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XXXIV. A força de um amor

Tinha chegado o final de semana e eu tinha inventado uma desculpa qualquer para a Manu ficar em casa. Não tinha a menor condição de ela ir para a casa do pai. Eu ainda não tinha contado para a minha filha sobre o acidente do Samuel. Mas de hoje não passaria.

Tínhamos acabado de jantar e depois de colocar o seu prato na pia, ela me olha com as duas sobrancelhas juntas, com os bracinhos cruzados.

– Mamãe, a senhora brigou com o papai Samuel?

– Não filha, porque pergunta? – ela já estava sentindo falta dele. Não era de se estranhar.

– É por que ele nunca mais veio aqui em casa para me dar um beijo e eu nunca mais ouvi a senhora falando no telefone com ele...

– Filha, é um pouco mais complicado do que isso... – deixo o meu prato em cima da mesa mesmo e pego a minha filha nos braços. Daqui a alguns meses eu já não vou conseguir fazer isso. Ela já está ficando muito grande.

Sentamos juntas no sofá da sala e pego uma mecha do cabelo dela e começo a enrolar no dedo, procurando um melhor jeito de começar a falar.

– O papai Sam está bem mãe? – ela pergunta.

– Filha, ele está bem, mas ele está no hospital... Ele vai passar mais alguns dias lá.

– Ele está doente é? Que nem daquela vez que eu fiquei com febre e tive que ficar deitada?

– De um jeito diferente filha. O Samuel se machucou filha, ele machucou a cabeça dele. Sabe como nos filmes às vezes o mocinho não lembra quem ele é?

– O papai não sabe quem eu sou? – vejo um brilho de tristeza cruzar os seus olhinhos.

– Não minha linda... Ele não lembra de conhecer você, ele não lembra de mim, ele não lembra de muita coisa na vida dele princesa...

– A senhora já tentou dar um beijo nele? Nos filmes isso sempre resolve. Um beijo de amor verdadeiro...

– Creio que não seja tão simples assim filha.

– A senhora não sabe se ama ele é? E se eu der um beijo na bochecha dele mãe... Eu tenho toda a certeza do mundo que eu amo o papai Sam. Será que assim ele melhora mãe? – ela fala com uma vozinha triste e baixa.

– Não é bem isso filha, é que na vida nem sempre acontece como nos filmes... E você sabe que o amo sim... Vamos ter que ver como a situação vai ficar minha filha. Temo que vamos ter que esperar ele sair do hospital para ter uma resposta mais completa.

– Mãe, será que eu posso visitar ele no hospital? Mesmo que ele não saiba quem eu sou eu queria ficar um pouco com ele...

– Minha linda, não sei se é a melhor coisa para se fazer no momento... O Samuel ainda está um pouco confuso e pode estranhar a sua presença...

– E se eu levar um desenho que eu fiz da gente mãe, será que vai ajudar?

– Vamos separar o seu melhor desenho e depois vamos entregar para ele, está certo?

– Certo mãe.

Ela vai ficando gradativamente mais alegre, até que chega a hora dela dormir. Vou caminhando até o quarto dela e ela me parece um pouco receosa antes de entrar, ela não se mexe e fica olhando para os próprios pés.

– Aconteceu alguma coisa filha? – pergunto a virando para mim, fazendo com que ela me encare.

– Não mãe, não é nada, é que... – ela parece incerta com as palavras. – Posso dormir hoje com a senhora?

– Comigo? – não consigo esconder a surpresa na minha voz.

– É, faz tempo que eu não durmo com a senhora e meio que deu saudade e eu queria. Posso mãe? – sei que esse não é o motivo dela querer ir dormir junto de mim, mas saber o motivo real por detrás daquilo, me emocionava, tanto que meus olhos se encheram de lágrimas.

– Claro que pode filha.

Ela ergue o rosto e sorri. Na ponta dos pés, vai rápido para o quarto e escuto o barulho dela se jogando na minha cama. Pegou o cobertor da filha e se dirigiu ao quarto sorrindo. Se aconchegou nos lençóis quentinhos e limpos e na sua pequena, pensando que ela ainda era a mulher mais sortuda do mundo por ter aquele pequeno anjo em sua vida. Adormeceu com um sorriso nos lábios, como há dias não conseguia.


