2043, 24 de dezembro

— Papai, é verdade que o Papai Noel sempre vem deixar o presente na arvore? — Minha princesa perguntou, assim que observou os embrulhos postos em baixo da nossa grande arvore de natal.

Estávamos terminando de preparar a ceia quando Isabel entrou na cozinha e fez essa pergunta difícil, e como o ambiente era conceito aberto, ela nem esperou a resposta e foi direto bisbilhotar os presentes que ela supostamente irá ganhar, e como são muitos, ela não tem certeza qual é o seu.

Mas o que ela não sabe, é que são todos para ela e seu irmãozinho Lucas.

Quando nossa princesinha fez 7 anos, implorei para termos um segundo filho, ela relutou um pouco, pois havia sofrido no parto de Isabel e teve certos receios, mas não resistiu aos meus charmes e o nosso pequeno se encontra quietinho, dormindo no carrinho ao meu lado.

Não queria ter que dizer a minha filha de 8 anos que essa história de Papai Noel era uma lenda que os pais usavam para que as crianças acreditassem e fossem boazinhas para ganhar presentes.

Laura pareceu perceber o meu embaraço e começou a rir, na certa querendo saber como irei responder a sua pergunta sem desmanchar a imagem que ela tinha sobre a lenda do velhinho.

— Filha, ele só aparece quando você está dormindo, se ficar acordada ele não vem. — Falei, pegando meu filho nos braços, pois o mesmo tinha acordado e estava querendo chorar.

Lucas era um bebe tranquilo, mas tinha horas que ficava agitado e chorava por qualquer coisa, principalmente quando estava com fome.

— Mas eu queria ver ele, papai. — Falou, fazendo bico e cruzando os braços.

Ela havia puxado o jeito de Laura, mas tinha uma certa rebeldia que eu ainda não sabia de onde tinha vindo, mas na maioria das vezes, eu achava que ela se parecia um pouco com o Diego, que na certa deve ter dado um pouco de trabalha para os pais.

Nós preferimos quebrar a tradição esse ano e decidimos passar o natal aqui mesmo na França porque depois da morte da minha avó, procuramos ficar mais próximos da minha mãe e ela se sentia ainda mais feliz quando tinha os netos por perto.

A família da Laura se encontrava no Brasil e entenderam a nossa decisão, tanto que cada um fez questão de adiantar os presentes e aproveitamos para enfeitar a arvore juntos.

Era sempre uma folia, pois Isabel amava enfeites e havia me pedido para tirar várias fotos delas, em todos os ângulos possíveis perto da arvore.

— Filha, eu tenho certeza de que ele vai deixar seu presente embaixo da arvore e quando você acordar, ele estará lá, esperando por você. — Laura contou, indo até a mesa de jantar e forrando uma linda toalha que a minha mãe havia lhe dado de presente.

Estávamos distraídos conversando sobre a sobremesa quando a companhia tocou e minha mãe chegou com seu Marcos, trazendo uma sacola de presentes e uma travessa com macarronada, pois ela sabia muito bem que eu adorava aquele prato e fiquei salivando só de sentir o cheiro.

Quando terminaram de arrumar a mesa, Laura foi amamentar o nosso menino enquanto eu fiquei na sala conversando com minha mãe e meu padrasto que contavam de uma viajem que pretendiam fazer no começo do ano que vem e não sabiam com que deixaria a padaria, pois a mesma não poderia ficar fechada.

Eu queria muito poder ajudar, mas basicamente aquilo não era a minha área e eu com toda a certeza não conseguiria conduzir aquele estabelecimento, que agora se tornou muito maior do que eu me lembrava, pois eu passei a ajuda-la com os gastos e fiz questão de melhorar o seu negócio.

— Papai, eu quero cuidar da padaria da vovó. — Isabel falou, sentando-se no sofá com sua boneca.

Mamãe riu, alisando os cabelos negros da neta que a mesma havia herdado de mim e comentou:

— Ah, quando você tiver mais idade, pode passar um dia comigo por lá, o que acha? — Indagou, sorrindo para ela.

Isabel apenas balançou a cabeça e depois passou a ficar alheia a conversa que iniciamos sobre os nossos planos para o próximo ano.

Horas depois, Laura voltou com nosso pequeno em seus braços e todos nos juntamos a mesa, antes de aproveitarmos a linda ceia, fizemos uma oração, agradecendo por tudo de bom que estava acontecendo em nossas vidas, depois ligamos o som deixando em uma música ambiente, apenas para relaxarmos e a casa não ficar em completo silencio.

Conversamos, rimos e aproveitamos aquele nosso momento em família, bebendo e degustando a ceia que estava maravilhosa, pois ao longo dos anos, Laura se aperfeiçoou mais na cozinha e agora sabia fazer algumas receitas.

Seus pais ficaram tão impressionados que até vieram provar do tempero da filha, lembro-me que eles gostaram tanto da comida dela que nunca deixam de marcar um jantar aqui em casa, apenas para passar o tempo e matarem a saudade que sentem um do outro.

Acho que se eu não tivesse me candidatado para a vaga de secretario quando ainda era adolescente, não teria conhecido o amor da minha vida, que nesse exato momento estava deslumbrante em um vestido vermelho, seus cabelos loiros em um coque perfeito e seus lindos olhos castanhos estavam simplesmente parados, olhando em minha direção.

Estiquei minha mão sobre a mesa e peguei a sua, alisando seus dedos e agradecendo silenciosamente por todos os momentos e pela bela família que construímos juntos.

Fim...

❤❤❤