capítulo 6
Pierre Ferrari
Duas semanas atrás
Na porta da casa de Modric, eu aguardo atenderem a porta acompanhado por Aisha; ela estava linda trajada com um vestido azul brilhante, seu corpo era escultural, e seus longos cabelos lisos valorizaram a beleza de seu rosto.
- Deveria se vestir assim mais vezes, ficou linda. —Digo a admirando.
- Para estar do seu lado, tem que estar apresentável. —Ela diz com uma voz doce.
Pego em seu pescoço e lhe dou um beijo afetuoso que a faz sorrir.
Adorava o sorriso dela.
A amizade colorida que vivia com Aisha era uma das poucas coisas simples que tinha na vida. Conversávamos sobre tudo, e ela me apoiava, quando eu nem sequer merecia, era um dos motivos para que eu gostasse dela.
A porta é aberta, e minha atenção se volta para Nancy, minha afilhada.
- Pi...Pipi. —a menina abre a porta e pula em meus braços.
- Oi, minha princesa. —digo a pegando no colo e beijando sua bochecha. —Você tá linda, Nancy.
-O... obrigado, você tá... tá mais. —Ela diz pegando em minha camisa longa azul clara. —O que você t... trouxe? —ela pergunta, enxergando a embalagem na minha mão.
- Seu presente. Meu bem. —Lhe entrego após colocá-la no chão.
Um sorriso de satisfação brota em seu rosto, e ela me abraça forte.
- Te... Te Amo, Pi...Pipi. —Ela diz gaguejando com o apelido que só a família podia pronunciar.
Ela abraça Aisha, e finalmente subimos a escada até a sua casa e chegamos à sala onde a família nos esperava.
Nancy vai para o seu quarto provar o presente. Modric, ao me ver chegar, para de mexer em seu comunicador e vem até nós sorridente, cumprimentar Aisha e se voltar para mim.
– Como vai, Pipi? —Ele me abraça forte. —Que bom que você veio.
O apelido ainda me fazia rir, desde o dia que Nancy tentou falar seu nome por quase um minuto por conta da gagueira, e agora os amigos o chamavam assim, e por algum motivo gostava disso.
- Você acha que eu ia perder o aniversário da minha princesa, guardou bolo para mim, né? —digo fazendo o nosso cumprimento de mão particular, igual dois adolescentes idiotas.
- Claro, irmão. Mas está horrível, doce para cacete. —ele diz descontente, o que nos faz rir.
- Gente, como é que eu estou. —Volta Nancy dentro do seu vestido que lhe dei de presente.
O vestido amarelo florido combinou com o sorriso da minha afilhada linda.
- Tá uma gatinha. —Diz Aisha, se abaixando sorridente. —Dava vontade até de morder. —Aisha agarra a garota que sorri e simula a mordê-la na barriga e as duas começam uma brincadeira sem se importar com a nossa presença.
Modric me leva ao terraço, sobre o supermercado do qual ele era dono.
? Há vista panorâmica da bonita cidade, gostava da arquitetura de Zagreb e de sua calmaria que não se encontrava no resto do continente.
No terraço se encontra uma pequena mesa com dois lugares à nossa espera. Sobre a mesa há um uísque de Modric e uma jarra de suco de uva para mim, e um balde de gelo.
Fico feliz em saber que finalmente Modric não vai tentar me fazer beber com ele, não tenho nada contra bebidas ou droga do tipo, mas a minha criação não permite.
Eu sou uma máquina de matar que não pode ter distrações, o que me livrar de qualquer tipo de alucinógeno
- Como foi a festa de Nancy? —pergunto sobre a reunião de crianças catarrentas que houve naquela manhã na casa.
- Horrível, ainda bem que você não veio, essas amigas dela são terríveis. —Ele diz enquanto eu me sentava ao seu lado.
- Crianças não são tão ruins assim. —falo me servindo do suco à minha espera.
- Você diz isso porque você só convive com uma. Não queira ver um bando de crianças correndo na sua sala, sério? Você ia passar mal. —Ele diz bebendo seu uísque. —Qualquer hora eu infarto por conta dessa menina.
- Se você diz. —digo rindo do seu jeito exagerado.
O amigo já havia passado dos cinquenta anos, e o corpo obeso e a barba e cabelo branco o deixavam com uma aparência de ter bem mais, o rosto era carregado pelas marcas de expressão e o olhar pesado e o tom rosado de sua pele, dizia que ele não estava brincando, na parte do infarto.
Havia conhecido Modric em Istambul, sua cidade natal, quando ele me ajudou com uma gangue que estava atrás de mim devido a um pen drive que havia recuperado e iria levar para o dono.
Ele e a mulher me esconderam durante alguns dias e me ajudaram a me recuperar de alguns ferimentos, e lá nos conhecemos melhor, e desenvolvemos uma bela amizade. Mantivemos contato ao longo dos anos, e, a dois anos atrás, quando decidi que era hora de descansar e descobri que o amigo agora estava em Zagreb, não pensei duas vezes antes de mudar para cá. Poderia ficar perto da minha afilhada que não via desde o nascimento.
- Você não quer ter filhos? Você gosta de crianças. —Modric pergunta bebendo do seu uísque.
Eu me sentia mal por não poder dizer totalmente a verdade, o único amigo que tinha, mas não podia colocá-lo em perigo, e me conhecia o bastante para saber que não daria certo como pai. Na verdade, tinha medo, por isso talvez nunca havia tentado ser um.
- Meu estilo de vida não permite, você sabe disso.
- Eu iria gostar de viver como você, como um justiceiro que salva geral e mata os bandidos ou quase sempre assim. Tu conheceu o mundo, isso é muito foda.
- Mas é muito penoso, você perceberia que não valeria a pena, ou não conseguiria suportar tudo que passei.
- Mas a vida aqui é tediosa, eu queria ter aproveitado mais a juventude, viajado, conhecido lugares diferentes, sei lá, sinto que não vivi o suficiente.
- Você tem uma família linda, coisa que eu nunca vou ter. Você olha para mim e queria viver o que eu vivo e eu olho para você e queria viver o que você vive, mas no final a gente só deveria achar o meio-termo de tudo isso, entende?
- Entendi porra nenhuma, Pipi. —Ele ri confuso.
- Você perdeu uma das melhores coisas que eu já disse. —falo rindo igualmente.
- Cadê o Roger? —pergunto lembrando da falta do primogênito do amigo.
- Tá nas putarias dele, está com uma novinha aí, sei lá de onde, mas espero que dê certo dessa vez.
- Não acha que está na hora de pôr ele no seu lugar e tirar umas férias, sair por aí?
- Assim que Nancy estiver um pouquinho maior, eu e a minha mulher estamos pensando sim, em se perder por aí. Que lugar você indica?
- Para o lado da Noruega, Suíça e Suécia, para esses lados é um espetáculo de bonito, você vai gostar.
- Você vem conosco, vamos passear um pouquinho?
- Eu não posso ir à Noruega nem na Suécia, senão eles me matam, só posso na Suíça.
- Como você arruma tanta merda com trinta e três anos de vida. —ele pergunta, algo que nem eu sei explicar.
- Sei lá, eu gosto de pensar que eu curtir a vida.—Digo sorrindo.
Nancy vem correndo até nós, e se serve de um copo de suco, e me dá um abraço:
- Por que você não se casa com a Aisha? Ela é mó legal.
Se ela soubesse. Penso sorrindo da pergunta?
Não poderia fazer isso com Aisha, era melhor do jeito que tá, não podia complicar mais a sua vida, mesmo gostando dela.
Mas só amei uma mulher e a destruí por conta disso, não suportaria fazer o mesmo com Aisha.
- Temos questões complicadas, mas eu e ela estamos felizes do jeito que tá.
- Seria melhor se você me desse um... uma garota para ficar com, confusa. —seu filho seria o que meu?
- Irmão. —digo olhando para Modric, que acena positivamente.
- Me dá irmãozinho, Pipi, por favor?
- Algum dia, quem sabe? —minto, por algum motivo, aquilo doeu no meu coração. —Eu conheci uma cachoeira aqui perto, topa passear lá semana que vem?
A garota comemora sorridentemente e começa a falar um tanto de coisa sem sentido, e então ela se lembra do seu último presente.
- Pipi, ca... cadê o filme que você ia co... comprar?
Alegria me contagia, a paixão da garota por história vem de mim, desde dos seus cinco anos eu lhe contava várias histórias que vivi e de algumas outras que conheci no caminho. Às vezes comprava história de Aguiar, mas agora decidi comprar a saga de filmes de Velozes e Furiosos por quase cem mil bits.
- Paramos em qual?
- No oito, que o ca...carecão vira do m...mal.
- Qual dos carecas?
- Esqueci. —Ela diz confusa. —Mas só vamos ver.
- Após o jantar. —Diz Modric.
E assim fazemos, o jantar é servido pela matriarca, e experimento do bolo, que realmente estava puro açúcar, vamos para a sala e eu preparo o projetor e coloco o filme para rodar.
Eu me deito no chão, abraçado por Aisha de um lado e Nancy no outro, Modric e a sua esposa no sofá.
Minha família me odiava. Mas aquela família não, muito menos Aisha, era a coisa mais perto de ser amado que eu tinha.
Ali era a única família que me importava e cuidaria deles para sempre, era uma promessa, mas uma que eu não conseguiria cumprir.
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