capítulo 8
Jorge Baggio
Entro na mansão a passos largos à procura do pai, mas só encontro a empregada.
-Sr. Jorge, deseja alguma coisa? - ela pergunta vendo o meu semblante aflito.
-Cadê meu pai? - pergunto ofegante.
-Ele saiu cedo, e não disse para onde e nem quando voltava. - diz a empregada atenciosa.
-Meu irmão tá aí?
-Tá na academia.
-Ótimo, prepara algo pra eu comer e leva lá pra mim. - digo indo em direção à academia.
Queria tanto dizer para o Pai que havia conseguido e mostrar que poderia participar das coisas grandes assim como ele, que poderia sentar com o Pierre ou qualquer "fodão" que quisesse, e negociar com eles; eu até mesmo estudei para isso.
"Se você não é um assassino, convença que matem quem você queira." - era o que meu pai dizia sobre a influência que ele tinha na cidade.
A arte de manipulação que meu Pai possuía era invejável. Sabia que ele poderia convencer qualquer pessoa, era por isso que era o líder da cidade e amado pelo povo. Será isso que eu irei me tornar?
Passo pela sala em direção à academia quando escuto uma desagradável minha madrasta.
-Que história é essa de que você vai terminar com a minha filha?
Sophia Baggio, a mãe de Samantha e mulher do meu pai, desce as escadas até a sala, com uma legging preta e uma camisa social que reconheci ser do meu pai. Mesmo depois dos quarenta, a mulher continuava linda como a filha, com seus olhos azuis e cabelos loiros.
-Ah, é que se... sabe, esse tipo de coisa é... - Digo em tom de zombaria.
-Que saber, fodasse - digo mostrando o dedo do meio para ela. - Sua filha é insuportável, eu amo ela, mas é uma mulher chata. - Digo descendo as escadas em direção à garagem e academia.
A academia era uma mescla de aparelhos de musculação e de lutas, que era o lugar preferido do pai na casa.
Meu irmão mais velho estava esmurrando um saco de pancada com uma força desproporcional aos treinos que eu praticava. Conti estava sem camisa e com uma bermuda larga, tinha um corpo definido, mas não era tão forte. Ele era idêntico a mim, tirando a sua barba baixa e bem aparada, e os cabelos longos presos em um rabo de cavalo.
-Você não faz ideia da sorte que eu tive, irmão. - Digo interrompendo sua sequência de golpes.
-O que? Você já resolveu a parada com o Pierre? - Ele pergunta ofegante tirando as luvas.
-É claro - digo pegando pra ele uma garrafa de água que estava ali. - O acordo tá feito, sabe que horas o velho volta?
-Não, ele tá resolvendo as coisas dele, daqui a pouco ele tá aí. - Diz bebendo sua água. - Acha que o Pierre desconfiou?
- Acho que não, e disso que eu estou falando, a mina que eu peguei no casamento do John estava lá, a única coisa que tive que fazer foi me passar por apaixonado por ela. O irmão dela tá envolvido no assalto, nem precisei daquela lorota que vocês mandaram eu dizer.
-Eu conheço?
-Ellen Sandler, conhece?
-Ela é irmã da Cassandra?
-Irmã, mas ela dá de dez na Cassandra. - Digo lembrando daquele rostinho angelical da Ellen junto com aquele corpo que me aguardou naquela madrugada.
-O pai dela não é o Hector Sandler?
-Claro que é. - Digo lembrando do velho encrenqueiro que me deu tanto trabalho. - Como aquele velho asqueroso fez uma filha daquela? - Penso em voz alta.
-Ela não pode imaginar o que você fez com o pai dela. - Diz Conti se divertindo.
-Jura, Conti? Claro que eu não vou deixar ela saber o que eu fiz com aquele velho viciado.
Só de pensar na imagem do homem me dava uma raiva imensurável.
-Samantha esteve aqui, está irritada com você.
-Isso eu já imaginava, meu pai me ligou ontem enchendo o saco. - Digo pensativo. - Mas eu dei um tempo com ela, meu Deus, que mina insuportável.
-Mas ela disse que vocês estão juntos. - Diz o irmão rindo da situação. - Ela disse que só a morte os separaria.
-Eu precisava de um tempo para focar nessa questão do Modric, e não dá para pensar direito com a Cassandra me enchendo o saco. - Digo indo me sentar em uma mesa ao lado.
-Mas vai ter que voltar com ela. - Afirma Conti se sentando ao meu lado ensopado de suor.
-Provavelmente, mas eu vou ficar com essa garota que eu te falei primeiro, depois eu vejo o que faço.
-Isso que dá namorar a sua irmã? - Diz Conti debochado.
-Cala boca, Conti. Como eu ia adivinhar que meu pai ia pegar a mãe dela. - Nós dois sorrimos com a situação em que eu me encontrava, então o irmão se lembra de uma fofoca divertida.
-Você ficou sabendo que o pai dela fugiu com o Rachel?
-O pai da Samantha. - Digo ligando meu modo fofoqueiro. - Tá falando sério?
