²⁴|Rainha
O silêncio constrangedor é preenchido pelas outras pessoas no café e fora dele enquanto eu encaro o meu capuccino gelado.
Talvez eu estivesse mentindo para mim mesma quando disse que não procurei Bruno porque estava ocupada com o aniversário de Freya e essa coisa com Eros. A verdade é que não quero assumir que fui muito idiota ao me abrir com Bruno. Eu fiquei irritada com Eros quando ele questionou como eu pude confiar em um homem que eu não via há dez anos, mas me fiz essa mesma pergunta nas vezes que me permiti pensar brevemente no assunto. Eu estava brava com Eros quando fui ao encontro com Bruno, e posso culpar minha impulsividade o quanto eu quiser, mas não vai mudar o fato que fui ingênua. Assim como estou sendo covarde agora.
— Quanto mais tempo você ficaria me evitando? — Bruno quebra o silêncio entre nós dois primeiro. Ele não parece bravo, está mais para confuso e magoado.
Tomo um gole do meu capuccino enquanto penso na resposta, girando o anel de noivado em meu dedo.
— Eu estava com medo — confesso.
Bruno franze as sobrancelhas com as minhas palavras.
— De mim?
— Não. Não, de você — esclareço. — Mas… — Suspiro, deixando o capuccino para lá. Eu não deveria ter pedido o gelado. — Você chegou a ver a matéria? Sobre nós dois.
— Ah. — Sua curta resposta me diz que ele sabe. — Como tiraram do ar rápido, achei que não veria.
— É, mas eu vi. Muitas pessoas devem ter visto.
Bruno não diz nada.
Eu não queria ser tão direta, mas preciso saber. Preciso saber se estava tão errada sobre ele, que fui tão ingênua e idiota assim.
— Foi você? Você pediu para fotografarem a gente e vazou para aquele site de fofocas?
— O quê? — O choque em seu rosto ao mesmo tempo que me deixa aliviada, destrói esse alívio porque pode ser uma encenação. — Por que eu faria isso?
— Não sei? Talvez você, sei lá, queria insinuar a todos o que contei a você sobre não ser… real.
Bruno balança a cabeça.
— Primeiro, se fosse eu que tivesse feito isso, eu teria que saber antes que não é "real". E eu obviamente não sabia. Segundo, eu sou seu amigo, Genevieve. Acha mesmo que eu ia expô-la desse jeito?
Não respondo.
Bruno deve entender isso como um "sim", porque olha para mim como se não me reconhecesse.
— Bem, se é assim, acho que não podemos continuar essa amizade. — Tirando algum dinheiro da carteira, ele joga na mesa e fica de pé.
Não sei o que estou fazendo quando pego seu pulso, impedindo-o de ir.
Bruno para e olha para mim. Solto-o com a mesma rapidez que eu o segurei.
— Sente-se. Por favor — peço. Eu não quero fazer uma cena, muito menos vou implorar mais que isso caso ele deseje ir embora.
Felizmente, Bruno faz o que pedi, retomando ao seu lugar.
Para fazer algo com as mãos, seguro a xícara com o capuccino enquanto encaro a bebida.
— Desculpe, mas eu precisava perguntar. Não se trata apenas de mim, entende? Eu não me importo com as mentiras que contam de mim, mas aquela matéria afetou Eros também.
— Você se importa com ele.
Ergo meus olhos para Bruno, chocada com as suas palavras.
Eu me importo com Eros?
Começo a dizer que Bruno está equivocado, até lembrar que toda essa confusão está acontecendo porque eu disse ao ex-melhor amigo e a ex-noiva de Eros que estávamos noivos porque não gostei da forma como eles estavam falando com Eros, por causa da dor que causaram a ele e depois ainda tiveram a audácia de ir na empresa para humilhá-lo.
Só de lembrar disso, já fico com raiva.
Então sim, talvez, eu me importe um pouco com ele.
— Ele fez muito por mim. — Dou de ombros.
Bruno anue. Não sei o que quer dizer, porém.
Tomo outro gole do cappuccino.
— Meu Deus, como isso é horrível — deixo escapar.
O homem à minha frente ri, balançando a cabeça. Eu dou um pequeno sorriso também. Essa tensão não combina com a gente, então é bom essa pequena distração.