A semana passou devagar e sem novidades. Samuel ainda não conseguia lembrar de nada. Manu continuava indo para a escola todo dia. Ela evitou encontrar ou falar com o Ricardo, e impressionantemente, ela estava tendo sucesso.

Era sexta feira e hoje seria um dia bom. Pelo menos na teoria, já que o Samuel seria liberado hoje do hospital. Pedi para a minha mãe pegar a Manu na escola, adiantei a consulta de hoje a tarde. Queria não ter pressa para falar com o Samuel.

Sai do escritório e fui direto para casa, tomar um banho e trocar de roupa. Demorei um pouco mais do que o necessário, mas estava perdendo a coragem para o que eu sei que tinha fazer.

Mas não poderia prolongar mais. O sol ainda tinha um lugar no céu quando eu entrei no hospital. Dona Rita estava preenchendo a papelada para a liberação do neto dela e fui informada que ele estava trocando de roupa para sair.

Sorri enquanto enxugava as palmas das minhas mãos na parte detrás da minha calça jeans.

Vamos lá Alice, você consegue fazer isso.

Cheguei na frente do quarto em que ele estava e dei batidas de leve na porta.

– Pode entrar – ele fala.

Entro no quarto e sorrio ao ver como ele estava bem. Com toda a certeza, roupa de hospital não favorece ninguém. E ali, vestido com o seu jeans que eu mais gostava e uma camisa branca toda lisa, e uma chinela aberta, ele estava bem melhor.

Seu cabelo estava mais comprido e a barba também poderia ser aparada, mas ele estava adorável agora. Quer dizer, é, acho que vocês me entendem...

– Oi Alice – ele me dá um sorriso verdadeiro, mas murchei um pouco quando percebi que era o sorriso que ele dava aos seus amigos.

– Finalmente você vai sair não?

– É, cuidaram muito bem de mim aqui, mas mal vejo a hora de poder sair, e fazer o que eu quiser, na hora que quiser...

– Cansou da rotina do hospital?

– É, podemos dizer assim... Eu ainda vou ter que vir muitas vezes por aqui, por causa... Você sabe não é... – ele aponta para a cabeça e dá um sorriso amarelo.

– Ah sim, claro... Samuel, será que u posso conversar com você um momento?

– Claro Alice... – ele junta um pouco as sobrancelhas e se aproxima de mim. Ele indica o sofá do quarto e eu sento. Ele fica na minha frente, encostado na sua cama hospitalar. – Está tudo bem com você?

– Na medida do possível – dou o meu melhor sorriso. – Olha Samuel, o que eu tenho para dizer a você nesse momento não é nada fácil... Pelo menos não para mim...

– Alice, estou começando a ficar preocupado, você tem certeza de que está bem? – ele apoia sua mão em cima da minha e eu retiro rapidamente, assim seria bem mais difícil...

– Tenho. Olha Samuel, temos que conversar sobre nós... Eu sei que quando eu digo nós para você não quer dizer a mesma coisa para mim, e é por isso que temos que acertar algumas coisas agora.

– Alice eu não... – ele tenta começar a falar, mas eu o interrompo.

– Olha Sam, eu passei essa conversa milhares de vezes na minha mente, e pensei muito no que vou fazer, até conversei com a sua avó sobre o assunto. E concordamos que é para o melhor.

– O que é para melhor?

– Sobre nós dois terminamos.

– Como? – ele arregala os olhos e parece confuso. – Você vai terminar comigo?

– Não é assim Samuel... Sei que você em muita coisa da vida que vai ter que recuperar. A faculdade, a administração do hotel, seus amigos, compromissos, tudo isso. E não sei se você vai ter tempo para cuidar de um relacionamento que você sequer lembrar.

– Mas e você Alice?

– Eu vou ter que ficar bem Samuel. E também não é como se eu fosse sumir da sua vida. Espero que ainda possamos ser amigos, e qualquer dúvida sobre nós, ou sobre você, ou sobre qualquer plano, pode vir me procurar. Eu vou fazer tudo ao meu alcance para te ajudar... O que eu não posso fazer nesse momento é te prender a mim.

– Você não me prende Alice...

– Eu sei disso Sam, acho que me expressei mal, o que eu quis dizer é que eu não tenho o coração para ficar assim enquanto você não tem lembranças minhas. Isso me machuca, e te conhecendo como eu conheço, sei que você não gosta de magoar outras pessoas desnecessariamente.

