Capítulo 17 - Saudades
Meus olhos piscaram alguma vezes, sem conseguir processas o que tinha acontecido direito. A diretora Song, tinha mesmo acabado de me elogiar e me dá uma classe?
Tudo bem que tenho certeza que fez isso porque de acordo com ela eu era a única professora aqui que falava a línguas de sinais (nessa hora agradeci muito ter ouvido minha professora de coreano e aprendido como é a linguagem de sinal aqui). O que me fez olhar estranho para a Rachel, que era a outra estrangeira, que sei muito bem que aprendeu a linguagem ainda na Inglaterra e também teve aulas aqui, quando fez o mesmo mestrado que o meu.
Mas com um sorriso cúmplice, ela apenas fez sinais para que fosse em frente. A diretora Song, não era muito a minha fã, mas com certeza ela tinha um desprezo maior quando a Rachel. Sempre achei que fosse uma inveja dos seus grandes e lindos olhos azuis e seus cabelos sedosos e naturalmente de um vermelho pôr-do-sol lindo.
Mas qualquer fosse o motivo que ela tivesse de ter me escolhido, agora estava eu indo dar aulas para crianças de sete anos. Que por sinal, apenas tive experiências com elas no Brasil.
Antes que me levasse para a sala de aula, a diretora Song me levou até um homem alto, com uma barba baixa, corpo claramente definido, que usando aquele terno preto, tive que controlar minha boca, para que ela não abrisse e a baba não escorresse pelo meu rosto.
— Esse é o pai da aluna que falei senhorita Aline. – Apontou para o homem gostoso na minha frente — Senhor Koong Seung.
Fiz uma reverência pedindo a Deus que mantivesse a melhor postura com esse homem delicioso na minha frente.
— É um prazer senhorita. – Abriu um sorriso que quase me fez cair para trás.
Só consegui sorrir, qualquer habilidade com as palavras que tive ao longo de toda a minha vida, acabou de ir embora.
— Essa – continuou depois que percebeu que não iria falar — é a minha filha, Mi-Cha.
De trás das suas pernas torneadas sai uma garotinha com o rosto corado, com os olhos castanhos me encarando e as mãozinhas tampando a boca. Ela era a garotinha mais fofa que á tinha visto. Seus longos cabelos negros estavam presos com uma fita rosa, que combinava com a sua mochila.
Me abaixei com o maior sorriso que minha pele conseguia repuxar.
— Oi – falei fazendo os sinais — meu nome é Aline, mas você pode me chamar de Line.
Seus olhos foram para o pai que assentiu.
— Posso mesmo te chamar de Line? – suas mãozinhas eram ágeis, o que me dizia que ela devia ter nascido assim.
— Claro querida – continuei — Do que gosta de brincar?
Seus olhos brilharam e um sorriso largo se abriu em seus lábios.
— Gosto de brincar de boneca, mas também amo desenhar. E também gosto de ir no balanço, e descer no escorrega – ela disparou como boiado, me fazendo sorri.
— Vamos brincar disso tudo! Vamos? – sorri me levantando esticando minha mãe para que ela pegasse.
De novo olhou para o pai que assentiu e em um pulo agarrou minha mão.
Quando voltei a olhar para os dois, a diretora Song, olhava um pouco indiscreta demais para o homem que, senhor, não parava de olhar para mim sorrindo. Mas não de um jeito "quero seu corpo nu", mas sim satisfeito pelo sorriso que tinha causado na filha.
Os dois vieram com a gente até a sala aonde a outra professora saia para ficar na sala que ficava antes (e claro que nesse pequeno percurso consegui de uma forma ninja mandar mensagens no grupo das minhas amigas falando do pai gostoso que andava atrás de mim). Ela parecia bem satisfeita em ligar com bebês. Espero que isso não seja um mal presságio.
Assim que a pequena Mi-Cha, se sentou e começou a desenhar como os outros alunos. O senhor gostoso, quero dizer, o senhor Seung, explicou que ela tinha muita dificuldade em fazer amigos, e que além da deficiência, ela era muito retraída e que aquela era a primeira vez que a via animada para ir para sala.
Antes mesmo que as aulas começassem já estava planejava minha passada na livraria, para compra todos os livros que eu pudesse sobre a sua deficiência e integração social. Tudo que tivesse ao meu alcance para a ajuda.
Já tinha vários dias que comia livro, atrás de livro. O que pareceu ajudar. O senhor Seung parecia bem satisfeito com a evolução da filha e alguns dos alunos fofamente pediram para que pudesse ensinar a linguagem de sinais para que a Mi-Cha não precisasse ficar escrevendo tudo. Claro que ainda estou esperando a boa vontade da diretora de aprovar as aulas, mas sempre ensinava a eles mesmo assim.
No elevador chegando para o merecido descanso do final de semana, tinha que lutar com as minhas pálpebras para que não se fechassem por completo.
Entrei no corredor e fingir não ver o Ji escondido atrás da pilastra larga, tentando sair de fininho do nosso apartamento, sem que eu e a Nina víssemos.
Não sei quem a Belle acha que está enganando. Bem talvez a Nina, mas só por que ela não sai daquele celular para notar o nada discreto relacionamento dos dois que parecia ser baseado em sexo. Sorte da Nina que não ficava no quarto do lado.
Ai que saudade da Van. Sinto quase imediatamente meus olhos revirarem. Quem estou querendo enganar? Como se ela não fosse fazer o mesmo, provavelmente seria bem pior.
Entrei em casa ouvindo os passos rápido do homem largo e alto que morava no andar de cima indo para o elevador.
— Oi Line – Belle fala com um sorriso largo indo se sentar no sofá.
Sua roupa estava amassada, sua pele branca, vermelha em algumas partes e seu cabelo preso em um coque, que claramente era para não notarmos a vassoura que ele tinha ficado.
— Oi – me joguei no sofá olhando para a tv.
— Dia longo? – se inclinou para me olhar melhor.
— Não. Só cansada da semana mesmo. Ansiosa para hibernar no meu quarto os próximos dois dias. E o seu?
— Duro. Mas já consegui relaxar um pouco – um sorriso malicioso passou rapidamente pelos seus lábios, mas ela achou que não vi.
Não sei de onde tive forças para não rir. Talvez estivesse cansada demais para isso.
— Parece que deu certo – Belle mordeu os lábios se remexendo um pouco do meu lado.
— Olha quem finalmente resolveu acordar cedo para falar com as amigas – Nina entra na sala segurando o notebook.
Se sentou entre mim e a Belle, nos empurrando com zero delicadeza, até que uma Van sonolenta aparece no nosso campo de visão.
— Bom dia – boceja escorando a mão no rosto.
— Boa noite – respondi sorrindo. — Que olheiras são essas?
— Ah, cheguei em casa tem umas duas horas.
— De novo se jogando nas festas? – Belle se espreme para aparecer na câmera do Skype.
Van olha para ela e esfrega os olhos os arregalando logo em seguida.
— Você transou! – fala alto apontando para a Belle.
Eu e a Nina a olhamos e tive que colocar a mão na boca para não rir.
— Você transou com quem? – Nina tomba um pouco a cabeça.
— Está doida? – Belle começa a parecer um tomate — Nem sei mais o que é isso. Tem séculos que não transo com ninguém.
— Você está mentindo – Van dá uma gargalhada alta.
— Como assim? – Nina parece ligeiramente brava — Você está transando com um dos vizinhos? É o Han?
— Quem é o Han mesmo? – Van parece mais acordada.
— É o vice-presidente que mora no andar de cima – respondi
— Ou é o Ji? você deu um belo beijo nele aquele dia que saímos
— Rolou beijo? – Van coloca a mão na boca teatralmente — assanhada.
— Dá para parar? Não estou transando com ninguém. – Mentiu descaradamente.
— Está transando sim – Van rebate — sua pele está mais brilhosa. Nina, passa a mão no rosto dela e me fala se está macia.
Nina fez o que a amiga pediu recendo um tapa leve na mão.
— Ela está transando. – Nina fingi estar chocada. — Que amiga é você que não conta?
— Não estou transando com ninguém. – Um tomate perderia para ela agora.
— Será que é com o Jimin? – Nina coloca a mão no queixo.
Aquilo me incomodou. Senti uma pontada irritante de ciúme?
— Não, não – Nina continua — o Jimin é claramente da Line.
— O que? – agora era eu que ficava vermelha. — Que meu? Não o vejo a tempos, não tenho nenhum tipo de contato com ele.
— Foi ele que a Line arrancou as calças no meio do café? – Van dá uma gargalhada alta jogando a cabeça para trás.
— Esse mesmo – Belle rir, claramente aliviada pela atenção ter saindo dela.
— Sério que vocês contaram para ela? – arqueei a sobrancelha.
— Claro – Nina deu de ombros — Não é todo dia que uma de nós passa uma vergonha monumental dessas que com certeza será lembrada para sempre e contada para seus filhos.
