Pequenas surpresas
Capítulo 22
Pequenas surpresas.
Zey já tinha chamado a minha atenção pela décima vez enquanto fazíamos nosso almoço antes da próxima aula que teríamos no período da tarde. Nas palavras dela, eu estava no mundo da lua e eu realmente tinha que concordar com ela, pois eu estava mesmo.
Depois do Ramadã tenebroso que eu tivera, os dias que se seguiram pareceram mágica líquida percorrendo dias maravilhosos e românticos. Dias que eu nunca imaginei que teria a chance de vivenciar sozinha.
Hakim tinha até me trazido café da manhã na cama. Tínhamos conversado sobre mais um punhado de coisas, até sobre adotar um cachorro, como era a minha vontade. Nos amamos mais um pouco e tivemos alegria até fazendo coisas aparentemente bestas como cuidando das poucas plantas e da grama que ele tinha na frente de casa.
Eu acabava ficando com um sorriso bobo nos lábios, pois acabava lembrando de como brincamos com a água enquanto sorríamos e nos divertirmos. Como acaba tudo dando em nós nos beijando e a felicidade que eu tinha como se estivesse definitivamente vivendo um sonho vívido e real, mas do qual eu não queria mesmo acordar, nunca mais.
— Mah! Pelo amor de Deus, foco! Eu estava te perguntando a respeito do seu ramadã e você já viajou umas três vezes com essa pergunta. — Acabei rindo.
— Eu fui feita de escrava pela minha sogra, mas tudo bem. Eu tenho o marido mais perfeito do mundo. Ele me serviu café na cama hoje, acredita? — Zey arqueou a sobrancelha como se eu estivesse com algum problema de cabeça.
— Mas não é isso que maridos deveriam supostamente fazer? Porque na real, não quero me casar não se não receber no mínimo isso. — E eu ri e empurrei Zey com a mão.
Zey era a minha amiga desde então e era animada e muito querida. Ainda não tinha se casado, tinha pensamentos bem firmes, inclusive de como ela queria que fosse o futuro marido dela que ela ainda não tinha conhecido.
Zey tinha perdido o pai desde nova e o irmão mais velho assumira a empresa do pai e permitira que ela fizesse faculdade, uma vez que ele era mente aberta. Pelas palavras de Zey, ela nunca teria essa oportunidade se o pai ainda estivesse vivo, pois ele era muito mente fechada. Além disso, Zey ainda morava sozinha numa kitnet. Seu irmão a visitava todas as sextas e ficava até segunda, mas a maior parte do tempo ela ficava sozinha.
Ela gostava dessa independência e acreditava que tinha a melhor família do mundo. Enquanto fazia faculdade, seu irmão cuidava de quase todas as despesas dela, pois não queria que ela trabalhasse e isso pudesse atrapalhar os estudos dela. O amor que ela tinha pelo seu irmão era, por isso, de outro mundo.
— Bom, você não perguntou, mas meu ramadã foi bom também. Fiquei em casa com mamãe e maninho e tive o décimo curso de mamãe de como amarrar um hijab decentemente, mas ela não entende que gosto de que um pouco do meu cabelo apareça por fora. Depois eu me entendo com Deus se isso for muito pecado. Eu praticarei muita caridade para compensar isso. — Sorri de lado. Zey gostava de falar, talvez por isso eu não conseguisse mais enxergá-la fazendo outra coisa que não fosse jornalismo.
— Que bom Zey! E o que planeja fazer nesse fim de semana?
— Ah, graças a Alá hoje é sexta, Mah. Eu quero ver com maninho de trazermos mamãe para cá para assistirmos um filme, comermos pipoca e nos divertirmos um pouco. Ela precisa. — Concordei com a cabeça.
— Ela ainda está em luto com a morte do seu pai? — Zey concordou com a cabeça.
— Dois anos da morte dele e ainda isso. Mas e você Mah? Vai fazer o que de fim de semana? — Sorri.
— Kadi deve vir passar o final de semana conosco. Estávamos pensando em visitar a tia de Hakim e talvez ver um filme ou ir no parque de diversões, quem sabe. — Zey bateu as palmas animada.
— Se vocês forem ver um filme, me manda uma mensagem. Vai que eu estou por aqui com mamãe. — Concordei com a cabeça e achei que a ideia seria maravilhosa.
— Pode deixar! — E agora que estávamos combinados era a hora de partirmos para nossas últimas aulas de sexta antes de aproveitar o final de semana.
Minhas aulas nas sextas acabavam as três e logo íamos para casa. Como sexta era o dia que Hakim tinha que ir para mesquita e eu aproveitava para levá-lo, treinar a direção e então saímos para comer alguma coisa juntos, eu sempre ficava animada e esperando as aulas acabarem para o resto do dia alegre que viria a seguir.
Dessa vez eu tinha escolhido um restaurante com comida americana para experimentarmos. Eram especializados em fazer hambúrgueres artesanais e coca colas geladas com batatas fritas com cheddar e muita gordura. Queríamos saber o que era comer uma comida que faria com que saíssemos rolando do restaurante, porque achávamos que essa seria a sensação.
