02-Mentiras(?)
O pequeno Kim Yoon-Suk estava de alta e não via a hora de voltar para sua casa, onde seu quarto e muitos presentes de seus avós e tios lhe aguardavam. Este era um dia especial, não só por estar de saída do hospital, mas também porque era o seu aniversário. Todos ansiavam por comemorar junto a ele esta data preciosa que mudou a vida de todos na família.
Apesar de a princípio terem ido totalmente contra a gravidez do mais novo de seus filhos, os Kim Jeon's deram todo o suporte necessário a ele como bons pais. No fim das contas, acabaram se apaixonando por Suk logo que o pequeno nasceu, e agora Namjoon e Seokjin são de fato os avós mais corujas já vistos na face da terra. Eles não passam um dia sequer sem falar com o neto, tanto que quando souberam do acidente, ficaram quase loucos ao ponto de abandonarem seus respectivos trabalhos e correrem para o hospital na mesma hora em que Jungkook os avisou.
O rosado sempre foi um bom garoto, um bom filho, um bom aluno. Ele só fez uma má escolha ao se envolver com Park Junwoo, um alfa que nem poderia ser chamado de tal, já que só fez seduzir o ômega para depois largá-lo com a desculpa esfarrapada de que o filhote que Jungkook carregava não era seu. A verdade é que Junwoo não passava de um maldito cafajeste acostumado a usar ômegas em seu período de cio e depois descartá-los.
Namjoon e Seokjin logo desconfiaram das intenções do alfa quando souberam do suposto namoro às escondidas de Jeon no colegial. Eles alertaram o filho, mas o pobre garoto estava tão apaixonado que não deu ouvidos. Quando finalmente percebeu, já era tarde demais e estava grávido. Após a descoberta seguida do abandono, o ômega se abriu com os pais e o seu irmão mais velho, que na época era recém-casado, e eles o ajudaram no que puderam. No entanto, a maior parte da responsabilidade ficou com o mais novo dos Kim.
Na condição de pai solo, o ômega abriu mão de terminar seus estudos na época, mas retomou um ano depois do nascimento do seu filhote. Yoongi, o ômega de seu irmão, foi quem cuidou a maior parte do tempo de Yoon-Suk, para que Jungkook pudesse terminar os estudos e fazer uma faculdade. De qualquer forma, para o esverdeado, é sempre um prazer cuidar do sobrinho, pois se apegou ao pequeno alfa desde que soube da gravidez do cunhado.
Hoseok também é um tio babão. Apesar de passar a maior parte das suas horas durante a semana no trabalho, ele faz até o impossível para participar da vida do sobrinho e do seu irmão. Jungkook foi e sempre será seu melhor amigo. Só Deus e Min sabem o quão triste ficou quando soube que seu irmãozinho foi enganado por um alfa qualquer. Hoseok chorou tanto que seu ômega custou acalmá-lo e teve que usar a influência da marca para fazê-lo, tornando as coisas mais difíceis para ambos.
— Papai, podemos convidar o doutor Park para minha festa de aniversário? — perguntou o pequeno Suk, tirando Jungkook de seus pensamentos. A menção do sobrenome do doutor fazia seu coração disparar, mesmo sabendo que o médico é um homem casado, o que tornava as coisas complicadas.
Mesmo desejando que não fosse assim, a resposta ainda continuava sendo sim. Jungkook se viu interessado por um homem comprometido. Ao longo dos dias no hospital, convivendo e conhecendo Jimin, tanto como o bom profissional que ele é, mas também como um grande alfa e ser humano, foi inevitável para o ômega não se apaixonar pelo lúpus.
O amável cirurgião conquistou o Kim e seu filho. A cada visita dele ao leito do pequeno, a conversa entre eles fluía cada vez mais animada, tornando a recuperação de Yoon-Suk e os dias dentro do hospital mais leves e felizes. Jungkook sentia gratidão por tudo que o lúpus havia feito por eles naqueles dias, mas não conseguia evitar sentir-se atraído, mesmo sabendo que Jimin é casado e que não poderia corresponder aos sentimentos.
“Você sabe bem o motivo dessa paixão súbita por esse doutor, não é, Jungkook? — Luna, a loba do rapaz perguntou, tentando entender as emoções do ômega.”
"Não torne as coisas ainda mais difíceis, luna. Se não for ajudar, continue quieta no seu canto." — respondeu Jungkook, tentando evitar confrontos.
