Capítulo 7 

 A causa da morte é, com certeza, ódio de Mustarf.

Há uma fisionomia típica dos nossos pais que a gente aprende desde a infância – seja pela sobrevivência, seja pelo medo mesmo ou por qualquer outro motivo: A fisionomia clara de que é hoje que a sua morte vem, com toda a certeza. Só aguarde.

Era fato que essa fisionomia agora parecia especialmente endereçada para mim. Mamãe só faltava soltar fogo pelas narinas e papai andava de um lado para o outro da sala sem conseguir encaixar os pontos do quebra cabeça que tinha feito que eu fosse me fazer de Malika e Malika roubasse meu passaporte por tabela.

Isso porque eu já tinha passado a meia hora seguinte explicando o encontro que foi orquestrado que tivesse com Hakim e que Malika meio que me inquiriu que fizesse por ela, dado o meu péssimo histórico de encontros até o momento.

Dali do avião em diante nem mesmo eu sabia o que havia acontecido direito. Por sua vez, foi com muito cheio de dedos que contei que Malika possivelmente estava gostando de outra pessoa, já que essa, talvez, fosse a única forma de conseguir contato com Malika.

Eu não queria que ela desistisse do homem que ela gostava, de verdade. Eu só queria que ela me atendesse e dissesse que estava bem, em vez de me fazer parecer surtar a cada leve vibrar do meu celular esperando que ela estivesse bem. O meu medo era de que achasse que ela estava com o homem que ela queria como marido e descobrisse que ela estava numa situação muito ruim.

— Ela não deveria ter feito isso! Conversasse conosco! — Minha mãe estava indignada enquanto ralhava para os quatro cantos da casa: — Sou tão inconfiável assim que não posso saber os amores das minhas filhas? O que ela achou? Que eu não tentaria convencer o pai de vocês a resolver isso com diplomacia? — Mamãe choramingou enquanto quase arrancava os cabelos. O hijab já tinha ido parar no sofá e ela estava quase em prantos.

Acho que se eu tivesse uma filha e estivesse na situação da mamãe, estaria do mesmo modo.

— É muito irresponsável. E se esse homem abusar dela? Porque não trazer ele aqui para conhecermos? — E mamãe continuava falando, mas papai ainda continuava mudo e andando de um lado para o outro.

Fiquei acompanhando a caminhada de papai com olhar. Com certeza ele já teria andando uns 800 metros só na andança que ele fazia por ali. Apertei um lábio sobre o outro. O que ele estaria pensando?

— E você também Mariam. Só porque seus encontros sempre deram errado, achou que esse também daria? — Dei de ombros.

— Olha que eu realmente tentei, mas ele não parecia muito se importar não. — Mamãe não gostou da resposta e vendo papai andando, estendeu o dedo na minha direção e gritou para que ele ouvisse:

— Você não vai fazer nada? Pelo menos colocar essa menina de castigo. Mariam, eu realmente estou desapontada com você se fazendo de outra pessoa. — Respirei fundo. Estar chateada comigo não fazia com que a situação mudasse. Era óbvio que alguma coisa precisava ser feita.

— Parece que de alguma forma Mariam convenceu Mustarf de que é Malika e ele gostou dela, não é mesmo? — A pergunta do papai para mamãe foi tão chocante que com os olhos arregalados dei um passo para trás sem acreditar no que aparentemente passava pela mente dele.

— Não. Eu aceito ficar 1 mês de castigo de celular, mas não faça isso. Diga para ele a verdade, fala que eu sou uma idiota e que errei... — Disse para papai que respirava fundo, o tórax se movimentando abertamente.

— Você vai permitir que essa mentira continue? — Perguntou mamãe. Para minha surpresa e de mamãe, papai passou a mão pelo cabelo e estourou:

— Que escolha eu tenho, Brianna? Mariam? O meu diretor executivo foi afastado da empresa por agenciamento de menores para estrangeiros. Eu não consegui ver algo debaixo do meu nariz, mas esse maldito Mustarf enxergou! — Papai parecia a beira de um colapso. Tive medo de que ele tivesse um ataque cardíaco ali na minha frente. — Ele não permitiu que isso vazasse para a mídia, mas ele tem todas as provas documentais. Como chefe de autoridade, ele pode muito bem me prender e a todos nós forjando uma cumplicidade que não existe. — Foi exatamente ali, somente ali que minha ficha caiu.

Sentindo as minhas pernas bambearem, cai no chão estatelada de bunda enquanto ainda tentava absorver as palavras de papai e a loucura que ele só fazia questão de nos contar naquele momento. Queria esboçar qualquer reação, mas não conseguia.

— Ele pediu que eu entregasse a minha filha mais velha para o filho dele em casamento e em troca, um mês depois de casados, ele condenaria o meu diretor e me deixaria em paz. — Continuou papai, finalmente se sentando sobre a poltrona.

Mamãe seguiu os nossos passos de desolados e desamparados e foi até o sofá, sentando. Parecia uma realidade tão distante que parecia quase que um sonho acreditar que um homem como Mustarf tivesse assim tantos poderes.

— E se falarmos que foi Malika que...? — Começou mamãe e papai a olhou imediatamente, negando com a cabeça.

