3 - Lagoinha
Paola
Deixei a água quente lavar toda a frustração que eu estava sentindo. Em determinado momento, até ensaiei sentir culpa, mas depois mandei isso para longe.
Mariana quis, ela gostou, consentiu, falou meu nome várias vezes, conduziu tudo, então eu não fiz nada errado.
Mesmo ciente daquilo, ainda me sentia meio culpada. Isso é tão complicado!
Mas uma coisa era fato: eu precisava tirar aquela história da cabeça, desencanar daquela maluca que estava ganhando mais importância do que deveria. E era isso que eu faria. Estava de férias em uma cidade linda, cheia de lugares e pessoas maravilhosas que poderiam me entreter, então era isso que eu faria... Ou pelo menos tentaria.
Enviei mensagem para a Giselle — sim, estou falando da Gi, de Amor e Novos Dilemas de Pippa Rivera. — e avisei que estava na terra dela.
— Vem pra cá! — gritei em um áudio e ela mandou a resposta logo em seguida.
— Só semana que vem. Se sair antes de eu chegar, já sabe, né?
— Eu sei, amor. Também te amo! — respondi, sorrindo, e larguei o telefone.
Comecei a me arrumar para descer para o café da manhã. Estava na dúvida se deveria ou não ligar para a Caterine, pois não queria atrapalhar nada entre ela e a Juliana, mas não precisei pensar sobre isso por muito tempo, pois assim que comecei a me vestir, meu celular tocou. Era ela.
— Oi, sumida! — falei e a ouvi suspirar profundamente.
— Culpa tua! Te falei pra não me deixar sair de lá.
— Não, culpa da tua cunhada, que não me deixou ir atrás de você.
— Ah, mas eu mato a Mariana! — esbravejou.
— Se quiser, te ajudo... — comentei e me arrependi na hora.
— O quê? Por quê?
— Nada, nada... — desconversei. — Mas me conta, achei que tivesse se entendido com a sua Docinho.
— Você tá no quarto? Desce, eu tô aqui no restaurante do hotel. Vamos tomar café? Te conto tudo.
— Tá, tô descendo.
Nos encontramos e tomamos café enquanto ela me contava sobre ter feito as pazes e depois brigado de novo, pois descobrira que Juliana havia ficado com alguém a quem ela detestava, enquanto estiveram separadas. Os detalhes dessa história você pode ler em O Amor Está no Ar, Salve-se Quem Puder, da Linier Farias.
— Saí de lá no meio da madrugada. Não consegui lidar, senti muito ciúme, Paola.
— Amor, se ela te contou algo assim é porque tá querendo fazer as coisas direito. Entendo o teu ciúme, a tua raiva, mas vocês precisam parar de se boicotar. Se amam demais pra ficarem separadas.
— Eu sei, mas tô muito chateada! É mais forte que eu.
Abri a boca para falar qualquer coisa, mas fui interrompida pelo celular dela, que tocou.
— É ela... — avisou de sobrancelhas franzidas enquanto encarava a tela.
— E não vai atender? — perguntei e a vi suspirar, mas pôs o celular no ouvido, em seguida.
Mencionei me levantar para dar privacidade e ela me impediu, segurando a minha mão para que eu ficasse.
— Oi, Juliana... Não me chama assim quando eu estiver com raiva de você, já falei... — Eu ri. Ah, os casais! — Não. Vim tomar café com a Paola, no Rei Plaza... É... — Silêncio. — Quando?... — Outra pausa. — Eu não posso, prometi fazer uns passeios com a Paola e... — Ela foi interrompida de novo. Abafou uma interjeição qualquer e voltou a falar: — Não sei, posso ver. — Olhou para mim e apontou para o telefone. — Ok, vou falar com ela e te mando mensagem — concluiu e desligou sem se despedir. Depois respirou profundamente enquanto coçava a testa.
— Que foi?
— Juliana tem uma casa de praia na Lagoinha. Tá indo pra lá com a família, amanhã é aniversário da mãe dela. Convidou a gente pra ir. São cerca de duas horas de viagem. Quer ir?