Yoon-Suk estava morrendo de saudades de seu médico favorito, mesmo que todos ali o amassem muito. O garoto logo percebeu os olhares e as conversas paralelas entre seu pai ômega e o médico, o que o deixava ainda mais feliz com a presença do cirurgião.
Fazia muito tempo desde que Yoon-Suk não via o pai sorrir daquela forma tão doce, o que levou a beleza do ômega a ganhar mais vigor e o cheiro bom que ele exalava ficou ainda mais intenso. Apesar do pouco entendimento sobre, o pequeno alfa apreciava cada vez mais a conexão estabelecida entre eles.
— Suk, o doutor é um homem muito ocupado e não poderá ir. Além do mais, será uma coisa simples. Creio que tanto seus avós quanto seus tios farão uma visita rápida, já que amanhã é segunda e todos trabalham.
— E nós podemos ir ao parque depois da festa? — perguntou o garoto animado, demonstrando uma energia surpreendente após a cirurgia. — Vamos, por favor, papai.
— OK, nós vamos, bebê. Mas você não poderá ir em todos os brinquedos, apenas em alguns — O ômega assentiu com um sorriso ameno, enquanto fechava a última bolsa com os pertences do garoto.
— Não é bebê, sou Suk — resmungou o garoto, inflando as bochechas e franzindo o cenho ao mesmo tempo que cruzava os braços. — Yoon-Suk.
Jungkook encarou seu pequeno filhote emburrado, prestes a ter uma crise de risos, mas seu celular começou a tocar. Ao ver que se tratava de seu pai, Namjoon, se apressou em deixar a ala de internação para não deixar o mais velho esperando por muito tempo. Antes de sair do hospital, teria que passar pela recepção para assinar alguns papeis e pegar as receitas.
Assim que fez tudo, agradeceu a moça da recepção e algumas enfermeiras que ali estavam por tudo, guardou os papeis na bolsa e se preparou para sair do lugar, mas foi impedido pelo filho, que puxou sua camiseta com força e disse baixinho:
— Pergunta para ela do doutor Park, papai.
— Suk, conversamos sobre isso antes de sair. O doutor é um homem muito ocupado. Sabe quantas crianças aguardam na fila de espera para passar por uma cirurgia com ele? — tentou explicar Jungkook, vendo a tristeza nos olhos do filho.
— Eu só queria dar um abraço nele.
O ômega suspirou profundamente, não querendo ver o filho assim, mas nada poderia ser feito. Justo naquele dia, soube que o doutor Park teria duas cirurgias em um curto período de tempo, e eles não poderiam se despedir dele.
[•••]
— Senhor? Voltou mais cedo hoje — a governanta abriu a porta para receber o médico no hall de entrada com um sorriso gentil, mas logo percebeu a tensão no rosto do patrão ao ouvir a música vinda da sala. Ela deu espaço para ele entrar e disse: — Seja bem-vindo.
— Boa noite, Sunny — cumprimentou o médico com a voz cansada, soltando um suspiro longo. Ele olhou ao redor e perguntou: — Não me diga que temos visitas a essa hora?
— É o de sempre, doutor. Aqueles amigos da senhora Park. Eu disse para ela não beber tanto desta vez, que o senhor não gosta, mas a senhora IU é assim mesmo.
— Isso significa que ela está embriagada — afirmou o médico, passando a mão pelos cabelos de maneira desajeitada, evidenciando toda a sua preocupação. — Vou entrar pelos fundos. Avise a IU que já estou em casa. Vou tomar um banho e descansar.
— Não se preocupe, senhor, eu aviso.
Dito isso, Park se dirigiu aos fundos e finalmente entrou em sua casa, dirigindo-se ao seu quarto para tomar um banho e descansar. No entanto, ao banhar-se, em vez de relaxar, começou a sentir mais raiva. Aquela situação era o cúmulo, pois não era a primeira vez que isso acontecia. Ele não suportava a ideia de sua esposa beber, especialmente na companhia daquelas pessoas que costumavam encher a cabeça dela com coisas fúteis e sem futuro.
Saindo do banho, o médico vestiu uma roupa confortável para dormir: uma calça de moletom preta e uma camisa de gola redonda branca. Ele estava prestes a se deitar quando sua esposa entrou no quarto com uma taça de vinho em uma das mãos, visivelmente embriagada e cambaleante. Jimin estava cansado demais, e não era apenas por conta do trabalho.
— Meu amor — a morena disse, sorridente e em tom alto, aproximando-se do marido, e tentou abraçá-lo e beijá-lo, mas ele imediatamente se afastou.
Jimin estava profundamente chateado, e mesmo compreendendo os motivos pelos quais se sentia assim, IU continuava a provocá-lo em vez de buscar a reconciliação, algo que ela sempre fez muito bem — provocar a ira do lúpus. E, para atingir seu objetivo, ela não media as consequências de seus atos.
— Como sempre frio como um iceberg, doutor Park Jimin — debochou, rindo da expressão dele, enquanto fazia gestos com os dedos, cambaleando sobre os saltos.
O alfa se afastou, olhando para a ômega com desgosto. Ela sempre usava aquele tom de deboche quando estava embriagada. O lúpus se sentia tão fraco, tão machucado diante daquela situação que não sabia se ainda amava a sua esposa.
— Me deixe descansar, volte para seus amigos — bradou, com seriedade. Não queria chorar ou demonstrar alguma fraqueza diante dela, já era o bastante toda a humilhação pela qual estava passando. — Não quero discutir com você, IU.
— Quem vê pensa que está com ciúmes, nem sequer cumprimentou meus amigos, mas se tratando do grandioso Park Jimin, não é? Você é sempre assim distante, nem ao menos ciúmes da sua esposa sente. Acho que se eu transar com um daqueles caras na sua sala não fará diferença alguma, não é mesmo?
— Você costuma se esfregar em qualquer um quando está bêbada, IU, não seria novidade te pegar fazendo coisa pior — gritou enfurecido diante dela, deixando o último resquício de sua paciência evaporar. — Você não me respeita, nunca respeitou, acha isso certo?
A verdade é que, apesar de tudo, Jimin ainda buscava entender o porquê da única pessoa que jurou amá-lo em toda sua vida, no presente momento, parece odiá-lo. Por que IU insistia em machucá-lo a todo custo de diversas formas? Teria ele feito algo de errado? Algo que a magoasse?
Sentia tanta falta da sua doce ômega e se perguntava todos os dias onde foi parar os beijos, as carícias cheias de ternura, a louca paixão que os levava a resolver tudo na cama debaixo dos lençois, mas sobretudo, se perguntava onde foi parar todo amor que um dia sentiram.
— Você não tem respeito por mim, IU. Quantas vezes te tirei de cima de outro homem, sabe o quanto isso me machuca?
— Tudo isso é culpa sua! — A morena gritou ainda mais alto que o alfa, entre os dentes, avançando sobre ele e puxando sua camiseta. — Você vive enfiado naquele hospital, Jimin, nunca me dá atenção. Olha para mim, eu sou bela, sou jovem e ainda abri mão de boa parte da minha carreira para ficar com você.
— Você abriu mão da sua carreira por mim? — questionou, deixando toda sua mágoa e tristeza transbordar, transformando tudo em lágrimas amargas, e mais uma vez ergueu sua voz em um tom jamais usado com ela. — Não seja hipócrita! Quantas vezes eu pedi que desse uma pausa para podermos ter um filho, mas você inventa desculpas porque não quer parar e não, quer ter um filho comigo! — rosnou com intensidade.
Toda a fúria do lobo dentro de Jimin se manifestou. Seu lúpus estava incontrolável, agora dominando-o por completo. IU sabia que seus rosnados poderiam machucar seus ouvidos, mas a ômega ignorava, pois, sabia que ele sempre se culpava depois das brigas e cedia.
— Admite, IU. Admite que nunca quis me dar um filho porque nunca me amou — esbravejou Jimin, segurando seus braços com desespero nos olhos. Ele buscava uma confissão, mesmo que soubesse no fundo, que o amor se perdera há muito tempo. — Você nunca quis ter uma família comigo?— insistiu, ouvindo a resposta indiferente de IU, que menosprezava seus desejos.
A indiferença dela o atingiu como facas, mas ele preferia a dor física à brutalidade emocional. Não era a primeira vez que sentia aquela sensação ruim com o olhar frio da esposa sob a influência do álcool, mas agora reconhecia que ambos estavam mentindo para si mesmos, evitando uma verdade dolorosa.
“Você é um tolo. Ela nunca foi a ômega certa para nós— ecoava a voz do lobo.”
O lúpus mal-humorado tem toda razão. Aquele relacionamento não passava de um erro que agora pesava nas costas de Jimin. Ele se sentia burro por repetir o mesmo equívoco, martirizando-se por alguém que nunca valorizou seus sentimentos.
— Às vezes me pergunto como fui me apaixonar por alguém como você. Como pode ser tão vazia, tão fútil… — murmurou o alfa, apenas para ser interrompido por um grito de IU.
— Ah, cale a boca. Você aproveitou todos esses anos me exibindo para seus amigos. Sou apenas mais um troféu na prateleira do médico-cirurgião mais bem-sucedido da Coreia.
Ela tinha ultrapassado todos os limites desta vez, a gota d'água. Quando se deu conta, já era tarde demais. A discussão os levou ao closet, onde as emoções alcançaram seu ápice. Jimin a interrompeu, indignado com o peso das palavras dela.
— Eu me apaixonei por você como um tolo — disse, limpando as lágrimas que insistiam em escorrer por seu rosto. Seu peito doía, queimava com tristeza e aflição, enquanto uma chuva de lembranças inundava sua mente naquele instante.
"Tolo, você é um tolo, Park Jimin — a voz de Lucky ecoava em sua mente.
Esse amor, se é que se podia chamar assim, tornara-se sua maior fraqueza.
— Quando nos conhecemos, mal pude acreditar. Parecia um sonho, sabe? Um garoto tímido que sonhava em ser médico como o avô, vindo do interior para estudar na capital, acaba conhecendo a garota mais linda e desejada da faculdade, despertando paixão nela. Eu realmente não acreditava que havia despertado seu interesse até você confessar que gostava de mim.
"Um conto de fadas perfeito, mas contos são apenas contos, meu caro — o lobo afirmou massacrando ainda mais o coração dolorido do médico."
— Sabe, IU, estudei incansavelmente não só porque era meu sonho e o de minha família que eu me tornasse médico, mas também porque queria estar à sua altura. Sonhava em te levar para lugares chiques, te dar joias, carros, o que fosse! Queria te oferecer todo o conforto, mas, acima de tudo, o meu amor.
— Ji, amor, eu...
— Não — ele negou com a cabeça, levantando a mão quando a ômega tentou se aproximar, afastando-se um passo para trás. — Sonhei em ter uma família com você. Mas e você, o que sonhou nesses doze anos de relacionamento além de ser modelo, atriz e se exibir para homens ricos em festas e viagens onde não pode levar seu esposo?
A sala silenciou, mas a tempestade emocional entre o casal continuava a crescer. A ômega então decidiu se manifestar.
— Você só está com ciúmes, Jimin, amor, esq...
— Chega! — Ele voltou a gritar, enfurecido: — Você sempre joga a culpa de tudo em mim, quando, na verdade eu sou a única pessoa que luta para manter esse relacionamento!
— O que você quer dizer com isso?
— Estou cansado — confessou, com a voz falhando — Cansado demais para aturar suas infantilidades, cansado de tentar provar o meu amor quando está mais que claro que não passa de algo unilateral. Sempre foi e sempre vai ser.
Dito tudo que estava engasgado, o alfa deu as costas à mulher, pegando o primeiro par de tênis que viu dentro do closet e, logo após colocá-los, pegou uma das muitas malas que haviam ali, jogando-a no chão. Incapaz de conter a raiva, ele sabia que se ficasse mais um segundo naquela casa com a ômega, poderia fazer algo do qual se arrependeria depois. Então, simplesmente abriu a mala e jogou algumas peças de roupas nela.
IU observou por alguns minutos o que para ela parecia apenas uma cena dramática, onde o marido encenava por mero ciúmes. Logo constatou, no entanto, que não se tratava apenas de uma encenação, pois ele simplesmente pegou a mala e saiu sem ao menos dizer para aonde iria.
"Eu disse a você, IU. Um dia ele iria se cansar e te deixar. Ninguém aguenta ser manipulado por tanto tempo.”
Park estava saindo de casa e não pretendia mais voltar após viver doze anos, preso em uma mentira. Não restava mais nada além de mágoas e ressentimentos.
Betagem por Daylluv
Obrigada a todos leitores 🙏❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro