XXV. Volta para casa
No caminho de volta para o sítio ninguém falou nada dentro do carro. E quando chegamos à casa do Ricardo ele somente me pediu para colocar a Manu na cama. E como eu estava um pouco cansada acabei concordando.
O observei da porta e vi o carinho que ele depositou a minha filha na cama e deu um beijo em sua testa e a cobriu com um edredom grosso. Ele passou alguns momentos acariciando o cabelo dela e tinha um sorriso bobo nos lábios.
Quando virou se assustou ao me ver na porta.
- Você está aí há muito tempo?
- Desde o começo.
- Ah - ele fala e vejo suas bochechas esquentarem.
- Estou enxergando direito Ricardo, você está envergonhado?
- Ah, é que eu não sabia que você estava aí olhando e... - ele para de falar e desvia o seu olhar do meu.
- Tudo bem, vou fingir que não vi nada... - falo me afastando dele e indo em direção ao quarto que eu estava dormindo. - Boa noite Ricardo.
- Boa noite Alice - ele fala, mas não consigo me afastar muito dele já que ele segura a minha mão. - Me diverti muito hoje à noite.
- Eu também - respondi sinceramente.
- Sério? - ele pergunta e se aproxima de mim, fico um pouco tensa.
- Sério, foi legal. Adoro ver a Manu quando ela brinca demais e eu vi como ela estava feliz em ficar com você hoje Ricardo. Você conquistou a minha pequena.
- Só a pequena não foi?
- Oi?
- Nada não... - ele sorri amarelo e desvia o olhar mais uma vez.
Tá, eu sei o que foi que eu escutei, mas vou me fazer de desentendida aqui, é mais fácil do que ter uma discussão com ele sobre isso agora.
- Alice eu... - ele começa a falar, mas logo para. Ele somente fica me olhando, sem dizer mais nada. Quando ele eleva a mão para passar as costas da mão dele pelo meu rosto, eu imediatamente fico tensa, e acho que ele percebe, pois se afasta. - Desculpe, não quis te deixar assim, é coisa minha mesmo...
- Ah, tá, tudo bem - falo sem jeito e me afasto um passo dele. - Acho que já vou indo repousar Ricardo... Boa noite - falo e saio, sem ao menos escutar uma resposta dele.
Quando entro no quarto fecho a porta e dou um suspiro. Dizer que ele mexe comigo é demais, mas ele ainda desperta em mim alguma coisa boa. E como eu vejo o quanto ele está dedicado com a Manu, não sei... Mas eu amo o Samuel e não quero saber de outro cara. Nem que esse outro cara seja o pai da minha filha.
Meu celular tem um correio de voz do Samuel, me falando que já tinha chegado de viagem e que estava bem, mas que estava muito cansado e iria descansar agora, e me ligava amanhã assim que acordasse e tivesse um mínimo de certeza que eu estava acordada também.
Troquei a minha roupa e coloquei o meu pijama confortável e quentinho de algodão. Liguei o aquecedor e pulei na cama. Entrei num sono tranquilo e sem interrupções.
Acordei com o brilho dos primeiros raios do Sol e me espreguicei na cama. O dia tinha amanhecido muito frio e nem o aquecedor estava fazendo efeito. Me cobri com todos os lençóis que cobriam a cama e melhorou consideravelmente.
Fiz uma cabana de lençóis e fui conferir se o Samuel tinha falado mais alguma coisa. Ele tinha me mandado uma mensagem e assim que li liguei para ele. Nos falamos brevemente até que a minha barriga acordou para o dia e eu tive que me aprontar e ir tomar café.
Desci animada, pois com o aparecimento do Sol, a frieza diminuiu e eu pude deixar os lençóis na cama. Manu já tinha descido e aposto que não tinha nem tirado o pijama. Vou fazê-la trocar de roupa. Desço as escadas apressada. Esbarro com um corpo molhado subindo as escadas. Ricardo. Ele se segura com força no corrimão para não cair de costas no chão.
- Ricardo, me desculpe, desci rápido e nem te vi.
- Ah, tudo bem Alice... Acabei de encontrar a Manu na cozinha se divertindo com a Maria, confeitando uns bolinhos. Você estava com pressa para encontrá-la?
- Sim, aposto que ela ainda de pijamas.
- Sim ela está - ele sorri como se lembrando da filha.
- Então, tenho que ir fazer ela se trocar...
- Acho que nem precisa Alice, aqui só tem família. Se ela tiver confortável assim, não tem problema nenhum, o que você acha?
- Ah, não sei, mas vou indo mesmo, tenho que tomar o meu café também. Sem uma xícara de café não sou meia pessoa...
- Deixa de besteira Alice, você está incrível essa manhã - ele fala baixo.
- Er... Obrigada, eu acho - falo sem jeito e vou descendo alguns degraus. Só então percebo que eu estou falando com o meu ex muito bonito sarado e molhado. Não é uma combinação boa. - Vou tomar o meu café então e deixar você se trocar.
- Alice! - Ricardo me chama antes que eu vá muito longe.
- Sim - falo, me virando para ele, nem tinha percebido que ele estava me acompanhando e quase bato a minha cabeça no peito dele. Dou um passo para trás na defensiva e ele percebe isso e não se aproxima mais.
- Tenho novidades sobre a estrada...
- É? - falo cheia de esperança, quem sabe já vamos poder ir embora hoje?
- Teremos que passar mais uma noite aqui - Ricardo fala.
- Ah, que droga! - e com isso as minhas esperanças foram jogadas pelo ralo.
- Falei com os responsáveis da prefeitura ontem e eles disseram que as estradas já vão estar liberadas amanhã de tarde. Vão trabalhar a noite toda hoje para que isso seja possível.
- Assim espero.
- Desculpe se a viagem está durando mais do que você gostaria Alice.
- Ricardo, nada haver isso, você não tem culpe de nada... E outra, sei que a Manu está se divertindo aqui, então...
- E eu estou muito feliz por ela estar aqui comigo... E você também.
- Ricardo...
- Eu sei, eu sei... Mas não posso negar que eu estou feliz por você estar aqui comigo. Eu sei que você veio aqui por conta da Manu, mas mesmo assim...
- Certo - dou um sorriso bem constrangido e vou andando em direção a porta principal.
- Estava pensando em andar de cavalo hoje com a Manu, o que você acha?
- Se você tomar cuidado com ela... Acho que ela vai ficar feliz em aprender a montar...
- Claro, eu sempre tenho cuidado com ela, e eu tenho um cavalo super manso aqui, e como ele ainda é jovem, acho que vai ser ideal.
- E ele sendo jovem não vai ter nenhum problema?
- Não, ele já é acostumado com a Raquel, então acho que a Manu vai conseguir sem problemas...
- Ele é acostumado com a Raquel?
- Sim, e porque você não vem também? Lembro que você montava muito bem...
- Ah, isso faz muito tempo Ricardo, acho que não sei mais.
- Deixa de besteira, é que nem andar de bicicleta, não esquece tão cedo, não precisa se não quiser, mas eu tenho uma égua que vai ser ideal pra você.
- Não sei não Ricardo.
- Se quiser pode ir acompanhar... Sei como você gosta de cavalos e aqui eu tenho uns muito bonitos...
- Ah, acho que pra acompanhar é mais fácil.
- Melhor de tardezinha, o Sol vai baixar um pouco mais e o campo tem menos vento, então vai ser melhor.
- Certo então.
- Vou falar com o Humberto e ele vai organizar tudo.
- Tudo bem.
Com um sorriso de uma orelha a outra ele se despede e vai organizar tudo. Manu e Raquel estavam brincando de casinha e estavam sobre o olhar atento da Maria no pequeno gramado perto da cozinha. Maria insistiu que eu não precisava ficar lá, olhando as meninas. Então como eu não tinha mais o que fazer, peguei um livro e fui ler no alpendre da casa. Deitei numa rede bem confortável e demorei um pouco a começar a ler, admirando a beleza do local.
Nem percebi quando dormi, e só acordei com as mãos da Manu no meu rosto, me acordando suavemente. Abri os olhos e me surpreendi quando vi uma tenda montada perto de mim, me protegendo do Sol. Não se enganem, o clima é frio, mas o Sol ainda é muito forte.
- Mamãe, vamos logo, o almoço já está pronto e o papai está chamando.
- Já estou acordada meu amor - me pus de pé e deixei meu livro repousando dentro da rede armada.
- Então vamos logo - ela sorri e me estende a mão para que eu possa caminhar de mãos dadas com ela.
Mais uma vez a Maria se superou com o almoço. Uma mesa cheia e que cheirava super bem. Não comi muito, pois estava pensando seriamente em andar de cavalo mais tarde e já estava ficando nervosa. Sempre gostei de andar à cavalo e mesmo tendo feito isso em raríssimas oportunidades, gosto muito.
Já passava das três horas da tarde quando Ricardo disse que já poderíamos ir olhar os cavalos. O haras era maior do que eu imaginava e tinham vários cavalos dispostos em divisórias de madeira bem espaçosas.
Três cavalos nos esperavam num campo cercado maior e sorri ao ver os cavalos. Percebi logo qual seria o cavalo que a Manu iria montar. Ele tinha uma estatura menor que a dos outros e balançava sua crina alegremente.
Manu começou a pular empolgada e quis andar mais rápido para ver de perto logo o cavalo. Ricardo a acompanhou enquanto eu observava o ambiente e me acostumava com o local. Minha filha nem fez cerimônia e foi logo querendo subir no cavalo, mas Ricardo a fez passar um tempo perto dele, para que o cavalo se acostumasse com a sua presença e que não estranhasse quando ela subisse.
Somente quando percebemos que o cavalo estava acostumado com a presença da Manu foi que me senti confortável para que o Ricardo selasse o cavalo. Fiquei com o coração na mão quando vi ela ser levada para cima do cavalo.
Ricardo ficou ao lado dela todo o momento, pronto para agir à qualquer momento. Mesmo com a Manu protestando, dizendo que poderia ficar sozinha ali sem problemas, que já tinha aprendido tudo e que o Ricardo já poderia soltá-la, ele não saiu do seu lado, e com o tempo, a Manu acabou se acostumando com o cuidado dele.
E estava se divertindo.
Eu olhei para a égua que o Ricardo tinha me mostrado e eu fiquei encantada com ela. Seu pelo marrom brilhava com os raios de Sol e ela trotava vagarosamente pelo cercado. Ela se aproximou de mim umas poucas de vezes e deixou que eu fizesse carinho em sua cabeça.
- Ei garota, vai me deixar montar em você? - passo a mão pelo seu pelo.
- Ela é umas das éguas mais doces que temos aqui - escuto a voz do Humberto se aproximando de mim.
- Mas faz tanto tempo que eu não monto num cavalo Humberto, e nem acho que quando eu tinha prática eu era muito boa...
- Se quiser eu posso te dar algumas dicas, pra você relembrar e tenta montar novamente. Lhe asseguro que não há égua melhor do que a Lírio.
- Acho que é uma boa ideia então.
Humberto tem uma paciência incrível me ensinando alguns macetes e me lembrando de muitas coisas e posições na montada. Depois de quase uma hora conversando e com ele me tranquilizando, eu resolvo montar.
Foi incrível. Devagar e com os olhos atentos do Humberto e do Ricardo em mim, trotei de leve pelo cercado. Lírio era um exemplo, super dócil e estava na minha velocidade. Dei diversas voltas e até arrisquei a aumentar um pouco a velocidade.
Minhas manias de quando eu cavalgava antigamente voltaram e logo eu já estava completamente à vontade com a Lírio. Manu ficou ao meu lado umas poucas de vezes e sorriu do começo ao fim.
No finalzinho da tarde, Maria veio nos chamar para comer alguma coisa e Manu não fez cerimônias ao descer do cavalo e ir comer. Eu disse que iria dar mais algumas voltas. E foi o que eu fiz.