Meu coração acelerou de súbito com aquele convite, pois quando eu ouvi "família" só lembrei da Mariana.
Será que eu devo ir?
— Claro! — respondi, empolgada.
A quem eu estava querendo enganar? Estava louca para encontrar a Mariana de novo. Só não sabia qual seria a reação dela ao me ver, caso realmente estivesse lá.
»«
Chegamos àquele paraíso perto de meio-dia. A casa da Juliana era linda, enorme. Construída em cima de um morro, com vista direta para aquele mar esverdeado maravilhoso. Alguns cachorros correram, latindo para o carro quando chegamos. Descemos e baixei para brincar com eles. Um buldogue inglês gorducho e muito lindo me recebeu primeiro, logo depois os vira-latas pulantes me desejaram boas-vindas. Em seguida, Juliana e uma senhora, que provavelmente devia ser a mãe dela, apareceram na frente da casa.
Caterine se aproximou das duas e cumprimentou a mulher mais velha antes de olhar para a esposa.
— Minha filha, que saudade! — A mulher tinha os olhos marejados. Acho que estava feliz com a volta das duas.
— Oi, Aurora! Eu estava morrendo de saudade também. — disse ao beijá-la na face.
Quando se separaram, Juliana a agarrou e abraçou forte. Elas conversaram algo que ninguém conseguiu entender, e Aurora me observou, sorrindo.
— Você deve ser a Paola. Seja bem-vinda, minha filha. Aurora, sou mãe da Juliana. Muito prazer. — Apresentou-se e foi me abraçando.
Aurora era uma mulher na casa dos 60 anos, muito sorridente. Cabelos lisos, grisalhos e roupas bem simples. Tinha traços muito bonitos e vi de onde as duas filhas haviam tirado tanto charme. Parecia ser uma pessoa encantadora. Minha energia bateu com a dela no mesmo instante.
Correspondi ao abraço, sorrindo.
— Obrigada por me receber, dona Aurora. O prazer é meu. A casa de vocês é muito linda, esse lugar é maravilhoso!
— Tira esse "dona", menina. — Sorrimos juntas. — Esse é o nosso país: Ceará. O melhor lugar de todo o universo — falou com orgulho.
— Paola — Caterine nos interrompeu. —, essa é a Juliana.
— Finalmente eu tô conhecendo a famosa Docinho! — brinquei e vi a esposa da minha amiga sorrir.
— Prazer, Paola! Seja bem-vinda e sinta-se em casa. — disse e me cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto. Depois olhou para a esposa. — Amor, o seu Luís já vem tirar as malas de vocês. A Branquinha tá arrumando o quarto de hóspedes pra Paola, mas daqui a pouquinho tá pronto, tá? — avisou e me olhou.
— Sem problemas!
— Meu povo, vou pedir licença porque tô fazendo uma peixada no fogão a lenha, lá nos fundos. Tenho que olhar porque já tá quase no ponto. O almoço fica pronto em meia hora, mais ou menos. — Aurora avisou e saiu.
Vi o casal recém reconciliado se olhando e me senti sobrando.
— Gente, onde posso conseguir um copo de água?
— Vem, eu pego pra você... — Juliana ofereceu.
— Imagina, só me mostra onde pego. Fiquem aí, acho que vocês têm muito o que conversar. Não se preocupem comigo, eu me acho e me enturmo muito fácil — garanti, sorrindo.
— Isso é verdade. — Caterine concordou e ensinou como chegar à cozinha.
Eu estava começando a achar que Mariana não estava lá, pois imaginei que se estivesse, teria ido nos recepcionar, como Juliana e Aurora fizeram. Fiquei pensando que ela pudesse ter desistido de ir ao saber que eu iria. Mas logo que entrei na sala, ouvi sua voz. Senti um frio na barriga.
Caminhei um pouco e me aproximei da cozinha. Ela estava sentada à mesa, de costas para mim, havia vários livros abertos, além de um caderno e algumas canetas espalhados pela mesa. Em sua frente, um laptop com a tela acesa exibia um arquivo de texto. Ela discutia com um menino de aproximadamente oito anos de idade, que estava sentado ao seu lado.
— Enzo, eu já disse que não. Castigo é castigo. Então, nada de videogame até a semana que vem.
— Mas, mãe — Mãe? Como assim ela tem um filho desse tamanho? —, você disse que quando minhas notas melhorassem liberaria duas horas por dia. E minhas notas melhoram.
— Sim, eu falei isso quando você tirou nota baixa. Te pus de castigo de novo porque você jogou escondido, depois de ter acabado as duas horas, lembra?
— Saco! — xingou e cruzou os braços. — Você tá muito chata, parece que não gosta mais de mim. Agora só tem tempo pra essa porcaria de trabalho... — reclamou e se levantou para sair correndo em seguida, quase esbarrando em e mim.
— Enzo, volta aqui, filho... — Ela chamou ao se levantar e se virar, mas paralisou quando me viu. Precisou piscar várias vezes antes de finalmente voltar a falar: — O que você tá fazendo aqui? — Foi rude.
Estava muito diferente da noite anterior. Cabelos presos em um coque desgrenhado, óculos de grau, sem maquiagem, shortinho de algodão e uma camiseta velha do Game Of Thrones. Nem de longe lembrava a mulher deslumbrante e sexy que havia passado a noite comigo, mas isso não significava que estivesse menos atraente aos meus olhos. Mesmo toda largada, como estava, ela ainda conseguia ser a coisa mais linda do mundo.
Uma coisa mais linda que estava puta comigo? Sim, mas ainda assim, linda!
— A Caterine e a Juliana me convidaram. Eu... Eu... Só vim pegar água — gaguejei.
Ela suspirou e passou as mãos no rosto.
— Claro... Claro! Eu... Vem, eu pego a água pra você. — falou já mais mansa e notei que estava tentando aliviar o tom.
Caminhou até o armário e pegou um copo. Depois foi até o bebedouro e o encheu. Fiquei observando enquanto se movimentava. Linda demais! Mesmo com cara de brava. Aquele menino é filho dela? Como pode? Se ela tem 24 anos, o teve na adolescência...
Muitas questões!
— Toma! — entregou-me o copo.
— Obrigada! — agradeci e bebi.
Ela me observava, tinha os braços cruzados. Tentei, mas não consegui decifrar o que pensava.
— Casa Targaryen. Lute como uma garota! — puxei assunto, fazendo referência ao símbolo na camiseta da série.
— E nunca confie nos homens. — Ela completou e sorri.
Juliana e Caterine entraram na cozinha naquele instante.
— Ah, é. Esqueci que se conheceram ontem. Já ia apresentar. — Juliana falou ao abraçar a irmã de lado e beijá-la no rosto.
Era muito impressionante a semelhança entre as duas. Mariana era apenas um pouco mais baixa que que a irmã e tinha traços mais jovens, mas o biotipo era o mesmo.
— E então, se divertiram depois que eu saí? — Caterine perguntou empolgada, e notei que Mari corou, depois saiu de perto.
Sentou-se na frente do laptop novamente e começou a mexer nele.
— Sim, nos divertimos muito. Mari foi uma ótima companhia — falei e recebi um olhar cortante em minha direção.
Juliana semicerrou os olhos, analisando a irmã, mas logo Aurora entrou e o assunto mudou.
— Minha filha, dê um tempo desse trabalho. Você não descansa nunca, Mariana. Cuide! Limpe logo essa mesa que daqui a pouco vou servir o almoço.
— Caramba, parece que tá todo mundo contra mim nessa família. — Mari reclamou ao baixar a tela do laptop e começou a juntar os livros. Arrumou tudo e pôs no colo. — Vou tomar um banho, já desço — avisou e a vi sair meio enrolada com aquele monte de coisa. Desequilibrou-se e um dos livros só não caiu porque ajudei a segurar. — Obrigada! — falou meio para dentro.
— Me dá uma parte, eu te ajudo a levar.
— Não. — Foi ríspida e me afastei, dando um passo para trás. Todas ali observavam a cena. — Digo, não precisa. Eu consigo. Obrigada! — Tentou amenizar e subiu as escadas.
Apenas acenei com a cabeça. Ela estava tensa demais e me senti culpada por aquilo, achando que tinha a ver com a minha presença.
— Paola, peço desculpas pelos modos da minha filha. — Aurora falou. — Ela tem andado muito estressada com esse trabalho. Está prestes a se formar e a ansiedade tá dominando, sabe? Não é grosseira assim, na verdade, Mariana é um doce de menina
— Isso é fato. — Caterine concordou. — A estressada da família é essa aqui, ó... — falou e apontou para Juliana, que a olhou com cara de indignação.
— Que calúnia!
— Calúnia, nada. Todo mundo sabe. A Mariana é a divertida, e você, a chata. — Minha amiga completou e levou um cutucão enquanto nós todas ríamos.
Um homem franzino, aparentando uns 50 anos, pele bronzeada, usando boné, bermuda e camiseta regata, apareceu na sala com as nossas malas. Nos cumprimentou rapidamente e subiu. Minutos depois, ele e uma mulher baixinha, acho que da mesma idade que ele, loura, de pele branca muito avermelhada e olhos azuis, desceram.
— Dona Aurora, o quarto já tá nos trinques, viu?
— Obrigada, Branquinha. Vamos arrumar a mesa pra servir o almoço agora?
— Vamos!
Eu agradeci aos dois, e eles saíram junto com Aurora, na direção dos fundos da casa.
— Vem, Paola, vou mostrar teu quarto. — Caterine chamou enquanto Juliana digitava algo no celular. — Docinho, vou tomar um banho pra almoçar.
— Tá bom, Florzinha! Vou esperar aqui, tá? Tenho que fazer uma ligação.
Troquei um sorriso com minha amiga ao observar aquela cena fofa e subimos. O quarto era maravilhoso e tinha uma varanda com uma vista incrível. Tomei um banho e me arrumei para o almoço. Quando desci, Mariana ajudava Aurora e Branquinha a arrumar a mesa enquanto falavam do Enzo. Calaram-se ao me ver.
— Paola, já conheceu meu neto? — Aurora perguntou e o menino me olhou. Sorri para ele e fui me aproximando. — Enzo, cumprimente a Paola, filho. Ela é amiga da sua tia Caterine e veio passar o fim de semana com a gente.
— Oi, Enzo! E aí, beleza? — Nos cumprimentamos com um soquinho nas mãos, depois mexi nos cabelos deles. — Você é muito lindão, sabia? — Ele me olhava com ar de encantamento.
— Obrigado! Você é modelo, tia?
Franzi o cenho. Será que Caterine havia comentado algo?
— Já fui, mas, por que a pergunta?
— Porque eu acho que você é a mulher mais bonita que eu já vi na vida... Depois da minha mãe, claro!
Todas rimos e ele ficou corado. Olhei para Mariana e ela ria de lado, tentando disfarçar o divertimento.
— Obrigada por me deixar em terceiro, tá? — Juliana retrucou, falsamente chateada. — É assim mesmo. A gente ama, cuida, trata como filho e depois é colocada nessa posição.
— Tia Juli, não esquece da minha avó. Você fica em quarto. Mas pensa pelo lado bom, ainda está no meu top five! — Ele provocou e Juliana veio em sua direção.
— Ah, mas eu te pego, moleque! Agora vou te mostrar meu top five de melhores pontos pra fazer cócegas.
— Não! — Ele gritou e se levantou. Mencionou correr, mas Juliana o agarrou antes e começou a fazer cócegas.
Me diverti demais com aquele momento. Eu sempre fui do mundo, de todo mundo e de ninguém ao mesmo tempo, mas amava demais aquele clima familiar. Era minha base, meu ponto de retorno. Algo que eu valorizava muito.
— Que cheiro bom! — falei ao sentir o aroma da comida e ouvir meu estômago se mexer.