– Não diria que o nosso relacionamento é desnecessário Alice, eu só não recordo.

– Tá vendo? Não que você tenha culpa, mas sempre que você diz que não lembra de mim, algo quebra aqui dentro. Vamos dar um jeito de recuperar a sua memória, só não acho que posso continuar a ser a sua namorada.

– Você tem certeza que quer fazer isso Alice? Eu posso me esforçar e...

– Não Samuel, não quero que você se esforce para ficar comigo, quero que você queira ficar comigo.

– Eu entendo Alice, e sinto muito – seus olhos desviam dos meus e ele solta um longo suspiro.

– Eu sei. Eu também – dou um beijo em sua bochecha e fico de pé. – Mas saiba que eu ainda sou sua amiga. Pode vir me procurar na hora que quiser. A Carol tem o meu endereço, qualquer coisa.

– Você é uma mulher incrível Alice – ele fica de pé e me abraça forte. Controlo desesperadamente as minhas lágrimas nesse momento. – A gente se vê por aí?

– Com toda certeza – não sei como as palavras saíram dos diversos nós da minha garganta. Mas consegui sorrir e me despedir dele.

Assim que aquela porta de vidro se fecha atrás de mim, a primeira lágrima escorre. Não aqui, não agora. Mas antes que eu me afaste demais, acabo encontrando a avó do Samuel no corredor. Ela nem fala nada, somente abre os braços e me dá um abraço apertado.

– Ah minha filha, você conversou com ele, não conversou?

– Sim.

– Vocês ainda vão se acertar, você sabe disso não sabe?

– É o que eu mais quero acreditar na minha vida dona Rita...

– Acredite aqui nas minhas palavras. Um amor tão bonito quanto o de vocês não vai acabar assim. Guarde as minhas palavras. Você vai ficar bem. Ele vai ficar bem. Você vão ficar ótimos juntos.

– Obrigada.

– Não minha filha, quem tem que agradecer aqui sou eu, por tudo o que você fez e faz por ele, por nós – ela segura firme meus ombros e enxuga uma lágrima que cai.

– Acho que eu preciso de uma caminhada para espairecer um pouco.

– Precisa de companhia?

– Não precisa. Leve o Samuel para casa e cuide bem dele. Eu não vou longe...

– Tome cuidado minha filha, e precisando de mim para qualquer coisa, você tem o meu número.

– Claro, e a senhora tem o meu não tem?

– Sim. Ligo sempre para dar as novidades.

– Obrigada, agora vou indo.

Mesmo sendo mais baixa que eu, dona Rita fica na ponta dos pés e leva a minha testa até os seus lábios para um beijo. Sorrio de lado e saio do hospital. Olho para o carro, mas resolvo andar um pouco a pé mesmo.

Andei sem rumo por algumas quadras, ainda estava perto do hospital, e ainda não tinha conseguido parar de chorar. Meu telefone tocou algumas vezes na minha bolsa, mas não quis atender, precisava de um tempo sozinha.

A tarde estava caindo e eu resolvi ir num parque. Ele fica perto da universidade e eu adorava ir para lá quando precisava pensar e ficar um pouco sem ninguém por perto. O banco que eu gostava de sentar estava vago, então sentei nele e abaixei a cabeça, usei a minha bolsa como travesseiro e tentei me desligar do mundo.

Meu peito ardia e tenho certeza que deixei o meu coração naquele quarto. As lágrimas já não vinham escandalosas, desciam lentamente pelo meu rosto. Mas eu fiz a coisa certa, pelo menos agora. Eu fiz.

Sinto uma mão no meu ombro e imediatamente fico tensa. Eu só posso ter perdido o juízo mesmo, ficar sozinha assim no parque, era pedir pra ser assaltada, mas sinceramente eu não estava pensando direito. Não sei se fico aliviada ou enfurecida ao ver o Ricardo na minha frente.

– Oi Alice, te liguei várias vezes, você não atendeu, comecei a ficar preocupado.

– Sério Ricardo, você preocupado comigo? Acho que não, as suas atitudes nas últimas semanas não condizem com o que você está falando.

– Au! Acho que eu mereci essa. Mas estava procurando por você. Acho que a Carol também deve estar agora, porque eu liguei pra ela para perguntar de você.

