Tudo pode mudar
Conto especial para a KathyTorrente10! ❤❤
Roma, Itália, 2018
E após 10 anos os meus olhos encontraram os dele, o meu coração disparou e eu sabia que era ele mesmo depois de tanto tempo, mesmo sem ouvir a voz dele de novo até o presente momento. Era ele.
Em um piscar de olhos lembrei-me da última vez em que falei com ele e a vontade de chorar tomou conta de todo o meu ser, mas eu me controlei porque não podia me rebaixar pela segunda vez na frente dele.
Eu tinha 13 anos e era apaixonada por ele há um ano, mas tinha vergonha de dizer o que eu sentia. Sempre que o via suspirava.
Estava na hora do recreio e eu o admirava de longe. "Até quando vai suspirar? Fala o que você sente por ele, amiga!" Kaylane disse já me empurrando em direção a ele.
"Oi, Rafaello!" Olhei para baixo, estava envergonhada por ter sido empurrada pela minha amiga, principalmente porque sabia que ele tinha visto.
"Oi." Ele riu devido a situação vexaminosa em que me encontrava. O silêncio tomou conta do ambiente, parece que todas as palavras que eu sabia simplesmente tinham sumido da minha mente.
"Bom, eu vou lá jogar bola." Rafaello apontou na direção dos amigos.
Olhei para a Kaylane e ela me deu forças para fazer o que eu mais me arrependo de ter feito até hoje.
Coloquei a minha mão gelada de nervosismo no braço dele e disse: "Rafaello, espera!"
Ele virou e olhou para mim: "O que foi?" Ele sorriu. Meu coração disparou.
Respirei fundo. "Eu te amo, sempre te amei! Namora comigo?" Sorri. Me senti livre por finalmente ter exposto os meus sentimentos para ele.
Ele começou a rir, apontou na minha direção e disse: "Namorar com você? Com você, Kathy? Já se olhou no espelho? Ah, é! Você não pode senão o espelho quebra tamanha é a sua feiúra! Você é ridícula! É gorda! Ninguém nunca vai ficar com você."
Sentei no chão e me senti como se estivesse com 10 anos de tanto que chorei. Kaylane veio ao meu socorro e me abraçou. Me senti um pouco melhor por estar nos braços dela.
Depois desse dia deixei de conversar com ele, mas não de amá-lo e por isso comecei a descontar na comida e fiquei mais gorda do que já era.
Desejei que ele sumisse por dois meses, até que finalmente ele sumiu. Os pais dele sofreram um acidente de avião e como ele não tinha mais nenhum parente vivo, foi para um orfanato e teve que sair do colégio que estudávamos.
Nunca disse isso para ninguém, mas eu ainda o amo e me culpo pelo o que ocorreu com os pais dele. Dizem que as palavras tem força e eu acho que elas têm mesmo.
"Amiga, aconteceu algo?" Karoline estalou os dedos na minha frente.
"Rafaello?" Tive que perguntar para ver se era ele mesmo ou se estava ficando louca. Meus olhos marejaram.
"Vocês se conhecem?" Karoline me perguntou surpresa.
"Acho que ele não se lembra de mim, nós não éramos próximos." Sorri um pouco sem graça.
"Kathy?" Ele perguntou. Meu coração disparou ao simplesmente ouvir a voz dele.
"Você se lembra de mim?" Tentei conter as emoções, mas acho que falhei miseravelmente.
"Claro! Você está bem?" Ele sorriu. Que sorriso lindo!
"Estou sim e você?" Perguntei.
"Estou bem também." Um garçom passou perto de mim e eu peguei um pastel. Quando eu estou nervosa, eu como descontroladamente.
"Bem, eu vou deixar vocês à vontade e vou falar com os outros convidados." Karoline disse para nós dois e saiu. Ela estava linda com um vestido preto coladinho no corpo. Estava comemorando 21 anos.
Tinha tantas coisas para dizer, mas não sabia por onde começar e nem se deveria começar. Ele deve ter sido adotado por uma família bem rica, a julgar pelo modo em que estava vestido.
Adoraria dizer que a minha vida é igual a um clichê de um filme ou de um livro, sabe? A mulher gorda que não é notada pelo homem que ama reaparece alguns anos depois bem magra e belíssima, fazendo com que ele a note e se apaixone completamente por ela. Eu continuo a mesma gorda, feia e sem graça de sempre.
"É, vejo que você não mudou nada!" Ele riu e apontou para o pastel que estava na minha mão.
"Nós vamos para festa para comer e não para passar fome." Senti como se uma faca estivesse entrado no meu peito, mas não podia deixar ele falar assim comigo.
"Calma! Estava fazendo apenas uma brincadeira!" Ele riu e eu acabei por sorrir. Como resistir a um sorriso dele?