— Ótimas amigas – murmurei com raiva.
— Estamos aqui na alegria, na tristeza e para rir das vergonhas. – Belle me dá um largo sorriso amarelo.
Ficamos conversando por mais algum tempo, sobre a vida, os boymagia (menos por mim). Ouve breve momento de silencio quando Van viu o rosto na Nina enquanto falava das conversas com o Cheol, mas como a gente, preferiu não falar nada. Aquilo era raro demais para que alguma brincadeirinha nossa pudesse atrapalha. Acabou que mesmo relutante a Van teve que desligar, já que para ela a sexta estava apenas começando.
Nina coloca o notebook na mesa de centro e joga a cabeça no coloca Belle e as penas no meu. Típica folgada.
— O que a gente vai fazer no final de semana – seus olhos passam de mim para a Belle.
— Não vai sair com o Cheol? – perguntei tombando cabeça.
— Se ele não me chamou até ontem, é porque não vai. – Tentou parecer indiferente — não vou ficar aqui esperando por ele, como se não tivesse nada melhor para fazer.
— Ui – Belle dá um risinho — Mulher decidida. – Nina revira os olhos ignorando a amiga me olhando.
— Estava planejando dormir o fim de semana todo.
— Não, não – ela dá um pulo voltando a se sentar entre a gente — Vamos fazer alguma coisa.
— Karaokê? – Belle sugeriu.
— Alguma coisa que não estoure nossos tímpanos com a sua voz amiga – Nina ri levando alguns belos tapas dela.
— Que tal boliche? – sugeri.
— Gostei – Nina passa a mão aonde a vermelhidão dos tapas da Belle já dava sinal.
— Mas boliche com apenas nós três não tem muita graça. – Belle faz um biquinho. — A não ser que a gente chame os meninos.
— Ótima ideia – Nina levanta de uma vez pegando o celular. — Belle você liga para o seu amante secreto do andar de cima e eu ligo para o Cheol.
Sei que a Nina falou aquilo de brincadeira, apenas para irritar a nossa amiga, mas ela não faz ideia do quanto está certa nessa parte.
Eu e a Belle trocamos olhar com uma risadinha nada discreta.
— E o papo de "não vou ficar aqui esperando por ele, como se não tivesse nada melhor para fazer"? – tentei imitar sua voz a fazendo junta as sobrancelhas.
— É diferente – colocou a mão na cintura — estou convidando para algo que já fiz planos.
— Mas a gente acabou...
— Ele não precisa saber Line – juntou as sobrancelhas apertando um botão que em segundo foi atendido. A voz brava dela, deu lugar para uma voz doce e amável que fez eu e a Belle rimos.
Instantes depois os vizinhos já estavam sendo notificado (sim, porque com a Belle nunca é um pedido) e Cheol e Mathews estavam empolgados para o dia seguinte.
— Ótimo, já que está tudo certo, vou tomar um banho e despencar na cama até amanhã à noite. Boa noite.
Antes que elas me respondessem, vi as duas trocando olhares estranhos, mas estava cansada demais para questionar qualquer coisa e apenas fui para o meu quarto.
Fomos as primeiras a chegar, e a Nina não perdeu tempo em ir comprar uma cerveja para ela.
Cheol e Mathew chegaram pouco depois, e Jisso, o Cheol tinha a mesma expressão de bobo alegre que a Nina. Esses dois se já não tivessem namorando, não ia demorar muito.
Ji e Doyon chegaram uns trinta minutos depois, falando que o Han, não viria. Teve que viajar para Xangai as presas.
Era estranho ver como a Belle tratava o Ji tão friamente quando estavam perto de todo mundo. Nem parecia aquele casal que estava despindo um ao outro com os olhos na primeira vez que saímos. Mas se reparasse bem, dava para ver os olhos da minha amiga brilhando, sempre que por algum motivo olhava para ele. E sim, era recíproco.
Estava amarrando os sapatos quando vejo as minhas amigas se olhando estranho de novo, mas dessa vez o olhar estranho cai em mim antes que a Belle pulasse da cadeira indo para além de mim.
A sigo com os olhos e sinto cada célula do meu corpo se encher de uma vergonha monstruosa.
Conversando com a minha amiga, estava o cara mais lindo que pisa nessa Coréia. Hae Jimin.
Nota:
Jisso - É uma expressão que eu e as minhas amigas usamos, para falar Jesus, sem realmente falar.
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