– Nossa, você ligou pra Carol, talvez você esteja mesmo preocupado, mas eu não estou muito no clima de falar agora Ricardo...

– Mas nós...

– Como foi que você me achou? – não sou nada sutil. Ou eu parei de chorar em algum momento ou ele não quis ser indelicado e mencionar as lágrimas.

– Eu lembrei que você gostava de vir aqui quando queria ficar sozinha...

– E o fato de eu estar aqui não quer dizer nada para você Ricardo?

– Por favor Alice, não faz assim...

– O que você quer Ricardo? – não estava no melhor humor para conversar. Minhas emoções estavam em frangalhos depois da minha despedida do Samuel.

– Podemos conversar?

– Não sei o que ainda temos para falar, ou sei lá qual será o novo aspecto da minha vida que você quer estragar...

– Por favor Alice, não fala assim comigo...

– E você quer que eu fale como Ricardo? Você foi o motivo inicial a minha briga com o Sam, se as coisas tivessem ido um pouco diferente, se talvez você pudesse por meio segundo tirar a sua cabeça do seu ego você poderia ter me escutado e entendido que eu não queria nada com você. Quem sabe assim nada disso teria acontecido...

– Eu deveria ter te escutado Alice. Eu juro por Deus, foi de uma maneira tosca e errada, mas agora eu escutei Alice, e vou manter a minha distância...

– E isso justifica alguma coisa? Ou era para que eu me sentisse melhor? Olha Ricardo, sinceramente eu não estou com a menor paciência agora para qualquer que seja a desculpa que você inventou para tentar conseguir o meu perdão. Depois nós conversamos, depois que eu tiver uma conversa definitiva com o Samuel, se um dia ele recuperar a memória sei lá, quem sabe eu não consigo falar normalmente com você.

– Então não precisa falar nada, apenas me ouça Alice. Eu preciso falar uma coisa com você. Sei que isso não deve ser muito relevante para você, mas preciso tirar isso do meu peito.

– Vamos logo com isso Ricardo, eu não tenho o dia inteiro – é, ele não ia desistir, então quanto mais cedo ele falasse, mais cedo aquela conversa chegaria a um fim.

– Eu que mandei a Bruna para o hotel, para ela tentar seduzir o Samuel.

– COMO É QUE É RICARDO? – pensei que ele tinha uma coisa ridícula e sem importância para falar, mas eu não estava preparada para escutar aquilo. Tanto que fico de pé tão rápido que a minha visão escurece por alguns segundos, ou escureceu de raiva, não sei ao certo.

– Isso mesmo o que você ouviu Alice. Eu que fiz a cabeça da Bruna para ir ao escritório do Samuel naquele dia e o seduzir. Na realidade eu não sabia que você iria visitá-lo, eu planejava pegar os dois no flagra de outro jeito e depois separar vocês dois.

– E você está falando isso para mim agora, assim tão calmamente?

– Sim. Não me orgulho do que fiz Alice. Mas você tem que entender que o meu sentimento por você ainda é meio maluco. E eu pensei que se você terminasse com o Samuel, você voltaria para mim. Nunca poderia imaginar que essa fatalidade fosse acontecer... E quando eu vi como você ficou Alice... Aquilo me destruiu. De verdade. Precisei ver você sem chão daquele jeito para perceber que você o ama de verdade. E para a minha ficha finalmente cair. Minha chance com você passou, acabou, foi embora. Não vou dizer que eu te superei Alice, verdade seja dita, acho que nunca irei conseguir. Mas percebi que prefiro te ver feliz a te ver comigo. E eu sinto muito. Mesmo.

As palavras do Ricardo me pegam de surpresa. Mais uma vez. Eu ainda estava furiosa com ele, mas do modo que ele me falou, eu meio que entendi o seu ponto de vista. Já fiz algumas maluquices nos meus anos mais loucos por amor... Nunca cheguei tão baixo, mas... Cada qual é cada qual. Não que eu tivesse pensado que o Samuel já tinha encontrado outra mulher, mas saber que foi armado me acalmou um pouco.

– Olha Ricardo. Ainda estava muito chateada com você. E agora sabendo disso, puta da vida é um eufemismo. Saber que você quis me magoar para me ter de volta não é coisa pouca. Eu preciso de um tempo.

– Tome o tempo que precisar Alice, mas será que você poderia me dizer se tem pelo menos uma chance de você me perdoar, nem que seja a mínima...

– Eu tento não guardar mágoas Ricardo. Mas essa vai demorar um pouco para ser esquecida. Esquecida não, mas pelo menos superada. Não vou conseguir manter a minha filha afastada de você, mas eu nunca menti para ela, então sugiro que você faça o mesmo e conte a verdade para ela. Conte o motivo de eu estar tão chateada com você. Claro que omita o que puder, afinal, ela ainda é uma criança.

– Pode deixar eu vou falar da melhor maneira possível.

– Agora eu vou indo Ricardo. Só quero ir para casa nesse momento – e ficar longe de você a sua cara mentirosa e manipuladora.

– Você quer que eu caminhe com você até seu prédio?

– Não é necessário, sei o caminho. Até mais Ricardo.

– Até Alice.

O dia tinha como piorar?

Terminar com o namorado, saber que o ex foi vítima de uma armação de um cara que você achava que conhecia melhor... Foi muita informação para pouco tempo.

Desisto de ir andando para casa e pego um táxi para andar três quarteirões. Estava cansada não somente física, mas psicologicamente. Depois de me deixar em frente ao prédio e pagar pela corrida sigo de cabeça baixa até o portão.

Cauê e Carol estavam ali. Carol segurava duas garrafas de vinho e Cauê duas de pizza. Nem precisei falar nada, somente de vê-los ali para me apoiar me permiti fazer o que gostaria desde que sai do hospital. Me joguei nas lágrimas e nos braços dos meus amigos. Ninguém falou nada. Eles já sabiam o que tinha acontecido.

– Vamos lá. Vamos subir, tomar um banho, tirar essa calça jeans apertada e colocar um moletom bem folgado, e nos empanturrar de pizza e de suquinho – ela fala divertida erguendo as garrafas.

– Estou sentindo que eu vou precisar de muito suco.

– Claro que sim, todo o suco que precisar minha linda – Cauê planta um beijo na minha testa e entramos no meu apartamento para que eu pudesse tentar começar a assimilar a montanha-russa que aquele dia tinha sido.


Domingo e eu estava na solidão do meu apartamento. Falei para as minhas duas babás que eu precisava de um pouco de tempo sozinha, para colocar as ideias no lugar e, mesmo relutantes, eles concordaram. Manu tinha ido direto da casa dos meus pais para a casa de uma amiguinha dela, para um aniversário e eu tinha ficado em casa aproveitando a solidão.

Não tive cabeça para cozinhar, então sai para comer fora. Foi uma boa desculpa para tomar um bom banho e vestir uma roupa melhorzinha. Estava quase deitada no sofá, lendo um livro, quando a campainha toca.

Estranho, não estava esperando ninguém... Olho pelo olho mágico e quase caio para trás quando vejo quem era. Abro a porta rapidamente.

– Samuel... Como vai? – não consigo esconder o misto de felicidade e tristeza que é vê-lo na minha frente. Seus cabelos foram cortados e sua aparência está bem melhor. Suas bochechas estavam um pouco mais coradas. Vestia a mesma roupa que usava quando o vi pela primeira vez, meu coração apertou ao vê-lo assim novamente.

Aquele casaco cinza, sua calça escura, camisa branca e um sapato social. Os mesmos olhos amendoados. Lindo como sempre.

– Olá Alice... Ainda lutando contra a minha amnésia... Mas estou tendo muita ajuda. Obrigado por perguntar, e você?

– Vou bem – menti.

– Desculpa chegar assim sem avisar nem nada, eu perguntei para a Carol e ela disse que você estava em casa, então resolvi vir. Espero que não se incomode...

– Claro que não Samuel, você pode vir me visitar na hora que quiser... – sei que a visita dele não era somente para perguntar como eu estava, mas mesmo assim. Era bom vê-lo.

– Podemos conversar um pouco?

– Claro, entra Samuel... – saio do caminho, abrindo espaço para ele entrar. Ele olha meu apartamento curioso e parece analisar tudo ali. Senta no sofá individual. – Sobre o que você quer conversar? – pergunto extremamente nervosa.

– Andei pensando muito esses dias, e a ideia de vir aqui ou não me tirou o sono ultimamente. Mas por fim, sei que vir aqui era a coisa certa se fazer...

– O que você quer dizer com isso Samuel?

– Eu ainda estava de cama quando uma enfermeira me entregou um envelope com os objetos pessoais que eu estava na hora do acidente, e dentre os objetos que estavam lá, estava isso também – do seu bolso ele tira um envelope amassado. – Isso é uma carta para você Alice.

– Uma carta para mim? – pergunto espantada.

– Sim, não sei se ela vai ajudar ou piorar a nossa situação, mas não me sentiria bem comigo mesmo se eu não te entregasse...

– Entendo... – fiquei ansiosa para ler aquela carta. O que quer que tenha nela foi antes do acidente e pode pelo menos acalmar o meu coração por agora.

– Aqui – ele me entrega o envelope e eu o recebo com as mãos trêmulas.

Fico tensa ao ver uma mancha fraca de sangue na ponta do envelope. Realmente estava com ele na hora do acidente. Abro o envelope e o papel dentro está um pouco amassado, mas está limpo. Analiso por alguns segundos e sei que aquela letra era realmente dele. Passei uns bons segundos na primeira linha.

"Minha linda Alice,

Eu tenho a certeza que você não fez nada. Nada do que queria pelo menos. Eu sabia no exato momento que eu te vi acertando o Ricardo. Mas por favor entenda o meu lado e saiba como eu sofri muito por ter que presenciar aquela cena. Não desejo que ninguém, nem mesmo um inimigo, algum dia sinta o que eu senti.

Queria ter te abraçado no mesmo momento, dizer que nada importava, mas a minha mágoa não deixou. Um motivo bobo eu sei, mas não pude evitar.

Percebi que não valia a pena jogar fora todos os nossos momentos bons fora por conta de um momento ruim. E não farei isso. A mágoa passou. A tristeza passou e somente o que restou dentro de mim foi a saudade de não te ter perto de mim. De não poder olhar nos teus olhos e ter a certeza que ficará tudo bem.

Sei que não posso ganhar o seu amor sem dar nada para você antes. Só posso ser amado se eu te der amor. E aqui estou eu, te entregando esse amor. Puro e cru. Meu orgulho diz que é impossível conseguir voltar para onde estávamos. Minha experiência grita para mim que é muito arriscado. Minha razão sabe que o meu objetivo é arriscado. Mas eu resolvi escutar o meu coração e ele me pediu para nos dar uma chance.

Para você eu me guardei. E não falo somente no sentido carnal da palavra, foram sentimentos que eu nem sabia que estava guardando para uma mulher especial. Sei que com você não é somente sexo (por mais que esse seja incrível). Nossa intimidade ultrapassa isso. São momentos que não falamos nada que mais significam para mim. São momentos que eu simplesmente seguro a sua mão. Momentos que você me dá o mais simples dos sorrisos que muitas vezes me dão forças em momentos de dúvidas e incertezas.

Por toda a minha vida eu imaginei como seria a minha vida quando eu conhecesse uma pessoa exatamente como você. E quando eu finalmente te conheci, pensei que pudesse acordar à qualquer momento, e que tudo não tinha passado de um sonho. Um sonho de como seria o céu. Uma prova do mais próximo que conseguimos chegar da perfeição.

Se pelo menos eu pudesse trocar de lugar com você, somente por um momento, somente para que você visse como eu a vejo, pelos meus olhos, seus detalhes, seu sorriso, tudo em você. Acho que entenderia o quão apaixonado eu sou.

Não te prometo que vou ser sempre o motivo das suas alegrias, mas estarei sempre com você para aproveitá-las. Não te prometo nunca te deixar triste, mas te prometo que vou estar sempre ao seu lado para te apoiar. Não prometo que vou te impedir de fugir de alguma situação, mas sempre vou estar com você para onde você me levar.

Quero você pelo tempo que nos for possível. Um lar, aumentar a família. Tudo o que temos direito. Lar não é um lugar, lar é um sentimento. E é o que eu tenho em você Alice. Você me mostrou a força que uma mulher pode ter, me mostrou um amor que é maior do que qualquer coisa, maior que até mesmo nós.

Abriu meus olhos e o meu coração para tudo o que você pode me oferecer. Nunca acreditei nessa coisa de amor à primeira vista, esse amor que te arrebata e que não há mais jeito de escapar. Sempre pensei que amor fosse um sentimento que a gente construía, fazia crescer um pouco de cada vez.

E você me mostrou que amor verdadeiro é uma mistura dos dois, pois a partir do momento que eu pus os meus olhos em você, sabia que a minha vida não ia ser a mesma. E com o nosso relacionamento evoluindo, percebi que construímos algo forte demais para ser quebrado por conta de um passado.

Todo mundo tem um passado não é? Se o seu te tornou a mulher incrível que você é hoje, eu o aceito. Só te peço paciência nos momentos que eu explodir assim. Posso ter te deixado no escuro com a nossa falta de comunicação, mas nunca duvide que eu te amo.

Eu te amo muito Alice. E quero ver até onde esse nosso relacionamento irá nos levar. Não me importo as dificuldades que enfrentaremos, mas se você tiver esperando por mim no fim, e num futuro não tão distante em um vestido branco, eu sei que vai dar tudo certo no fim.

Espero que você leia essa carta. Espero que consigamos passar por tudo isso.

E só para ter certeza que você não esqueça, eu te amo Alice Santos."

Uma lágrima minha caiu sobre o papel e tive que segurar a minha respiração para não soluçar. Aquela carta tinha fechado e aberto algumas feridas. Fico analisando o papel por um bom tempo. Se eu tivesse lido aquela carta antes... Se eu não tivesse corrido naquela hora. Se eu...

Ao perceber que eu estava chorando, ele veio sentar ao meu lado. Samuel não sai do meu lado enquanto eu choro silenciosamente. Não ousei fazer barulho, não queria tornar a situação pior do que ela já era.

– Olha – ele coloca a sua mão em cima da minha. A saudade que eu estava de sentir sua mão sobre a minha... Meu coração estava apertado. – Eu infelizmente não posso fazer muita coisa, mas eu sei que tinha que te mostrar isso... Imaginei que talvez você pudesse reagir assim, mas, por favor, não fique chateada comigo...

– Não diga isso Samuel, sei que deve ter sido bem difícil para você ter me entregado essa carta. Eu não estou chateada...

– Estava um pouco receoso antes de vir aqui, mas acho que você merece saber disso. Quando eu li a carta, não poderia fazer outra coisa.

– Obrigada Samuel, isso foi muito importante para mim.

– Sei que você pode não acreditar nisso agora, mas foi importante para mim também...

– Níveis diferentes de importância, eu tenho certeza – tentei não colocar toda a tristeza na minha voz.

– Desculpas Alice.

– Você não tem que pedir desculpas Samuel, não é como você tivesse amnésia de propósito... Simplesmente aconteceu. E nem precisa falar nada por conta da carta. Foi maravilhoso lê-la.

– Mas mesmo assim, quero te pedir desculpas. Não parece justo com você, com suas lembranças e tudo, e eu sem sequer lembrar como te conheci... Você ler todas essas palavras e eu não saber nem o seu nome do meio... Ter todos esses sentimentos escritos num papel e aqui só consigo sentir um... – ele para de falar e eu me controlo para pedir que ele continue a frase.

– Mais uma vez Samuel, não é como você quisesse... Eu te entendo...

– Juro que eu queria muito poder recuperar as lembranças... Se eu soubesse de um jeito para conseguir...

– Eu também gostaria disso – admito.

– Minha avó disse que eu deveria tentar uma coisa, mas não sei se seria certo...

– Tentar o que Samuel? – qualquer coisa que ajude...

– Um beijo. Ela disse que talvez se talvez eu er... Beijasse você, pudesse trazer alguma lembrança de volta. Acho que podemos tentar...

– Um beijo? – pergunto nervosa.

– Mas só se não tiver nenhum problema com você, não quero te forçar a nada que não queira...

– Não tudo bem. Quem sabe não pode funcionar não é? – prendo um lábio meu entre os dentes.

– Certo... – ele fica meio que sem jeito.

Eu me levanto e ele também.

Oh, nos beijaríamos agora? Tubo bem.

Nos aproximamos lentamente. O cheiro dele é tão bom... Somente alguns centímetros nos separam. Ele passa os seus braços pela minha cintura e me puxa para mais perto dele com gentileza. Mesmo seus olhos me olhando diferente nem sei explicar como foi bom estar em seus braços mais uma vez.

Minhas mãos automaticamente vão para o seu pescoço e ele sorri de leve. Meu corpo se encaixa ao dele perfeitamente e algo muda em seu olhar. Seus lábios então tocam os meus. Milhares de sensações tomam de conta do meu corpo. O beijo começa incerto. Seus lábios pareciam temerosos, mas aos poucos fomos nos encontrando novamente. Mesmo nos encontrando, definitivamente foi um beijo diferente.

Quando ele encerra o beijo ele tem os olhos fechados e a sua testa encostada na minha ele solta um suspiro.

– Alice eu... – ele diz ainda de olhos fechados.

– Sim – sem conseguir conter a minha esperança.

– Esse beijo foi incrível, mas ainda não consegui lembrar nada... – e assim, as minhas esperanças foram mortas. Já deveria saber que a minha vida não era como um filme de romance.

– Entendo... – meus braços saem do seu pescoço e caem de lado.

– Não vou negar. Tenho que te dizer que esse beijo mexeu comigo, mas ao ponto de resgatar alguma lembrança, infelizmente não...

– Tudo bem Samuel, pelo menos tentamos... – falo querendo controlar o nó que se formou na minha garganta. Desvio o meu olhar.

– Era por isso que eu não queria tentar isso... – ele segura a minha cintura firme. – Olha Alice, sei que eu não lembro de você, mas mesmo assim não gosto quando você fica com o rosto triste assim... – ele alisa a maçã do meu rosto. – Não sei por que, mas você me passa muita calma... Gosto de ficar ao seu lado. Sabia que se eu não lembrasse você ficaria assim... Isso não é justo...

– Ah, mas tínhamos que tentar Samuel, era um risco que eu estava disposta a correr... Por favor, não se culpe assim.

– Um pouco difícil não me culpar, mas tudo bem...

– Não precisa ficar assim Samuel, já sou uma mulher crescida. Sei lidar com alguns tipos de consequências...

– Você é uma mulher incrível Alice. Sinceramente. Pelo o que eu vi de você, sei que é uma mulher única – ele fala segurando minhas mãos. – Tenho sorte de te ter do meu lado, mesmo eu nesse estado...

– Não há outro lugar que eu deveria estar – sorrio meio de lado. Falei com convicção. Mesmo sem ele se lembrar de mim, ainda queria que ele ficasse bem... Queria permanecer ao seu lado.

– Eu tive uma ideia, pode parecer meio louca e impulsiva... Mas...

– Gosto das suas ideias loucas e impulsivas – falo esboçando quase um sorriso.

– Você, er, quer tomar um café comigo? – ele pergunta olhando para baixo.

– Não precisa fazer isso Samuel, não precisa sair comigo à força.

– Não! – ele fala alarmado. – Eu, realmente quero sair com você Alice. Esse beijo, eu... – ele me dá um sorriso verdadeiro, o sorriso que eu tinha me apaixonado. – É tudo muito novo para mim Alice, mas eu preciso ficar perto de você, quero saber mais sobre você... Já que eu não consigo lembrar de você, nada nos impede de criar algumas lembranças novas... Quer dizer, se tiver tudo bem com você.

– Eu adoraria um café – a esperança volta a tomar de conta do meu coração. Sorrimos juntos. Ele me indica o caminho.


Oláá pessoal lindo. Sim, eu sei, eu deveria ter postado o final do livro ano passado, mas passei por alguns problemas pessoais, espero que entendam que não tive condição de atualizar o livro antes de hoje. Mil desculpas pela demora <3 O epílogo sai amanhã, e ele vai ser um pouco diferente dos capítulos que já escrevi.

Infelizmente minha gente, eu perdi a lista com a relação de vocês que ganhariam um capítulo antes do fim. Eu ia citar cada um de vocês, mas perdi todos os meus documentos, fotos, tudo do meu computador e infelizmente o arquivo com os nomes de vocês estava no meio. Mil desculpas, mas não vou poder lembrar de todo mundo.

Obrigada a todos que acompanharam o livro ^^ E que mesmo com a demora não me abandonaram <3 Amo cada um de vocês. Esse capítulo é dedicado à uma leitora super especial a quem eu tenho um apreço enorme. E o melhor de tudo, ela vai ser mamãe!!!!  @ElaineSobral Meus parabéns Elaine, desejo toda a saúde, paz e felicidade para a sua família que vai aumentar!!! Mamis, obrigada pelo seu apoio e carinho <3

Nos vemos amanhã tá? Beijo grande no coração e até ;**

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