"Eu acho que vou dar uma volta." Disse, após perceber o papelão que estava passando.
Ele pegou a minha mão. "Kathy, espera! Foi só uma brincadeira, não precisa ficar assim..." Minha vontade era de me jogar nos braços dele, mas não podia.
"Você se acha, sempre se achou! Eu estou ótima, só quero dar uma volta. O mundo não gira ao seu redor." Disse.
"Não sei o motivo de estar me tratando assim. Eu fiquei feliz de ter te reencontrado, queria conversar com você."
"Você não sabe mesmo?" Deixei as lágrimas rolarem livremente pelo meu rosto.
"Não chora. Você se tornou uma mulher linda, sabia? Mais do que sempre foi." Ele secou as minhas lágrimas. Meu corpo ficou arrepiado com o simples toque dele.
"Eu sempre fui linda? Você se lembra da nossa última conversa? É provável que tenha se esquecido porque aquilo certamente não significou nada para você."
"Eu lembro do que eu te disse e eu menti e essa é uma das duas coisas que eu me arrependi de não ter feito. Quer saber qual foi a segunda? Não ter ido atrás de você para te pedir desculpas e para te dizer o que realmente aconteceu."
Respirei fundo e perguntei: "O que aconteceu?"
"A sociedade tem certos padrões de beleza e você não se enquadra neles. Os meus amigos nunca iriam aceitar o meu namoro com você. De garoto popular eu viraria um garoto sem amigos e todos iriam rir de mim por eu estar com você. Por mais que eu te amasse, eu pensava que não iria suportar o que iria ocorrer. O que eu não sabia era o que eu teria que suportar ao te ver no chão chorando! Como eu queria te abraçar, mas não podia. O que eu não sabia é que teria que suportar te ver todos os dias triste e o que na época eu não sabia era que o medo que eu tinha de ficar sozinho, sem amigos era sem razão porque se eles fossem os meus amigos de verdade, me apoiariam em qualquer decisão que eu tomasse, ou seja eu sempre estive sozinho naquele colégio. Eu te amo, eu sempre te amei. Eu era apenas um menino idiota, mas agora eu sou um homem e quero ser seu para sempre. Me desculpa?" Sem pensar muito, me joguei no colo dele, esquecendo completamente do meu peso, o fazendo desequilibrar e cair no chão. Já era o meu momento beijo de cinema, ele virou comédia.
"Aí" Ele reclamou.
"Desculpa!" Sorri sem graça.
"Até que esse tombo veio a calhar." Levantei uma sobrancelha porque não havia entendido o que ele de fato quis dizer com aquilo, então ele colocou a mão na minha nuca e eu fui surpreendida com um beijo dele. Chorei de felicidades. Ouvi as pessoas gritando e batendo palmas.
Quando o beijo terminou o ouvi dizer: "Amo você, Kathy!"
"Também te amo, Rafaello! Sempre te amarei!" Sorri.
Quando quebrei o contato visual com ele, pude perceber que a festa inteira estava ao meu e ao redor dele. Estavam todos me olhando. Fiquei envergonhada porque não estou acostumada a ser o centro das atenções. Levantei o mais de pressa que eu pude e ele se levantou também.
Todos voltaram a dançar. Fiquei olhando para ele, mas não sabia o que dizer. Parecia um sonho!
"Kathy, me passa o seu número? Quero te ver de novo." Ele pediu e me entregou o celular. Coloquei o meu número na agenda dele.
Ele sorriu, me deu um toque e disse: "Salva o meu número." Fiquei com vergonha de pegar o meu celular porque o dele era tão chique! Peguei um pouco sem jeito e adicionei o número dele na agenda.
"Como você conheceu a Karoline?" Perguntei.
"Eu a conheci através do Lorenzo que é primo dela." Respondi.
"Entendi. Não conheço ele." Disse. Rafaello pegou o celular do bolso e respondeu uma mensagem.
"Os seus pais adotivos são legais?" Perguntei.
"Eu nunca fui adotado." Me surpreendi com a resposta dele e preferi não continuar com essa conversa. Não queria ser invasiva.
Ele pegou o celular, respondeu outra mensagem e disse: "Vou ter que sair agora. Surgiu uma emergência de trabalho. Vou te ligar depois para a gente se encontrar." Ele me parecia tenso.
"Tudo bem. Você é médico?" Perguntei.
"Estou mais para bombeiro." Ele riu. Corei.
"Seu bobo!" Sorri. Ele me deu um beijo. A música da festa parou. Rafaello interrompeu o beijo para ver o que estava acontecendo.
Uns homens armados entraram na festa e o Rafaello foi na direção deles.
"Rafaello, não vai!" Gritei. Fiquei em pânico.
"Fica calma. Rafaello vai dar um jeito, pelo menos eu espero." Ao ouvir a voz da Karoline, levei um susto porque a minha atenção estava toda voltada para o Rafaello.
"Não quis te assustar!" Karoline sorriu.
"Tudo bem, eu estava distraída. Como ele pode dar um jeito? Os homens estão armados! Rafaello é o que? Policial?"
"É melhor você perguntar para ele." Revirei os olhos em protesto e voltei a olhar aquela cena.
Outro homem muito bonito apareceu. "Lorenzo!" Karoline gritou e começou a chorar ao ver que os homens estavam apontando a arma para ele.
"Vamos resolver isso lá em baixo." Lorenzo disse.
"Também acho melhor." Rafaello disse.
"Por que? Achei que fosse melhor convidar as suas namoradinhas para a festa!" O homem apontou a arma para mim e para a Karoline. Dei um passo para trás por instinto.
"Karoline, me diz no que ele trabalha." Perguntei baixinho. Estava tensa, mas Karoline não me respondeu.
"Nem pense em colocá-las no meio disso! Vamos descer para conversar." Rafaello disse, se colocando na frente da arma.
"Parece que gosta da gordinha mesmo!" Fabrício riu.
"Vamos sair daqui." Rafaello ignorou o que ele falou sobre mim.
"Não tem conversa! Os Ferrandini são alvos meus! Vocês não vão atrapalhar." Fabrício disse.
"Por que nós não nos unimos e dividimos os lucros nessa missão?" Rafaello perguntou.
"Ele é tipo um agente secreto?" Perguntei para a Karoline e ela riu.
"Não quero dividir o lucro, eu o quero só para mim!" Fabrício disse dando um tiro para o alto.
Um homem deu um tiro no cérebro do Fabrício e ele morreu na hora. "Riccardo, obrigado." Rafaello disse. Gritei ao ver a cena, assim como todos os convidados, menos Karoline que sorriu como se estivesse aliviada.
"Matamos a metade dos homens dele que pensaram que nos renderam e viemos aqui para ajudar a matar os outros. Os Ferrandini são nossos!" Riccardo sorriu.
"Entrem nos outros cômodos e tranquem as portas! Saiam da sala." Rafaello gritou. Todos os obedeceram prontamente, mas eu não saí do lugar. Queria entender o que estava acontecendo.
"Vamos, depois ele te explica direito." Karoline pegou na minha mão.
"Por que você não correu e não gritou como todos os outros? Não está com medo?" Perguntei.
"Já estou acostumada por causa do meu primo." Ela sorriu.
"Eles trabalham juntos?" Perguntei.
"Sim. Agora vamos!" Dei uma última olhada em direção ao Rafaello e saí.
"Ele vai ficar bem? Perguntei para a Karoline assim que entramos no quarto dela.
"Vai sim. Ele sempre fica bem." Ela sorriu. Isso me acalmou um pouco.
Logo deixamos de escutar o tiroteio. "É uma mensagem do Lorenzo." Karoline sorriu ao ver que ele mandou uma mensagem.
Ela abriu o aplicativo e leu. "Eles estão limpando o serviço. Temos que ficar aqui mais um tempo." Karoline disse para todos que estavam no quarto.
"O que está havendo?" Era o que todos estavam perguntando.
"Um problema que já foi solucionado." Era o que ela mais respondia e todos já estavam irritados com as respostas evasivas dela.
"Amiga, o que significa - limpar o serviço - ?" Perguntei Já imaginando que ela não iria responder, ou que iria enrolar.
"Retirando os corpos, lavando o chão da sala, varrendo os objetos que quebraram, lavando o chão do corredor para que ninguém perceba o que está acontecendo aqui. Vai demorar. Que tal uma música?" Karoline sugeriu. Reviramos os olhos em protesto. Estávamos com medo e irritados por ela não explicar o que estava havendo.
Comigo era mais do que isso: não conseguia entender a calma dela, estava preocupada com o Rafaello e querendo saber no que ele está metido. Será que ele é um bandido? Deus queira que não!
Uma hora depois que mais pareciam 10 horas de tanto que os segundos se arrastaram, Lorenzo mandou outra mensagem para o Whatsapp dela.
"Lorenzo está dizendo que está tudo limpo. Ou seja, podemos sair. Mas eu vou primeiro para checar, se eu gritar, vocês continuem aí." Todos assentiram com a cabeça menos eu.
"Não vou deixar você fazer isso sozinha! Vou com você! Acha que alguém pode estar te enviando essas mensagens sem ser o seu primo?"
"Nesse mundo deles tudo é possível."
"Que mundo?" Perguntei.
"Sabe usar?" Ela me ignorou e colocou uma arma na minha mão.
"Não, nunca usei! Isso é mesmo necessário?" Perguntei temerosa.
"Talvez seja. Toma isso, então." Ela me deu uma faca e pegou a arma da minha mão.
