¹⁷|Uma cama
Eu perdi a porra da minha cabeça. Essa é a única explicação plausível para o que aconteceu na quinta-feira. No que eu estava pensando?
Você não estava pensando, esse é o problema. Você estava com ciúmes.
Não. Quer dizer, acho que não. Porra, talvez eu tenha planejado diversas formas de matar Bruno por levar Genevieve para um encontro, mas não estava com ciúmes. Isso parece íntimo. Demais. Eu precisaria sentir mais do que atração por ela, o que não é o caso. Ela não faz o meu tipo e é a minha estagiária, não posso sentir ciúmes dela.
Então por que você ficou com raiva quando ela disse que beijou outro? Por que você a puniu por isso, não deixando ela gozar, se isso não te incomodou?
Eu fui um babaca. Ok, eu já entendi. Vou me desculpar com Genevieve quando um de nós der o braço a torcer primeiro para falar sobre o que aconteceu. Como todas as outras coisas, não falamos sobre isso também, o que é pior. A tensão entre nós cresce cada dia mais e eu não ficaria surpreso se pudéssemos cortar com uma tesoura.
Agora, quando estaciono o carro na frente da antiga casa da minha família, hesito. Talvez devêssemos falar sobre isso agora para que ninguém perceba que há algo de errado. Apesar de eu ter arrastado Genevieve para cá, não sei se vou conseguir ficar perto dela por dois dias seguidos sem me lembrar de como ela estava molhada para mim quando eu a toquei, ou de como ela gemeu baixinho durante nosso beijo, como seu pulso estava acelerado contra o meu polegar ou como eu posso dar duas voltas no seu cabelo em minha mão.
Você precisa parar agora se não quiser entrar lá com a porra de uma ereção.
Verdade. Viro-me para falar com Genevieve, para finalmente esclarecermos as coisas, mas ela já está saindo do carro.
Percebo também que, de qualquer forma, não falaríamos sobre nada porque sua filha está no banco de trás com Kate.
Esse será um longo final de semana.
Saio do carro também, tirando meus óculos escuros e encarando a típica casa americana, de cor branca na qual passei minha infância. Apesar da palavra "típica", é a maior casa do quarteirão e ainda parece que alguma família mora aqui e não que meu pai paga para limparem duas vezes no mês.
Os carros de meu pai e de Anthony já estão aqui, mas nenhum sinal da moto de Khalil.
— Eu levo isso — digo para Genevieve que está pegando sua mochila no porta-malas. Surpreendentemente ela deixa que eu pegue, saindo do meu caminho logo em seguida.
Tento não suspirar. Estou começando a ter certeza que fodi tudo de vez.
— O que aconteceu entre vocês? — Kate pergunta a mim ao vir pegar suas coisas.
— Eu sou um idiota — murmuro de volta, colocando as duas mochilas nos ombros e pegando a de Kate da mão dela antes de fechar o porta-malas.
— Isso já não tinha sido definido?
Lanço um olhar a ela que se finge de desentendida.
Nós subimos os degraus da casa, Genevieve segurando a mão de Freya. Eu não sei o que ela contou para a garotinha, mas eu expliquei a situação a minha família ontem, apenas para não serem pegos de surpresa e fazerem perguntas demais. Eu odeio estar forçando Genevieve a revelar seu passado, mas eu não podia abrir mão de tê-la aqui comigo.
Assim que entramos, as vozes dos meus pais nos recebem, me dizendo que estão todos na cozinha.
Antes de ir até lá, porém, eu paro, arrastando meus olhos pela sala. A mesma lareira que meu pai acendia no natal. Às vezes nos sentávamos no tapete para se aquecer do frio enquanto meu pai contava histórias. As minhas preferidas sempre foram as da mitologia grega. Ele também fazia chocolate quente para mim e para Khalil.
Eu lembro vagamente disso porque tinha cinco anos, mas a lembrança ainda deixa uma sensação quentinha em meu peito.
— Eros?
Olho para Genevieve, piscando enquanto os fragmentos dessa memória desaparecem.
— Desculpe. — Pigarreando, deixo nossas coisas no pé da escada e levo as duas para a cozinha. Kate já achou seu caminho até lá, pois já veio aqui antes.
