu que envelheceríamos junto."
Palavras que acabaram comigo e com o nariz e um dente da Carolina, que saiu da aula direto para o hospital.
Agradeci pela Van não está naquela aula. Não que isso impedisse que ela ficasse sabendo, mas se ficou, nunca falou nada.
Claro que me sentir mal, mas o alivio foi maior, principalmente quando visualizei o rosto da Bae Hana sangrando.
Estava no banheiro quando a merda foi jogada no ventilador e Debora entrou na minha vida.
— Aquilo sim foi um soco – disse animada parando ao meu lado de frente para pia.
Não respondo, mas ela não para de me encarar, quase como se quisesse arrancar um pedaço do meu corpo.
— Você tem muita raiva guardada ai dentro, não é? – inclina um pouco me fazendo olhar dentro dos seus olhos — Sim, tem. Reconheceria esse olhar em qualquer lugar.
Me afasto pegando minha bolsa, jogando tudo que tirei de volta. Não conheço a Debora bem, não é como se eu tivesse um círculo amplo de amigos, ou qualquer amigo que não fosse os antigos. Dou mais um passo para sair de perto dela, mas sinto seu aperto no meu braço.
— Nina, posso te dar mais do que essas aulinhas. Posso te dar sangue e dor de verdade – seus dedos tocaram a lateral do meu rosto com delicadeza —, sei que é isso que precisa, que quer.
No mesmo segundo a voz da Belle quase grita dentro da minha cabeça:
"Não é disso que você precisa e sabe disso! Vai embora, me liga, pede minha ajuda. Sabe que não precisa lidar com isso sozinha."
De novo.
Venho sendo assombrada por vários fantasmas diferentes desde que voltei, e por mais que parte minha quisesse fazer o que a mini Belle dentro da minha cabeça fala, eu apenas peguei minhas coisas e a segui até seu carro.
Não dirigimos por muito tempo até chegarmos um belo clichê de fábrica abandonada, não realmente abandonada. O lugar não está cheio, mas tem bastante gente, luzes azuis deixam o lugar mal iluminado e os dois homens grandes na porta que te faz querer sair correndo dali.
Com apenas um sorriso Debora passa entre os homens, a sigo entrando em um espaço amplo com pessoas conversando e bebendo em bares que ficam espalhados pelo amplo galpão, mas é o centro, onde toda a luz azul está focada que chama minha atenção. Ando até a bola de luz que está vazia e paro na beirada olhando os pingos vermelho e mal limpos por todo o lugar.
— É aqui que o show acontece! – Debora exclama animada me entregando uma lata de cerveja. — Os lutadores se voluntariam na hora, dando dez minutos para as apostas, a luta vai até quando alguém desistir, desmaiar ou morre. Armas são proibidas e o vencedor leva dez por cento das apostas. Você luta quando e com quem quiser, pode ficar à vontade para combinar luta, mas é proibido combinar resultado, com pena de morte.
A última palavra me faz olha-la.
— Está mexendo com pessoas importantes aqui – olho ao redor seguindo seu dedo e reconheço alguns rostos. Filhos do prefeito, vereadores, empresários importante. Se alguém quer fazer um sequestro coletivo aqui é o lugar. — Temos que ter garantias. – se ajeita empolgada parecendo esperar por aquele momento — E claro, a regra do clube da luta...
— "Nunca fale do clube da luta" – a corto tirando toda a sua empolgação, o que me agrada um pouco.
— Você viu o filme – faz uma cara estranha.
— Todo mundo já viu o filme – desvio meu olhar sem vontade para uma moça pequena que se aproxima e cochicha algo em seu ouvido.
— Já vai começar – Debora fala empolgada e segundos depois o som de uma campainha faz todos se aproximarem e dois homens entrarem no círculo de luz.
A campainha toda de novo e o banho de sangue começa.
Socos, chutes, golpes questionáveis em qualquer luta profissional, tudo vale ali e até que um não levante mais.
— O que acontece se alguém morrer ali? – pergunto
— É desovado em algum lugar longe e o pai do Gui é avisado, o corpo é entregue a família e o caso arquivado.
— Acredito que isso não vale para todos. – do meu lado ela dá um meio sorrio.
— Regras são para todos, sugiro que escolha com sabedoria com quem vai lutar. Mas a grande maioria dos que estão aqui é apenas para assistir, poucos de nós tem coragem de ir para o círculo, maioria que vai precisa do dinheiro.
Assim que os dois homens são levados arrastados para longe da luz, coloco minha bolsa no chão e entro na luz, ouvindo um "eu sabia" da Debora atrás de mim.
Uma mulher ruiva, fisicamente forte entra e me encara como se fosse um pedaço de carne. Predo o cabelo, estico os músculos até que escuto a campainha tocar e um vulto vermelho vim na minha direção, depois disso, apenas um dor absurda na lateral do meu corpo e o choque da minha cabeça com o chão.
Me desfrutei de casa segundo que a dor percorreu meu corpo sentindo nem que fosse por alguns minutos que a dor que causei no Cheol, nas minhas amigas estava sendo vingando. Eu mereço essa dor, o sangue, a morte.
Estava lá quase todos os dias, no começo apanhando muito, mas fui ficando boa e cada vez que batia em alguém via um espelho ou a cara dela. De certa forma é gratificante, e útil, já que não estou trabalhando a grana que tiro dali, que é uma boa quantia por sinal em ajudado.
Talvez está ficando tão boa assim era um sinal de que devia parar, assim não estaria aqui agora.
Com certeza é algo que Sônia iria adorar.
Ela é a melhor dali. O seu braço é cheio de músculos, cabelos negros preso em dreads até a cintura e tira todo o seu dinheiro das lutas. De acordo com ela estou atrapalhando, a roubando.
Lutamos algumas vezes, a primeira depois do desastre do meu aniversário. Ainda me sinto culpada sempre que meu irmão ou Caleb tentam me ligar.
Naquele dia estava sentindo tanto ódio que a verdade é que queria que cada soco que recebia me trouxesse de volta, tirasse a raiva de mim, ou pelo menos a transformasse em dor, mas nada adiantou, até que Sônia entrou no círculo.
Socos, chutes, suor, sangue. Tudo se misturou até que ela caiu desmaiada depois que me jogou para longe, impulsionei meus pés pegando velocidade, tomei impulso nas suas coxas, envolvendo seus pescoço entre minhas pernas, levando meu corpo para trás jogando seu corpo no chão de cabeça, enquanto caio em pé a tempo de ver seus olhos virando.
Depois disso quase ninguém queria brigar comigo.
"Não tem nada nos seus olhos, não tem medo de morrer, isso te torna perigosa". Debora falou depois que saí do círculo.
Alguns dias depois Sônia quis uma revanche, e senhor como eu apanhei. Mas ela não estava satisfeita, viva falando que estávamos empatadas que não admitiria aquilo. Comecei a evita-la. Já é perigoso demais uma pessoa que não tem nada a perder naquele círculo, imagina o estrago que duas poderiam fazer.
Assim foi os últimos quase quatro meses, e mesmo sendo errado, essas brigadas conseguiram com que com muito esforço tivesse algum tempo de clareza, como algumas chamadas de vídeos com as minhas amigas e o Tae, o desfile da Van, que fiz questão de ir.
Quando acabou e fui procurar pela minha amiga, ela estava engajada em uma conversa animada com alguns estilistas, e empresários que pegavam o seu número.
Quis ir até ela, mas apenas mandei uma mensagem com uma das duzentas fotos que tirei do desfile e voltei para casa para gente pode comemorar lá.
Então chegamos a algumas horas atrás.
Está tudo bem. Tem tempos que não me sentia ligeiramente aliviada até que minha amiga pergunta dos remédios e tudo fica turvo e cheio de culpa, de novo.
Consigo respirar, mas vê meu rosto no espelho fez meu estômago revirar de nojo, e não lembrar quando foi que saí da sala não ajuda muito.
A lembrança dos dedos dela tocando meu cabelo, aquela imagem junto com seu sorrisinho vitorioso fez a raiva volta, enquanto pego a tesoura e corto parte do meu cabelo, depois outra e outra, até que finalmente o sorriso dela some e tudo que restou sou eu com o cabelo todo desigual.
Agora uma outra parte de mim está com raiva, uma parte que achei ter enterrado no dia que fui embora de Seul. Ela grita comigo, perguntando como deixei chegar nesse ponto, como deixei que ela me encurralasse, e me tirasse tudo que amo. Como deixei que me deixasse tão fraca.
Minha mão aperta mais e mais a tesoura até que com toda força enfio a tesoura no espelho e escuto ele estilhaçar enquanto tudo fica turvo de novo.
Quando dou por mim estou no círculo com a Sônia e no segundo seguinte sou tomada por um desejo que não sinto a anos. Quero morrer, quero que ela acabe comigo aqui, hoje. Apenas alguns sons e dores são perceptíveis, o restante do meu corpo está dominado.
Depois de não sei quanto tempo, consigo tomar de volta o controle de mim, nesse momento Debora está ao meu lado levantando minha mão e Sônia está inconsciente no chão. Meu corpo tem sangue, e pela dor que sinto é meu.
— Nem acredito – tento focar na voz da Debora —, cem mil! Isso sim é uma aposta.
— Do que está falando? – meu maxilar doí tenho certa dificuldade em falar.
— Vocês apostaram antes de começarem – Ela me olha confusa.
— O que? – minha raiva não tem acesso a minha conta bancaria, não? Pelo menos ganhei.
Ela não me responde, apenas grita e comemora com os que apostaram em mim, enquanto Sônia é levada para fora do círculo.
Me afasto da festa e vou para o lado de fora respirar, pelo menos tentar, porque até esse movimento simples é extremamente doloroso.
Que merda eu fiz? Que merda estou fazendo?
Olho para as minhas mãos machucadas e é quando noto que meu pulso não devia estar daquele jeito e a dor que sinto parece que boa parte vem dele.
— Senhor, preciso de ajuda – encaro meu rosto coberto de sangue pelo reflexo de uma das janelas. —, vou acabar morrendo aqui.
Pela primeira vez em meses aquele pensamento me abalou e escuto a antiga Nina gritar no fundo da minha alma, desesperada.
— Nina! – meu nome é gritado com raiva, e quando me viro Sônia ensanguentada está a centímetros de mim quando sinto algo entrar na minha barriga.
Peco as forças na perna e as sinto acertar o chão enquanto Sônia tira algo metálico coberto de sangue de dentro de mim no mesmo instante que vejo o rosto da Debora se aproximando de mim gritando, e o vulto da Sônia sumir.
Debora abaixa ao meu lado assim que estou por completo no chão. Algo quente escorre pelo meu corpo, coloco minha mão e ela sai ensanguentada.
Sinto um sorriso pairar no meu rosto, pensando na ironia. Que jeito merda de morrer.
Olho para cima, o céu está estrelado, sem nuvens de poluição, o que é bem raro para São Paulo.
Esperei que toda a minha vida passe diante dos meus olhos, mas não acontece, tudo que vi foi como machuquei meus amigos e que é assim que vão se lembrar de mim. Esse pensamento faz uma lágrima escorrer pelo meu rosto e antes que tudo ficasse escuro vejo o rosto do Cheol, seu sorriso lindo e consigo perfeitamente ouvir sua voz dizendo que me ama.
— Cheol, te amo – respondo um segundo de tudo apagar.
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