c a p í t u l o - 8
Look what you made me do
I'm with somebody new
Ooh, baby, baby, I'm dancing with a stranger
Dancing with a stranger
— Dancing With a Stranger | Sam Smith & Normani
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O dia de gravações foi louco. Todos correndo de um lado para o outro, desesperados para que tudo saísse nos conformes. Quando cheguei em casa naquela noite, apenas capotei, exausta. Queria que tudo saísse como nos conformes, mas eu já fui dormir sabendo da desgraça que ia me esperar no dia seguinte: a terapia.
— Como você está se sentindo agora, depois de tudo? — meu terapeuta me questiona, apoiando o braço em sua perna cruzada enquanto segura um bloco de anotações.
— Eu me sinto da mesma forma que a última vez — falei, olhando seus olhos escuros enquanto ele me avaliava.
— Sabe, Isabela, como eu já te falei antes, o luto leva tempo e passa pelas mais diversas fases — Dr. Richard explicou, concentrado. — Durante os oito primeiros meses da morte de Nicholas, você passou pela maioria delas. Passou pela negação e pelo isolamento, pela fase da raiva e indignação com o falecido e com o mundo, pela fase da barganha e até pela fase da depressão, quando você tentou desistir. Mas está na hora de sair dessa última fase. Está na hora de aceitar.
— Isso foi há muito tempo — resmunguei, fazendo referência à minha tentativa.
— Então me conta, quais mudanças você alcançou desde que começamos a conversar nesse consultório — ele me questiona.
— Eu me senti mais leve quando pisei aqui. Acredito que essa é a minha oportunidade de recomeço — falei. — Doutor, eu quero a minha vida de volta, aquela em que eu tinha alegria e não me preocupava com um peso no peito. Que eu tinha tudo perfeitamente alinhado. Eu tinha uma casa, uma pessoa incrível ao meu lado, um cachorrinho e uma carreira perfeita.
— Mas nem tudo está no seu controle, Isabela — disse ele, suavemente. — Todas as coisas são mutáveis e provavelmente vão ser diferentes em algum momento.
— Mas quanto tempo isso vai levar? — retruquei. — Quanto tempo vai levar para eu não sentir mais esse aperto?
— O tempo que for necessário para você aceitar — respondeu ele.
Respirei fundo. Eu posso dizer que não sou uma grande fã da terapia. Entendia o que ele queria dizer, mas odiava mesmo assim. Eu não sei se estava pronta para aceitar aquilo.
Quando finalizamos a consulta, fiquei refletindo enquanto caminhava até o café que tinha naquela esquina, um espaço que eu adorava, mas que normalmente ficava bem longe da minha casa.
— Bom dia, um café com leite e açúcar, por favor — pedi à atendente que prontamente realizou meu pedido. Sentei-me em uma mesa perto da janela, observando o movimento.
Nunca fui uma pessoa boa com relacionamentos. Na verdade, todas as pessoas com quem eu falei fui um desastre. Em toda a minha vida, fiquei com três pessoas. Um garoto magrelo chamado Felipe, uma garota ruiva chamada Angélica e o Nicholas. Nic me acompanhou por grandes passos da minha vida: minha formatura do ensino médio, minha formatura da faculdade, festas anuais da família e as festas que fazíamos a dois comemorando os motivos mais bobos.
Ele me dava flores, livros e cozinhava para mim quando via que eu estava triste. Me trazia bombons quando ia ao mercado e nunca saía sem me dizer o quanto me amava. Acho que em oito anos, todos os dias que estávamos juntos falamos "eu te amo" um ao outro.
Por isso, parecia impossível aceitar aquilo e simplesmente dar adeus àquele sentimento.
— Isabela? — ouvi uma voz grossa conhecida.
Ergui os olhos e dei de cara com Sebastian, segurando um copo de plástico creme. Ele sorria de forma brilhante, alegre.
— Posso me sentar aqui? — perguntou-me ele, apontando para o espaço em minha frente.
— Claro. Sem problemas! — respondi, fugindo dos meus devaneios.
A presença daquele homem me deixava desconcertada. Não sei se era a sua beleza escultural ou a simpatia que ele emanava, sempre disposto a conversar comigo, apesar de eu ver claramente que ele não era muito sociável.
— Então, o que faz por aqui? — tentei puxar conversa.
— Moro aqui por perto. Tenho um projeto em andamento e eu adoro o café que eles fazem aqui — Sebastian explicou.
— Realmente, é muito bom — falei, confirmando com a cabeça, apesar do meu café já estar frio em minha xícara.
— E você? Está perdida? — perguntou-me ele, tomando um gole de sua bebida.
— Ah não, na verdade eu tinha uma consulta aqui perto. Venho toda semana — expliquei, dando os ombros.
— Terapia? — perguntou-me ele.
— Sim.
— Se é aqui perto, imagino que possa ser com o... Dr. Richard Melphs?
— Esse mesmo — confirmei, surpresa. — Como você sabe?
— Também já fiz terapia com ele. A companhia pedia acompanhamento mensal pelo menos para os atores — explicou ele.
— Ah...
— Mas então, está se adaptando à cidade? — me perguntou ele, animado. Seu perfume extasiante e seu olhar quente me deixavam um pouco envergonhada, mas nada que eu não conseguisse superar com a boa conversa dele.
— Está sendo muito legal. É bem maior que qualquer cidade onde morei, mas acho que vale a pena.
— E está gostando?
— Bastante. Claro que tive dificuldades para entender como vocês faziam as compras aqui e também como me comunicar com suas gírias, mas nada fora do comum.
— É assim quando vou pra Bélgica — riu ele. — Apesar de ser minha terra natal, sou um completo estranho por lá.
— É tudo uma loucura, mas se ajeita — respondi compartilhando o sorriso.
— Mas assim, salva o meu contato — disse Sebastian, apontando para o meu celular. — Quando precisar, é só mandar uma mensagem que eu te respondo. Mas pelo amor de Deus não dê o número a ninguém. Odeio ter que trocar de chip.
Dei meu telefone para ele e deixei que salvasse o contato. Fiquei observando o jeito como ele se concentrava na tela, franzindo a sobrancelha, além do jeito como seus braços fortes se apoiavam na mesa.
— Muito obrigada — falei, sem nem olhar o telefone.
— Eu preciso ir agora, mas espero que a gente possa conversar mais — disse ele, tomando o último gole do café.
Então, com um último sorriso resplandecente, ele saiu pela porta e foi caminhando para o outro lado da via. O acompanhei até onde conseguia com o olhar, então me vi fitando a mesa. Curiosa, peguei meu telefone, buscando o último contato salvo. Fiquei vermelha ao perceber que ele salvou seu número como "Seb <3".
Cansada de ficar sentada ali, percebi que também estava na minha hora de ir embora e seguir com as gravações do dia. Deixei o café frio na mesa e juntei minhas coisas para ir embora. Aquela havia sido uma tarde muito louca e reflexiva, mas graças a Paul, que fazia questão que eu fosse à terapia, não teria muitas preocupações no resto das horas de trabalho que tinha.
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