Mas depois de um momento, Bruno apenas me encara diretamente. Eu sustento seu olhar por alguns segundos antes de desviar quando percebo a forma como está me olhando. Em outra época, talvez, meu coração poderia palpitar, mas o que realmente acontece é uma voz irritante me assombrando.
Até esse noivado acabar, você é minha mulher, entendeu?
Eu não sei como posso ter gostado de ouvir essas palavras naquele momento. É completamente territorial e possessivo. Nunca gostei de homens assim, então não sei porque sinto um arrepio agora que lembrei do que Eros disse.
— Posso perguntar uma coisa?
Olho para Bruno novamente, mas ele não está mais olhando para mim.
— Claro — respondo.
— Tá rolando alguma coisa entre vocês? Eu sei que você disse que não é real, mas você mora na casa dele. Nunca… aconteceu nada?
Instantaneamente o que aconteceu no final de semana na casa da família de Eros vem a minha mente, assim como o último domingo.
Minhas bochechas voltam a ficar vermelhas e eu tomo o maior gole possível dessa coisa horrorosa que eles chamam de capuccino gelado.
— Pela sua reação, sim — Bruno contesta novamente.
— É complicado. — Não há outra forma de explicar. E além disso, posso até acreditar que não foi o Bruno que vazou aquela foto, mas ainda estou meio receosa de me abrir com ele novamente, então não vou contar o quão complicada é minha relação com Eros.
— Entendo. — Bruno suspira, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando as mãos. — Olha, vou ser sincero com você. Quando me contou que o noivado não era real, eu achei, sim, que talvez pudesse acontecer algo entre a gente. Quando você me beijou, eu pensei: preciso levá-la para jantar da próxima vez. Mas aí você foi embora e eu me senti péssimo.
— Eu sinto muito. — A culpa por tê-lo magoado me acerta como um soco.
— Eu acredito em você. Mas não sei se posso continuar assim, sabe? Você claramente está envolvida com esse cara, não importa o quanto você negue. E eu não tô afim de ser seu prêmio de consolo, sabe? — Apesar das palavras, Bruno está sendo o mais gentil possível, quase como se estivesse pedindo desculpas.
— Claro. Entendo perfeitamente. E mais uma vez, sinto muito. Não só por acusar você, mas por envolvê-lo nessa confusão.
Bruno anue novamente.
— Vai ser algo para comentarmos no futuro. — Ele me dá um meio sorriso. — Se você quiser continuar sendo minha amiga. Apenas isso, eu prometo.
— Óbvio que eu quero! — Sorrio. Por um momento, achei que ele cortaria totalmente os laços comigo.
— Bom. — Bruno suspira, checando o relógio no pulso. — Eu preciso ir agora, mas mando mensagem para você quando eu puder.
— Prometo que vou responder.
Isso tira uma risada de nós dois e ele fica de pé. Ele parece um pouco hesitante, mas se inclina para me dar um beijo na bochecha.
— Tchau. Se cuida.
— Você também.
Eu o observo ir, e solto um suspiro.
Espero que não tenha nenhuma foto vazada dessa vez.
💎
Quando entro na casa, rapidamente estranho o silêncio ou os cachorros não virem correndo. Eles não podem ouvir alguém na porta que saem disparados. Fora isso, não vejo Freya ou Eros quando adentro mais a casa. Eles não estão na sala e nem na cozinha, onde paro para deixar as sacolas das compras. É quando vejo a porta de correr, que leva lá para fora, aberta.
Eros não me mandou mais nenhuma mensagem depois daquela, então presumi que estava tudo bem.
Eu paro no batente da porta e cruzo os braços ao avistar os dois perto de uma árvore. Uma árvore com um balanço que não estava ali quando saí mais cedo.
Freya está sentada na grama, comendo alguma coisa enquanto conversa com Eros. Não consigo ouvir daqui, infelizmente. Eros parece estar testando a segurança da corda do balanço e eu me perco por um momento, admirando-o.
Sem julgamentos, ok? É impossível não deixar meus olhos se perderem em seu corpo por um momento. Ele está de camisa e bermuda mais uma vez, com aquele boné virado ao contrário em sua cabeça. Ele esteve suando, pois a camisa cola em seu corpo e mesmo que seja suor e nenhum pouco atraente falando de uma forma lógica, ele consegue ficar gostoso até assim. É injusto que ele seja lindo desse jeito, faz com que eu não pense claramente na hora de tomar decisões importantes. Como, por exemplo, transar com ele.
Nesse momento, estou gritando um sim mentalmente e esperando que ele ouça de forma telepática, mas sei que se ele sumir da minha frente, e depois que eu tomar um banho bem gelado, vou perceber que isso não é uma boa ideia.
Provando que Eros mexe com a minha mente, não vi Apollo e Aphrodite se aproximarem. Agora ambos estão latindo.
Eros olha na minha direção no mesmo momento, pegando-me no flagra. Ótimo, agora ele sabe que eu o estava observando. Parabéns, Genevieve.
— Mamãe! — Freya acena para mim.
Eu resolvo me aproximar, evitando os olhos de Eros.
Freya me abraça quando estou perto, e quando se afasta, seguro seu rosto.
— Jesus Cristo, o que você andou fazendo? — pergunto, meio rindo, meio preocupada. O que ela estava comendo era morango e está com a boca suja, além de ter um pouco de terra em seu rosto e seu cabelo está totalmente bagunçado, como se ela tivesse passado por um furacão ou algo assim.
— A gente plantou um pé de morango! Bem ali. — Freya aponta para o pequeno local com terra remexida e uma cerca em volta, perto da sua bicicleta jogada no chão. — E o Eros fez um balanço pra mim!
Meus olhos vão para o homem em questão que já está olhando para mim.
— Você cortou o cabelo? — questiona.
Automaticamente toco em meu cabelo enquanto o pequeno choque passa por mim. Eu não cortei pra valer. Mal dá para notar.
— Foi só as pontas. — Dou de ombros. Eros assente, ainda me olhando. Eu desvio minha atenção para o balanço. — Isso é seguro?
— Sim, não precisa se preocupar.
— Posso brincar agora? — Freya pergunta a Eros.
— Pode, Spider.
— Eba! — Freya rapidamente vai para o balanço e eu ajudo a subir.
— Segure firme, ok? — lembro a Freya. Depois que ela anue, eu dou o primeiro empurrão, afastando-me para dar espaço a ela.
Eros a empurra de volta enquanto Freya grita, animada. Isso me tira um sorriso.
Quando olho para Eros, ele também tem um sorriso nos lábios, e eu posso estar errada, mas ele até parece estar se divertindo com isso também. Não sei por que ele decidiu fazer um balanço para Freya, mas preciso lhe agradecer. Está óbvio que ela amou.
Novamente, enquanto empurramos Freya para frente e para trás enquanto ela ri e grita, aquela palavrinha é sussurrada em minha mente de novo. Antes de ficar grávida, era isso que eu imaginava para caso eu tivesse um filho: uma casa legal, cachorros correndo pelo quintal, e um marido e pai perfeito. Então quando olho para nós agora, penso o quão injusto é que o meu "sonho" não passe de uma fachada.
— Mamãe, me pega!
Pisco algumas vezes e abro a boca para perguntar o que ela quer dizer, mas é tarde demais porque Freya já está se jogando na minha direção, usando o balanço como impulso.
Por instinto, eu a agarro antes de racionar exatamente toda a cena. Isso, porém, não impede nós duas de irmos parar no chão, ou que eu bata minha cabeça.
Por um momento, eu só fico deitada na grama, ouvindo o silêncio. Tudo parece tão calmo que me dá vontade de tirar um cochilo. Eu sempre me sinto assim após ler um bom livro. Dá aquela sensação gostosinha de que a vida é incrível e mesmo que não seja, nada pode te abalar porque o casal do livro ficou juntos no final e isso resolve 99% de todos os problemas do mundo. Por um breve momento. E esse meu breve momento acaba quando sinto uma dor aguda no meu crânio.
— Genevieve? Você está me ouvindo? — A mão de Eros está quente quando ele toca meu rosto.
— Mmm-hmm. — Abro os olhos, encontrando o mundo verde e castanho. Eros está franzindo as sobrancelhas, e eu não entendo porque da sua careta até que percebo que ele está preocupado comigo.
Eros está preocupado comigo.
Não impeça a risada que borbulha em meu peito.
Eros está preocupado comigo. O que mais é preciso para provar que o universo está do avesso? Espere, é possível o universo estar do avesso? Eu preciso pesquisar isso no Google.
— Por que a mamãe está rindo? — Ouço Freya perguntar, mas não consigo parar de rir para poder responder.
— Sabe quando alguém faz uma coisa maluca e as pessoas dizem que ela deve ter batido com a cabeça? No caso da sua mãe, ela realmente bateu com a cabeça.
Isso só me faz rir mais. Faz minha cabeça doer mais também, mas eu simplesmente não consigo parar. É irritante e divertido ao mesmo tempo.
Eu ainda estou rindo quando sinto braços ao meu redor um momento antes de eu ser levantada.
Abro os olhos, meu corpo trêmulo e minha barriga começando a doer quando seguro seu pescoço, tentando abafar minha risada em seu peito.
— O que é tão divertido? — Eros questiona. — Estou começando a ficar preocupado.
— Isso — é só o que consigo dizer.
Não sei se Eros entendeu, mas ele nos leva para dentro, passando pela cozinha, pelo corredor, até que estou sendo colocada no sofá macio da sua sala. Acho que vou tirar aquele cochilo.
— Sua cabeça está doendo muito? — Eros se agacha ao meu lado no sofá, enquanto Freya senta na beirada do móvel. Ela também está franzindo as sobrancelhas, sem nenhum sorriso. É isso que faz minha risada ir cessando aos poucos.
— Não. Eu estou bem. Não sei porque tive uma crise de riso. — Minhas bochechas ficam quentes quando percebo o quanto estranha eu devo ter parecido.
— Acho que foi o choque. — Eros põe a mão atrás da minha cabeça, onde eu bati. — Você está sentindo mais alguma coisa? Visão turva, náusea…?
Seguro seu pulso gentilmente.
— Eu estou bem, Eros. Só preciso de um ibuprofeno.
Ele anue, seus ombros relaxando um pouco.
— Vou pegar. Não saia daí. — Com essa ordem, ele fica de pé e sai.
— Você não vai morrer, né, mamãe?
Olho para Freya, para seus olhinhos marejados e o biquinho que ela está fazendo.
— Ei. — Puxo-a para perto, lhe abraçando. — Claro que não vou morrer. A mamãe é imortal, não sabia?
— Você promete? — Freya me mostra seu polegar.
— Eu prometo. — Pressiono meu dedo no seu.
💎
Quando acordo no dormindo, minha dor de cabeça já passou. O remédio que Eros trouxe fez efeito, além de uma vitamina que ele me fez tomar dizendo que ia ajudar também. Como ele não parecia que ia deixar eu me safar dessa, tomei tudo. Eros também não me deixou fazer o jantar, mas não reclamei muito porque ele fez macarrão ao molho branco com camarão. Estava simplesmente maravilhoso.
Carlota e Enrico fizeram bem ao ensinar seus filhos a cozinhar.
Inclusive, estou comendo um pedaço do bolo que Eros fez hoje de manhã quando meu celular toca. Quando vejo quem é, deixo o bolo de lado e corro para atender.
— Mãe?
— Genevieve, oi, querida.
O alívio que sinto é tão grande que preciso sentar.
— Mãe, o que está acontecendo? Por que eu não estava conseguindo falar com a senhora?
— Eu estava na casa da sua tia Nora. Você sabe que ela mora no meio do nada. Não tem sinal lá, e eu só voltei hoje.
Eu levo um tempo analisando o tom da sua voz. Mamãe parece feliz. Talvez não feliz, mas alegre, pelo menos. Não há a melancolia de sempre na sua voz
— Ah. E como foi lá?
— Foi bom. Fazia um tempo que eu não a via. Além disso, me deu um tempo do seu pai também. Foi ideia dele, na verdade. Parecia que ele me queria longe. — Ela faz uma pausa. — Aconteceu alguma coisa enquanto eu estive fora? Foi isso que você estava tão desesperada para falar comigo?
— Pergunte a Emma o que aconteceu. Tenho certeza que ela vai saber explicar melhor que eu. — Não pretendia ser tão fria, mas não me desculpo. — Que bom que está tudo bem com a senhora, então, mãe. Eu preciso ir agora, mas te ligo depois.
— Espere. Está tudo bem com você e a Freya, certo?
— Sim. Agora sim, mas não graças a Emma.
Mamãe suspira, mas não pergunta mais sobre isso.
— Tudo bem. Vou falar com sua irmã. Se cuida, querida. Diga a Fyfy que mandei um beijo. Amo vocês.
— Vou dizer, sim. Também te amo, mãe. Tchau.
Solto um suspiro após desligar, mas estou mais aliviada de ter conseguido falar com ela, e agora saber que está bem.
Depois que termino o bolo, verifico a hora. Eros e eu devemos sair em três horas, então tenho que começar a me arrumar agora se não quiser me atrasar. E Deus sabe que tudo o que menos quero é ter que ouvir Eros reclamando que não sou pontual.
Fico pronta exatamente quinze minutos antes de precisarmos sair. Apesar de ter começado a me arrumar três horas antes, não achei que eu realmente fosse levar todo esse tempo para me aprontar. Mas a culpa não foi minha. Freya ficou dizendo que queria ir também, mexendo nas minhas coisas e choramingando. Ela acordou dengosa hoje e eu estava quase cogitando dizer a Eros que eu não poderia ir, quando o mesmo bateu na porta do quarto para avisar a Freya que Carlota e Enrico fizeram bolo de chocolate e milk shake para ela. Depois disso, Freya começou a me apressar para irmos logo.
Eu perguntei a Eros se tudo bem mesmo ela ficar com os pais dele, mas o homem disse que eles adoraram Freya e que não será problema algum. Eu deixaria Freya com Kevin se fosse, é claro.
Faltando quinze minutos para sairmos, Freya e eu deixamos o quarto. Ela está usando uma jardineira, para seu desprazer. Ela queria ir com a fantasia do Homem-Aranha, mas desde que ela esteve brincando do lado de fora ontem, a fantasia ficou suja, e tive que colocar para lavar. Em suas costas está sua mochila do mesmo super-herói, com todas as coisas que ela pode precisar. Freya também passou cinco minutos tentando decidir se levaria o boneco do Homem-Aranha ou a boneca da Barbie que ela deu o nome de Lorelei. Estou deixando ela levar os dois porque ela fez aquela carinha fofa que dá vontade de apertar suas bochechas.
Quando estamos descendo as escadas, avisto Eros na sala. Ele está usando um terno completo, sem dúvidas um Armani, preto. Um Rolex brilha em seu pulso enquanto ele digita no celular. Seu cabelo parece úmido e eu automaticamente lembro das vezes que passei meus dedos por ele.
Droga, estou corando na sua presença outra vez.
E como se isso não bastasse, quando estamos chegando nos últimos degraus, Freya diz alto o suficiente para o mundo inteiro ouvir:
— Eros, minha mãe não tá parecendo uma princesa?
Eu nem tenho tempo de chamar a atenção de Freya porque Eros ergue os olhos nessa hora e o mundo a minha volta para.
A intensidade do seu olhar me mantém paralisada enquanto seus olhos observam meu cabelo — em um penteado que consiste em uma trança única que rodeia minha cabeça, terminando em um coque, com alguns fios soltos — antes de fazerem uma lenta descida por meu corpo, parando por uns segundos a mais em meu decote, antes de continuar até minha coxa à mostra graças a fenda do vestido. Quando seus olhos voltam para os meus, seu olhar é aquecido, e eu posso jurar que todo meu corpo fica quente. Minha pele de repente parece sensível, e me vejo mordendo o lábio e querendo tirar esse vestido. Que ele tire meu vestido.
Eros encara minha boca ao dizer:
— Está mais para rainha.
Fico mais vermelha com esse comentário.
— Obrigada — digo. — Você também está bonito.
Eros dá um sorrisinho ao piscar um olho.
— Eu sei.
Reviro os olhos. É melhor ele sendo um idiota do que dizendo que pareço uma rainha.
— Vamos? — questiono, descendo o resto das escadas e me aproximando mais dele, mas apenas porque não posso chegar até a porta sem passar por ele.
— Espere. Tenho algo para você.
Paro, minhas sobrancelhas erguidas.
— Flores roubadas outra vez?
Eros semicerra os olhos enquanto Freya ri.
— Engraçadinha — diz.
Ele pega algo no sofá e antes de abrir, vejo vagamente o selo da Blackburn Empire: uma chama, o contorno cinza, quase imperceptível.
Quando Eros vira para nós novamente, perco o fôlego ao ver o colar de safira.
Eros não me pergunta se pode colocar ao ficar atrás de mim e passar o colar por meu pescoço. Gosto de acreditar que o arrepio que sinto é por conta da joia estar fria, e não por causa do homem colocando-a, dos seus dedos roçando em minha nuca quando fecha o fecho.
Sem conseguir me conter, levo meus dedos à joia, tentando conter o sorriso. Eu sei que usar o colar é uma exibição para as pessoas no baile e para quem ver as prováveis matérias que surgirão disso, mas não consigo abafar a satisfação de usar uma das peças mais antigas da empresa. Eu sei disso porque já a admirei centenas de vezes no salão que há no prédio com as peças mais caras e antigas em exibição. Os detalhes e os cortes me deixaram encantada, por isso é uma grande honra para mim estar usando-a hoje.
— Tem certeza que podemos tirar ela de lá, mesmo que por pouco tempo? — pergunto, afastando minha mão do colar.
— Sim. Kate e Lorelei estarão usando outras joias da exposição também. E terão alguns seguranças conosco hoje.
Anuo, mais tranquila, apesar de ainda estar com um tanto de medo de usar algo tão caro e uma relíquia, ainda por cima.
— Ficou lindo em você — Eros sussurra em meu ouvido antes de passar por mim. — Vamos.
Eu ignoro a batida acelerada do meu coração quando sigo-o.
💎
Na festa de noivado e naquele coquetel, não tinham fotógrafos esperando na entrada. No noivado, eles ficaram circulando e eram pessoas de confiança da família de Eros.
Não posso dizer o mesmo desses homens e mulheres que fazem vários "cliques" quando a porta do carro é aberta e Eros me oferece sua mão. Eu aceito, saindo do carro e sentindo como se estivesse em um filme de Hollywood. Não sei como as reais celebridades se sentem, mas não fico muito confortável com toda essa atenção.
Coloco um sorriso no rosto, entretanto, e subimos as escadas de mármore, com a mão de Eros em minha lombar.
Já na entrada, nós avistamos Anthony e Lorelei, aparentemente tendo acabado de chegar. Também estão com alguns fotógrafos em cima deles.
— Sr Blackburn, Srta Prescott, podemos tirar uma foto dos recém noivos? — um fotógrafo pergunta.
Eros olha para mim. Anuo.
A mão de Eros vem para minha cintura e ele está muito perto, sem dúvidas deixando claro para todos que "sou sua". Eu deveria me sentir incomodada com esse comportamento completamente possessivo mais uma vez, mas não fico. Eu me odeio por isso, aliás.
— O senhor poderia dar um sorriso? — um fotógrafo pergunta.
Eros não responde, mas pela forma que o cara fica vermelho, imagino que a resposta seja um "não".
Eu olho mesmo assim, vendo que estou certa: Eros está encarando as câmeras com a cara mais séria do mundo. Se você olhasse para ele agora, não diria que ele assiste Miraculous com uma criança de seis anos ou que é pai de seis cachorros.
Quando ele me vê olhando, se inclina, provavelmente adivinhando que tenho algo a dizer.
— Lembre-se que você é um noivo muito feliz — sussurro.
— Eu não pareço feliz? Porque estou radiante.
Reviro os olhos.
— Vamos lá. Dê apenas um sorriso. — Não sei porque faço isso, mas viro-me para ele e abraço seu pescoço. — Se sorrir, te conto a cor da calcinha que estou usando agora.
Seus olhos se arregalam um pouco, e eu dou risada.
— Sorria — sussurro.
Eu olho para uma das câmeras em seguida, e pela forma um pouco ridícula que os fotógrafos comemoram, eu sei que Eros está sorrindo.
Ele aguenta tudo isso por mais um minuto antes de dizer já está bom e pegar minha mão.
— É branca, aliás. — Me ouço dizendo.
— De renda?
— Não concordei com mais nenhuma informação, Sr Blackburn.
Eros aperta minha mão, mas há um sorrisinho em seus lábios.
Quando chegamos a Lorelei e Anthony, eu os cumprimento com um beijo na bochecha. Lorelei está linda, em um vestido verde de seda, de alças bem finas, deixando à vista seus ombros. Suas tranças estão jogadas para o lado enquanto ela permanece parada em uma postura totalmente majestosa. Como Eros havia dito, a mulher está usando um colar de esmeralda, tirado diretamente da coleção mais rara da linha Blackburn Empire.
Anthony exibe um terno muito parecido com o de Eros, o que me faz pensar que foram feitos pelo mesmo alfaiate. Anthony está lindo, de toda forma. Ele é tão alto quanto os irmãos, e com os músculos bem definidos, o que fica claro em cada curva do terno. O relógio que ele exibe no pulso só o deixa mais bonito, assim como o seu sorriso. Anthony sempre será lembrado por seu sorriso que é sensual e divertido ao mesmo tempo. Essa combinação só o torna mais perfeito.
Sinto uma sensação estranha de que estou sendo observada e olho para o lado, vendo Eros me observando.
— Quê? — Encolho os ombros. O que posso fazer se o irmão dele é um gostoso muito agradável aos olhos?
— Eles já deveriam ter chegado — Anthony comenta, conferindo o relógio. Estamos do lado de fora esperando por Kate e Khalil.
— Ele vai mesmo vir? — pergunto. — É o Khalil e…
Minhas palavras são interrompidas por um barulho.
Todos que estão do lado de fora olham para a moto se aproximando. O motoqueiro está de capacete, assim como a pessoa na garupa, mas eu conheço aquele vestido porque estava com ela quando o escolheu.
Khalil passa na frente do prédio e ao invés de parar, anda em círculos por uns segundos, chamando a atenção de todos com o ronco do motor, antes de finalmente estacionar.
Kate desce primeiro e com muita classe. Não sei se qualquer um conseguiria descer de uma moto num salto daquele. A mulher tira o capacete, balançando a cabeça, fazendo seus cabelos escuros como a noite se moverem.
Khalil desce da moto também e um manobrista aparece de repente para pegar sua chave e os capacetes.
Khalil está usando terno, como os irmão, mas ao invés do paletó, o que cobre seus ombros e braços é uma jaqueta de couro preta. Ele passa a mão pelo cabelo castanho escuro antes de abraçar a cintura de Kate.
Os lábios vermelhos da minha amiga já estão esticados em um sorriso e ela parece totalmente a vontade em ter Khalil tão perto enquanto os fotógrafos tiram fotos. É como se a luz e a escuridão tivessem se encontrado. Porque enquanto Kate é um raio de luz muito ousado, Khalil é como trevas em volta dela.
Minha amiga também está usando um colar extravagante da Blackburn Empire. Aquele que enfeita seu pescoço é de rubi.
Preciso pergunta a ela depois se ela disse a Eros a cor dos nossos vestidos. Só assim para ele saber qual colar combinaria perfeitamente conosco.
Ambos começam a subir as escadas de mármore para chegarem até nós, que estamos observando tudo com expressões de surpresa e choque. Pelo menos eu.
— Vocês realmente sabem fazer uma entrada — comento quando estão perto o suficiente.
— Espero que alguém tenha filmado isso. Você viu como eu desci da moto? Cena digna de cinema — Kate, é claro, está achando a situação toda muito… extasiante. Eu achei que ela estaria emburrada ou brava, considerando sua reação quando Eros pediu que ela fosse a acompanhante de Khalil.
— Pode apostar que isso estará em todo site de fofoca — Lorelei comenta.
Eros está franzindo as sobrancelhas ao mexer na jaqueta de Khalil. O mais velho dos Blackburn dá um tapa na mão do irmão, seus dedos com alguns anéis pretos e outros de metal. Não percebi isso de longe, mas vendo agora de perto, ele também está usando piercing não só na orelha, mas em uma sobrancelha e no lábio também.
— Já que todos chegaram, podemos entrar — Eros demanda.
Todos anuem e estamos nos preparando para isso quando um fotógrafo se coloca no nosso caminho.
— Posso tirar uma foto de vocês?
Contenho meu suspiro, mas me posiciono como os outros.
Eros e eu ficamos no meio, com Khalil e Kate a nossa direta, Anthony e Lorelei a nossa esquerda.
Um homem que foi traído e abandonado, e que como consequência disso, fechou-se para vida. Uma mulher que sobreviveu ao abandono da família, e teve seu coração partido. Um bad boy que ainda luta contra seus demônios e às vezes os deixam ganhar. Uma lutadora que precisou perder muitas lutas até finalmente começar a ganhar. Um sonhador que consegue conquistar a todos com seu carisma, mas por trás disso está apenas um garoto que ainda está descobrindo a vida. E uma rainha fria que se fechou para o mundo depois que ele a decepcionou.
E uma foto que ficará marcada para a história.
💎
Oooooooi, desculpem a demora 😭😭😭
Tô meio triste esses dias, e tava com preguiça de revisar o capítulo! Espero conseguir postar sexta-feira.
Mas me digam, o que acharam do capítulo?
(Vou postar um post no Instagram hj sobre a Genevieve, se ainda não me segue, vai lá seguir: AUTORA.STELLA)
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2bjs, môres♥
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