ㅡ E se eu cair, rolar as escadas e quebrar todos os meus dentes na frente de todo mundo? Logo vou virar a menina desdentada e vão me chamar de banguela pelo resto do ano. ㅡ Minha mãe me encarou como se eu tivesse pirado.

Talvez eu estivesse quase.

ㅡ Ta repreendido, ta maluca? ㅡ Ela colocou minha mala no chão.

ㅡ To nervosa. ㅡ Coloquei meu travesseiro, que eu estava abraçando, no lugar dele e me levantei da cama. ㅡ Por que eu preciso fazer faculdade? Isso nem é garantia de emprego. ㅡ Resmunguei puxando a alça da minha mala para fora do meu quarto.

ㅡ Porque você é uma garota inteligente que foi aceita em várias faculdades e que sonha em ser artista. Cursar o que você gosta vai te fazer bem e tenho certeza que daqui uns anos terá sua própria galeria de artes e será mais famosa que Leonardo DiCaprio. ㅡ Ela fechou a porta do meu quarto e seguiu comigo o corredor.

ㅡ É Leonardo da Vinci. Leonardo DiCaprio é o cara do Titanic. ㅡ Arrastei a mala até a porta da sala que já estava aberta. ㅡ E eu duvido que um dia eu me torne mais famosa que qualquer um dos dois.

ㅡ Para com esse pessimismo. Vai dar tudo certo, você é sempre tão positiva, Cameron. ㅡ Ela tinha razão. Eu era, mas eu também era uma medrosa que tinha um medo absurdo do novo. E a faculdade era algo novo demais para eu encarar tudo com positividade.

Buzina, música alta e um carro parando na frente da nossa casa. Sabrina Carpenter tocava naquele carro quando a janela se abriu e vimos Cassie.

ㅡ Ao menos você já vai chegar conhecendo alguém. ㅡ Minha mãe disse em mais uma tentativa de me animar.

ㅡ Fala ae, tia! ㅡ Cassie acenou para minha mãe. ㅡ Bora, Cameron, não quero pegar trânsito! ㅡ Ela voltou a cantar junto da música e eu encarei minha mãe.

ㅡ Eu vou sentir muito a sua falta, querida. Mas, se divirta. Aproveite, estude muito e, por favor, não engravide até terminar a faculdade. ㅡ Ri dela já sentindo meus olhos lacrimejarem.

ㅡ Você, mais do que ninguém, sabe que eu nem vida amorosa tenho. ㅡ Abracei minha mãe tentando não chorar. ㅡ Também vou sentir sua falta, mas prometo vir em cada feriado.

ㅡ Faça isso. ㅡ Ela sorriu novamente e eu percebi que estava na hora.

Peguei a minha mala e fui até o carro escandaloso de Cassie. Deixei minha mala no porta malas e entrei. Acenei para minha mãe quando o carro partiu e respirei fundo fazendo de tudo para não chorar.

ㅡ Ta animada? ㅡ Cassie olhou pra mim com o gloss brilhando em seus lábios.

Cassie era minha melhor amiga desde sempre. Nossas mães eram amigas, engravidaram na mesma época e fomos criadas como irmãs. Sempre nos demos bem apesar de sermos um pouco diferentes.

Ela é glamourosa, seu carro é cheio de frufrus e coisas cor de rosa, ela não vive sem maquiagem, mas tem uma pele perfeita porque não passa um dia sem skincare. Seu cabelo é enorme, brilhante e saudável. E ela sempre foi a pessoa mais estilosa que já conheci. Inclusive, vai cursar moda.

Eu já não sou tão cuidadosa. Ta, eu não ando desleixada. Eu também me arrumo, cuido da saúde e da minha aparência, só não sou tão dedicada a isso quanto ela. E eu sou mais da arte, tanto que é isso que estou cursando. Sou apaixonada por todo tipo de arte, seja pintura, minha especialidade, seja dança, música, escultura, teatro ou poesia.

ㅡ Mais ou menos. To com medo de cair na frente de todos e passar muita vergonha. ㅡ Ela me encarou com uma careta.

ㅡ Vira essa boca pra lá. Você não vai cair. Você vai encantar todo mundo, igual você sempre faz. É a pessoa mais gentil que conheço. ㅡ Ela buzinou para alguém na pista.

ㅡ Quais as chances de ficarmos no mesmo quarto? ㅡ Prendi meu cabelo que já estava todo na minha cara por causa do vento que vinha da janela.

ㅡ Quase zero, mas vamos ter esperança. ㅡ Ela sorriu pra mim e logo voltou a olhar para a rua. ㅡ Contanto que eu não divida o quarto com nenhuma maluca...

ㅡ Eu sou tão bagunceira... ㅡ Pensei alto. ㅡ E se minha colega de quarto for toda limpinha e organizada? Ela vai me odiar.

ㅡ Ela não vai te odiar.

ㅡ Você já viu o meu quarto. ㅡ Ela não disse nada. ㅡ Viu? Ela vai me odiar. Preciso tentar ser um pouco mais organizada.

ㅡ Você se preocupa demais. Só relaxa, Cameron. ㅡ Cassie voltou a cantar, agora a música da Taylor Swift, e eu encarei a janela.

Relaxa, Cameron, vai dar tudo certo. Você é gentil, é legal com as pessoas, não tem inimigos, não é agora que você vai ter. Não se preocupa, vai correr tudo bem.

[...]

Columbia era enorme e tudo o que eu tinha imaginado. Quando chegamos ao campus, haviam tantos calouros que me senti acolhida.

ㅡ Meu primo também estuda aqui. Lembra dele? ㅡ Cassie fechou seu carro após pegarmos nossas malas.

ㅡ Você tem dezenas de primos. A qual está se referindo? ㅡ Viramos para ir na direção do prédio do dormitório, porém paramos no mesmo lugar quando Alissa pulou num abraço em Cassie.

ㅡ Suas vagabundas, por que não falaram que tinham passado pra Columbia? ㅡ Ela perguntou vindo na minha direção e me dando um abraço também. ㅡ Seu cabelo ta enorme.

ㅡ Você é uma pessoa meio difícil de contatar. ㅡ Falei observando suas tranças.

ㅡ Já comprou um celular? Século 21, gata. ㅡ Cassie estalou os dedos.

ㅡ Não e não irei. O governo espiona todas vocês através dessa tecnologia toda. Sabe por que quando você pesquisa algo sobre cachorro e, de repente, começam a aparecer várias coisas de cachorro pra você? ㅡ Ela disse em seu tom sério.

ㅡ Algoritmo? ㅡ Franzi o cenho.

ㅡ Algoritmo é só uma palavrinha bonita para " sabemos tudo sobre você ". ㅡ Ela fez aspas com as mãos.

ㅡ Não começa com isso, não. Toda vez que você fala dessas coisas, eu fico morrendo de medo. ㅡ Cassie disse puxando sua mala.

Nós três seguimos até o dormitório enquanto Alissa falava sobre os perigos da tecnologia. Alissa era nossa amiga a um bom tempo e era um amor de pessoa, só era meio doida com essas coisas de teoria da conspiração. Ao menos se um dia o governo realmente estiver tramando algo contra nós, ela vai saber.

ㅡ Você sabe que o mundo ta acabando, né?

ㅡ Alissa! ㅡ Eu e Cassie gritamos juntas.

ㅡ Desculpa. ㅡ Alissa ergueu as mãos.

ㅡ Cassie Hopss. ㅡ Cassie falou à moça que estava atrás do balcão.

ㅡ Quarto 302. ㅡ A mulher, que mascava um chiclete com a boca aberta, lhe entregou uma chave com um chaveiro com o nome da faculdade. ㅡ É só seguir aqui... ㅡ Apontou para a nossa esquerda. ㅡ Pegar o elevador e subir até o andar cinco.

ㅡ Valeu. ㅡ Cassie deu um passo para trás e foi a minha vez de me aproximar do balcão.

ㅡ Cameron Flyn. ㅡ A garota digitou no computador, olhou para mim, olhou para o computador de novo, revirou os olhos e pegou uma chave. ㅡ Quarto 210. ㅡ Ela me entregou a chave. ㅡ Segue aqui... ㅡ Indicou a direita dela e eu logo murchei, porque ficaria bem longe da Cassie. ㅡ Pega o elevador e vai até o andar três.

ㅡ Obrigada. ㅡ Apertei a chave em minhas mãos e olhei para as meninas.

ㅡ Ai, eu sabia que não ficaríamos no mesmo quarto, mas precisava ser tão longe? ㅡ Cassie resmungou.

ㅡ A gente ainda vai se ver. ㅡ Fiz um bico.

ㅡ É claro que vai! Espera só pra ver se não vou aparecer no seu quarto de noite pra ver filme. ㅡ Ri dela e percebi que estávamos atrasando a fila dos outros calouros.

Saí da frente e assim nos separamos, acenando. Segui pela direita, fui até o elevador e apertei o botão. Quando a porta se abriu, entrei e esperei que os outros alunos também entrassem. Estranhamente... Só homens. O que me fez encolher-me no canto.

O meu andar chegou e eu me espremi para conseguir sair. Quando pisei no corredor e só vi mais caras, comecei a pensar que algo estava errado.

Caminhei enquanto recebia os olhares confusos até chegar a porta do meu quarto e ver o meu nome na porta. Fiquei um pouco aliviada, mas o alívio só durou até eu abrir a porta e encontrar o meu colega de quarto.

ㅡ Ta fazendo o que aqui? ㅡ Ele perguntou quando se virou para mim.

ㅡ Não é possível. ㅡ Foi tudo o que eu consegui dizer.

•••
Continua...