Capítulo 2
Conheci Ivan no ensino médio. Aquela paquera gostosa de adolescentes e de colégio. Tudo tinha que ser escondido, pois não era permitido namoro nas dependências da escola.
A princípio foram apenas olhares, depois algumas piscadinhas com sorrisos. Os papéis de bala com nozinhos e bombons apareciam na minha carteira diariamente. Até começarmos a nos cumprimentar, demorou um pouco.
O sorriso aumentava a cada troca de bilhetes.
Aquele frio no estômago ao vê-lo, fazia meu rosto queimar e o coração saltitar querendo sair pela boca. Ele era bonito. Um jeito diferente, despojado ao vestir. E o seu cabelo maior que a maioria dos outros garotos tinha um charme a parte.
O nosso primeiro beijo aconteceu num evento da cidade. A prefeitura promoveu uma festa com vários shows, uma oportunidade para ficar até mais tarde na rua. Isto porque meus pais marcavam horário para eu chegar em casa. Raramente poderia voltar depois da meia noite.
Com a cidade lotada achei impossível encontrá-lo. Mas ele me achou.
- Oi - chegou com um sorriso na boca e olhar brilhante.
Eu? Derreti inteira.
Minhas amigas cochichavam e soltavam risadinhas, logo arrumaram desculpas e nos deixaram sozinhos. Ele se aproximou e falou no meu ouvido:
- Há dias que estou louco para beijar sua boca.
Fiquei sem ação e apenas sorri. Ele, eu acho, entendeu como um consentimento meu silêncio, porque se aproximou, segurou minha nuca com uma mão e lascou-me um beijo. Na hora fiquei parada, para em seguida o abraçar. Sua jaqueta aberta foi um convite para passar meus braços por dentro dela, seu corpo quente acalmou meu coração ensandecido. Que beijo!
Já tinha beijado antes, mas não daquela forma, com aquele desejo todo. Quando terminou ele falou no meu ouvido:
- Delícia.
Eu, que já estava quente e pegando fogo, envergonhei-me mais ainda pela forma dele expressar. Confesso que não estava acostumada. Não vi nenhum show naquele dia e nem nos dias que se seguiram. Acabamos ficando longe de tudo namorando, encostados em um carro ou em outros locais mais afastados da aglomeração. Ele parecia um louco querendo me beijar o tempo todo.
Na hora de ir para casa, mesmo achando perigoso, deixei que me levasse em sua moto - isto porque ele não possuía habilitação, era menor de idade -, mas pilotava sem a menor preocupação.
Inicialmente combinamos deixar tudo às escondidas por dois motivos: meus pais controlarem mais ainda meus horários, e a escola proibir. Porém, não perdíamos uma oportunidade de darmos um beijo, ou vários, é claro.
Ele adorava um ato proibido. Uma vez, no intervalo, me puxou para dentro do banheiro masculino e nos beijamos o horário inteiro. Nesta ocasião, suas mãos salientes, começaram a avançar por onde eu não queria permitir. Então começaram algumas frases, que hoje percebo ter sido o começo de seu caráter duvidoso:
- Você não gosta de mim como eu de você.
- Claro que gosto, e muito por sinal.
- Então porque não quer me deixar te tocar?
- Porque não sei se é certo...
E ele foi insistindo e eu, burra, fui liberando. Depois ficava me sentindo péssima e culpada de fazer o que era errado. Isto porque, na educação e formação religiosa da nossa família, para eu e minha irmã, meus pais diziam que os namorados tinham que ter respeito. E este respeito incluía preservar o corpo para o casamento. E nós dois, que mal começamos a namorar, estávamos com liberdades muito além. Na verdade ele nunca disse que era meu namorado, o que me incomodava, e muito.
Outro problema: meus horários. Ele não se conformava que eu não podia chegar depois da meia noite. Debochava me chamando de cinderela. Começou a ser hábito eu me atrasar, e passei a levar broncas do meu pai. Minha irmã, quatro anos mais velha, namorava firme há dois e planejava casar assim que concluísse a faculdade. Ela namorava a maior parte do tempo em casa e respeitava os horários. Sim, mesmo ela sendo mais velha cumpria as normas da casa.
Por este motivo passei a ter mais trabalhos para fazer fora de casa e durante as tardes. Tudo para passá-las com ele, na casa do seu pai. Como seus pais eram separados, ele morava entre a casa de um e o outro, e por isto tínhamos um lugar para ficarmos sozinhos. Numa destas tardes, ele insistiu muito para podermos ter mais liberdades, como não aceitei, ele ficou muito bravo. Levantou furioso do sofá, onde assistíamos a um filme, gritou comigo e mandou-me ir embora. Sem reação fiquei parada. Ele me pegou pelo braço, apertou com força e me colocou para fora da casa. Saí chorando e correndo pela avenida à procura de um ponto de ônibus. Estava num bairro que não conhecia bem. Depois de alguns minutos ele me alcançou e pediu mil desculpas e me cobriu de beijos. Foi tão atencioso e mostrou-se muito arrependido que o desculpei.
Porém, fiquei com as marcas dos seus dedos na minha pele, o que acarretou no uso de camisetas de mangas compridas por vários dias. Talvez o primeiro sinal mais grave que não me alertou.
Três meses de namoro e perguntei se ele não iria à minha casa para conhecer meus pais e ele riu na minha cara.
- Delícia, isto não se usa mais... Está querendo o quê, que seus velhos nos encostem na parede para namorar no sofá da sala, como sua irmã e seu cunhadinho?
- Claro que não! - respondi mais que depressa - Mas mamãe perguntou e tive que falar de nós.
― Não vamos complicar as coisas Cinderela.
Assim continuamos e ele sempre arrumava desculpas e nunca uma oportunidade para assumir o namoro perante meus pais. Até que no aniversário de minha melhor amiga, Camila, o pior aconteceu.
A festa foi em uma chácara num sábado à tarde. Almoço, churrasco e banho de piscina. O Caio, irmão da Camila e grande amigo meu, quase irmão na verdade, pois nos conhecíamos desde sempre, brincava comigo na água. Num momento, ele me segurou pela cintura a fim de tirar a bola da minha mão. O Ivan ficou furioso e quase saiu no braço com ele. Saiu da piscina pisando duro e fui atrás para acalmá-lo e explicar que não tinha nada demais. Encontrei-o se trocando para ir embora.
- Ivan, o Caio é meu amigo desde criança... Não estava acontecendo nada demais...
- Se você é vagabunda eu não quero mais te namorar! - gritou ele - Depois fica de frescura comigo!
- Não fala assim comigo! - murmurei com lágrimas nos olhos - Você sabe que não sou isto que falou.
- Sei! Como? Você fica bancando a inocente e deixa aquele pivete te passar a mão. Esfregar em você. Deve ter ficado de pau duro!
Fiquei horrorizada com suas palavras. E quando tentei sair ele me puxou de volta e bati no seu corpo.
- Verdade? - gritou.
- Não é verdade e você sabe disto.
- Não sei!
- Pois deveria saber e conhecer melhor quem você está namorando.
- Prove para mim!
Assim que puxei meu braço para soltar-me dele, ele me empurrou no mesmo instante, caí longe. E para meu azar bati com o cotovelo no chão.
- Ai!!
Conclusão: trinquei o osso do cotovelo, tive que fazer uma cirurgia e ainda menti que caí sozinha.
Após uma semana sem ir à escola, e ele nem para me ligar ou procurar, bateu na minha casa.
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Olha quem está de volta!
Muito obrigada por estar aqui comigo. Fiquei muito feliz.
Um encontro com a história de amor e de um recomeçar.
Vamos conhecer a história de Líris e Felipe. Encantar com este menino especial.
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Uma pergunta: você conhece alguém que passou ou passa por um relacionamento abusivo ou ciúme exagerado? Acha que o outro é sua posse?
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Beijos
Lena Rossi
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Se você conhece alguém que sofre de violência doméstica, não seja omisso, denuncie.
Sua identidade fica totalmente em sigilo.
Disque 180
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