Parte II
― PROCURANDO POR ALGUÉM especial, querida?
Helena se assustou ao ouvir a voz de barítono de seu pai atrás de si.
― Não, papai, não procuro por ninguém ― respondeu ela, com a mão no peito.
― Perdoe-me, eu não quis assustá-la.
― Eu não vi o senhor se aproximando. Estava... distraída.
Theodoro estendeu o braço para a filha e a conduziu até a pista de dança. Quando eles começaram a rodopiar, ele perguntou:
― Confesso que estou curioso... O que foi capaz de distrair minha filha?
― Nada, papai.
― Tem certeza, Helena?
Ela deu um suspiro resignado. Não tinha segredos com seu pai.
― Alguma vez o senhor teve um sonho tão real a ponto de fazê-lo pensar que não fosse, não sei, talvez um simples... devaneio?
― Não que eu saiba, meu bem. Por quê?
Helena ruborizou.
― Não precisa me contar todos os detalhes, se não quiser.
― Foi tão real, papai. Era como se não estivesse sonhando.
Theodoro sorriu.
― Senhor, ele chegou ― avisou o mordomo, interrompendo a dança.
― Obrigado, Umberto.
― Quem chegou, papai? ― perguntou Helena, sentindo uma certa inquietação dentro de si.
― O filho mais velho do senhor Valdez ― respondeu Theodoro. ― Ele chegou de Coimbra há quinze dias. Estava estudando Direito na universidade de lá.
― Ah, não, papai ― ela gemeu ―, mais um pretendente?
― Não, querida. Já entendi que quem tem que escolher é você. Ele é só mais um advogado que está interessado em trabalhar no escritório.
Ela assentiu.
― Ah! Aqui está ele! ― falou Theodoro. ― Helena, querida, quero lhe apresentar Daniel Valdez. Daniel, esta é minha filha, Helena.
Ela não podia acreditar no que seus olhos viam! Era ele, o seu cavalheiro! Bem na sua frente. Vivo!
Daniel usava um fraque negro como a noite; uma gravata preta estava amarrada no colarinho de sua camisa branca; uma rosa-vermelha estava presa à lapela e, ao contrário dos outros cavalheiros presentes, ele não usava luvas.
― É um prazer conhecê-la, senhorita Rodrigues ― disse Daniel, pegando sua mão e beijando o interior de seu pulso, tal como em seu sonho.
― O prazer é todo meu, senhor Valdez. ― Ela sorriu.
― Daniel. Por favor, me chame de Daniel.
― Como quiser, Daniel.
Ele sorriu torto.
Theodoro estranhou os olhares que ambos trocavam, já que davam a impressão de já se conhecerem.
― A senhorita...?
― Helena. Por favor, me chame de Helena ― falou ela, ruborizando.
― Me daria à honra de uma dança, Helena?
― Adoraria! ― Ela sorriu radiante.
Daniel estendeu o braço para ela e a guiou para o centro da pista de dança. Assim que ele a tomou nos braços depois de um rodopio, Helena perguntou:
― Quem é Natanael?
― Meu irmão caçula.
― E Bartolomeu?
― Meu primo. Morei com ele no tempo em que estive estudando em Coimbra.
Depois de alguns minutos de silêncio, Daniel falou com a voz rouca:
― Pensei que nunca mais a veria.
― E eu pensei que estivesse morto.
― Bem, acho que estávamos equivocados.
💘💘💘
HELENA PASSOU O resto da noite dançando com Daniel. A sensação estranha que havia tomado conta de seu coração naquela manhã, já não existia mais, no lugar dela havia somente aquele sentimento forte e inexplicável que sentira durante o sonho, só que desta vez, ele vinha misturado com medo. Sim, ela estava com medo, mas não do que estava sentindo, e sim de ver esse sentimento refletido nos olhos azuis de Daniel.
Quando o relógio soou as doze, os convidados se dirigiram até o jardim dos fundos para apreciar a queima dos fogos, enquanto a família Rodrigues se reunia ao redor da árvore-de-natal.
Um senhor estava sentado ao lado da árvore em uma enorme poltrona dourada com almofadas carmim. Ele usava botas negras como a noite; sua calça e seu casaco eram de um vermelho vivo com detalhes em branco; suas luvas eram brancas como a neve, assim como sua barba e seus cabelos, que acomodavam um gorro, também vermelho e branco; um óculos dourado estava acomodado na ponta de seu rechonchudo nariz e seus olhos lembravam o céu claro de um dia de verão. Um grande saco vermelho estava ao lado dele, no chão.
― Ho! Ho! Ho! ― disse o bom velhinho, com um sorriso largo. ― Boa noite!
Carlos Rodrigues — que tinha oito anos e estava de mãos dadas com a tia Eleonor — não se conteve de tanta alegria e se jogou nos braços do Papai Noel.
― Papai! Papai! Ele existe! ― falou o garoto, sorrindo.
Theodoro riu.
― Mas é claro que ele existe, meu filho! E quem ousou lhe dizer o contrário, irá se ver comigo!
― Theodoro! ― falou tia Eleonor, em tom de censura.
― Bem, bem, vamos aos presentes ― anunciou o bom velhinho. ― Seu presente, meu jovem, estará te esperando no estábulo, assim que o sol nascer.
Os olhos castanhos de Carlos — que eram iguais aos do pai — brilharam. Ele finalmente iria ter um cavalo.
― Para você, minha querida. ― Ele fez um gesto para que Helena se aproximasse e lhe entregou um embrulho vermelho. Era uma caixinha de música. Os entalhes estavam pintados de branco e vermelho; e no lugar da bailarina, um casal se beijava ao som da suave melodia. O cavalheiro usava uma camisa negra e a dama em seus braços, uma camisola bege. E para a surpresa de Helena, o casal aos beijos era Daniel e ela.
― E este é para você, rapaz. ― O Papai Noel entregou para Daniel uma pequena caixa de veludo negro.
― Obrigado ― agradeceu ele. A caixinha continha um anel dourado com um rubi, em formato de coração, incrustado. Era um anel de compromisso. O anel que ele daria à Helena no fim do baile.
💘💘💘
NO DIA DE Ano Novo, os sinos da Paróquia Tiradentes anunciavam que os noivos já tinham pronunciado os votos. Que eles eram um só ser a partir daquele instante. Dois corações unidos pelo amor que nasceu em um sonho.
Daniel se sentia o homem mais feliz do mundo. A mulher que roubara seu coração de uma maneira estranhamente inesperada era agora sua esposa.
Helena não se continha de tanta felicidade. Seu cavalheiro não estava morto e não era fruto de sua imaginação. Ele existia. E era seu marido.
E na frente de todas as pessoas presentes, ali, na escadaria da Igreja, Daniel a tomou nos braços e a beijou. Ele a beijou com ternura e com desejo.
E ambos perceberam naquele instante que, embora nunca chegassem a se encontrar, não poderiam ser felizes com mais ninguém, pois, naquela noite no labirinto, durante o beijo, o coração não pertencia mais a eles, e sim, a pessoa que estava em seus braços.
FIM
💘💘💘
E aí, o que acharam de OSDH? Muito ruim, péssimo, dá pro gasto... Não me deixem no vácuo rs
Ah! Acho que vou liberar o próximo conto antes do combinado, não consigo me aguentar haha
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro