Capítulo Cinco
Amora estava completamente envolvida naquele momento. Aquele beijo arrebatador fez seus medos desaparecerem - pelo menos por alguns segundos.
Embalada pelo desejo, ela abriu a porta e, entre um beijo e outro, puxou Tiago para dentro. A luz do sol já iluminava a sala, mas nada parecia tirar a atenção dos dois. Mesmo sendo ainda estranhos um para o outro, os corpos se moviam em total harmonia. Mas de repente, algo fez Amora despertar daquele transe. Ela abriu os olhos, e teve medo por não conhecer direito aquele deus grego que a acariciava com um desejo tangível. Ela o desejava também, mas parecia precoce demais levá-lo para dentro de sua casa.
- Tiago.. - sussurrou, tantando não se render aos carinhos - Espera um pouco.
- O que foi? - perguntou ele, arfando - Eu fiz alguma coisa errada?
- Não! - apressou-se em dizer - Você fez tudo muito certo, aliás, meu Deus! - concluiu suspirando, e os dois riram com o comentário - É que a gente nem se conhece. Eu sou uma boba mesmo; mas é que eu não consigo assim, é... - as palavras fugiram, e a moça começou a gaguejar.
- Tudo bem. - disse Tiago, segurando suavemente a mão de Amora nas suas - Eu entendo. Também acho que não precisamos apressar as coisas. Mas, seu beijo é tão bom que eu perdi o controle! - e acariciou o rosto dela, depositando um beijo em sua testa - Vai ser do jeito que você quiser!
- Mesmo? - respondeu ela, sentindo-se aliviada.
- Sim. Prometo respeitar seu tempo. - respondeu ele, abraçando-a pela cintura.
- Não... - ela balançou a cabeça em negativa - Quero saber se meu beijo é isso tudo mesmo que você falou!
Tiago soltou uma risada gostosa, que fez Amora corar novamente. Ele apiou sua testa na dela carinhosamente, e eles se olharam por algum tempo. Ele sentiu seu coração bater mais forte diante daqueles olhos cor de amora, que levavam consigo uma inocência rara hoje em dia. Por um momento ele pensou que realmente poderia ter encontrado a mulher certa, e seu coração acelerou ainda mais num misto de esperança e medo. Mas aqueles lábios suavemente rosados estavam próximos demais dos dele para que qualquer pensamento ofuscasse o desejo de beijá-los.
○○○
- Me conta tudooo! - intimou Fabi, ao ver um brilho especial nos olhos da patroa e amiga.
- Tudo o quê? - assusou-se. Como Fabi poderia saber de algo que tinha acontecido essa manhã?
- O jantar, né?! - disse Fabi em tom jocoso - Como é o tal namorado da sua mãe?
- Ah, isso! - respondeu Amora - Não tinha namorado nenhum.
- Como assim? Pra quê era o jantar então? - quis saber a moça, confusa.
- Pra mim. - disse Amora entre os dentes.
- Hein? Não entendi.
- O jantar era pra mim! - exclamou, cuspindo as palavras como se fossem algo amargo. - Mamãe quis ME arrumar um namorado, e não me apresentar o dela.
- Pera aí, ela chamou um cara pra você conhecer? - intuiu Fabi.
- Um não, uns! Ela deve ter chamado todos os homens solteiros da cidade. - contou Amora, sentindo aquela vergonha voltar. - Foi horrível!
- Meu Deus, amiga, me conta isso direito!
- Depois, Fabi! Agora precisamos colocar essa lanchonete pra funcionar, porque daqui a pouco nossos clientes famintos estarão chegando. Vai arrumando as mesas enquanto eu termino essa torta e já vou lá te ajudar!
- Tudo bem. Mas nem pense que vai escapar de me contar essa história, tintim por tintim, depois. - alertou Fábi enquanto saía da cozinha.
Amora vestiu seu avental lilás, e a touca da mesma cor, para terminar a torta que Fabi tinha começado. Calçou as luvas e começou a abrir a massa com o rolo, pensando no que tinha acontecido aquela manhã. O beijo de Tiago era um flash constante em sua mente, e aquele calor se aproximando novamente. Ela balançou a cabeça para afastar o pensamento, mas as borboletas dançavam em seu estômago exatamente como naquela manhã, e por um momento ela se arrependeu de não ter seguido adiante. Novamente balançou a cabeça pra afastar o pensamento, e o rubor das bochechas. Se continuasse ruborizando o tempo todo teriam que mudar seu nome de Amora para Maçã, ou quem sabe Tomate!