A mente se lembra da ruiva dos olhos verdes maravilhosa que havia na boate dos Vasquez, que fazia a noite de todos os ricaços da cidade feliz. Era a mulher mais linda com quem havia passado a noite, tinha sido uma fortuna, mas valeu a pena.
-O Vasquez deve estar puto com ele.
-Ele pediu três garotas e um carro em troca dela.
-A puta mais cara da história. - Digo sorrindo.
-Bota caro nisso. - Diz o irmão acompanhando.
-Tão rindo do que? - O pai desce as escadas e se une a nós com uma bandeja na mão, e nós nos calamos.
Meu pai não gostava que falássemos do ex-marido da esposa.
-Toma aqui. - Ele diz me estendendo a bandeja com um sanduíche com patê e uma xícara de chá.
-Obrigado. - Digo tímido.
-Deu tudo certo, Jorge? - Ele diz sem se sentar.
O pai era forte, tínhamos traços semelhantes a ele, adicionando algumas marcas de expressão, uma barba grisalha e cabelo grisalho aparado. Ele sempre andava bem trajado, com uma calça azul escuro e uma camisa de botão cor de areia, um comunicador prata e um tênis branco que o deixava preparado para disputar qualquer mulher que quisesse comigo ou com Conti.
-Sim, pai. - Digo comendo o meu pão. - O Pierre pediu pra se encontrar com o senhor na Kelly para discutirem os detalhes do acordo.
-Temos um problema, a afiliada do Pierre morreu. - Ele diz com uma calma que só serviu pra me deixar mais preocupado.
-Será que ele ainda vai aceitar algum acordo? - pergunta Conti.
-Eu vou fazer ele aceitar. - Diz pegando o copo de chá da minha mão e bebendo um gole. - Depois ele mata quem ele quiser.
O pensamento vai até Ellen, não queria que ela morresse, mas seria inevitável. E tinha um pressentimento de que não podia salvá-la, mesmo que quisesse.
Pierre até aqui havia se mostrado impiedoso, e agora matando alguém que ele amava. Ele matará todos que ele ver pela frente.
-Mas mudando de assunto, Jorge. - O líquido quente da xícara voa até meu rosto, queimando-o. Mas antes que eu tenha alguma reação, o pai pega em meu pescoço, me forçando contra a parede. - Presta atenção, você nunca mais fala com a minha mulher daquele jeito, e nem sonhe em terminar com a Samantha, alguma dúvida? - Ele fala olhando no fundo dos meus olhos, apertando o meu pescoço sem demonstrar nem um resquício de que eu fosse seu filho.
-Tá bom. - Digo sem ar, mas não parece ser o suficiente para que ele solte.
-Ele tá ficando vermelho, pai. - Diz Conti preocupado, e só aí o pai solta.
-Isso é pro seu bem, ou melhor, pro nosso bem. Você entende? - Ele diz com um ar de cuidado. Assinto positivamente com a respiração pesada e a dor da queimadura na cara. - Ainda mais agora, teremos que derrubar o Modric, os Vasquez, o seu tio e os Maltas. Temos muita coisa pra fazer nessa cidade e não podemos perder nossos aliados.
-Desculpa. - Digo com as lágrimas vindo ao meu encontro.
-Você tá precisando de ajuda pra comer ela? Se quiser, eu saio com ela de novo enquanto você faz as suas coisas, tá? Eu saio com a sua namoradinha com gosto, e à noite eu faço o mesmo com a mãe dela. Mas você vai ter que namorar com essa garota, você gostando ou não.
-Eu namoro com ela. - Digo com toda confiança que restou.
-Ótimo, mas uma coisa, ela me disse que você terminou com ela por causa de uma garçonete que jogou suco na cara dela ou algo do tipo.
-Não foi exatamente isso, foram vários motivos.
-Se o seu envolvimento com alguma mulher atrapalhar os meus planos com a família da Samantha... - Ele diz olhando no fundo dos meus olhos com uma frieza que me intimidava mais do que qualquer ameaça de Pierre. - Eu vou matar cada membro da família dela, e estuprá-la na sua frente, e depois eu mato ela. Então, lembre, meu filho, que você é apaixonado pela Samantha, Jorge. E nem pense em outra possibilidade.
O pai se ergue finalmente e vai embora dizendo para nós.
-Vão tomar banho que vocês dois estão fedendo, temos muitas coisas para fazer. - Ele se vai.
O choro insiste em vir, mas eu o controlo. Não podia chorar. Tinha que controlar a dor da queimadura na cara, tinha que controlar a dor de não poder fazer o que queria, tinha que controlar a dor das humilhações diárias que o pai fazia comigo e com o irmão. Tinha que entender que nunca me separaria de Samantha, mesmo que mulheres maravilhosas como Ellen passassem pelo meu caminho.
Tomaria o lugar do pai algum dia. Ele só está me educando. Penso. Eu tenho que ser igual a ele, se quiser ser respeitado. E era isso que eu devia fazer. E era isso que faria.
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