— Ele quer esse casamento para ontem e fez questão de salientar que é também porque minhas filhas não são do mundo, como algumas meninas de outras famílias abastadas, que se ocidentalizam um pouco. Se ele souber disso... Nós corremos sério perigo dele cancelar o casamento. Mas, felizmente, Malika ao menos trocou de passaporte com você. Ao menos essa dor de cabeça foi cortada. — Disse papai.

— Mas eu não quero... — Eu não queria me casar, mas que alternativa eu tinha? Eu não era uma filha tão desmiolada que deixaria papai se ferrar a esse ponto. Além do mais, Hakim tinha deixado claro que podíamos ter uma relação fake. Ele também não parecia muito a fim de manter uma relação verdadeira como casal.

Se conseguíssemos achar um bom meio termo para ambos, eu podia conseguir aceitar essa nova vida de casada. Era só encarar como um roomate. Sim. Eu só estava com um colega, dividindo o mesmo lugar e nada mais. Eu podia lidar com essa opção, não é mesmo? Tentei convencer o meu cérebro de que sim.

— Mah, eu aceitarei ser pego pela polícia, mesmo sendo inocente, se você não quiser se casar. Eu dou o meu jeito, eu... — E papai era tão bom para mim que acabei balançando a cabeça em negativa e falando:

— Eu aceito papai. Mas antes... Antes de vocês contarem para o senhor Mustarf, peço para que vocês permitam que eu encontre com Hakim sem o pai dele. Diga para o pai dele que vocês querem conhecer um pouco mais de Hakim antes que ele se case com a filha de vocês. — Papai e mamãe concordaram com a cabeça.

— Tudo bem. Se é assim que você quer. — Peguei o meu celular para pescar o número de Hakim.
— Eu vou avisá-lo sobre isso. Gostaria de deixar algumas coisas acertadas com ele. — Papai concordou, suspirando.

— O que você quiser, Mah. Precisamos agora dividir nossa atenção em procurar sua irmã e montar o seu casamento. — Balancei a cabeça em negativa.

— Eu não quero nada grandioso. Apenas familiares, algo rápido. Não se preocupe com isso. — Mamãe negou com a cabeça.

— Eu contratei uma organizadora de festas já. Basta que você passe as coisas para ela. Seu pai e eu não poderemos ficar muito por dentro, pois precisamos achar Malika, mas concordamos com suas decisões, querida. Vou te passar o contato dela, tudo bem? — Concordei com mamãe.

Não demorou muito para que o ambiente familiar cedesse espaço à preparação para o sono. Estávamos cansados, o dia tinha sido cheio e as notícias aterrorizadoras. Por isso mesmo, ao fim da noite, procurei o contato de Hakim até achar pelo nome de Kimkim love espeto e acabar rindo da grande inspiração que ele tivera ao colocar o nome dele no meu celular de forma hilária.

Escrevi: "Estou curiosa para saber como você salvou o meu número de celular depois de ter salvo o seu nessa obra de criatividade."

E ele logo respondeu, sem parecer aqueles meninos idiotas e que se fazem de frios e desinteressados e que, por isso mesmo, demoram um século para responder: "Gostou? =) Seu nome está 'Mah sempre manda'"

Fiquei encarando a mensagem sem entender a lógica dela e, por curiosidade, acabei perguntando: "Porque eu sempre mando?"

E ele logo respondeu: "Não foi o que você falou no restaurante que eu deveria me atentar? A mulher sempre dá a última palavra. Como possivelmente você pode ser a única mulher que não é minha irmã na minha vida, eu coloquei Mah sempre manda."

Ainda bem que não era uma chamada por vídeo, porque senti o meu rosto esquentar quase que imediatamente com isso. Hakim realmente tinha levado a sério as coisas que eu tinha dito no nosso encontro. Não que não tivessem notas de verdade, mas nem tudo o que eu tinha dito era preciso levar ao pé da letra.

Respirei fundo antes de responder: "Preciso falar com você sem o seu pai perto. Amanhã você pode vir aqui?"

E depois de alguns segundos: "Sim, posso. Só marcar o horário."

Depois de acertarmos todos os pormenores do nosso encontro na minha casa, disse que ia dormir e me despedi polidamente de Hakim que assim fez também.

O dia seguinte seria cheio, mas eu estava preparada para a agenda que eu teria. Precisava colher os pedacinhos do meu coração machucado com a situação de papai e seguir esperançosa e em frente.

Hakim não parecia ser uma má pessoa. Eu realmente esperava que as aparências não enganassem. Além do mais, seria por um mês, até sair a possibilidade de encrencar papai.

Depois, acho que eu conseguiria me separar se quisesse.

Com esse pensamento mais tranquilizador em mente, dormi.

*~*~*

Oi Oi gente! Tudo bem com vocês? 

E Mustarf já mostrou as carinhas, não é mesmo?
O que estão achando??

Eu vou pedir desculpas para vocês, pois era para eu ter postado esse capítulo ontem como avisei que sairia, mas a verdade é que não deu. Mas eu coloquei o capítulo no rascunho ontem a noite e hoje eu consegui revisar ele na rua antes de postar aqui para vcs! Espero que gostem :)

Se estão gostando, não esqueçam das estrelinhas :D

Obrigada a todos,
Diulia.