O fato é que ela estava um tanto confusa. Tiago realmente tinha consegui tocá-la, mas o medo ainda estava lá. "Gato escaldado tem medo até de água fria" dissera sua mãe uma vez, e estava certa. As decepções de Amora deixaram uma marca, e era difícil confiar de novo. Mas, aquela não era a melhor hora pra pensar nessas coisas. Ela tinha muito trabalho esperando.
- Amora? - chamou alguém parado à porta da cozinha. A voz que ela reconheceria em qualquer lugar, à qualquer distância. A voz que tanto acalentou suas noites, que contou tantas histórias, que entoou tantas canções de ninar. Era a voz de dona Sofia.
- Oi mamãe. - respondeu sem se virar.
- Será que você poderia ao menos olhar pra mim? - o tom altivo que Amora tanto conhece, de alguém que jamais dá o braço a torcer.
- Por que eu deveria? - perguntou enquanto se dirigia ao forno para colocar a torta.
- Porque eu sou sua mãe! - declarou dona Sofia, com rispidez - Você me deve respeito, mocinha!
- Respeito? - aquela ideia era absurda demais - Depois da humilhação que me fez passar ainda exige respeito?
- Mas você bem que soube se aproveitar da humilhação, não é mesmo?! - debochou - Zacarias que o diga!
- Como você ousa vir ao meu local de trabalho para me insultar? Já não basta o que fez, ainda quer mais? - Amora sentia seu coração doer diante da atitude de sua mãe, mas não estava disposta a chorar na frente dela.
- Você age como se fosse uma coitadinha. Sempre com esse ar de vítima das circunstâncias. Abre o olho, garota! Você enxe a boca pra dizer "meu local de trabalho"... - ironizou - isso aqui é um botequim. Em pensar que você poderia ser uma doutora, sentada atrás de uma mesa, numa sala com ar condicionado; mas está aqui esquentando o umbigo num fogão.
- Chega, mamãe! - Amora explodiu com as provocações - Chega! Não entendo porque você ainda vem aqui, mas quero que vá embora.
- Não pense que tenho prazer em vir aqui. Eu apenas precisava ver se você está bem depois da forma deselegante com a qual se retirou do jantar ontem. As pessoas ficaram comentando!
- As pessoas ficaram comentando o fato de você agir como se estivéssemos no século XVIII, tentando me arranjar um marido.
- Eu só estava tentando ajudar. Você não leva jeito com homens!
- Ok! Chega dessa conversa. - disse por fim - Eu estava muito bem antes de você aparecer. Agora que já acabou com o meu dia, pode ir embora, mamãe, missão cumprida!
- Eu desisto de você, viu! - disse, e saiu de forma dramática.
- É um favor que você me faz! - gritou Amora, para que ela ouvisse.
Mas, por mais forte que pudesse parecer, a moça estava em pedaços. Essas brigas eram exaustivas. E além disso, a tristeza por não ter apoio nem admiração por parte de sua mãe tornava ainda mais solitária a vida dela. A lanchonete era a única conquista dela, era tudo o que tinha. E naquele momento foi o que a manteve de pé. Precisava trabalhar!
Ela sabia que logo Fabi apareceria para dar apoio, e que em meio à tortas, cafés, e sanduíches, logo logo aquela briga seria passado. Há coisas piores para se lamentar!
●•●
Meu Deus do céu, quê que a gente faz com a dona Sofia, alguém pode me dizer? Com uma mãe dessas, quem precisa de inimigo?
Nossa protagonista passa por cada uma, viu?! Que vida difícil!
Mas, e esse Tiago hein?! O que dizer desse alguém que conheço tão pouco, mas já considero pacas? Será que ele é esse anjo mesmo? Vamos torcer!
Vamos torcer por Amora também, ela merece!
Bom, crianças, deixem suas estrelinhas, seu comentário, seu amor!
Beijos, e até a próxima!
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