Hakim tinha ido com o carro, então eu teria que ir de uber para casa, então pedi uma uber feminina e voltei para casa assim que a faculdade me liberou. Como era a primeira vez que sairíamos juntos realmente agora sendo um casal de verdade, eu queria me preparar perfeitamente para isso. Estava muito animada!
Já tinha escolhido até a roupa para sair. Colocaria um hijab lilás para combinar com o vestido com florzinha lilás que eu havia escolhido para a ocasião. Talvez tentaria uma sapatilha ou um salto, ainda não havia decidido o que faria.
Hakim tinha ido trabalhar no escritório, o que faria com que eu tivesse a oportunidade de colocar talvez uma máscara no rosto e quem sabe uma maquiagem elaborada também, embora não fosse muito algo que eu soubesse fazer. Qualquer jovem de doze anos poderia muito bem saber maquiar no mesmo nível de conhecimento que eu tinha para tal.
Conforme a uber ia aproximando da minha casa, comecei a apertar o olho para tentar enxergar quem estava na frente da minha casa. Não lembrava de ter comprado nada na internet que faria com que eu tivesse algum pacote para receber. Além do mais, quanto mais nos aproximávamos, mais eu percebia que não parecia um homem parado na frente de casa – o que era mais costumeiro de ser quando era algum pacote para receber – mas sim uma mulher.
Hakim poderia não ter me contado e Kadi chegaria mais cedo, chegando na sexta em vez de chegar no sábado. Também tinha a opção de ser sua tia que havia ficado de nos visitar em algum momento e até então não havia aparecido.
— Chegamos senhora Malika. — Agradeci a uber e sai do carro com a intenção de descobrir a minha visita inesperada.
Uma vez eu tinha lido em algum lugar que as coisas acontecem na nossa vida num de repente, muita das vezes quando não percebemos. E eu tinha me acostumado tanto com a vida do novo jeito normal que eu estava vivendo que nunca poderia imaginar que ela mudaria de repente assim.
Na minha frente estava ninguém mais, ninguém menos que minha irmã: Malika. Por razões que eu desconhecia, por motivos obscuros, ela tinha reaparecido de repente e ainda mais na frente da minha casa, sem aviso algum.
Senti meus olhos encherem-se de lágrimas por ver que ela estava bem, por ver que ela estava aparentando razoável saúde e, principalmente, por ela estar viva. Oh, eu sempre achei que ela me abandonaria e pelo resto da minha vida eu ficaria sem uma notícia sua... Eu já estava começando a ficar sem esperanças das minhas tentativas desesperadas e sempre em caixa postal todas as vezes que eu a ligava e ela não atendia...
Eu nunca poderia acreditar que ela estaria ali na minha frente.
— Oi Mariam, eu... — Começou a minha irmã, mas eu não deixei que ela terminasse de falar. Estava tão emocionada com sua presença que fiz a única coisa que o meu coração estava insistindo para que eu fizesse: Corri em sua direção com tudo e a abracei o mais forte que meus braços puderam conter.
Havia lágrimas, havia choro, havia emoção, mas havia também alívio que ela estivesse bem, que ela estivesse ali. Oh, como eu sentia falta da minha irmã que sempre esteve comigo em todos os momentos!
— Eu sabia que você não me abandonaria! Eu sabia que você voltaria! — E Malika começou a fungar enquanto me abraçava forte também.
— Você não está com raiva de mim por se casar forçada? — Apertei um lábio sobre o outro me afastando só um pouquinho da minha irmã.
— Ah, isso? No começo sim, mas agora não. Venha, vamos entrar. Papai e mamãe sabem que você voltou? — Malika concordou com a cabeça e tinha a fisionomia tão séria que parei para esperar que ela continuasse.
— Papai me expulsou de casa e mamãe estava chorando muito para conseguir tomar qualquer decisão. Eu... Eu fugi, Mariam. Mas eu... Eu me tornei uma meretriz, eu me tornei suja. — E dito isso, Malika começou a chorar compulsivamente.
Assustada com a revelação e com medo de que alguém ouvisse e quisesse julgar a minha irmã sem nem conhecer a história direito, olhei para os dois lados da rua antes de puxá-la para dentro de casa.
— Venha, Lika. Você pode contar comigo, viu? — E disse isso fechando o portão de casa.
Minha irmã precisava de suporte e, se ela quisesse, eu seria o suporte que ela foi para mim como irmã mais velha por muitos anos. Eu estava disposta a ouvi-la e a ajudá-la.
***
Oi oi gente!! Tudo bem??
E aí, sentiram o impacto desse capítulo???
Eu disse que viriam bombas logo logo!!
Alguém ai quer fazer suposições do que virá pela frente??
Dei algumas pistas de alguns cenários que virão... Quero ver quem percebe rsrs
Agora que a Malika apareceu novamente, a história dá outra guinada. Preparem os lencinhos que o próximo capítulo é bem triste......
Se estão gostando, não esqueçam de incentivar deixando uma estrelinha! :)
Bjinhos
Diulia
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