— Você vai comer a melhor peixada cearense do universo, Paola. Ia até te avisar pra pôr um short de elástico, porque o botão desse aí vai estourar. Não vai conseguir parar de comer. — Juliana avisou ao se sentar à mesa, depois da farra com o Enzo.
Aurora, Mariana e eu sentamos também. Minha sogra em uma cabeceira, Enzo estava na outra. Caterine ficou ao lado da esposa e Mariana ao meu. Ficamos tão perto que pude sentir o cheiro dos cabelos recém lavados, ainda úmidos, dela.
Almoçamos enquanto conversávamos trivialidades. A comida realmente estava maravilhosa. Aurora adorava falar das filhas e eu estava amando aquilo nela, pois acabei descobrindo algumas coisas sobre Mariana. Uma delas, me surpreendeu. Ela é espírita e voluntária em um projeto social que acolhe e apoia moradores em situação de rua.
— A Juliana não tem tempo, não para nunca. Mas ajuda sempre com doações. Essas meninas são bênçãos de Deus na minha vida, Paola. Meu maior orgulho! — falou e notei as irmãs constrangidas.
— Mãe! — Mariana repreendeu, corada, e achei a coisa mais linda.
— A Paola faz trabalho voluntário também, Aurora. — Caterine informou e todas as outras pessoas na mesa me encararam, curiosas.
— Sério? — Foi Mariana quem perguntou e quase me ofendi com a cara de incrédula que ela fez, mas relevei quando a vi suavizar o olhar.
— É! Trabalho na ala geriátrica do Instituto Anjos de Resgate, no Rio.
— Ah, eu conheço esse Instituto. — Aurora disse. — Uma grande amiga minha trabalha lá. Benta. Conhece?
— Claro! É uma mulher incrível. Sou fã número um da dona Benta. Que mundo pequeno, né?
O almoço seguiu naquele clima ameno. Mariana quase não falou, mas eu já estava me acostumando com a apatia dela e deixei para lá, pois Juliana, Caterine, Aurora e até o Enzo estavam me tratando muito bem.
Após a sobremesa, eu senti como se tivesse engolido um boi e desejei realmente estar vestindo shorts de elástico.
— Vamos pegar um sol na piscina? — Caterine sugeriu e todos concordaram, subindo em seguida para pôr roupas de banho.
Ainda procurei um maiô, mas só tinha posto biquíni na mala, então as marcas que Mari havia deixado em mim teriam que ficar à vista.
Terminei de me vestir, peguei meu celular, toalha e protetor solar e saí do quarto para descer, mas esbarrei com Mariana assim que saí do quarto.
— Desculpa! — pedi e a vi me olhar assustada.
— Aonde você vai assim? — perguntou ao fitar a marca de chupão no meu colo. Depois olhou para o arranhão no meu ombro.
— Assim como? — Fui cínica, sabia que ela se referia às marcas. Eu usava apenas um shortinho e a parte de cima do biquíni.
— Espera. — pediu e entrou em um quarto. Fiquei parada do lado de fora e segundos depois ela saiu com uma camisa de proteção UV. — Toma, põe isso.
— Quê? — questionei ao receber a peça de suas mãos.
— Você não pode descer assim, Paola. Tá toda marcada.
— Você devia ter se preocupado com isso antes de deixar as marcas, né? Agora é meio tarde. — Fui ríspida e entreguei a camisa de volta para ela, que não recebeu.
Ela meneou a cabeça e suspirou.
— Paola, por favor. Minha mãe tá lá, meu filho tá lá...
Minha vez de respirar fundo. Ela tinha razão.
— Ok! — concordei e vesti a blusa. — Mas é por causa deles, tá? — falei e fui saindo. — Você fez isso, deveria arcar com as consequências.
— Por que você tá chateada comigo? — indagou e me virei para encará-la.
— Eu não tô chateada, só tô sendo recíproca — falei séria. — Agora vou descer antes que você me obrigue a usar uma burca — completei e saí.
Cheguei à piscina e recebi uma cerveja das mãos da Juliana, que sentou em uma cadeira embaixo de um guarda-sol, em seguida. Caterine passava protetor enquanto Aurora armava uma rede no deck. Tive que inventar uma desculpa para estar usando aquela camiseta. Menti que andava meio intolerante ao sol, logo eu, a criatura mais carioca de todo o Rio de Janeiro.
Enzo se aproximou com duas pistolas de água.
— Tia Juli, brinca comigo?
— Daqui a pouco, amorzinho. A tia tem que fazer só mais uma ligação de trabalho, mas já volto e a gente brinca, tá? — falou e pediu licença, saindo em seguida.
— Tá bom!
A decepção nos olhinhos dele me comoveu e não resisti.
— Será que eu posso brincar com você? — perguntei e vi seu rosto se iluminar em um sorriso lindo. Era a cara da mãe. O DNA daquela família era muito forte. — Mas já aviso que sou muito boa de mira e não vou aliviar pro teu lado, tá? Se prepara.
— Eu nasci preparado, tia! — garantiu cheio de si e não contive uma risada. Enquanto isso, ele acertou meu ombro e fingi estar passando mal, mas corri atrás quando saiu em disparada.
Fizemos uma farra com as pistolas e confesso que não sei quem se divertiu mais: ele ou eu. Mariana chegou e deitou em uma cadeira com o laptop aberto sobre os joelhos. Parecia totalmente alheia ao que acontecia ao redor, completamente concentrada no trabalho.
Pedi um tempo ao Enzo, pois estava exausta. Peguei outra cerveja e entrei na piscina para fazer companhia à Caterine. Ficamos conversando bobagem e vi quando o menino se aproximou da mãe, apontando a pistola de água para o laptop. Parei de falar para observá-los e não pude deixar de rir.
— Você tem exatamente cinco segundos pra largar esse computador e pular comigo na piscina, ou vou destruí-lo. — Ele tentou engrossar a voz.
Achei que Mari fosse brigar com o garoto, mas depois de semicerrar os olhos e olhá-lo, ela sorriu, fechou o laptop e o pôs de lado. Depois se levantou rapidamente, agarrou Enzo e se jogou com ele na piscina, fazendo a água esparramar para todo lado. Passaram um tempo se divertindo ali e aquela fora a primeira vez que a vi relaxada. Só então a imagem que Aurora e Caterine me passaram dela começou a fazer sentido.
A tarde foi maravilhosa. Não troquei nem duas frases com Mari, mas desencanei disso quando comecei a focar apenas em me divertir com as minhas amigas.
À noite, Aurora e Enzo se recolheram cedo, logo após o jantar. Estavam exaustos. Aquela mulher não parava nunca de trabalhar, mesmo com empregados, e eu achava aquilo o máximo, pois tinha um exemplar daquele na família.
Ficamos no deck. Juliana abriu um vinho, mas apenas nós duas tomamos. Resolvemos jogar UNO. Mari era competitiva e ganhava quase todas. Ficou brava quando comecei a insinuar que estava roubando e ri da cara que ela fez.
As pombinhas logo pediram licença, acho que tinham muitas coisas para botarem em dia na cama e não seria eu quem as atrapalharia.
Preparei-me para ficar sozinha ali quando vi Mari recolher as cartas e se levantar. Mas então Juliana sugeriu algo que mudou a minha noite:
— Mari, tá cedo ainda. Por que não faz companhia pra Paola, hein?
— Ah, não, Juliana, não precisa se preocupar comigo. Eu tô bem, vou só ficar aqui mais um tempo. Daqui a pouco subo também. — falei antes de ouvir alguma resposta que me constrangesse na frente das minhas amigas, mas me surpreendi com o que veio a seguir.
— Tudo bem, eu fico! Tô sem sono e cansada demais pra pegar naquele computador.
Não consegui conter o meu sorriso. Não devia ter demonstrado, mas estava feliz demais em saber que ficaríamos a sós de novo, mesmo certa de que não rolaria nada. Ou rolaria?
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