Capítulo 3
Levantei da minha cama e entrei no banho para aliviar meus pensamentos. Precisava conversar com meu pai.
Cheguei à sala e meu coração se confortou ao escutar as risadas do Felipe e meu pai. Respirei aliviada por estar de volta, em definitivo, na casa deles. Este último ano foi tão tumultuado, que nem saberia dizer quantas foram às vezes que fui dormir na casa deles, por causa das brigas entre mim e o Ivan. Várias onde ele me agrediu com palavras e fisicamente. E minha, talvez a pior de todas as escolhas erradas, foi levar o Felipe para junto de mim.
— Oi filha, junte-se aos bons — convidou meu pai sorrindo.
— Mamãe! Venha assistir o vovô perder no jogo.
— Pensei que estivesse assistindo desenho.
— Seu filho descobriu que na televisão tem joguinhos. E estou sendo massacrado aqui. — explicou papai.
— Pai, mas essa até eu sabia! Têm jogos, músicas, rádio e até jeito de gravar filmes e toda programação. — comentei rindo e pisquei para o Fê.
— Pelo jeito, daqui uns dias ela até vai sair para passear com o Zac no quarteirão.
— Ah, vô não exagera. Televisão não tem pernas. — ele deu risada — E o Zac é o cachorro mais preguiçoso que já vi.
— Não é nada! Ele está um pouco velho agora. Mas adora uma boa caminhada no final de tarde.
— Pai, onde está a mãe? — perguntei.
Ele voltou sua atenção para a TV e sem olhar para mim respondeu:
— Sua irmã ligou e ela foi atender no quarto.
Agora a Laura iria saber tudo o que aconteceu e jogaria na minha cara o seu discurso destes últimos seis anos — Ivan não presta —, e eu ficaria quieta, pois ela sempre teve razão. Apenas meu coração que foi muito teimoso e tinha esperança que ele poderia um dia mudar, que não fosse por mim, mas pelo filho. Coisa que nunca aconteceu. Apenas piorou.
Uma dúvida que sempre ronda minha mente era o amor dele por Felipe. Quando eu contei da gravidez, a primeira frase dele foi: faça um aborto. Fiquei tão horrorizada que tentei apagar da memória.
Bati na porta do quarto da minha mãe e entrei. Como não a enxerguei fui caminhando, encontrei-a sentada na cadeira da sacada com vista para o quintal.
— A Li está aqui, quer falar com ela? — fiz sinal que não, mas já era tarde — Beijos para vocês também. Esperamos vocês no próximo final de semana.
Fiz uma cara de desânimo ao pegar o celular.
— Oi Laura.
— Como você está? Dentro dos limites, claro?
— Vou ficar bem — limitei a dizer.
— Li! Levante essa cabeça e vai viver a vida! — sabia que viria todo sermão — Estava falando com a mamãe, você precisa voltar a estudar e reconstruir sua vida.
— Como? Preciso arrumar um emprego. Tenho o um filho para criar.
— E vai fazer o quê? Voltar para a floricultura?
Olhei mamãe antes de responder. Essa foi outra besteira que eu tinha feito. Sempre que seguia a opinião do Ivan, me dava mal.
— Claro que não! Depois de como saí de lá nem tenho cara para voltar — com os olhos gravados nela falei — E outra, não estão precisando de ninguém. Abrir uma vaga para mim seria como me sustentar da mesma forma.
— É claro que papai precisa da sua ajuda, afinal ele sempre disse, e esperava que uma de nós assumisse a frente da empresa, e mesmo não tendo diploma você fez dois ou três anos de administração?
— Dois e meio.
— Metade do curso. – ela respirou profundamente e concluiu — Pense com carinho...
— Não sei ainda, mas preciso pensar... Na verdade é o que mais tenho feito. Mas voltar a estudar... Sei não...
— Líris não faça isto com sua vida. É nova ainda e tem um mundo de oportunidades. Vamos ajudar você naquilo que precisar! E aquele canalha vai ter que começar a pagar pensão.
— Laura, pare! Tenho muitas coisas na cabeça agora e voltar a estudar e começar tudo de novo é a última opção que tenho.
— Claro que não é Li, amamos você e queremos o seu melhor e do Felipe. Com formação está difícil imagine sem.
— Estou com 24 anos Laura, você acha que é hora de voltar para faculdade?
— Para estudar não tem idade. Sempre é hora e momento. E você pode fazer curso noturno.
— Vou pensar... — falei para sair dela e encerrar este papo.
— Aproveite seu tempo e estude. Senão quiser fazer um cursinho faça aulas pela internet. Tem muitos sites especializados para prova do Enem. Faça inscrição para o vestibular no final do ano.
— Você acha que nesta altura do campeonato eu passaria de novo?
— Acho!
— Tá bom... — não iria discutir mais este assunto com Laura, então resolvi mudar — Parece que escutei mamãe falar que vocês virão?
— Sim. Quero te ver de perto. Saber se está bem mesmo.
— Fala a verdade! Quer certificar se não estou roxa e quebrada.
— Juro que se estivesse, iria hoje para colocar aquele pilantra na cadeia.
— Menos Laura! Pode ficar tranquila que estou intacta. Pelo menos por fora.
— Ô minha irmã... Você não imagina como me dói te escutar falando assim. Penso que poderia ter feito mais e por comodismo ou até mesmo...
— Laura! Por favor... Vamos esquecer essa parte 'e se'? O que passou não tem mais volta. Porque se tivesse eu seria a primeira a fazer outras escolhas e tomar atitudes diferentes. A única coisa que não me arrependo nessa história é o meu filho...
— Ok! Desculpe. Realmente o Felipe é uma benção. Nem parece que tem aquele sangue ruim.
— Por favor...
— Você não vai defendê-lo?
— Não é este o caso. Eu quero paz. Apenas isto.
— Tudo bem... Conversamos na sexta. Beijos.
— Beijos. Dê um beijo nas crianças e no Bruno.
Desliguei o aparelho e fiquei olhando para mamãe. Ela o pegou da minha mão e colocou na mesa.
— Filha, você sabe que se quiser voltar a trabalhar na floricultura será muito bem-vinda. A empresa é nossa e não minha e do seu pai. O patrimônio é seu e da sua irmã. Não sei o que vão fazer na nossa ausência, mas alguém tem que cuidar de tudo. E tem a minha loja, mas a floricultura precisa de você — seu olhar perdeu o foco e imaginei qual pensamento surgiu — Se o Leandro tivesse aqui ele ficaria na chácara, sempre amou as plantas, mas... Deus tinha outro plano não é mesmo?
A abracei pensando no Lê, meu irmão do meio que faleceu vítima de um motorista embriagado aos 17 anos. E este nunca foi preso e muito menos encontrado.
— Tenho certeza disto. Ele se preparava para fazer agronomia. E sempre dizia que papai precisava comprar mais terras para um dia exportar flores.
— Verdade... — sorriu — Ele gostava de dizer que produzir pouco e muito, dava o mesmo trabalho.
— E eu sempre, do contra, retrucava que colher três canteiros de flores dá muito mais trabalho que um — comentei sorrindo entre lágrimas.
— Ai meu Deus como vocês dois brigavam! — ela sorriu emotiva.
— Mas nos amavam. Talvez se... — parei
— Também acho. Sempre falei isto com seu pai. Ele era o único que você sempre pedia opinião e a aceitava.
Meu irmão, dois anos mais velho, mas possuía uma maturidade impressionante. Atencioso, respeitoso, carismático e amigo de todos. Minhas amigas o adorava. Íamos juntos em todas as festas e lugares. Com ele me sentia protegida e com sua partida prematura eu me senti sozinha no mundo.
— Mamãe! Mamãe! — entrou Felipe correndo no quarto — Posso andar no quarteirão com o vovô e o preguiçoso do Zac?
— Claro filho! Mas precisa comer alguma coisa antes.
— Já comi. Eu acabei de lanchar.
Papai surgiu com os tênis nas mãos e comentou.
— Fiz um café e deixei a mesa posta. Ele já comeu e vai dar uma volta comigo. Precisa gastar a energia desse menino — virou e sentou em um pequeno pufe no quarto para colocar os tênis.
Olhei para minha mãe e perguntei:
— Vamos tomar um café?
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Olá lindos e lindas!
Vocês devem estarem se perguntando qual motivo Líris largou do namorado, acertei? Então aguarde o próximo capítulo. Nele ela vai contar muitas coisas. Mas aqui vocês viram que ela está muito infeliz. Procurando forças para recomeçar e recebendo apoio da família.
Será fácil? Creio que não. Mas...
Acho melhor vocês me falarem um pouco. O quê estão achando?
Deixem recadinho e comentários.
Obrigada pelas estrelas e leituras.
Beijos no ❤
Lena Rossi
💜💙💜💙💙💚💜💚💚💜💙
Se você conhece alguém que sofre de violência doméstica, não seja omisso, denuncie.
Sua identidade fica totalmente em sigilo.
Disque 180
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