Quando chegamos na cozinha, encontramos minha mãe conversando com Lorelei, as duas sentadas na mesa e tomando alguma coisa em suas taças, enquanto meu pai cozinha algo no fogão.
— Finalmente vocês chegaram! — Muito animada, Carlota vem nos abraçar.
Como ela já conheceu Genevieve, minha ansiedade tem mais a ver com sua reação a Freya.
Mas minha mãe não me decepciona.
— Você é a Freya, não é? — pergunta. — Eu sou a Carlota.
A garota estende a mão para minha mãe.
— Freya Prescott, prazer em conhecer a senhora.
As sobrancelhas de Carlota se erguem e ela sorri, apertando a mão de Freya.
— O prazer é todo meu, querida. — Minha mãe lança um olhar impressionado para mim e eu me sinto estranhamente orgulhoso.
Meu pai deixa o fogão de lado para vir falar conosco, cumprimentando a mim e a Genevieve antes de dirigir sua atenção para o pequeno ser humano entre nós.
— Então você é a famosa Freya. Eros falou muito bem de você.
Mãe e filha lançam olhares interrogadores para mim.
Sorrio e pisco um olho para Freya.
— Tive que contar a eles que você gosta de bolo de chocolate porque eles não fariam se eu dissesse que era pra mim.
Freya dá uma risadinha. Ela olha para meu pai por um tempo depois disso.
— Você parece com o Eros, só que velho.
— Freya! — Genevieve arregala os olhos para a filha, lançando um olhar sem graça para meu pai, que na verdade está rindo. — Desculpe.
— Não se desculpe, ela está certa. Eu estou mesmo um pouco velho, Freya, mas ainda posso fazer um bolo de chocolate para você.
— Isso seria bom. Obrigada, senhor Blackburn! — Ela sorri, os olhos brilhando com a menção do bolo. Não tenho dúvidas de que meu pai realmente irá fazer um para ela.
— Pode me chamar de Enrico, querida. "senhor" me deixa mais velho.
Freya ri outra vez e eu observo os ombros de Genevieve relaxarem um pouco. Eu mesmo estou menos tenso. Eu sabia que minha família não a trataria mal, mas não consegui afastar essa vontade de proteger a garota.
Minha mãe leva Genevieve e Freya para a mesa e eu ouço ela oferecer alguma coisa às duas, ao mesmo tempo que Genevieve apresenta Freya a Lorelei que estava lá observando tudo até agora com Kate.
— Eu tenho uma Barbie igual a você. Olha! — Freya diz a Lorelei, abrindo a pequena mochila que tinha em suas costas e tirando uma boneca de dentro. Estou longe demais para ver, mas a boneca é negra, com cachos escuros e um conjunto de roupa muito parecido com algo que Lorelei usaria. — Ela não tem nome ainda. Posso dar seu nome a ela?
Lorelei parece perdida por um momento, mas me surpreende ao dar um sorriso verdadeiro a Freya.
— Claro. E você também parece uma boneca. — Acho que esse foi o comentário mais gentil que eu já ouvi saindo da sua boca.
Freya fica vermelha com o elogio, o que é fofo.
Eu desvio minha atenção delas para falar com meu pai.
— Anthony e Khalil? — pergunto. Nenhum sinal do meu irmão mais novo, apesar de eu ter visto seu carro lá fora. Não preciso ser vidente para saber que ele quem trouxe Lorelei. Só estou surpreso por ela ter aceitado vir.
— Anthony está cortando lenha. Khalil ainda não chegou. — Enrico olha para o relógio na parede ao dizer isso. São 12h46.
— Ainda está cedo. Ele virá — garanto a ele. Meu pai anue, voltando a cortar legumes.
Com mais um olhar em direção às meninas para ver se está tudo bem, deixo a cozinha pela porta dos fundos, saindo numa varanda. Se eu tivesse saído pela outra porta, teria entrado na área da piscina, que tem sua própria cozinha ao ar livre.
Olho em volta do vasto gramado e das árvores por um instante, antes de descer os degraus e caminhar até os montes de lenha, onde Anthony está descendo o machado em um pobre pedaço de madeira.