Karoline abriu a porta devagarzinho, apontando a arma para todas as posições possíveis. Me sinto em um filme de guerra.
Chegamos na sala e os sobreviventes estavam sentados no sofá. A sala estava perfeita, nem parecia que teve uma guerra aqui e nem uma festa.
"Essa é a minha priminha!" Lorenzo sorriu e abraçou com forte a Karoline que logo tratou de retribuir o abraço. Sorri para a cena.
Rafaello veio em minha direção, pegou a faca da minha mão e disse: "Não sabia que era corajosa! Estou gostando cada vez mais de você." Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto.
"O que houve?" Ele perguntou completamente surpreso com a minha atitude.
"Levando fora de uma gorda? Só rindo mesmo!" Um homem disse.
"Paolo, ela sendo gorda, magra, branca ou negra continua sendo mulher e qualquer homem já levou um fora antes, o que eu não entendo é por que você está me dando fora?" Rafaello começou falando olhando para o Paolo e terminou fazendo uma pergunta para mim.
"Eu nunca levei um fora porque sou lindo e rico. Você é rico, só uma mulher sem noção para fazer isso." Paolo disse.
"Nem todas as mulheres são interesseiras, Paolo."
"Você pode me responder a pergunta?" Rafaello perguntou para mim.
"Ainda tem coragem de me perguntar? Olha o que você acabou de fazer! Matou pessoas bem aqui! Eu estou com medo." Chorei.
"Medo de mim? Ou medo de eu ser o próximo? Vida de mafioso não é fácil, mas eu estou no bando há 9 anos. Sei me virar muito bem." Rafaello sorriu.
"Você é da máfia?" Sentei no sofá devido ao impacto que esta notícia me trouxe.
"Está vendo? Ela não sabia que você era da máfia! Está explicado o fora que ela te deu, eu se fosse você não ficava mais com ela para ela deixar de ser otária." Paolo disse. Rafaello revirou os olhos em protesto.
"Para de se meter na briga dos dois." Riccardo disse.
"Sou. Você estava pensando que eu fazia o que? Eu achei que a Karoline estivesse te contado." Ele disse para mim.
"Eu não sou dedo duro! Quem deveria contar isso para ela era você, mas nunca pensei que faria dessa forma. Em falar nisso, esqueci de mandar as pessoas saírem." Karoline foi em direção aos outros cômodos para dizer que tudo já havia acabado para os demais convidados que mesmo sem ouvirem o tal grito, não saíram do local.
"Eu pensava que era um bandido, o que já seria difícil de suportar. Não imaginei que fosse um mafioso. Eu sempre quis você, sabe? Ficamos 10 anos sem nos vermos, mas eu nunca deixei de te amar. Mas você sendo da máfia é um peso muito grande para mim, não sei se conseguirei ficar com alguém que trabalha na máfia." Disse entre lágrimas.
Os convidados começaram a sair da casa dela. Todos eles estavam apavorados e quase atropelando uns aos outros para saírem de lá.
"Sem pânico, pessoal! Está tudo bem agora." Karoline gritava, mas não surtiu efeito algum.
"Eu vou proteger você! Prometo!" Rafaello segurou nas minhas mãos.
"E quem vai te proteger? Quem vai proteger as vítimas de você? Quem? Eu preciso ir, não aguento mais ficar nem mais um minuto aqui." Levantei do sofá.
"Kathy, fica! Vamos conversar!" Os olhos do Rafaello estavam marejados.
"Não." Falei com um tom de voz praticamente inaudível.
"Deixa ela ir, Rafaello. A Kathy não está em condições alguma de conversar." Karoline disse.
Saí de lá aos prantos, peguei um táxi e fui para minha casa. Tomei um banho e tentei dormir. Já eram três da manhã e eu ainda não havia dormido, mas como não consegui, liguei para a minha amiga de infância, a Kaylane, e contei que havia reencontrado com o Rafaello. Só não contei que ele é membro da máfia.
Conversar com ela foi bom porque de fato eu precisava conversar com alguém, mas estava insegura do que deveria fazer a respeito. Fiquei olhando para o número dele e finalmente dormi.
Um mês se passou e ele não me ligou. Se antes já não tirava ele da cabeça, agora que o reencontrei que realmente não penso em outra coisa.
Por vezes, agradeço a Deus por ele ter sumido da minha vida de novo porque Rafaello é sinônimo de confusão, mas por outro lado, ainda sonho em reencontrá-lo e viver a minha vida toda ao lado dele.
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Boa noite, meus amores! ❤
A música da mídia é a Million reasons da cantora Lady Gaga.
Mariana Xavier, avatar da Kathy.
Tom Hardy, avatar do Rafaello.
Dedicado à:
LubsSantana12 (Kaylane.)
Beijos 😗
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