Humberto ficou comigo, mesmo eu dizendo que não era mais necessário. E escovava os pelos dos cavalos enquanto eu aproveitava a companhia da égua. Minhas pernas começaram a reclamar um pouco por conta da montaria e quando olhei para o céu e vi o Sol já querendo se por, resolvi encerrar o passeio e desmontar.
- Se divertiu senhorita Alice? - Humberto perguntou simpático.
- Ah sim, demais... Mas minhas pernas não são como eram antigamente, então não consigo cavalgar tanto tempo quanto me lembrava.
- Mas a senhorita ficou em cima do cavalo por um bom tempo. Não estava tão enferrujada como a senhora pensava.
- Você só está sendo simpático...
- Estou falando a verdade - ele sorri e me estende a mão. - Pode deixar que eu vou levá-la de volta para a sua porta.
- Não precisa Humberto, você já fez demais por mim, é só me dizer qual é a porta que eu a deixo lá, é o mínimo que posso fazer, já que ela me suportou a tarde inteira...
- Se a senhorita insiste, é a primeira porta à esquerda. A trava é a pequena de aço que parece um gancho gigante.
- Certo - sorrio e vou conduzindo a Lírio até o seu espaço. Vou acariciando de leve a sua cabeça e ela não dá o menor trabalho para entrar no quadrado de madeira. - Obrigada por ser paciente comigo garota - passo mais uma vez a mão por sua cabeça e fecho direitinho a porta do seu cercado.
- Gostou mesmo da Lírio não foi? - a voz grossa do Ricardo se faz presente e eu me assusto, soltando um pequeno gritinho.
- Ai que susto Ricardo! - falo colocando a mão no coração.
- Desculpe Alice, foi sem querer, pensei que você tivesse me escutado entrando.
- Tudo bem... Acontece.
- Vi como você gostou de cavalgar... Você sorriu o tempo todo, quer dizer, está sorrindo até agora.
- Sério? - ponho a mão nas minhas bochechas e elas estavam esticadas do meu sorriso.
- Sim, fazia tempo que eu não te via sorrindo assim.
- Foi um passeio inesperado, foi bom me lembrar como era a sensação de montar, o vento, a altura, tudo muito bom.
- Você fica linda sorrindo assim...
- Deixa disso Ricardo - falo sem jeito.
- Você fica linda de qualquer jeito Alice, mas hoje foi uma beleza à parte te ver montando, cabelos soltos e sorriso no rosto.
- Ricardo...
- Eu sei, devo estar passando dos limites,mas é que é difícil Alice. Te ver assim, e não fazer nada. Tem noção de como isso está tirando o meu juízo?
- Não estou fazendo nada Ricardo.
- Nem eu estou dizendo que você está - ele vem se aproximando de mim. E eu vou me afastando, mas não consigo dar muitos passos. Pois logo já estou com as minhas costas encostadas na porta do cerco da Lírio. - Você sempre mexeu comigo sem mesmo querer mexer.
- Ricardo você sabe que eu tenho o Samuel...
- Samuel... Filho da mãe sortudo! Ele pode ter você - sua mão encosta de leve no meu braço e eu recolho o braço.
- Ricardo, você teve a sua oportunidade, por favor, não faz isso.
- No momento cada célula minha está em batalha dentro de mim. Tudo em mim grita para te tomar em meus braços, para te tomar para mim - o corpo dele vai querendo envolver o meu e eu vou me encolhendo.
- Já não sou mais sua para tomar Ricardo.
- Todos merecem uma segunda chance Alice, será que eu não mereço uma com você?
- O que você está falando? Uma segunda chance? Que história é essa? Já não tivemos essa mesma conversa?
- Tivemos Alice, mas sempre que eu te vejo, sinto uma coisa dentro de mim, é como se voltássemos no tempo.
- Só se você voltou sozinho Ricardo, eu estou muito bem no meu presente.
- Mas você não lembra de como era bom estar comigo, de como você se desdobrava debaixo de mim depois de fazermos amor? De como você sabia todos os meus botões e você sabia os meus? Ainda lembro da sua boca quente pelo meu corpo - ele aproxima do meu ouvido. - Lembro do seu gosto, de como eu costumava explorar o seu corpo com o meu, com as minhas mãos, com a minha língua...
Ele fala e a lembrança me acerta em cheio. Fecho o olho por meia fração de segundo.
- Mas é só o que isso é agora. Lembranças Ricardo. Por favor, não fale assim.
- Você sente o mesmo não sente? Esse calor, essa dormência - ele toma o meu rosto com as suas mãos. - Você sente isso?
Sua boca se aproxima da minha e consigo virar o rosto. Meu corpo está tenso e congelado no lugar para fazer alguma coisa. Sua boca então vai direto para o meu pescoço e ele não se dá por vencido. Beija meu pescoço e inspira profundamente meu cheiro.
- Você consegue cheirar ainda bem melhor Alice.
- Não Ricardo - meus braços finalmente descongelam e eu seguro os seus ombros e eu o afasto de mim. Me odiei pelo fato da minha respiração estar um pouco ofegante, mas atribuo isso ao nervosismo.
- Eu preciso tanto te beijar Alice... - ele fala quase num sussurro e antes que os lábios dele me alcançassem eu impeço o caminho dos lábios com a minha mão e seus olhos se abrem em duas piscinas.
- Ricardo, eu peço que você respeite a minha decisão. Você sendo o pai da Manu, e só.
- Alice eu...
- Por favor Ricardo, não quero ter que discutir isso de novo...
- Está cada vez mais difícil me controlar perto de você Alice.
- Talvez tenha sido um erro eu ter vindo aqui com vocês Ricardo, deveria ter deixado a minha filha vir sozinha.
- Não diga isso Alice, não quero que você estrague a felicidade do seu final de semana só porque não consigo me manter longe de você.
- Fica difícil quando você está tão perto assim de mim - falo tentando encontrar o meu espaço entre o corpo dele e a madeira.
- Desculpe - ele se afasta e eu solto uma respiração que nem sabia que estava prendendo. - Prometo me comportar pelo restante da viagem...
- Obrigada Ricardo.
- Mas que fique bem claro que é somente por essa viagem Alice, ainda não estou pronto para te deixar ir, não pretendo deixá-la partir assim.
- Pode tirar essa ideia da sua cabeça...
- Um homem pode sonhar não pode Alice? - ele me dá um beijo de surpresa na bochecha um pouco perto demais da minha boca do que eu gostaria e sem me dar tempo de revidar ele me abraça bem apertado. - Vai valer a luta.
Ele pisca para mim e me deixa sozinha ali.
Assim que o vejo sair do estábulo eu me encosto contra a porta de madeira tentando controlar as minhas pernas que nesse exato momento parecem ser feitas de gelatina de tão bambas que estavam. Demoro alguns minutos para me recompor, então eu deixo o estábulo e vou direto para o quarto, tomar um banho e esfriar as ideias.
Ricardo apareceu para jantar conosco e foi mais agradável do que eu esperava. Não teve nenhum clima estranho e ele parecia ter esquecido completamente o que tinha acontecido mais cedo. As palavras dele... Bem, se ele esqueceu, irei esquecer também.
A noite caiu fria e implacável como sempre, então vesti mais uma vez com o meu pijama quentinho e me enrolei debaixo das cobertas para aproveitar o clima. Batidas baixas me chamam a atenção.
- A senhora está dormindo mãe? - a voz da Manu é baixa, mas bem clara.
- Não filha, pode entrar, a porta está aberta.
- A senhora está bem mãe?
- Claro que sim filha, porque a pergunta?
- É que eu estava pensando em algumas coisas mãe, mas é só coisa da minha cabeça mesmo...
- Tem certeza filha?
- Mãe, eu posso fazer uma pergunta para a senhora?
- Claro que sim Manu, vem, senta aqui comigo e pode fazer a pergunta que você quiser...
Ela entra no quarto, depois de encostar a porte, logo pula em cima da cama, se aninhando em meu peito e sorrindo ao levantar o rosto para me encarar.
- Mamãe, a senhora vai ficar com o papai Rico, por isso que o papai Sam não veio para cá?
- Claro que não filha, de onde foi que você tirou uma coisa dessas?
- É que eu vi vocês dois conversando no lugar dos cavalos. Vi como ele abraçou a senhora mãe. A senhora vai largar do papai Sam?
- Nem pense nisso Manu, você ainda é um pouco nova para saber dessas coisas, mas saiba que o que eu tive com o seu pai já passou. Se por um acaso eu voltar para ele, você vai ser a primeira a saber minha filha. Não sei o que você viu nos estábulos, mas tenho certeza que você viu coisa demais. Eu estou com o Samuel e não planejo mudar tão cedo.
- A senhora tem certeza disso não tem?
- Tenho filha.
- Mãe, posso perguntar outra coisa para a senhora?
- Claro que sim filha.
- A senhora sabe que o papai ainda gosta da senhora não sabe?
Arregalo os olhos com aquela pergunta. Que no caso nem era tanta pergunta assim. Mas como é que a Manu sabia sobre isso? Será que ele tinha conversado com a Manu sobre isso? Só espero que ele não tenha pedido ajuda da minha filha ou alguma coisa assim... Mas acho que o Ricardo não faria uma coisa assim.
- Filha, você não acha que está tendo conversas adultas demais por um dia não?
- Não acho mamãe. Eu só vejo que ele olha pra senhora igual o papai Sam também olha. Os meus dois papais amam muito a senhora.
- Filha, isso não é assunto pra uma criança, mas eu sabia dos sentimentos do Ricardo sim. Mas eu estou com o Samuel, não posso fazer nada. E nem se eu tivesse... - paro de falar pois percebo que já estou soltando informações demais.
A Manu não precisava saber disso, não precisa saber de todos os detalhes do meu passado com o Ricardo. Quem sabe quando ela for mais velha e realmente quiser saber, eu possa compartilhar as informações, mas por enquanto não pretendo falar mais do que isso.
- Ainda bem mamãe. Eu gosto de ter dois pais. Passei tanto tempo sem nenhum, e agora eu tenho dois.
- E você sempre vai ter dois filha - falo isso com a certeza que mesmo que as coisas não deem certo com o Samuel, ele ainda vai ter um espaço enorme dentro do seu coração para a minha filha. - Agora nem pense nessas coisas Manu. Está tudo bem entre mim e o Samuel.
- Certo mãe - ela sorri. - Posso dormir aqui?
- Você sabe que pode minha princesa.
Dormimos juntas aquela noite e demorei a pegar no sono por conta das perguntas da minha filha. Claro que tinha um fundo de verdade ali. Ricardo às vezes era muito sedutor e me lembrava da minha juventude.
Mas não voltaria com ele, primeiro por mim. Segundo pela minha filha. Terceiro pelo Samuel. Os primeiros raios do Sol entraram no quarto antes que eu caísse na inconsciência.
Manu me acorda cedo e mesmo me sentindo com muito sono eu me obrigo a levantar e ajuda-la a se vestir para descermos e tomarmos café. O dia estava quente, então resolvi colocar um short um pouco mais curto que o usual. Uma camisa de mangas compridas e sapatilhas. Manu insistiu que estava com frio e ficou com uma calça de algodão e uma camiseta fechada, nem se deu o trabalho de trocar as suas meias, desceu com elas nos pés.
Ricardo estava tomando seu café quando nos sentamos à mesa e a Manu serviu como um meio termo para nós dois. Ele ainda estava envergonhado pela nossa conversa de ontem e eu ainda com um pé atrás. Mas resolvi não quebrar muito minha cabeça com isso...
- Bom dia papai - Manu fala toda animada.
- Bom dia filha - ele responde com um sorriso. Ele diminui um pouco ao me olhar, mas ainda sim ele ainda sorri. - Bom dia Alice.
- Bom dia Ricardo.
- Boas notícias, falei com o responsável e as estradas vão estar liberadas depois do almoço.
- Ah, mas que maravilha! - dou um suspiro aliviada e me sento à mesa.
- Que maravilha nada mamãe, poderíamos ficar mais um pouco, aqui é muito legal.
- Nada disso mocinha, a senhorita já perdeu muito mais aulas do que o planejado... Não vai perder mais nenhuma. E outra, se você quiser vir de novo, é só pedir ao seu pai.
Ricardo quase engasga com o seu café na hora e ergue uma sobrancelha para mim. Claro que eu não impediria da Manu vir aqui. E não sei se eu vou ter estômago para sempre vir com ela. Um final de semana prolongado aqui para mim foi mais do que suficiente.
- Então papai, eu posso vir sempre que quiser?
- Claro que sim filha, sempre que você quiser andar de cavalo ou alimentar os patos do lago, é só falar comigo... - ele sorri e me olha. - E o convite se estende para você também Alice.
- Obrigada Ricardo - dou um sorriso amarelo. Não iria recusar agora. Mas não tinha planos de voltar aqui tão cedo...
Tomamos o nosso café da manhã tranquilamente e como a Manu disse que era o último dia dela ali, ela iria aproveitar e explorar cada pedacinho do sítio. Ricardo foi acompanhá-la e eu aproveitei o tempo para organizar as nossas coisas e arrumar os quartos que nós tínhamos ficado.
Os dois voltam da sua exploração e estão cobertos com lama e galhos. Não seguro a risada ao ver os dois daquele jeito. Ricardo vai tomar o banho dele e eu ajudo a tirar toda a sujeira da minha filha. Depois já está na hora do almoço e daí para a hora de ir embora, o tempo voou.
Ricardo e Humberto organizaram tudo dentro do carro e foi um chororô grande quando as duas pequenas tiveram que se despedir. Me despedi de todos e fizemos a nossa viagem de volta para a casa do Ricardo. Não sem antes de ligar pro Sam e dizer que eu estava voltando.
Manu dormiu boa parte da viagem e Ricardo. Ele não voltou ao assunto da noite passada e eu fiquei feliz por isso. Fizemos a viagem em total silêncio - interrompidos por alguns suspiros baixos do Ricardo.
A viagem foi tranquila e a estrada estava um pouco congestionada por conta do fechamento da estrada, mas todos estavam tranquilos e chegamos no Ricardo sem problemas.
Ele até me convidou para subir, descansar, mas nesse momento, eu só queria estar na minha casa, deitada na minha cama, tranquila e feliz. Então só fiz a transferência das malas e fui direto para casa.
Manu agora tinha acordado e passou o caminho de volta para casa conversando comigo. Me falando como ela tinha gostado da viagem e como gostaria de voltar lá em breve. Já estava ficando tarde e eu não queria ter que enfrentar alguma fila de drive-in para comprar o jantar.
Quando eu chegar em casa eu resolvo isso, ligo para algum restaurante e peço o nosso jantar. Estaciono o carro e nem me dou o trabalho de tirar as malas. Subo assim mesmo com uma promessa mental que amanhã eu tiro.
Assim que eu abro a porta do meu apartamento me dou de cara com um pequeno comitê de recepção. Samuel, Carol, Renata, Cauê e uma moça que eu desconhecia. Abri um sorriso ao sentir o aroma de pizza e meu estômago roncou em resposta. Manu larga a minha mão e vai correndo em direção aos meus convidados, saudando eles com muitos beijos e abraços.
Cauê é o primeiro a vir na minha direção, vem segurando a mão da morena desconhecida e pela intimidade acho que os dois devem estar namorando, ou ela é o novo caso dele. Quando chega na minha frente, ele delicadamente solta a mão da moça e me dá um abraço de urso.
- Oi Lice linda - fala assim que me solta. - Deixa eu te apresentar essa moça bonita aqui. Alice, esta é a Bruna, ela é minha namorada.
A morena de belas curvas sorri para mim e estende a mão.
- Prazer em finalmente poder te conhecer Alice, o Cauê fala muito de você e espero que não seja uma hora ruim.
- Imagina Bruna, feliz em te conhecer também. Fica à vontade, vou tomar um banho, que a viagem foi longa demais e já eu volto para podermos nos conhecer melhor.
- Obrigada - ela sorri e eu avisto meu namorado encostado no balão da cozinha, segurando uma garrafa de cerveja nas mãos. - Se me dão licença um pouco...
Vou em sua direção e antes que eu o alcance, dou um abraço na minha amiga e cumprimento a namorada dela. Manu está todo papos com as duas, e nem se importa quando vou falar com o Samuel. Dou-lhe um abraço apertado e um beijo controlado, afinal, tínhamos plateia e não quero fazer um show pra ninguém.
- Oi linda - ele fala assim que nos afastamos.
- Oi lindo. Você que organizou tudo isso?
- Tudo isso o que meu amor? Só é uma pizza com seus amigos e seu namorado, nada demais.
- Você não existe - dou um beijo nele e vou então tomar banho.
Depois de me sentir limpa e bem melhor volto para a sala onde sentamos todos em meu sofá e conversamos. Tive então a oportunidade de conhecer um pouco melhor a nova namorada do Cauê e ela parece ser gente boa. Um pouco fresca demais pro meu gosto, mas nada muito insuportável. Fazer o quê? Eu quero um modelo de perfeição ao lado do meu amigo, ele merece.
A noite passou rápido e logo já estavam todos voltando para as suas respectivas casas. Eu me sentia exausta, mas de um jeito bom e Samuel ficou até o final para me ajudar a arrumar tudo. Ele que levou a Manu para a sua cama. Quando estava tudo em seu lugar ele me dá um beijo carinhoso nos lábios.
- Acho que é melhor eu ir amor, você deve estar louca para descansar.
- Fica.
- E a Manu?
- Ela entende amor. Fica aqui comigo, dorme comigo Sam. Isso é, se você não tiver um assunto inadiável pra resolver no hotel.
- Nada que não possa esperar. Você pedindo assim não tenho como negar.
- Maravilha - sorri e vou até a porta para trancá-la e depois conduzo o Samuel pro quarto. - Mas é só pra dormir mesmo, sem barulhos obsenos. Pois com o tempo que estou sem você, o prédio todo ia escutar e não seria muito bom.
- Não pensei em outra coisa sua tarada! - ele brinca comigo e eu dou um tapa fraco em seu braço.
Quando chegamos ao quarto ele encosta a porta e me ajuda a tirar a roupa, e depois mais me atrapalhou do que ajudou a colocar meu pijama, por ele eu dormia nua ao lado dele. Ele sai de suas roupas também, ficando de cueca, e se deita ao meu lado. Ficamos abraçados e ele me conta como foram os seus dias sem mim.
Escuto tudo com muita atenção, mas em algum momento que não me lembro bem, o interrompo e deixo um sono tranquilo me levar.
Boa noite!!! Capítulo novo para a noooooooooossa alegria :D Então, viram o Ricardo né? Só na insinuação... hahaha ainda bem que a Alice conseguiu sair dessa e não deu o braço a torcer. Se manteve firme na decisão e não rolou nenhum flashback.
E como eu demorei um pouco mais pra postar, aí está um capítulo um pouco maior dos que os que eu normalmente faço. Não é muita coisa, mas dá pra você matarem mais a saudade, não deu?
Gente, estamos entrando na reta final do livro, calma que eu ainda tenho uns capítulos planejados, mas os eventos que ocorrerão daqui para frente serão bombásticos para o final do livro. O que vocês estão achando? Não se esqueçam de deixar um comentário e um voto aqui :D
Esse capítulo é dedicado à @IsabellaFernandes2 Isaaa flor ^^ Muitíssimo obrigada por acompanhar a minha obra^^ Obrigada pela força e por sempre ser compreensiva :D Beijo grande no coração e espero que tenha gostado :D
Beijos e até breve amores ;**
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