— Te deixaram com o trabalho pesado? — pergunto como cumprimento. Não nos resolvemos desde a nossa última discussão, e não vamos. É sempre assim com a gente: nos demos tempo o suficiente para esquecer e então voltamos a nos falar como se nada tivesse acontecido.
— Você não estava aqui para se exibir — diz olhando-me de cima abaixo. — O que aconteceu com a sua coleção de Armani?
— Vai se foder. — Jogo um tronco para ele, para não dizer que não ajudei depois.
É claro que ele seria um idiota por eu estar usando calça jeans e camisa sem botão. Para falar a verdade, Genevieve ficou me encarando mais do que o normal, então acho que também a surpreendi, mesmo que ela já tenha me vestido com apenas uma toalha.
— Então ela veio — comento, pois preciso parar de pensar no que eu estava pensando. — Estou surpreso.
Anthony me encara com os olhos semicerrados.
— Não estou tentando ser um idiota sobre isso, só que ela é a Lorelei. Nunca pensei que ela aceitaria passar o final de semana com a família do chefe dela.
Meu irmão mais novo fica calado por um tempo e eu aproveito isso para me encostar na árvore mais próxima. Daqui posso ver, através da janela, o que está acontecendo na cozinha. Genevieve está conversando com minha mãe, Lorelei e Kate, mas não vejo sinal de Freya com elas… Olho para onde meu pai está, na bancada, e vejo Freya sentada lá, parecendo ouvir muito atentamente o que ele está dizendo.
— Acho que é algo relacionado ao ex-marido dela. — A voz de Anthony desvia minha atenção e eu o encaro. Ele também está olhando lá para dentro, mas com certeza por razões diferentes.
— Você não faz ideia do que é?
— Não. Lorelei é muito reservada. Ela disse que só viria porque precisa de um tempo da vida dela.
Arqueio a sobrancelha.
— Então ela está usando a você e a nossa família para não ter que lidar com os próprios problemas?
O olhar nada feliz de Anthony me faz erguer as mãos em rendição.
— Vou guardar minhas opiniões para mim. Eu prometo.
Ele não parece acreditar muito em mim, mas estou falando sério. Pelo nosso pai, vou ser a melhor versão de mim mesmo.
Isso soou falso até minha cabeça.
❦︎
Genevieve me segue até o segundo andar para guardarmos nossas coisas no quarto. Isso mesmo, quarto, no singular. Dormiremos no mesmo cômodo. Seria muito estranho se a minha noiva não dormisse comigo quando estamos morando juntos, não é? Eu nem precisei explicar isso a ela, mas talvez eu deva dizer que sinto muito pela situação…?
Como se você estivesse realmente incomodado em dormir na mesma cama que ela.
Falando assim parece que sou um tarado. Não, eu sou adulto. Nós dois somos, podemos dormir na mesma cama sem que nada aconteça.
Quando chegamos ao meu quarto, é como voltar no tempo. Mesmo que não tenha mais posters nas paredes ou revistas da Playboy escondidas debaixo do colchão. A prateleira onde eu deixava meu taco de baseball ainda está lá, mas vazia. Minha escrivaninha não está mais transbordando de deveres e não há roupas sujas no chão.
Mas eu consigo ver tudo isso, apesar de agora ser apenas um quarto de hóspedes comum, com uma cama de casal com dossel, cortinas escuras e um carpete. Nada que indique que vivi aqui nos primeiros anos da minha vida e início da minha adolescência, antes de nos mudarmos para Chicago.
— Nunca pensei que você fosse o tipo de adolescente que ouvia música de vinil — Genevieve comenta, atraindo minha atenção. Ela está perto da janela, onde em cima de uma mesinha, tem uma vitrola.
— Não é meu. — Coloco nossas mochilas no closet antes de voltar para o quarto.
— Então… uma cama. — Genevieve está olhando para a cama em questão como se fosse o obstáculo mais difícil da sua vida.
— Eu não vou dormir no chão — aviso logo.
— Você podia fingir que é um cavalheiro, pelo menos. — A mulher revira os olhos, passando por mim e indo até o closet.
— Tenho certeza absoluta que nos livros que você lê, é exatamente assim que as coisas acontecem.
— A diferença é que não estamos em um livro. E nada vai acontecer.
Isso é um desafio, Genevieve ?
Deixei Genevieve no quarto com Lorelei e Kate depois que as duas praticamente invadiram o cômodo. Espero que essas três não estejam planejando virar BFF's, pois mal estou lidando com Genevieve e Kate sendo amigas, se elas começarem a incluir Lorelei, eu vou estar ferrado.
Freya também está com elas, aliás, então são apenas meus pais na cozinha, lembrando-me dos velhos tempos. Carlota tomou o lugar do meu pai no fogão, enquanto ele está fazendo o bolo de Freya, eu presumo ao ver os ingredientes na bancada. Eu estava mentindo quando disse a Freya que falei a eles que ela gosta de bolo de chocolate, mas é gentil da parte de meu pai fazer mesmo assim.
— A Freya é uma graça — minha mãe diz assim que abro a geladeira.
— Ela é, sim — concordo, pegando uma Heineken.
— Então… — meu pai começa, trocando um olhar com a esposa. — Você e a Genevieve estão morando juntos.
— Aham. — Após abrir a cerveja, tomo um engole, esperando pelo resto dessa conversa.
— Então as coisas estão sérias mesmo? — dessa vez é minha mãe quem pergunta.
— Estamos noivos, mãe. — Noivos de mentira.
— Sim, sim. É que… nós estávamos preocupados, sabe, depois de tudo... Mas estamos felizes que esteja dando certo.
E com isso, a culpa que eu não sentia desde o dia do noivado falso, retorna. Eles estão realmente felizes por mim, principalmente porque sabem o inferno que passei com o meu término com America. Eles foram meu suporte e não desistiram de mim nesses últimos três anos, mesmo que eu tenha sido um cuzão em várias ocasiões.
Mas ao invés de retribuir isso com honestidade, estou mentindo na cara deles.
— Obrigado — digo apesar disso, a cerveja de repente se tornando azeda em meu estômago.
Anthony me salva de ter que dizer mais alguma coisa ao entrar na cozinha, completamente suado e sem camisa. Ele tenta abraçar Carlota, mas a mais velha manda ele ir tomar banho, fazendo uma careta.
Talvez estar em casa de novo não seja tão ruim.
❦︎
Ouvi as vozes das garotas, indicando que estavam na área da piscina, então subi para o meu quarto outra vez, para me trocar. Eu visto uma sunga e short folgado por cima, pois o dia está mesmo bom para um dia de piscina.
Prestes a sair do quarto, faço a besteira de olhar para a vitrola perto da janela. Genevieve achou que era meu, mas não é. Pelo menos não tecnicamente.
Meu pai me contou que quando eu era bebê, não conseguia dormir por mais de duas horas a noite e isso estava deixando os dois exaustos, mesmo quando revezavam para ficar comigo. Então ela teve a ideia de colocar música enquanto eu dormia. Não sei porque não usaram um rádio, mas só sei que até os seis anos, eu ainda ouvia a melodia para dormir.
Jogar a vitrola fora depois que ela nos abandonou seria a coisa mais lógica, mas eu não fiz. Também não levei comigo quando nos mudamos. Mesmo depois de todo o sofrimento que ela nos fez passar, uma parte minha ainda recusa a se desfazer dessa única parte dela que ficou.
Deixo de pensar nisso e eu desço para ficar com os outros antes que esses pensamentos me levem para aquela noite.
Quando chego na área da piscina, Lorelei está deitada em uma espreguiçadeira, usando um maiô verde. Anthony, que está na água, nem sequer tenta disfarçar que não a está olhando de cinco em cinco segundos.
Kate está atrás do balcão da cozinha, preparando bebidas, usando um biquíni marrom e uma viseira.
E Genevieve…
Puta merda.
Eu nunca a vi de biquíni antes e agora eu sei que realmente não deveria, pois essa imagem nunca mais vai sair da minha mente. Ela está usando um biquíni branco com pequenos morangos desenhados nele. Seus seios ficam deliciosamente incríveis na peça e minhas mãos coçam para arrancar o tecido para poder sentir o peso de seus seios em minhas mãos. Quando Genevieve distraidamente vira de costas, eu tenho uma ótima visão da sua bunda, que também ficaria perfeita em minhas mãos, com suas pernas salientes ao redor da minha cintura.
Sim, é um ótimo cenário.
E eu estou com a porra de uma pré-ereção.
Vou até Kate, para trás do balcão, onde ninguém pode ver o que está acontecendo lá embaixo.
— O que vai querer? — Kate pergunta, graças a Deus, sem olhar para mim por muito tempo. — Margarita, manhattan, mimosa, old fashioned…
— Qualquer um com álcool — resmungo.
Kate revira os olhos.
— Você é tão chato.
Em poucos minutos ela me faz um negroni.
— Obrigado. — Eu tomo um grande gole e depois despejo mais gin no copo para compensar.
— Aqui, entrega pra Gen. — Kate me dá um manhattan, que eu quase recuso porque tudo o que menos preciso é encarar Genevieve agora. Entretanto, seria muito imaturo da minha parte. Eu certamente posso passar um tempo com ela enquanto a mesma usa um biquíni, sem que eu tenha uma ereção.
Então eu faço isso, tomando mais um gole da minha bebida. Genevieve está dentro da piscina agora, com Freya. A garotinha está sentada numa boia de flamingo, também usando roupa de banho. Quando ela me vê, acena para mim
— Eros, você não vai entrar na água? — pergunta, fazendo assim sua mãe me notar.
— Daqui a pouco. — Agacho-me na borda da piscina e estendo a bebida de Genevieve para ela. A mesma vem até mim e eu faço um esforço considerável para não olhar para os seus peitos.
— Obrigada — diz ao pegar a bebida. Seu cabelo está seco, preso em um coque desleixado no topo da cabeça. As suas sardas estão mais visíveis à luz do sol e parecem pequenas constelações, enquanto seus olhos são mais azuis que o céu acima de nós.
Ergo-me em meus calcanhares e lhe dou as costas.
Eu preciso de mais bebida.
❦︎
Freya me persuadiu a entrar na piscina. Ela fez carinha de cachorro sem dono, ok? Eu fiquei com dó. Ao contrário do que Genevieve pensa, eu ainda tenho um coração, que por sinal é muito molenga.
Minha mãe veio ficar com a gente e agora está em uma espreguiçadeira ao lado de Lorelei. Meu pai continua lá dentro. Mesmo que ele não fale, nossa mãe, Anthony e eu sabemos que ele está chateado por Khalil ainda não ter chegado. Se é que ele vem mesmo. Eu mandei uma mensagem para ele, mas obviamente não obtive uma resposta. Eu não o culpo por não vir, porém.
— Quando eu for bem grande, quero ter tatuagens igual a você — Freya diz de repente. Ela está sentada na boia ainda, enquanto eu a conduzo para lá e pra cá pela piscina.
— Acho que sua mãe não vai gostar muito dessa ideia. — Solto uma risada. A mãe em questão está agora conversando com Anthony. Ambos não muito longe de nós, mas por causa da música que Kate colocou, acho que Genevieve não ouviu o que a filha disse.
— Mas ela também tem uma.
Encaro Freya.
— Ela tem?
A garota anue, mas não me fornece outra informação. Como por exemplo, onde sua mãe tem uma tatuagem. E eu obviamente não vou perguntar isso a ela.
Meus olhos escaneiam Genevieve, mas dentro da piscina só consigo ver a parte superior do seu corpo e não há nada ali além de pele lisa e algumas sardas.
Genevieve me pega olhando e arqueia a sobrancelha. Imito suas expressões, então ela semicerra os olhos. Eu a copio outra vez, o que claramente a irrita pois ela revira os olhos e se volta para Anthony.
Um pequeno sorriso cruza meu rosto porque eu a venci nessa.
Alguns minutos depois, Freya e eu saímos da piscina para pegar bebidas. Está fazendo muito sol, então ela precisa se hidratar. Eu a coloquei em meus ombros, então a mesma está segurando minha cabeça para não cair. Sua mãe me mataria se isso acontecesse.
— Eros… — Genevieve tinha começado quando percebeu onde sua filha estava.
— Ela não vai cair — resmunguei, porque esperava um pouco mais de confiança da parte dela.
— Relaxa, mamãe, Eros não vai me deixar cair — essa foi a resposta confiante de Freya. Pelo menos alguém confia em mim.
Tem meia hora que não bebo nada alcoólico — não quero ficar bêbado —, mas faço um old fashioned para mim depois de entregar um copo plástico com suco de laranja para Freya. Como já estou aqui, resolvo fazer uma boa ação, e faço drink para todos.
— Vocês deveriam vir mais vezes. Olha como ele se tornou útil — minha mãe comenta com Genevieve depois que eu sirvo as duas.
Genevieve ri, suas bochechas ficando vermelhas. Eu apenas reviro os olhos, voltando para a cozinha…
E dou de cara com Khalil. Ele também para, olhando para mim e depois para Freya ainda em meus ombros.
Eu não contei a ele que Genevieve tem uma filha, então isso é novidade para ele.
— Você é a cara da sua mãe — são as primeiras palavras de Khalil. É claro que, como Freya é, de fato, a cara de Genevieve, não tenha sido difícil para ele fazer a conexão.
— Obrigada! Você é irmão gêmeo do Eros?
Khalil bufa, mas não parece realmente chateado. Na verdade, ele está sorrindo.
— Não, eu sou mais bonito.
— Parece que alguém está com a autoestima um pouco alta demais — Kate murmura, deitada em uma espreguiçadeira, os olhos fechados.
— É um prazer ver você também, Kathryn — sua voz não é nada calorosa ao falar com Kate, muito diferente dos seus olhos, que se demoram tempo demais no corpo dela.
Eu lhe dou um tapa atrás da cabeça.
Khalil tem a cara de pau de se fazer de desentendido.
— Eu não compartilho do sentimento — Kate murmura outra vez, respondendo a fala do meu irmão. Bem feito.
Acima de mim, Freya dá risada.
Khalil semicerra os olhos para ela.
— Pequena traidora.
Eu reviro os olhos, seguindo meu caminho e deixando Khalil para trás. Pelo menos ele veio. E está de bom humor. Eu não achei que isso fosse possível, mas estou aliviado. Não só por isso, mas que sua reação a Freya tenha sido descontraída.
Tudo parece estar indo bem.
❦︎
Almoçamos do lado de fora, pouco tempo depois que Khalil chegou. Meu pai estava claramente mais relaxado agora que seu último filho apareceu. Eu sei que agradecer a Khalil por vir só irá irritá-lo, então eu fico calado sobre isso. Eu até estou cumprindo minha palavra sobre não dizer nada desagradável a Lorelei.
É estranho estar sentado à mesa com minha família, Genevieve , Freya e Lorelei, ao mesmo tempo que não. Parece só mais um final de semana normal, como se esse grupo de pessoas já tivesse se reunido inúmeras vezes. Todos os outros conversam alegremente, apenas Lorelei, Khalil e eu observamos tudo. A primeira parece estar estudando a dinâmica da minha família, mas principalmente Anthony. Pela primeira vez, eu a peguei olhando para ele com algo a mais que superioridade ou hostilidade, só não sei o que é ainda. Eu paro de olhar antes que ela me pegue olhando.
O silêncio de Khalil não me surpreende, mas ele não parece feliz por sentar ao lado de Kate. Eu o ouvi resmungar uma ou duas vezes sobre espaço pessoal, mas Kate o ignorou.
E eu só estou mais interessado na minha comida. Ok, talvez eu esteja observando Genevieve e Freya. Eu não quero que elas se sintam excluídas, então estou de olho nas duas. Genevieve ficou me encarando por alguns segundos quando eu lhe entreguei seu prato. Eu não entendi seu olhar, até que percebi que coloquei sua comida. Eu nunca fiz isso antes. Eu rapidamente desviei do seu olhar, dizendo a mim mesmo que só fiz isso porque ela estava colocando a comida de Freya e não custava nada.
— Então, Lorelei… — Minha mãe começa de repente. — Gostou da comida? Anthony mencionou que você adora frutos do mar.
Lorelei encara Anthony por um instante, mas meu irmão está com cara de quem quer ser abduzido.
— Ele está certo. E a comida estava uma delícia — a mulher responde.
