²⁵|Métodos perfeitos
Pego-me olhando para ela pela terceira vez em cinco minutos, antes de olhar para outro lugar novamente.
Eu nem me sinto culpado. Ela está linda. Achei que ela poderia ouvir as batidas rápidas do meu coração quando eu a vi nesse vestido. Cada curva sua está marcada naquele vestido, do decote nos seios até a barra que termina em seus pés calçados em saltos azuis. E o que falar daquela fenda em sua coxa? Meus dedos coçam para correrem por sua pele exposta, ao mesmo tempo que querem se fechar em punho e socar os idiotas que olham para ela.
Eu entendo o fascínio deles por Genevieve, ela está linda e gostosa pra caralho, mas precisam agir como se nunca tivessem visto uma mulher linda e gostosa na vida, porra? E alguns desses babacas estão acompanhados por suas esposas, e mesmo assim não disfarçam.
Genevieve está conversando com alguém ao lado de Kate, então não sei se percebe os olhares que está recebendo. Ambas estão. O que significa que estou duplamente irritado. Só saí do lado delas por um minuto para falar com um conhecido (na verdade ele me chamou e como estou representando a empresa como meus irmãos, tive que ir).
Falando neles, avisto Anthony e Lorelei conversando com um casal que nunca vi na vida, ou se vi, nunca me importei em gravar seus nomes. Khalil, por outro lado, não encontro em lugar algum, mas espero que ele volte logo para que Kate não fique sozinha. Depois daquela entrada dos dois — ainda não sei como Khalil convenceu Kate a subir em uma moto com ele — meu irmão ficou silencioso como sempre, apenas observando, antes de sumir. Estou começando a achar que ele saiu para dar uns "pegas" em alguém. Nós dois sempre fazíamos isso na nossa adolescência e um dava cobertura para o outro.
Quando estou indo até Genevieve e Kate outra vez, olho para os quatro seguranças que contratei para essa noite. É da mesma empresa que faz a segurança da Blackburn Empire.
O que está no comando, anue para mim e eu aceno de volta.
— … e isso mudou a minha vida. Recomendo bastante. — Ouço parte do que a mulher com quem Genevieve e Kate estão conversando, diz.
Kate me lança um olhar que eu já vi outras vezes. Ela está pedindo socorro.
— Desculpem interromper — digo para as três mulheres, principalmente para a mulher que parece estar querendo fazer essas duas morrerem de tédio. — Mas vou precisar roubar minhas garotas por um momento.
— Oh, certo. Passo o número do meu dermatologista depois — a mulher diz.
Kate e Genevieve anuem antes de me deixarem guiá-las para longe.
— Dermatologista? — questiono com as mãos nas costas das duas enquanto andamos.
— Não queira saber. — Kate bate sua bolsa em meu peito. — E não somos suas garotas.
Reviro os olhos, mas não debato com ela.
Nós vamos para um canto afastado e rezo para termos pelo menos cinco minutos sem que alguém venha tentar puxar assunto. Não sei porque de repente meus pais decidiram se aposentar dessa vida de eventos, mas estão me devendo uma. Duas, por causa daquele coquetel também.
— Quanto vocês estão doando? — Genevieve pergunta.
— Duzentos. — Anthony e eu acrescentamos mais cem dos nossos próprios bolsos, porque seriam apenas cem.
Pelo canto do olho, vejo Khalil se aproximando. Ele para perto de nós, as mãos dentro dos bolsos da jaqueta, com a maior cara de paisagem.
— Onde você estava? — questiono, olhando-o de cima a baixo.
— Você está fedendo a cigarro. — Kate faz cara feia para Khalil.
— Eu não reclamei que você veio grudada em mim com esse seu perfume extremamente enjoativo — Khalil devolve, sem olhar para a mulher, a voz totalmente sem emoção.
— Eu não pedi para vir grudada em você.
Khalil dá de ombros.
Eu poderia continuar prestando atenção nessa batalha muito emocionante se outra coisa não desviasse minha atenção.
— Só pode ser brincadeira — Kate resmunga ao mesmo tempo que Anthony e Lorelei se juntam a nós.
Então nós seis estamos encarando o casal que acabara de chegar.
America tem um sorriso no rosto, um que conheço porque já o adorei um dia, enquanto ela caminha como uma noiva perfeita de braços dados com Noah.
Já fui eu a estar nessa posição, lembro com um certo enjôo. Não sei se um dia vou me acostumar com essa traição, se essa dor vai sumir. E isso é horrível, porque toda vez que lembro que esses dois me traíram debaixo do meu nariz, sinto-me idiota por não ter percebido, e culpado. Não fui eu que traí os dois, mas às vezes uma voz na minha cabeça diz que se eu tivesse feito mais, se eu tivesse dado mais atenção a America, se eu tivesse amado mais...
— Ainda podemos ir embora — Genevieve sugere, tirando-me desses pensamentos que não me levariam a lugar nenhum.
— Está tudo bem. Eu os evitei por três anos. Chega de me esconder.
💎
Como da última vez, Genevieve sai melhor na socialização do que eu, apesar de eu me esforçar. Porém, é um pouco difícil manter uma conversa quando as pessoas estão apenas claramente tentando saber mais da nossa vida. E eu não estou nem um pouco afim de dar essa satisfação a eles, por isso ignoro seus sorrisos falsos quando começam a parecer maníacos.
Meus irmãos se separaram de nós novamente, mas pelo menos estão com as garotas. Khalil tem sido um poste ao lado de Kate, mas não deu uma outra escapada. E Anthony e Lorelei estão fingindo que não há nada de errado, entretanto, notei como meu irmão está mais sério essa noite, e só falando com a mulher ao seu lado se for necessário.
Não sei o que pensar disso.
— Hmmm. Esse docinho é uma delícia — Genevieve murmura ao meu lado, atraindo minha atenção. Ela está mastigando alguma coisa, os olhos fechados, o seu semblante expressando satisfação. Quando os abre, me vê olhando. — Você deveria provar.
Faço uma careta, balançando a cabeça.
— Por quê?! Você nem comeu pra dizer que é ruim. — Genevieve faz biquinho.
— Eu não disse que é ruim, só não gosto de doces.
— Bem, sim, mas por quê? Uma vez você comeu doce de mais na infância e vomitou?
Suspiro, tomando um gole da taça de champanhe.
— Minha mãe. Ela sempre tinha um doce com ela para mim. Doces me lembram ela. Fim de história.
— Ah.
Arqueio a sobrancelha para ela, não dizendo que eu não contei antes para ela não ficar com essa cara de quem perdeu um cachorro.
Genevieve, porém, se recupera rapidamente porque me oferece a outra metade do docinho.
— Você ouviu o que eu disse? — Questiono, afastando meu rosto. Sua mão me acompanha mesmo assim.
— Sim. E depois que você comer isso, todas as vezes que você comer doce, vai se lembrar do dia de hoje e não daquela vaca sem coração.
Bufo uma risada pelo apelido carinhoso que ela deu a Olivia.
Genevieve aproveita meu vacilo para por a droga do docinho na minha boca, cobrindo meus lábios com sua mão.
Sou obrigado a mastigar o doce, que parece ser de morango. Não é tão ruim, mas também não é bom. Como me desacostumei a comer coisas açucaradas, me parece apenas estranho.
Quando engulo, Genevieve afasta sua mão, orgulhosa. Eu, por outro lado, bebo o resto do champanhe para tirar o gosto de açúcar da boca.
— Você não gostou — a mulher contesta.
— Eu avisei.
Genevieve cruza os braços, não parecendo nada feliz. Às vezes ela é realmente fofa.
— Bom, você poderia pelo menos ir lá pegar mais docinho pra mim.
Semicerro os olhos.
— Por que eu faria isso?
— Porque você é um bom noivo que quer agradar a sua noiva.
Nós dois sabemos que isso não é verdade, mas estou me sentindo generoso, então deixo a mulher para trás e vou até a mesa do outro lado do salão, onde há uma mesa retangular cheia desses doces enjoativos e alguns petiscos.
Quando pego um docinho igual aquele que Genevieve estava comendo, ouço uma voz atrás de mim:
— Nunca achei que fosse ver você comendo doce.
Fechando os olhos por três segundos, respiro fundo e lembro-me que sou um homem adulto que pode agir de forma madura, o que significa não ignorar e fingir que não ouvi.
Tendo tido essa conversa comigo mesmo, viro-me para America. Não posso negar que ela está linda, porque ela está. Seus longos cabelos escuros estão jogados por cima do ombro, caindo como uma cascata pelo vestido preto que ela está usando. Seu primeiro anel de noivado brilha em seu dedo enquanto ela segura a taça de champanhe.
— Não é para mim — digo simplesmente ao encarar seus olhos verde oliva.
— Bom, se é assim… — America tira o doce da minha mão e o ato é tão do nada que não reajo, deixando ela levar o doce ao lábios e dar uma mordida.
Semicerro os olhos, segurando minha língua para não fazer nenhum comentário. Parece que America se esqueceu que nosso último encontro terminou em uma discussão. Ou isso ou ela está louca, tentando agir com naturalidade. Minha educação vai até certo ponto, e ficar fingindo cordialidade ultrapassa isso.
— Tenha uma boa noite, America. — Estou pronto para lhe dar as costas, mas sinto sua mão em meu braço.
— Espere.
Como naquele dia na empresa, travo diante do seu toque, olhando para sua mão em meu braço como se fosse uma coisa de outro mundo.
— Sinto muito pelo outro dia. Eu estava estressada e descontei em você. — A mulher se atrapalha nas palavras, parecendo muito desesperada.
— Tudo bem. — Tento me desfazer do seu toque sem parecer rude, mas America não me solta. Não, ela põe o resto do docinho na mesa com o champanhe e se põe na minha frente.
— Vamos dançar. Como um pedido de desculpas da minha parte. — Ela sorri, mas o sorriso não chega aos olhos.
— Isso não é necessário. Além do mais, não quero criar confusão com Noah.
— Eu faço minhas próprias escolhas. Não sou o brinquedinho de Noah.
— Não foi o que eu quis dizer. — Suspiro, pedindo paciência a Deus. — Só acho que não precisamos… forçar uma amizade.
— Eu só quero dançar com você. — Quando começo a recusar novamente, ela desvia dos meus olhos, seu rosto de repente fica triste. — Eu não queria vir. Noah me obrigou.
Isso me deixa alerta. Eu evitei o máximo de contato com eles desde que chegaram, então não sei se America deu algum indicativo de estar aqui a contra gosto.
— Vocês não estão… bem? — pergunto com cuidado. Nem mesmo sei por que estou perguntando.
America olha para mim, agora mais vulnerável do que antes. Eu já vi esse olhar várias vezes, já fui a pessoa para quem ela se permitia ser vulnerável. Quando acontecia, eu a abraçava e dizia o quanto a amava. Nós fazíamos amor e eu cuidava dela até tudo estar bem outra vez.
— Se você dançar comigo, eu conto — diz, aquele sorriso forçado em seus lábios novamente.
Eu sei que tenho que recusar, não tenho nada a ver com a sua vida e a de Noah, mas apesar do que as pessoas pensam — do que eu mesmo penso às vezes — não sou tão frio e sem sentimentos quanto pareço. Não posso ignorar que a mulher que um dia eu amei talvez esteja passando por problemas. Na verdade eu posso, sim, mas como eu disse, eu amei America um dia. Por anos. E mesmo que esse sentimento tenha morrido quando ela quebrou o meu coração, não consigo ignorar o seu olhar sabendo que ela jamais mostraria essa vulnerabilidade para qualquer um.
— Tudo bem — cedo por fim.
America me dá um sorriso de verdade dessa vez e eu desvio os olhos rapidamente porque me traz lembranças.
Enquanto ela me puxa para onde alguns casais já estão dançando, dou uma rápida olhada para onde deixei Genevieve.
Eu sabia que não deveria olhar. Seus olhos estão semicerrados enquanto ela observa a cena. Porra, eu realmente não deveria ter aceitado. Não é justo ela ter que ver America e eu dançando, quando Genevieve só veio por minha causa.
Parece que eu a estou… traindo.
A sensação é mais estranha ainda.
America está com muita sorte hoje porque uma nova música acaba de começar quando ela passa seus seus braços pelo meu pescoço. Sentindo-me extremamente desconfortável, ponho minhas mãos em sua cintura.
Quando começamos a nos mover no ritmo da música, America diz:
— Eu senti saudades disso.
— Eu não.
Ela parece ficar sem palavras por um segundo, antes de rir baixinho.
— Justo. Eu te traí com o seu melhor amigo — fala.
— Então esse era o seu plano? Relembrar todos os momentos infelizes do nosso relacionamento? — Nesse momento, eu queria muito que ela não estivesse me tocando. Parece tão estranho.
America engole em seco, desviando o olhar. Ela não fala nada por um tempo, o que é o suficiente para eu me xingar por ser tão burro. Estava na cara que isso era só um truque dela. As pessoas ainda perguntam porque sou frio e fechado. Aqui está a resposta. É só você mostrar um pouco de emoção que rapidamente isso é usado contra você.
— Ele não me ama como você me amava — America murmura, chamando minha atenção para o seu rosto. Eu esperava encontrar um olhar triste, mas está mais para saudade.
— Nenhum amor é igual.
America ri, mas seus olhos permanecem melancólicos.
— Acredite, eu percebi isso bem rápido. — Sua risada cessa. — Noah me ama como ele ama o Porsche dele. Menti mais cedo. Eu realmente sou o brinquedinho dele.
— Você está nessa situação porque você quis. — Meu desconforto aumenta, e não tem a ver apenas com o fato de estarmos nos tocando.
— Eu sei — diz baixinho. Ela encara meus lábios, sua mão fazendo carícias em minha nuca. — E a cada dia que passa, eu me arrependo disso. — Ela se inclina mais para mim.
Com minhas mãos em sua cintura, eu a empurro o suficiente para parar sua ação, mas sem perder o ritmo da dança.
— Pare com isso agora mesmo — sussurro, minha voz séria. Seus olhos se arregalam. — Não sei o que está se passando pela sua cabeça, mas aqui está o que estou pensando: eu não te amo mais, e não ligo para os seus dramas, muito menos servirei de consolo pelo seu noivado fracassado. Então pare com isso e nunca mais tente me beijar.
Seus pés param no salão e os meus também.
Sei que iremos chamar mais atenção se ficarmos nos encarando numa pista de dança cheia de pessoas dançando, assim como ela.
— Sinto muito — é o seu murmúrio antes de sair de modo apressado.
Mas eu vi a mágoa em seus olhos e mesmo não querendo, um pouco de culpa me assola.
💎
Os convidados são levados para outro salão, com decoração cor creme, grandes janelas e um lustre enorme no teto. Mesas estão distribuídas pelo ambiente, com cerca de dez cadeiras cada, os nomes de cada um em uma plaquinha.
Genevieve está ao meu lado enquanto somos acompanhados para a mesa que iremos ficar com os outros. Ela não está falando direito comigo. Eu sei que é porque a deixei sozinha lá enquanto eu dançava com America. Óbvio que Genevieve não disse isso, mas quando voltei para ficar com ela, estava de cara fechada e só falou comigo quando comentei sobre os detalhes da decoração — só fiz isso para testar minha teoria. Sinto que preciso pedir desculpas, mas parece que só tornaria tudo ainda mais estranho.
Quando chegamos a nossa mesa, puxo a cadeira para ela, assim como meus irmãos fazem com as outras mulheres.
— Vamos tirar uma selfie — Kate diz de repente quando todos estamos sentados. Ainda há duas cadeiras vagas, e como há duas plaquinhas com nomes, acredito que mais duas pessoas irão se juntar a nós.
Como todos estão se posicionando para a foto, sou obrigado a fazer o mesmo, por isso passo meu braço pela cadeira de Genevieve e encaro a tela do celular de Kate.
Ela tira pelo menos cinco fotos.
Um minuto depois, sinto meu celular vibrar em meu bolso.
Eu pego, achando que pode ser minha mãe ou meu pai, já que estão cuidando de Freya, apesar de ter certeza que se fosse algo importante, falariam com Genevieve primeiro.
Quando abro as mensagens, vejo que não há nada dos meus pais. Mas há um grupo. Um que não estava aqui da última vez que olhei.
Ao entrar, está escrito:
"Kate" adicionou você
E as fotos que ela tirou agora.
Antes que eu tenha a chance de reclamar, aparece outra coisa:
"Khalil" saiu do grupo
Isso quase me faz rir. Não sei porque Kate achou que ele poderia…
"Kate" adicionou "Khalil"
Eu já sei o que vai aparecer em seguida, então não fico surpreso quando a mesma coisa surge:
"Khalil" saiu do grupo
— Será que vocês podem parar? — Lorelei pergunta. Aparentemente ela também está no grupo. Na verdade, todos nós estamos.
— Só quando ele parar de ser infantil — Kate rebate, sem erguer o rosto do celular.
— Eu sou infantil por não querer estar num grupo onde só tem idiotas? — Khalil devolve.
— Só teria idiotas se fosse dois ou mais de você — Kate contra-ataca.
— Ah, meu Deus, parem com isso antes que Eros comece a dar sermão em todo mundo — Anthony resmunga. Arqueio a sobrancelha. — O quê? Todo mundo aqui sabe que você estava prestes a dizer algo que irritaria Khalil, o que faria Kate rir e fazer alguma piada, então tudo começaria de novo.
— Não tenho culpa de ser o único maduro aqui — digo.
— Um, dois… — Anthony começa-
— Falou o dono da razão — Khalil murmura, olhando para as outras pessoas e fingindo não estar prestando atenção na nossa mesa.
— Viu — Anthony aponta.
— Ainda bem que não faço parte dessa família. — Ouço Lorelei murmurar.
— Tá aí uma coisa que eu concordo. — Forço um sorriso para ela.
— Não faz ainda — Kate murmura, mas propositalmente alto. — Sabe, eu sou uma pessoa bem sensitiva, e estou sentindo um casamento vindo aí. Tirando o do Eros e da Gen aqui.
— Eu não estou participando dessa conversa — Genevieve tira o corpo dela fora.
— Eu prefiro me casar com um poste — Anthony murmura.
Qualquer humor meramente engraçado é sugado da mesa com seu comentário. Ele poderia estar brincando, porque, bem, é o Anthony, mas seu tom não deixou espaço para brincadeiras.
E Lorelei, assim como o resto de nós, percebe isso, pois fica tensa em seu assento ao lado do meu irmão. Ela olha para ele, e algo se passa em seu olhar, mas é rápido demais para eu poder compreender.
— Engraçado como as coisas mudam da noite para o dia — a mulher comenta.
— Às vezes é preciso muito tempo para ver quem as pessoas realmente são — Anthony não devolve o olhar de Lorelei ao dizer isso. Ele está tão tenso quanto ela, mas diferente da mulher ao seu lado, meu irmão não é tão bom em esconder as emoções e a mágoa que está estampada em seu rosto.
Felizmente, o casal dono dos dois lugares restantes chegam para se sentarem, e eu agradeço pela distração.
Genevieve e eu nos e encarregamos de manter uma conversa com o casal recém chegado enquanto Anthony mexe em seu celular e Lorelei encara a taça vazia na mesa como se tivesse as respostas para tudo. Khalil está muito ocupado fingindo que nós não existimos, e Kate também está focada na tela acesa do seu telefone. Não preciso olhar para saber que ela está conversando com Anthony através de mensagens.
O Sr Febland pergunta sobre a Blackburn Empire quando conto quem nós somos e eu explico brevemente a ele como nosso sistema funciona, antes da minha cordialidade ir diminuindo quando noto seus olhares para o decote de Genevieve. Mesmo com a esposa sentada ao lado, o desgraçado não poupa um olhar para a Genevieve.
Minha irritação está chegando a um limite preocupante — onde eu me imagino furando a garganta dele com um garfo — quando os garçons aparecem para nos servir.
Eu mantenho um olho no Sr Febland e outro no meu prato. Acho que devo dizer a Genevieve que estamos quites. Ela sentiu ciúmes quando dancei com America — mesmo que ela negue caso eu mencione — e agora fiquei irritado porque este homem a estava secando. Fora os outros mais cedo.
— Эта азиатская сучка не должна сидеть с нами — O homem em questão diz para sua esposa, em russo. Não sou fluente no idioma e não faço ideia do que ele disse, mas há repulsa em sua voz me diz que não é algo bom.
Presumo que ele esteja reclamando da comida, então volto minha atenção para o meu prato.
Ou seria assim caso eu não ouvisse o suspiro de Genevieve e as outras pessoas na mesa não tivessem a mesma reação.
Quando ergo os olhos, minhas mãos ficam imóveis enquanto tento entender o que estou vendo. Se eu realmente estou vendo Khalil segurar um canivete contra a garganta do Sr Febland. Meu irmão não esboça reação alguma enquanto continua comendo tranquilamente como se não estivesse usando sua outra mão para segurar uma lâmina contra a garganta de outro homem.
— Эта азиатская сучка - мое свидание. Извинись перед ней, если не хочешь, чтобы тебе перерезали горло.
Boquiaberto, eu encaro Khalil depois de ouvir essas palavras saírem da sua boca. Eu não fazia ideia que ele entendia ou falava russo.
O Sr Febland engasga, seus olhos arregalados. Todos estão mais ou menos com as mesmas expressões.
Eu fiquei paralisado até agora, mas percebo que tenho que agir antes que Khalil faça alguma besteira. Colocar uma faca na garganta de alguém já é uma besteira, mas se ele tirar sangue desse homem, teremos um problema ainda maior.
— Khalil, abaixe esse canivete. Agora — peço.
Meu irmão não parece me ouvir ao pôr o garfo na boca novamente. O Sr Febland, por outro lado, volta a fazer outro som estranho e percebo que Khalil está pressionando ainda mais a faca.
Pelo amor de Deus.
— Faça alguma coisa! — A esposa do Sr Febland abre a boca, também saindo do seu transe, começando a atrair atenção. — Este homem é louco, ele está com uma faca na garganta do meu marido!
— Você não precisa apontar o óbvio, Sra Febland — Genevieve diz, fazendo a mulher fazer um som estrangulado.
— Khalil — falo novamente.
Khalil continua sem dar sinal de que me ouviu. Próximo a nós, os seguranças que contratei fazem sinal de se aproximarem, mas eu balanço a cabeça. Não podemos fazer uma cena.
Quando estou pronto para levantar e arrancar a porra desse canivete da mão de Khalil, o sr Febland diz:
— Простите, мисс Yamamoto, у меня не было намерения вас обидеть.
— По-английски — Khalil diz, a voz ainda tranquila.
O Sr Febland expira. O homem está suando.
— Me desculpe, senhorita Yamamoto, eu não queria ofendê-la.
Minhas sobrancelhas se franzem e eu olho para Kate, que agora parece tão confusa quanto eu.
Isso não importa, porém, porque Khalil abaixa o canivete, guardando-o com a mesma rapidez que o sacou.
A tensão na mesa se esvai, mas só um pouco. O Sr Febland começa a tossir dramaticamente e sua mulher também resmunga alguma coisa, mas minha atenção está em Khalil. Eu o encaro esperando que ele dê alguma explicação, mas meu irmão continua comendo como se nada tivesse acontecido.
Olho para Anthony e ele está tão confuso quanto eu.
Deixo o guardanapo em cima da mesa, levantando.
— Preciso falar com você — digo para Khalil mesmo que ele não esteja olhando para mim.
Eu espero ele recusar, mas Khalil usa seu próprio guardanapo para limpar a boca, antes de jogar em cima da mesa também e ficar de pé.
Já estou seguindo para fora do salão sem me importar em saber se ele está me seguindo. Eu o traria pela gola da camisa caso não estivesse.
O corredor leva para uma varanda com pilastras, iluminado apenas com a luz da lua. Genevieve gostaria desse lugar, me vejo pensando ao observar como é aberto e nos dá uma visão do céu estrelado. Tenho certeza que ela já leu sobre algum lugar assim em um dos seus livros.
Sou tirado desses pensamentos quando ouço os passos de Khalil atrás de mim.
Viro-me para ele. Meu irmão se encosta no batente de mármore, cruzando os braços.
— Que porra foi aquela lá dentro? — questiono.
— Exatamente o que você viu.
Sem paciência, caminho até ele, ficando cara a cara.
— Você perdeu o juízo? No que caralhos você estava pensando?! — Mantenho meu tom baixo, mas não escondo minha raiva. Estou cansado dos seus shows, de ele fazer o que quiser achando que não terá consequências.
Balanço a cabeça quando ele não me responde.
— Não sei porque ainda espero que um dia você pare de se comportar como um adolescente — digo, desapontado.
Afasto-me dele, lhe dando as costas. Foi tolice minha achar que ele diria alguma coisa. Khalil nunca explica suas ações. Ele só faz a merda e espera que eu limpe a bagunça depois. E por que não? Eu sempre faço isso. Fico dizendo a mim mesmo que vou parar de passar a mão na sua cabeça, mas continuo fazendo exatamente isso. Aparentemente não existe tempo no mundo que fará meu irmão mudar, amadurecer. Ao mesmo tempo que isso me irrita, me deixa triste.
— Ele a chamou de vadia asiática.
Paro de andar.
Viro-me para Khalil, que está olhando para o abismo lá embaixo. A luz da lua ilumina seu maxilar cerrado, enquanto ele parece lutar consigo mesmo.
— Eu não gosto da mulher, ela é extremamente irritante e nunca vou entender porque você a trouxe para nossa família como se faz com um cachorrinho no Natal, mas eu não podia ficar sentado ali, ouvindo aquele filho da puta xingá-la bem na nossa cara.
Suspiro, olhando para o corredor. Eu deveria ter deixado Khalil cortar a garganta daquele desgraçado.
— Me desculpe — digo ao meu irmão.
Khalil dá de ombros.
— Você não disse nenhuma mentira.
A pior coisa quando você ofende alguém, é que mesmo se desculpando depois, a pessoa ainda concorda com você.
— Eu não sei mais o que fazer, Khalil — digo com sinceridade. — Eu não sei mais como ajudar você sem parecer que estou forçando demais. Carlota diz para eu te dar tempo, mas parece que isso não está adiantando.
— Você deveria começar a focar na sua própria vida ao invés de tentar consertar as dos outros.
Passo a mão no rosto.
— Está vendo? Você sempre tenta desviar do assunto…
— Não, eu estou falando sério. — Khalil se desloca do corrimão, parando na minha frente. — Você tem um problema em mãos e ainda não enxergou, mesmo com todas as provas.
— Que problema? — Franzo as sobrancelhas. Ele arqueia uma dele. Eu entendo o que quer dizer, então. — Deixe Genevieve fora disso.
— Vê? Você não está lidando com suas próprias merdas, mas quer se intrometer nas nossas.
Dou uma passo para trás, não gostando para onde essa conversa está indo.
— Por que isso agora? Você nunca se importou com os meus relacionamentos antes.
— Eu abri seus olhos sobre a America e agora estou fazendo o mesmo com a Genevieve.
— Do que você está falando? — Franzo as sobrancelhas, sentindo um desconforto estranho.
Khalil olha para mim por uns segundos, antes de dizer:
— Há três anos, lembra por que você voltou para o país antes do previsto?
A última viagem que fiz para fora do país foi quando descobri sobre America e Noah. E é exatamente disso que Khalil está falando, percebo ao lembrar também que há três anos, ele me ligou dizendo que precisava da minha ajuda. Eu voltei na mesma hora, preocupado que ele tivesse feito outra besteira, mas quando cheguei ao seu apartamento — depois de pegar um táxi no aeroporto —, meu irmão disse que precisava de dinheiro. Eu fiquei irritado que ele me fez pegar um avião para resolver algo que eu poderia fazer com o celular. Não pensei muito nisso, e fui para casa — para a casa que America e eu tínhamos. Eu estava tão cansado que não achei estranho o carro de Noah estar na nossa porta. Pensei que ele estava ali para pegar algo, ou porque ficou sabendo da minha discussão com Khalil, de alguma forma.
O que eu não esperava era encontrar America montando nele na nossa cama.
Eu sempre achei que tive muita "sorte" em ter pego os dois no flagra. Muito conveniente Khalil ter colocado tanta pressão para que eu voltasse para casa naquele dia.
Agora, olho para ele, entendendo tudo pela primeira vez.
— Você sabia do caso deles. Você armou tudo.
Ele não anue, mas também não nega. Está estampado na sua cara, de qualquer forma.
Afasto-me dele, passando minhas mãos pelo rosto. Porra.
Isso pelo menos comprova que coincidências não existem. Mas também mostra como eu era ainda mais cego do que eu achava se até o meu irmão sabia do que acontecia dentro da minha própria casa.
— Por que não me contou? — pergunto após um momento, lutando contra a vergonha e a raiva. Raiva porque ele deveria ter me contado. É isso que irmãos fazem, porra. Teria poupado toda a merda que aconteceu depois daquilo.
— Você não acreditaria em mim. Você amava America mais do que tudo, acharia que eu estava mentindo. Ela faria sua cabeça contra mim também. Você tinha que ver com seus próprios olhos.
Afrouxo minha gravata, sentindo que uma mão está se fechando em volta da minha garganta.
— Como você soube? — forço a pergunta para fora. Eu estou encarando a noite porque não sei o que vou fazer se eu olhar para Khalil.
— Eu observei. Há coisas que você só nota se estiver fora da bolha. E quando eu percebi o que estava acontecendo, eu segui o filho da puta do Noah e aprendi a sua rotina, quando ele se encontrava com aquela vaca que você chamava de noiva. Quando você viajou, não foi diferente.
Tão simples. Ele faz parecer tão simples, e faz eu me sentir ainda mais idiota. Eu presumi que America e Noah vinham se encontrando há mais tempo antes daquele dia. Mas percebo agora que eu ainda queria que aquela tivesse sido, sim, a primeira vez. Isso não mudaria que ambos me traíram, mas acho que faria a traição doer menos? Eu definitivamente sou um Idiota.
— Você tem ideia de que se tivesse me contado, eu não teria feito a besteira que fiz? Ou não teria virado piada para cidade inteira? — questiono Khalil.
— Eu nunca disse que os meus métodos foram perfeitos.
Eu realmente quero rir agora, mas tudo o que faço é apoiar minhas mãos no corrimão de mármore e fechar os olhos por um momento. Preciso pôr minha cabeça no lugar. Sim, Khalil ferrou com a minha reputação enquanto tentava fazer algo nobre — mostrar o quanto eu era um palhaço — mas isso é passado, certo? Não posso ficar bravo com a forma que ele fez isso, mesmo que tenha me custado muitas coisas. Na verdade, se for pra ser sincero, eu deveria agradecê-lo. Não sei se eu teria descoberto a traição daqueles dois sem ajuda. Pelo menos não com tanta rapidez.
Estou pronto para deixar isso para trás e voltar lá para dentro, quando algo se acende na minha mente. Uma coisa que Khalil falou.
— O que você quis dizer com "estar abrindo meus olhos agora"? — Viro-me para o meu irmão. — O que você fez?
Khalil balança a cabeça.
— Só estou tentando fazer você enxergar que Genevieve não é muito diferente de America. Pior, talvez. Ela pode até estar trabalhando com o pai.
— Genevieve não é como America. Acredite em mim.
Isso parece enfurecer Khalil, porque ele fecha as mãos em punhos e dá um passo na minha direção.
— Voce viu as fotos, Eros, o que mais é preciso para enxergar? Você vai esperar que tudo se repita outra vez?
— Ela não é assim.
— Eu vi com meus próprios olhos, e estou avisando a você: ela está tendo algo com esse Bruno. Provavelmente foi ela que vazou os designs…
— Ela não é minha noiva de verdade — solto de uma vez, não suportando a forma como ele está falando de Genevieve.
Khalil para, sua expressão suavizando.
— Explique isso.
Suspiro novamente, mas resolvo lhe contar tudo. Se fará ele parar de tratar Genevieve como se ela fosse uma espiã, vou correr esse risco. Meu irmão não demonstra nenhuma expressão enquanto conto tudo, mas seus ombros não estão mais tensos e arrisco dizer que ele está aliviado por Genevieve não ser quem ele achava que ela era.
Eu estou sempre tão preocupado com ele e com Anthony, que acho estranho Khalil de repente se preocupar pela minha vida amorosa. Se estou prestes a ser magoado novamente. É… fofo.
Ao terminar, ele fecha os olhos e suspira, soltando um palavrão. Eu não entendo essa reação, mas como momentos antes, novamente lembro de algo dito por ele. Acho que hoje minha mente está trabalhando igual uma tartaruga porque não estou processando tão rápido as informações.
— Como assim você "viu com seus próprios olhos"? — pergunto com cuidado.
Khalil não me encara ao dizer:
— Eu estava lá. No bar. Tirei fotos para mostrar a você, mas ainda não sabia como contar que você estava sendo traído outra vez. Então tivemos aquela discussão em Oak Park, no final de semana, e… Eu fiquei com raiva e vazei as fotos.
Eu o encaro por cerca de cinco segundos antes de lhe dar um soco.
Para seu crédito, ele só solta mais um palavrão e não tenta revidar.
— Você é um idiota — digo. — Quer saber? Eu retiro o meu pedido de desculpas, porra. Você percebe que poderia ter arruinado tudo de novo?
— Eu não sabia, tá legal? — O idiota tem a coragem de ficar irritado. — Não é minha culpa se você está fazendo joguinhos!
— Isso não tem nada a ver. E se eu estivesse mesmo com Genevieve? E se ela estivesse mesmo me traindo? Você mais uma vez não me contaria! Preferiria que eu fosse feito de idiota só porque tivemos uma discussão? — Olho com desgosto para ele.
Khalil cospe no chão, e não tenho dúvidas que é sangue porque eu não peguei leve no soco.
— Foda-se — é a sua resposta. Como sempre.
Eu pego seu braço quando ele tenta se virar para ir embora.
— Você também vazou os designs? Fez isso para colocar a culpa na Genevieve?
Khalil me empurra, enfurecido.
— Não.
Sua resposta não me convence, mas antes que eu diga algo, um dos seguranças está correndo até nós.
— O que aconteceu? — pergunto, soltando Khalil.
— Encontraram um dos garçons desacordados no banheiro dos funcionários. Parece que alguém o colocou lá. Pode não ser nada, mas…
As garotas.
💎
Tradução das frases:
Frase 1: — Essa vadia asiática não deveria sentar com a gente.
Frase 2: — Essa vadia asiática é meu par. Peça desculpas a ela se não quiser ter sua garganta cortada.
Frase 3: — Sinto muito, senhorita Yamamoto, não quis ofendê-la.
Frase 4: — Em inglês.
💎
Oooooooi. Eu sei, eu sei, mil desculpas pelo atraso. Eu tava com bloqueio p terminar o capítulo seguinte e não queria postar esse até o outro estar pronto!
Agora sobre o capítulo...
Já desconfiavam que foi o Khalil que vazou as fotos??? O que acham disso???
Eu vou fazer o possível e o impossível pra postar terça-feira, eu prometo!
Eu mudei o aesthetic do Khalil e da Genevieve.
O da Genevieve antes era a Angelinna(nne)??? N lembro no nome da moça lá, mas agora é a Kennedy pq acho que combina mais com o jeitinho da Genevieve.
Enquanto p Khalil eu vou usar o outro amor da minha vida que é o Ben Barnes. Ele tem umas fotos onde ele tá bem bad boy e eu só consegui ver o Khalil.
Espero que aprovem❤️
Mais uma vez me desculpem pelo atraso😢 Espero que tenham gostado do capítulo, no entanto 🙃♥️
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2bjs, môres♥
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