Eu tô indo pra onde haja sol

Pois o meu coração é meu lar

Se você quiser ir,

Pode vir já guardei seu lugar

— Onde Haja Sol | Jorge & Mateus

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Hoje é meu primeiro dia no trabalho e já prevejo um caos. Primeiras vezes são sempre assim: cheias de ansiedade, receio e muito medo do desconhecido. Mas se eu tinha coragem de me mudar para outro país, um novo trabalho não poderia ser tão complicado. Não é mesmo?

O prédio da Creative Artists Agency era gigantesco, com milhares de vidros reflexivos que tornavam um espaço um blocão de espelhos, moderno e chique. Para meu primeiro dia, coloquei uma calça social que deixava meu corpo muito bonito, além de ser confortável, e uma linda camiseta social de seda verde. Essas cores contrastavam de forma esplêndida com meus olhos verdes e o cabelo curto e loiro, me deixando com cara de empresária criativa rica, mas disso, talvez eu só fosse a criativa.

Caminhei com o salto estalando no chão, ecoando no hall de entrada quase vazio. Falei com a secretária, que me deu um cartão de acesso e me indicou o principal contato, meu amigo Paul, que conseguiu essa oportunidade para mim. Quando cheguei em sua sala, deixei uma sacola com um presente (um whiskey que sei que ele ama) e o abracei.

— Bela! — exclamou ele com um sorriso de orelha a orelha.

— Ah, Paul... que saudade! Faz muito tempo desde que nos vimos no Brasil! — falei me distanciando dele.

Paul era um homem bonito. Na casa dos quarenta e poucos anos, tinha um sorriso enorme que contrastava com sua pele negra reluzente. Sem muito cabelo, mas com uma barba cheia e escura (muito perfumada, aliás), era imponente e ao mesmo tempo muito simpático.

— Sente-se, vamos conversar! Fico feliz que tenha chegado. Como foi a viagem? — começou ele, recostando-se na cadeira de couro preto.

— Cheguei há duas semanas, foi tudo muito bom. Precisei fazer uns ajustes em casa, mas nada que me preocupasse muito. Já resolvi praticamente tudo o que precisava para ficar aqui sem problemas — expliquei.

— Imagino que já tenha conversado com alguém por aqui — disse ele.

— Ah, na verdade não, só com a Alice, a secretária — rebati. Eu não era uma pessoa que gostava muito de se enturmar, apesar de conseguir fazer isso facilmente.

— Então já vamos separar aqui algumas coisas que você vai precisar. Depois chamarei uma colega que vai colaborar para que você se adapte bem — ele continuou a falar, balançando as mãos. — Afinal, não te arrastei de outro país para que isso não aconteça.

Rimos. Realmente, sua proposta e a oportunidade que ele estava abrindo para mim naquele país poderia mudar tudo o que eu conhecia sobre mim mesma. Demorei para construir uma carreira no Brasil, mas meu nome já era bem conhecido no estado onde morava, principalmente por minha especialidade nas redes sociais. Ali, poderia ajudar tanto com meus estudos quanto com minha ação no setor.

O resto do dia, da semana e do mês correram mais que bem. Conheci a equipe, ou pelo menos parte dela, incluindo Shonda, Roger, Thomas, Dwayne e Mary, com quem eu estaria lado a lado todos os dias. Comecei conhecendo o processo da empresa quando análise estratégica e criação, fazendo parte de alguns projetos já na primeira semana com ideias mirabolantes. Algumas vezes, quando estávamos todos juntos em uma reunião de brainstorming, ou seja, um momento em que apenas damos diferentes ideias sem julgá-las, podia ver todos me olhando com leve surpresa quando eu falava algo.

Eu me sentia levemente envergonhada quando isso acontecia, mas ao mesmo tempo orgulhosa porque demonstrava que minhas ideias realmente poderiam colaborar para que melhores resultados surgissem. Trabalhava com diversas redes sociais, afinal, além do Tiktok, Instagram, Facebook, Pinterest e Twitter, o mundo internacional pedia por outras redes, como Reddit, YouTube, Snapchat e Tumblr.

Eu precisava ficar atenta às tendências, coisa que já fazia antes e também conversar com os representantes dos clientes para me apresentar, já que eu seria uma dessas pontes de contato para apresentação das ideias e dos resultados. Na primeira semana, já elaborei trabalhos para empresas de tecnologia e software, além de uma loja de donuts personalizados (o qual pude alegremente levar umas duas caixas para casa) e uma produtora de filmes.

— Isabela, estamos indo no Burger King, você quer ir com a gente? — ouvi Shonda me chamar assim que deu o horário do almoço.

Eu estava sentada em frente à minha nova escrivaninha, uma mesa branca com os cantos coloridos, em frente ao MacBook disponibilizado pela empresa. Eu estava morrendo de medo de quebrar aquele troço, mas mexer com as ferramentas da Apple facilitavam muito o meu trabalho quando precisava utilizar do design. Shonda era baixinha e rechonchuda, com lindos cabelos ruivos, tinha olhos escuros e muitas sardas que a deixavam ainda mais bonita.

— Claro, estou morrendo de fome — falei com um sorriso antes de me levantar e pegar minha bolsa.

Nós seis fomos andando por uma quadra até chegar ao estabelecimento, onde pegamos lanches e nos sentamos à mesa para comer enquanto o papo rolava solto.

— Pois é, menina, aí eu falei com o cliente para ver o que tinha acontecido, já que não havia sido eu que publiquei e o cara continuava afirmando que fui eu — Shonda falava incessantemente, brava com um acontecimento da firma. — Então, hoje pela manhã, ele me ligou pedindo desculpas porque havia sido sim o funcionário dele que liberou a campanha sem autorização.

— Meu Deus, passamos quatro meses planejando aquela ação. Acho que tinha mais de doze mil dólares rolando no meio desse processo só para as redes — Dwayne falou.

— Pois é, mas pelo menos eu não saí de culpada — Shonda retrucou. — Imagina só? Podia perder meu emprego!

— Que caos — resmunguei. — Acho tão sem noção essas coisas. Parece que quanto maior o cliente mais problemas surgem.

Todos deram um sorrisinho. Era bem assim mesmo.

— Mas logo vamos ter um projeto incrível nas mãos — Mary comentou atiçando nossa curiosidade.

— Como é que é? — Dwayne questionou.

— Como assim, que projeto? — Shonda perguntou também.

— Sua vaca fofoqueira, está escondendo coisas da gente? — Dwayne continuou, chocado, em brincadeira.

— Eu ouvi dizer que vamos trabalhar no lançamento do novo filme da Stary Movies mês que vem — Mary se aproximou do centro da mesa e sussurrou.

— Ai... Meu... Deus — Thomas exclamou silenciosamente.

— AI MEU DEUS — Shonda repetiu alto. — Como assim garota, fala mais!

— Eles estão produzindo um novo filme com o Sebastian Peeters e o Hugh Laurie, muita ação, muito tiro, muito homem bonito — Mary contou baixinho. — E parece que nós vamos fazer a campanha de lançamento e algumas outras coisas do processo.

— Mas os lançamentos da Stary não ficam com uma equipe sênior, como a do Josiah? — questionei em dúvida. A Stary Movies era uma das maiores produtoras de filmes do mundo, lado a lado com empresas como a Disney.

— Normalmente ficam, mas esse o Paul passou pra gente, não sei por quê... Não sou eu quem vai reclamar — Mary continuou.

— Finalmente um projeto de sucesso! — Thomas exclamou feliz, recostando-se na cadeira.

— Eu estou bem feliz também, mas vamos com calma que até lá tudo pode mudar — falei, sendo um pouco mais realista.

— Tem total razão — disse Shonda. — Mas imagina trabalhar lado a lado com o Hugh Laurie... Ah... 

Rimos com a cara apaixonada que Shonda fez. Hugh sempre foi um ator que admirei muito, sendo responsável por vários dos personagens que eu mais admirava, como o próprio Dr. House. Já Sebastian Peeters, bem, eu sabia que o cara era lindo e já tinha feito uma centena de filmes, mas ainda não o conhecia muito a fundo porque o cara era meio fora da mídia.

— Hey, gente — chamei a atenção olhando para o relógio — Já é quase uma hora, precisamos voltar para a empresa.

— Vamos lá então — Shonda disse sorrindo antes de se levantar.

Um grande trabalho pela frente exigia muita coisa, mas não dá para contar com os ovos na galinha, não é mesmo? Esperava que desse certo pois seria uma mega oportunidade. Mas só Deus sabe o que isso pode significar.