— Ficamos felizes que você tenha vindo. Anthony fala tanto de você. É bom finalmente conhecê-la.
Anthony pigarreia, laçando um olhar a Carlota que diz "cala a boca, pelo amor de Deus".
Lorelei volta a encarar meu irmão.
— É mesmo? Adoraria saber o que ele fala sobre mim. — A mulher parece estar achando graça da situação. Acho que nunca a vi se divertir com algo.
Carlota abre a boca, provavelmente para fornecer todas as coisas que Anthony disse sobre Lorelei — que foram muitas —, mas ele não deixa. Meu irmão interrompe a conversa, ficando de pé.
— Mãe, que tal a gente ir pegar a sobremesa?
Acho que além de Khalil, todos estão tentando não rir.
Mas Carlota acaba com o sofrimento do seu filho, acompanhando-o até a cozinha lá dentro.
— Isso foi muito cruel — Kate dá risada.
❦︎
— Nós não vamos jogar cartas. Você sempre rouba — murmuro, bebendo um gole do meu vinho.
— Eu não roubo! Você que sempre perde. Tem uma grande diferença — Kate rebate.
Já é noite e estamos na sala de jogos, porque sim, tem uma sala de jogos nessa casa. Eu não sei se foi ideia do meu pai ou dela ter esse cômodo, mas lembro-me de quando alguns amigos dos dois vinham jantar aqui em casa e geralmente ficavam bebendo nessa sala depois, com música tocando.
Há uma mesa de sinuca no canto, onde Anthony agora está ensinando Lorelei a jogar. Ela está bem mais alegre agora e acho que tem a ver com o quanto todos beberam hoje, mas é interessante não vê-la sempre com uma carranca. Pelo contrário, ela está rindo das tentativas de Anthony de ensiná-la a jogar. O jeito que meu irmão está olhando para ela agora parece que ela é o sol que ilumina a vida dele. Apesar de me preocupar que ela possa machucá-lo, talvez eu esteja começando a entender.
Há dois sofás e meus pais estão sentados em um deles, enquanto Kate, Khalil e eu ocupamos as três poltronas. Parece que sentar ao lado um do outro na hora do almoço foi o bastante para os dois e agora estão mantendo distância um do outro.
— Genevieve, você poderia me ajudar aqui? — Kate apela para Genevieve que voltou para a sala. Ela tinha ido colocar Freya para dormir. Não achei que ela fosse voltar.
— O que houve? — Genevieve olha para o sofá do outro lado e depois para onde estou, nós dois percebendo algo ao mesmo tempo: se ela sentar no sofá, vai parecer estranho, o que significa que a única a alternativa para manter nossa farsa de noivos felizes é ela sentando em meu colo.
Apesar de estar me batendo mentalmente por não ter escolhido sentar no sofá onde era mais seguro, arqueio a sobrancelha para Genevieve, desafiando-a.
— Nós queremos jogar cartas, mas Eros está implicando comigo — Kate responde.
Os olhos semicerrados de Genevieve me dizem que ela quer muito me matar, mas ela terá que fazer isso em outro momento. E ela sabe disso, por isso finalmente caminha até em mim.
— Ninguém quer jogar cartas — de olhos fechados em sua poltrona, Khalil resmunga. Ele é claramente a definição de alguém que está aqui porque não teve escolha.
Eu não ouço a réplica de Kate, pois Genevieve está parada em minha frente. Ela indica o braço da poltrona.
— Eu posso… — Suas palavras são interrompidas quando eu a puxo para o meu colo.
Seu suspiro surpreso me faz sorrir. Uma de suas mãos vai parar em minha coxa e a outra no braço da poltrona. Seu rosto vira em minha direção e ela faz uma careta.
— Você não pode mesmo se esforçar para ser um pouco cavalheiro? — sussurra. Ela está muito perto agora, mandando para o ralo todas as vezes que tentei ficar longe dela desde que chegamos. E se ela continuar se remexendo em meu colo para achar uma posição confortável, ela vai descobrir o por quê.
— Não. E nós dois sabemos que não são os cavalheiros que te deixam excitada.
Seus olhos se arregalam e suas unhas cravam na pele exposta da minha perna, já que estou de bermuda. Eu apenas sorrio para ela, passando meu braço ao redor da sua cintura e estabilizando-a. Como imaginei, Genevieve fica rígida. Isso me faz hesitar por um momento, porque não é a primeira vez que isso acontece, mas digo a ela mesmo assim:
— Tente não parecer muito ansiosa para me arrastar para o nosso quarto.
— Eu espero de todo o coração que você se engasgue com esse vinho.
Eu dou risada, o que chama a atenção dos outros.
— Ah, não, vocês estão dizendo sacanagem um para o outro! Arranjem um quarto, pelo amor de Deus. — Kate faz uma careta para nós. Eu não sei se ela realmente está bêbada e esqueceu que Genevieve e eu não estamos noivos de verdade, ou ela também está fingindo.
— E você deveria parar de beber — rebato, porque sua pele já está corada e suas palavras começando a se embolar.
— Gen, como você ficou noiva desse cara? Ele é um pé no saco e muito mandão. — Outra careta descontente.
Quando todos na sala olham para Genevieve, inclusive Anthony e Lorelei que eu achei que nem estavam prestando atenção em nós, eu percebo que eles realmente querem uma resposta.
Genevieve também, pois ela pisca rapidamente, olhando para mim. Eu também quero saber a sua resposta.
— Ah, bom… Ele não é assim comigo — é a sua resposta. — Ele é mais inteligente que isso, apesar de não parecer.
— Eu realmente gosto dela — minha mãe diz para mim, parecendo satisfeita. Eu rapidamente afasto a culpa ao ouvir suas palavras.
Eu me forço a revirar os olhos, porque é uma reação que todos esperariam. Tirando Genevieve que agora está olhando para mim de um jeito estranho. Eu quero perguntar o que esse olhar significa, mas Anthony e Lorelei voltam a sentar no sofá, a última perguntando:
— Quando vai ser o casamento?
Genevieve e eu a encaramos.
— Não falamos sobre isso ainda — minha noiva de mentira responde.
— Mas vocês estão morando juntos, não é? Por que não casar logo e tornar as coisas oficiais?
Eu encaro Anthony e imploro silenciosamente que ele faça Lorelei calar a boca.
— Talvez eles estejam fazendo um teste para ver se é isso mesmo que querem — Anthony intervém. — Aposto que Genevieve deve estar reconsiderando esse noivado.
— Apenas três vezes por dia — Genevieve diz, fazendo os outros rirem.
Quando eles começam a falar sobre outra coisa, nós dois relaxamos. Genevieve pega a taça da minha mão e bebe o resto do vinho. Eu tiro um tempo para observá-la, notando novamente que ela está usando um vestido lilás, de alças finas. Não é nada parecido com o vestido que ela usou no nosso noivado falso, mas me leva para aquela noite, de qualquer forma. Seu cabelo está solto, um pouco úmido por causa do dia da piscina, caindo em cascata por suas costas.
Eu sei que não deveria fazer isso, mas não consigo me impedir de colocar uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha. Genevieve vira o rosto para mim, claramente surpresa.
Encaixo sua bochecha em minha mão. Eu finjo não notar a mudança em sua respiração ou como seu olhar obscurece quando arrasto meu polegar pelos seus lábios entreabertos. Eles são naturalmente rosados, fazendo meu sangue esquentar com a ideia de beijá-la outra vez, de ouvir seu gemido.
— O que você está fazendo? — sussurra, seus olhos procurando os meus.
— Eu não sei.
| |
OBRIGADA PELOS 6K DE LEITURA E 1K DE VOTOS!!!!!!
Sério, tô muito feliz 😭😭♥
Bem-vindx pra quem é novx aqui😍♥️
Eu tô amando o comentário de vcs, juro! Fazem a minha semana😭♥
Agora vamo deixar de melodrama e ir falar sobre o capítulo...
Oq acharam da reação da família do Eros com a Freya?
Eros, coitado, tá sofrendo com a Gen, viu ksksksks
Eu tive que dividir o capítulo pq ficou grande demais.
Por um último, um leve spoiler com emojis: 🔥😏🙈
Espero que tenham gostado!
Vou fazer o possível para postar sexta-feira!
Votem
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: autora.stella
2bjs, môres♥
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro