³³|Eu nunca odiaria você
— Ela deve estar brincando em algum lugar. — Acima do rugido em meus ouvidos, ouço Carlota dizer em um tom tranquilizador.
Mas eu não estou nada tranquila quando saio pela porta aberta para o jardim.
— Freya? — chamo, a bile subindo em minha garganta. — Freya!
Mil possibilidades de onde ela pode estar começam a se formar em minha mente, começando pela parte que Tobias também não estava na sala.
Se ele a levou, se tirou ela de mim…
Eu trombo com algo, cambaleando para trás e quase caindo. Mas um braço me segura e eu ergo o rosto para encarar Tobias.
— Onde ela está? — pergunto, afastando-me dele e o encarando com raiva.
— Ela quem? — O desgraçado tem a coragem de se fazer de desentendido.
— Se você a machucou…
— Eu jamais machucaria a minha própria filha. — Seu tom sério poderia me convencer se ele fosse um homem bom. Mas ele não é e isso só me deixa mais furiosa.
— Ela não é sua filha. Você não merece chamá-la assim.
— Vamos ver quando você for obrigada a levá-la para fazer o teste de DNA. — Tobias sorri. — Ou você já se esqueceu disso?
Balanço a cabeça, sentindo mais lágrimas deixarem meus olhos.
— Você é um monstro — sussurro. — Eu não sei porque você subitamente decidiu se meter nas nossas vidas, mas você não está fazendo isso porque a ama ou porque quer participar da vida dela. Isso não é ser pai.
— Eu não preciso explicar meus motivos para você. Ela é minha filha e nada vai mudar isso. É meu direito como pai querer vê-la e me manter presente na vida dela. Será que é tão difícil para você entender?
Seu cinismo quase me faz lhe dar um tapa na cara, mas então ouço a voz dela:
— Mamãe, olha o que eu achei!
Meu coração para por um momento quando uma onda de alívio me faz empurrar Tobias para o lado e caminhar até Freya, que está correndo. Bem. Ilesa. Digo a mim mesma ao me agachar, enxugando rapidamente meu rosto antes de abraçá-la.
Ela está bem, está aqui. Ele não a levou.
— O que você estava fazendo? — pergunto a ela ao me afastar, controlando-me para não desatar em lágrimas, principalmente quando ouço passos atrás de mim.
— Olha. — Freya abre suas mãozinhas e estou tão imersa no alívio e nas outras emoções que não me assusto com o fato de ela estar segurando uma rã. — Ela não é fofa? A gente pode ficar com ela?
— Freya, querida… — Suspiro, balançando a cabeça. Acho que estou prestes a ter um colapso na frente da minha filha. Outra vez.
— Ei, o que é isso? — Kate se agacha ao nosso lado, conseguindo a atenção de Freya. Acho que não há palavras para descrever o quanto me sinto grata agora.
— O nome dela é Verdinha. Ela é tão pequeninha. Acho que é uma filhote. Você quer pegar?
Fico de pé, afastando-me um pouco delas para tentar respirar. Sei que Eros está em algum lugar atrás de nós, mas não olho para ele.
Tobias não está mais à vista, graças a Deus, mas o estrago que ele está causando permanece. Minhas mãos estão tremendo e acho que estou hiperventilando.
Ele quer me deixar louca.
Tobias quer me enlouquecer para usar isso contra mim quando entrar com o pedido de guarda, porque é isso que ele vai fazer. Quando o maldito resultado do DNA sair — porque não há como Freya não fazer — ele vai alegar que sou mentalmente instável, não é? Ou alguma merda desse tipo. Ele vai vir com tudo pra cima de mim, porque ele pode e porque ele quer; quer ter o sabor de me fazer sofrer tirando aquilo que eu mais amo.
— Ei.
Por instinto, porque estive com Tobias a poucos minutos, eu me afasto do toque de Eros antes que ele termine de formular a palavra.
Eu vejo a mágoa em seus olhos quando ele deixa sua mão cair.
— Desculpe — sussurro. E eu realmente sinto muito, sei que não é a primeira vez que eu faço isso e sei que ele já percebeu também.
Eu passo meu braço ao seu redor, descanso minha cabeça em seu peito.
— Tudo bem. — Eros felizmente me abraça de volta, e com um cuidado que me faz querer chorar mais.
Eu ouço Kate murmurar alguma coisa para Freya e depois os passo delas indo para dentro.
— O que está acontecendo? — Eros sussurra contra meu cabelo enquanto esfrega levemente minhas costas.
Balanço a cabeça, negando. Não há como eu explicar sem contar que Tobias é o pai de Freya. Esse deveria ser um sinal para eu contar, mas depois de tudo o que aconteceu… eu sei que Eros vai ficar chateado por eu não contar.
Depois eu conto, digo a mim mesma. Depois, quando eu não estiver a ponto de ter uma crise.
— Desde que meu pai a levou — digo baixinho — eu tenho medo que tirem ela de mim de novo. — Não é nenhuma mentira, apesar de não ser só por isso.
Eros se afasta e segura meu queixo, fazendo com que eu o encare. Seus olhos estão duros, mas eu sei que ele não está bravo comigo.
— Nós não vamos deixar que isso aconteça outra vez. Eu não vou deixar.
Engolindo em seco, eu anuo, grata e culpada. Eu não duvido nenhum pouco da palavra de Eros, entretanto, aqui estou eu, mentindo na sua cara.
— Vamos. Vamos pra casa — ele diz, beijando minha testa.
Deixo Eros segurar minha mão e me levar para dentro.
Fico aliviada de não ter que encarar Tobias outra vez, já que aparentemente ele foi embora.
Peço desculpas a Carlota e a Enrico porque mais uma vez tenho que fingir um mal estar. Mesmo que já tenhamos jantado, estavam todos em um clima agradável na sala antes de eu sair gritando por Freya. Por isso especificamente, eu não peço desculpas. Mesmo que ela esteja bem, eu sempre vou colocá-la em primeiro lugar e não vou me sentir culpada por isso.
— Você está bem? — Kate pergunta baixinho enquanto nos acompanha até o carro.
— Vou ficar. — Sorrio um pouco para aliviar sua preocupação. — Obrigada por se preocupar. — Beijo sua bochecha em agradecimento e despedida.
Freya também se despede, e eu não sei qual foi o destino que a rã teve, mas ela não está com minha filha quando a coloco no carro.
O caminho até a casa de Eros é silencioso, já que Freya dorme no banco de trás e eu não sinto vontade de manter uma conversa com Eros, passando a viagem inteira olhando pela janela e tentando achar um jeito de resolver toda essa confusão.
Eu preciso de um advogado. É a primeira conclusão. Eu sei que não vou conseguir impedir que esse teste de DNA seja feito, mas quando o resultado sair, quando Tobias entrar com o pedido de guarda — porque o canalha vai fazer isso — eu vou precisar estar preparada.
A segunda coisa: contar logo a Eros a verdade. Eu sei que disse que faria isso depois, mas já estou com a cabeça mais limpa agora. De jeito nenhum posso esconder isso dele por mais tempo. Só posso esperar que ele entenda porque não contei, que não fique ressentido comigo. Sinto que o nosso… relacionamento está evoluindo para alguma coisa e mesmo que me assuste, não quero estragar tudo.
Quando chegamos, Freya já despertou do seu cochilo. Ela ainda está sonolenta, o que é normal, considerando a hora, mas algo na sua expressão me incomoda. Ela parece triste.
— Ei, tudo bem? — Aperto sua mão enquanto caminhamos para a sala.
Freya anue, esfregando o olho.
— Tem certeza? — Meu instinto está dizendo que há algo mais.
Mas Freya balança a cabeça outra vez, assentindo.
— A gente pode subir? Eu tô com sono — ela murmura, segurando minha mão com mais força, nem mesmo dando atenção aos cachorros.
— Claro.
Freya começa a me puxar em direção às escadas, apesar de não ter força nenhuma para fazer isso.
— Você não vai dar boa noite ao Eros? — pergunto ao ouvir os passos de Eros atrás de nós, que estava provavelmente fechando a porta dos fundos.
— Boa noite, Eros — Freya diz sem nenhum entusiasmo. — A gente pode ir agora, mamãe?
Eu pisco algumas vezes, um pouco confusa. Ela sempre se despede de Eros com um abraço — quando está acordada para fazer isso.
Balanço a cabeça. Ela deve estar com muito sono.
Eros percebe isso também porque apenas diz:
— Boa noite, Spider.
Eu finalmente deixo Freya me puxar escada acima, mas olho por cima do ombro.
— Boa noite — sussurro para Eros.
— Boa noite. — Ele nos observa até que chegamos no topo da escada e viramos o corredor.
Eu planejava voltar lá para baixo ou ir até o quarto de Eros, apenas para conversar, é claro. Do jeito que ele está bancando a freira, nem sei se ele me convidaria para entrar em seu quarto, de qualquer forma. Queria por fim contar a ele sobre Tobias, como decidi no carro, mas assim que ponho Freya na cama, ela me abraça.
— Você vai ficar aqui comigo, né, mamãe? — ela pergunta.
— Claro, meu bem.
Eu não tenho como recusar a isso. Eu sei que há algo errado, mas apesar de ela não querer me falar agora, vou fazê-la falar amanhã.
Por enquanto, eu cubro nós duas com a sua coberta do seu super-herói favorito e acaricio seus cabelos enquanto murmuro uma canção.
💎
Na manhã seguinte, seguimos nossa rotina normalmente. Seria melhor se eu não estivesse com meu braço imobilizado, é claro, mas tenho feito um bom trabalho em dar conta de tudo sozinha… Bem, tirando a parte de quando Eros me ajuda sem eu pedir.
Freya e eu aparecemos na cozinha quando já estamos prontas e somos recebidas pelo delicioso cheiro de panquecas e bacon.
E por Eros, sem seu paletó e com as mangas da camisa dobradas até os cotovelos. Eu nunca pensei que fosse achar sexy um homem cozinhando, mas oiê, estamos falando de Eros, é claro que ele fica sexy até segurando uma frigideira.
— Bom dia, bom dia — cantarolo. Talvez eu esteja de bom humor hoje, o que é estranho. Geralmente não sou mal humorada pela manhã, mas digamos que a noite de ontem não foi das melhores.
— Bom dia, senhoritas. — Pelo visto não foi só eu que acordou de bom humor. — Dormiram bem? — Eros demora seu olhar em mim e aquelas malditas borboletas fazem uma confusão em meu estômago outra vez.
— Feito bebês — respondo, colocando Freya no banco. — E você?
— Também.
— Anthony não vai tomar café? — Não o vejo desde ontem. Ele veio conosco, seu carro seguindo o nosso, mas com Freya morrendo de sono, não pude esperar para lhe dar boa noite.
— Ele já saiu.
— Ah, sim.
Eu estou prestes a começar a preparar a lancheira de Freya quando Eros põe as panquecas para ela e Freya diz:
— Eu não quero comer panquecas hoje. Posso comer outra coisa?
Nós temos a mesma reação caso ela dissesse que não gosta mais do Homem-Aranha.
— Tem certeza? — pergunto com cuidado, olhando de relance para Eros, que está tão surpreso e confuso quanto eu.
Mas Freya anue.
Eu expiro, pegando o prato com as panquecas.
— Ok. Eu fico com as panquecas. Que tal cereal para você? — Forço uma animação que não estou sentindo. Estou no mínimo preocupada. Freya nunca recusou as panquecas sorridentes. Pelo contrário, às vezes ela diz que não está com fome apenas para esperar Eros descer e fazer o café da manhã preferido dela.
Eros parece meio desconcertado e eu só quero dizer a ele que não há nada de errado com as suas panquecas e que Freya só está fazendo birra.
Mas isso soa falso até para mim. Freya não é de fazer birra. Parece mentira, mas eu nunca mimei ela. Não criei ela com luxo, ensinei a ela que às vezes não temos tudo o que queremos.
Eu ponho cereal e leite para ela numa tigela e lhe entrego.
— Você ainda pode escolher as panquecas — ofereço, torcendo para que ela diga que estava brincando. Eu acho que ficaria tão aliviada que nem brigaria com ela. Não sei porque quero tanto que ela mude de ideia, mas parece que algo muito importante está acontecendo aqui, mesmo que eu diga a mim mesma que são só panquecas.
Mas minha filha escolhe a tigela com cereal e eu juro por Deus que sinto uma dorzinha no peito.
Pare de ser louca. Vai ver ela só enjoou das panquecas. É normal.
Eu realmente espero que seja só isso.
💎
Como ignorei as palavras de Eros sobre eu ficar de repouso até meu braço se recuperar — o que é totalmente lógico porque eu perderia duas semanas de trabalho — trabalhei normalmente. Tão normalmente quanto eu poderia com essa tipóia. Passei a maior parte da manhã e da tarde com os estagiários, e depois Eros e eu recebemos Sullivan para sabermos do progresso com as joias de casamento de America.
Eu tinha me esquecido totalmente do casamento, o que é irônico porque só estou nessa situação de noivado falso por causa disso. Eros não mostrou nenhuma reação quando comentei que o casamento é em poucas semanas. Ele apenas assentiu e disse que não iríamos atrasar em entregar as joias. Não sei se como eu, ele se esqueceu, ou a situação o perturba tanto que ele prefere ignorar.
Isso levanta a questão sobre eu ainda não saber o que ele sente por ela. America o traiu, mas talvez ele ainda sinta algo por ela? Por menor que seja. Eles ficaram juntos por anos, não é? Não seria estranho se ele ainda a amasse um pouco que fosse.
Esse pensamento foi o suficiente para me deixar irritada o resto da tarde.
Quando nosso expediente acaba e vamos buscar Freya, tento esquecer o assunto. O que acontece muito rapidamente quando vejo minha filha e sinto que há algo errado. Ou melhor, que algo ainda está errado. Ela estava estranha hoje pela manhã, e claramente não era apenas mau humor e birra porque ela continua sem a sua animação habitual e mal fala no carro, apenas quando faço perguntas sobre o que ela fez na escola hoje.
— Você não vai colocar a ração dos cachorros com o Eros? — pergunto quando Freya me segue para o quarto após chegarmos.
Freya dá de ombros.
— Ele sempre fez isso sozinho antes da gente vir morar aqui.
Olho boquiaberta para ela. Eu nunca esperaria uma resposta dessa dela. Pareceu tão… indiferente.
— Mas você adora fazer isso. — Quando ela não diz nada, insisto: — Certo? Você não gosta de ficar lá fora pulando e se jogando no chão com os cachorros até sua farda ficar imunda?
Ela dá de ombros de novo, nem mesmo rindo do que eu disse.
Ok. Esse foi o meu limite.
Quando entramos no quarto, pego sua mão, puxando-a para se sentar na cama comigo.
— O que está acontecendo? — questiono, olhando atentamente para ela.
— Como assim? — Freya não me olha nos olhos, brincando de chutar o tapete com os pés.
— Você não quis panquecas sorridentes hoje, mal falou no carro e agora isso. O que foi? Aconteceu alguma coisa na escola? — Se for, se mais meninas estão fazendo bullying com ela, eu não me responsabilizo pelas minhas ações.
— Não — ela responde baixinho.
— Então o que é? Você sabe que não precisa esconder nada da mamãe, certo? — Mesmo assim, ela não fala.
Meu coração está apertado, e eu quero pegá-la no colo e dizer que vai ficar tudo bem, mesmo eu não sabendo o que está acontecendo. E eu preciso saber.
— Você fez alguma coisa e está com medo que eu brigue ou coloque você de castigo? — Passo minha mão por seus cabelos. — Eu não vou brigar com você. Eu prometo.
Freya não fala. Eu lhe dou mais uns segundos até perceber as manchas molhadas por suas bochechas. Ela está chorando.
— Oh, meu amor. Vem aqui. — Puxo-a para o meu colo e a abraço. — Está tudo bem.
Eu nunca a vi chorar em silêncio desse jeito e estaria mentindo se dissesse que não estou verdadeiramente preocupada. Tento pensar no que poderia ter acontecido, mas nada vem à mente. Talvez ela esteja mentindo e aconteceu, sim, alguma coisa na escola. E deve ter sido pior do que quando as meninas do balé falaram aquelas coisas para ela, porque Freya não chorou quando me contou o que elas disseram.
— Freya, escute. — Afasto-me para olhá-la nos olhos. Ela ainda está chorando e começou a soluçar. A visão dela assim despedaça meu coração. — Você precisa me contar o que está acontecendo. Eu estou preocupada.
— V-você não vai f-ficar c-chateada? — Diante da sua voz frágil, sinto meus próprios olhos marejados.
— Não. — Enxugo seu rosto. — Claro que não. Pode falar. A mamãe disse que não ia brigar com você, lembra? Foi uma promessa.
Ela funga e não diz nada por uns momentos — momentos completamente agonizantes — enquanto brinca com o cordão do meu vestido.
— Eu n-não quero m-mais m-morar aqui.
De todas as coisas que ela poderia ter dito, eu nunca teria imaginado isso.
— Por quê? Achei que você gostasse daqui — digo com calma, tentando entender.
— E-eu quero voltar p-pra n-nossa c-casa. — Ela está soluçando tanto que quase não entendo suas palavras. Quase.
— Querida… — Volto a abraçá-la, esperando que isso a acalme. — A gente não pode mais morar lá, lembra? Foi por isso que viemos pra cá.
— M-mas eu q-quero ir e-embora.
— Tudo bem. — Beijo seus cabelos. — Está tudo bem. Não precisa chorar, ok? Quando você se acalmar, a gente conversa sobre isso, pode ser?
— Você promete q-que a gente v-vai embora d-depois? — Ele está olhando para mim e esperando uma resposta. Freya realmente está certa sobre isso, eu percebo. O que quer que tenha acontecido, ela não quer mais morar aqui.
— Prometo.
Eu preciso saber o que está acontecendo com ela, mas por mais que todos os meus instintos gritem para exigir uma resposta dela, não forcei mais a barra. Isso não significa que não vamos sentar para conversar de novo depois do jantar, mas por enquanto, eu dei um banho nela e a vesti com seu pijama preferido.
Ela está tão quietinha que eu quase não a reconheço. É doloroso vê-la assim, porque Freya é sempre tão alegre e tagarela. Nem mesmo quando está doente, ela fica quieta.
Quando descemos para jantar, Eros já colocou a mesa. Ele olha uma vez para nós — para Freya em meu colo — e franze as sobrancelhas.
— O que houve? — pergunta, assumindo uma expressão preocupada.
— Freya não está muito bem hoje — não é exatamente uma mentira.
— Ela está doente? — Eros se aproxima, olhando para Freya com um olhar avaliador antes de tocar a testa dela. Mas Freya vira o rosto para o outro lado.
— Acho que não. — Dou a ele um olhar de desculpas. Eu sei que ele está preocupado.
Eros anue, se afastando e indicando a mesa.
— Sentem-se, vou colocar a comida de vocês.
— Obrigada.
O jantar é estranhamente silencioso. Eu não tiro os olhos de Freya, mal tocando na minha própria comida, mas aliviada que ela pelo menos está comendo a sua. Seu rostinho está meio vermelho do tempo que ela ficou chorando e ela ainda está fungando.
Eros também não tira os olhos dela, preocupado.
— A gente vai assistir o segundo filme de Frozen hoje? — ele pergunta a ela, tentando chamar sua atenção.
Freya nem olha para ele ao responder.
— Não quero assistir Frozen.
Eros me encara, parecendo não saber o que fazer.
Pigarreio, me mexendo na cadeira.
— Tudo bem. A gente pode assistir Miraculous então. Aposto que você está com saudade.
— Não quero assistir Miraculous. — Então ela afasta seu prato e fica de pé, vindo até mim. — A gente pode subir? Eu já acabei.
Eu fico sem reação por uns segundos, me perguntando o que diabos está acontecendo; o que eu tenho que fazer para fazê-la voltar ao normal; como apagar as últimas horas.
Eros, abençoado seja, pigarreia, me impedindo de despejar todas essas coisas.
— Posso falar com você um minuto? — pergunta, ficando de pé e apontando para a parte da cozinha longe da mesa.
— Claro. — Olho para Freya. — Me espera na sala, tá bom? A mamãe já vai.
Ela olha de mim para Eros com seus olhos inteligentes e depois anue, indo para a sala.
Suspirando, eu sigo Eros.
— O que está acontecendo com ela? — ele pergunta baixinho após darmos alguns passos.
— Eu não sei. Quer dizer, ela falou que… — Paro ao lembrar, olhando para Eros. Não sei por que, mas sinto que contar a ele que ela disse que não quer mais morar aqui, irá deixá-lo triste.
Balanço a cabeça, resolvendo deixar para lá, mas Eros segura meu braço carinhosamente. Quando olho para ele novamente, a preocupação estampada em seu rosto parte meu coração. Eu já o vi preocupado com ela, mas agora além de preocupado, ele parece perdido.
— Me fale. Talvez eu possa…
— Ela disse que não quer mais morar aqui. — Eu observo seu rosto mudar de preocupação para confusão e depois, como eu imaginei, tristeza.
— Ela disse o por quê? — ele murmura.
Balanço a cabeça.
— Não, eu achei melh…
— Não encosta nela! — De repente, Freya está na minha frente, pressionando seu corpo em minhas pernas e olhando para Eros.
Chocada, assisto ela tirar a mão dele do meu braço, furiosa.
— Freya! — chamo sua atenção, sem entender absolutamente nada.
Eros, que deu um passo para trás com susto, está tão chocado quanto eu.
— Freya, o que é isso? — pergunto finalmente, sacudindo levemente seu ombro para que ela vire para mim. — Freya, estou falando com você — falo mais seriamente agora.
— Tá tudo bem, Spider — Eros fala, sua voz tão gentil e suave. — Sua mãe e eu só estávamos conversando. — Quando ele dá um passo à frente, Freya recua para mim.
Meu Deus, ela está com medo dele? Mas que merda é essa?
Eros deve lê essas palavras em meus olhos ou na própria reação de Freya, pois ele recua novamente.
— Freya. — Viro-a para mim e me ajoelho na sua frente. — Você precisa me dizer o que está acontecendo. Agora.
Mas ao invés de falar, seus olhos se enchem de lágrimas e seu corpo começa a tremer, até que ela está chorando incontrolavelmente.
— Ei. — Envolvo-a em um abraço, sentindo meu coração acelerar com o pânico e se estilhaçar ao mesmo tempo por vê-la desse jeito. — Está tudo bem. A mamãe está aqui.
Eu olho para cima, para Eros, que está completamente desolado enquanto nos observa. Acho que nunca o vi assim. Porém, mesmo sabendo disso e que ele também quer saber o que está acontecendo, saber como ajudar, eu aponto para o lado, indicando que ele nos deixe. Freya recuou dele, e eu preciso saber por quê.
Eros parece estar em conflito, mas sai da cozinha.
Só depois que ouço seus passos se afastando, é que me sento no chão e trago Freya para o meu colo.
— Freya — sussurro depois de alguns momentos, querendo que ela olhe para mim. Quando faz, a falta de luz em seus olhos quase me mata. — Por favor, preciso que você fale comigo.
Freya funga, mas se endireita, ainda chorando, porém não de uma forma que ela não consiga falar.
— Eu não g-gosto mais d-do Eros — acho essa é uma das piores frases que eu poderia ouvir.
— Por que não? — pergunto com cuidado.
— E-e-e-e…
— Ok, ok. Calma. — Eu a interrompo. Ela está respirando rápido demais, soluçando demais. — Respire. Assim. — Mostro a ela como estou respirando: inspirando, e expirando, com calma.
Nós ficamos nessa por uns minutos, até ela se acalmar.
— Tudo bem. Pode falar agora — a incentivo, passando minha mão em suas costas.
— Ele machucou v-você.
— O quê? — sussurro, minha cabeça girando.
Freya funga novamente, apontando para a minha tipóia.
— Ele é mau, não é? — Ela me encara, mais lágrimas deixando seus olhos. — Porque pessoas boas não machucam as outras. Mas e-eu não queria que ele fosse m-mau.
Freya me abraça de novo, voltando a chorar. Mais uma vez fico sem reação. Foi por isso que ela não deu boa noite direito a ele ontem, nem quis as panquecas hoje de manhã. E ela quer ir embora e se afastou dele porque acha que ele me machucou. E entrou na minha frente para me proteger.
— Freya… Preciso que olhe para mim e me ouça com atenção, ok? — Quando ela faz isso, volto a enxugar seu rosto. — O Eros não machucou a mamãe. Está ouvindo? Ele não é mau.
— Mas aquele cara disse que sim.
Pisco, franzindo as sobrancelhas.
— Cara? Que cara?
— Aquele que você disse que é primo do Eros. Ele me disse no jardim.
— O q…
Meus olhos se arregalam. Filho da puta.
Tobias colocou essas coisas na cabeça dela. É claro que sim. Meu Deus, sinto-me tão burra agora. Quando o encontrei ontem a noite, do lado de fora, Freya apareceu dois minutos depois. Eu deveria saber. Deveria saber que ele tentaria algo, mas nunca achei que sua jogada seria colocar Freya contra Eros.
Filho da puta do caralho.
Acalmo minha raiva, respirando fundo.
— O nome dele é Tobias. E ele é um mentiroso. Ele não gosta da mamãe e nem do Eros, por isso ele inventou essa história.
Freya está franzindo as sobrancelhas agora, confusa. Eu espero mesmo que ela acredite em mim. A expressão no rosto de Eros…
— Você está me ouvindo? — pressiono.
— Então o Eros não te machucou?
— Não.
Novamente seus olhos se enchem de lágrimas e ela me abraça.
— Ele v-vai me o-odiar a-agora? Eu n-não quero que o E-Eros me odeie.
Oh, meu Deus. Acho que estou sentindo os pedaços do meu coração me perfurarem.
— Claro que ele não vai te odiar, meu amor — eu a acalmo. — Ele está triste porque não sabe porque você estava agindo daquele jeito. Mas ele não odeia você.
— M-mesmo?
— Mesmo.
Ela fica abraçada comigo por mais um tempo, se acalmando. Os cachorros estão ao nosso redor agora e Zeus está choramingando enquanto empurra o braço de Freya com o focinho. Tenho a vaga noção dela acariciando o pelo dele, enquanto os outros cachorros sentam perto de nós.
Eu tenho tantas ideias do que fazer com Tobias agora que eu seria presa se alguém lesse meus pensamentos. Como ele pôde fazer isso? Eu sabia que ele era um monstro, falei na cara dele inclusive, mas isso… Meu Deus. Freya estava pensando nisso desde ontem, não posso nem imaginar como deve ter ficado sua cabeça. Isso é tão cruel…
Eu a abraço com mais força, murmurando um pedido de desculpas. Tentei tanto protegê-la, mas Tobias conseguiu me vencer e chegar até ela.
— Posso ir falar com o Eros? — Freya pede, sua voz abafada.
— Claro, querida. — Sinto um alívio tão grande agora que rapidamente nos coloco de pé. — Vamos.
Freya segura minha mão e nós seguimos para a sala, os cachorros no encalço.
Acho que eu já disse o quanto meu coração está partido e achei que não fosse possível parti-lo mais, mas aqui está ele em cacos quando eu vejo Eros sentado no sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto suas mãos parecem que estão prestes a arrancar seu cabelo. Não sei quanto tempo ficamos lá na cozinha, mas foi tempo o suficiente para deixá-lo morrendo de preocupação e angústia.
Quando ele ouve nossos passos, ergue a cabeça, mas não tem tempo de levantar porque Freya solta minha mão e sai correndo para abraçá-lo.
Os ombros de Eros desabam em alívio quando ele a abraça de volta. Ela é tão pequena em comparação a ele, mas Eros a segura com um carinho e cuidado que me faz piscar várias vezes para não chorar.
— D-Desculpa. — Ouço Freya fungar. — Você n-não vai me o-odiar, né?
Eros a pega no colo quando me sento ao seu lado. Ele a segura contra o seu peito ao dizer:
— Claro que não, Spider. Eu nunca odiaria você.
Freya o abraça com mais força e é isso. O mal entendido — isso é um eufemismo, na verdade — já foi resolvido.
Porém, Eros me encara, e ele nem precisa dizer: ele quer saber que porra foi essa.
— Depois — movo meus lábios, mas não falo em voz alta.
Eros me encara por alguns segundos, mas depois anue.
— A gente pode assistir Miraculous agora? — Freya pergunta de repente e nós dois rimos.
Pelo menos essa parte voltou ao normal.
💎
Eros a leva para o quarto depois que o primeiro episódio acaba. Eu já estava contando com isso. Ela chorou muito hoje, isso grita "sono imediato".
Porém, eu não os segui. Enquanto assistíamos ao episódio, pensei em contar a verdade a Eros hoje. Eu planejava fazer isso ontem, de toda forma. Mas estou simplesmente esgotada para ter essa conversa. Porque eu sei que não vai ser uma conversa fácil. Além disso, tenho outra coisa para fazer.
Então quando Eros volta para a sala, espero que não faça perguntas demais.
— Foi o Tobias — digo antes de ele ter a chance de sentar.
— O quê?
— Ontem. Ele disse pra Freya que você… que você me machucou. — Eu me encolho com a última parte.
Devagar, Eros senta ao meu lado, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Filho da puta — diz cruelmente, com as mãos fechadas em punhos.
— É. — Mordo o lábio, avaliando sua reação. Sua mandíbula está tensa, assim como seus ombros. Eu posso adivinhar que ele está imaginando esquartejar o corpo de Tobias.
— Eu vou matar aquele pedaço de merda. — Eros fica de pé e eu percebo que ele realmente pretende fazer isso.
Coloco-me na sua frente.
— Não. Você não vai fazer nada — demando, erguendo o queixo quando ele me olha como se eu não estivesse falando sério.
— Eu vou, sim. Eu já deixei passar coisas demais. Agora aquele desgraçado ultrapassou todos os meus limites.
— Eu sei, e eu concordo, mas é isso que ele quer. Nós dois sabemos qual vai ser a primeira coisa que ele vai fazer se você for lá e quebrar a cara dele. — Quando Eros fecha os olhos, balançando a cabeça, eu sei que ele está entendendo o meu raciocínio. — Ele vai chamar a imprensa, Eros. Ele vai criar toda uma história e então tudo vai se repetir.
— Porra, eu não ligo. — Quando abre os olhos de novo, determinação brilha em seu olhar. — Se Tobias quer me transformar em um vilão, deixe que ele faça. Mas o que eu não posso deixar é que ele mexa com Freya e saia em pune.
Eu quero abraçá-lo, me dar um soco e chorar ao mesmo tempo. Eros está disposto a ter todos contra ele de novo apenas para dar uma lição em Tobias pelo o que ele fez a Freya. E ele está sendo sincero ao dizer que não se importa com isso, porque ele se importa com ela, e ele faria isso por ela sem pensar duas vezes.
Quando Eros franze as sobrancelhas e estende a mão para tocar meu rosto, percebo que estou chorando.
— Ei. — Ele envolve meu rosto em suas mãos, passando os polegares em minhas bochechas.
— Você é incrível, sabia? — Sussurro, beijando seu pulso.
— Ah, é? — Ele não acredita em mim. Mesmo depois dos últimos minutos, depois de dizer que a minha filha é mais importante para ele do que a sua imagem pública, ele não acredita em mim.
— Não vá atrás de Tobias — peço e seguro seu pulso quando ele faz menção se afastar. — Escute, por favor. — Eros espera, me dando a chance de falar. — Eu concordo que Tobias merece ter as bolas presas com garfos em uma parede…
— Você já pensou em fazer isso com as minhas bolas? — Eros faz uma careta.
— Algumas vezes. — Balanço a cabeça, ele está tentando me distrair. Dou um beliscão em seu pulso.
— Ei!
— Eu estou falando sério. Não vá atrás dele agora. Você só estaria dando o que ele quer. E eu não quero isso. Nem Freya. — E porque eu preciso que ele me ouça, jogo baixo: — Se você gosta de alguma de nós duas, vai me ouvir.
— Eu gosto de vocês duas.
As borboletas em meu estômago estão praticando voo depois disso.
Engulo em seco, voltando a raciocinar.
— Então não faça nada. Vamos pensar em outra coisa.
Observo em silêncio a luta interna que ele está tendo. Se não estivesse pedindo, ele já teria saído daqui e arrebentado Tobias, mas por mais que fosse incrível ver aquele idiota em uma cadeira de rodas, não posso deixar Eros fazer isso. Eu nunca me perdoaria se ele fosse obrigado a viver aquele caos da última vez.
Eu vejo que ganhei quando seus ombros relaxam levemente e ele olha para mim como se não soubesse se deve me beijar ou me matar.
— Obrigada — digo baixinho.
Eros se joga no sofá, suspirando. Um soldado que perdeu a batalha, é o que ele parece.
Apesar de tudo, acho graça.
— Quer assistir um filme? — pergunto ao sentar ao seu lado.
Eros semicerra os olhos.
— Você só quer ficar para se certificar que não vou sair, não é?
— O quê? Claro que não.
É óbvio que ele não acredita em mim.
Mas Eros liga a TV de novo e me puxa para ele, então acho que isso é um "sim" para o filme.
— O que você quer assistir? — pergunta, zapeando pelo Netflix, distraidamente acariciando meu braço.
— Nada meloso, por favor. — Eu não aguentaria
Eros bufa uma risada e acaba colocando "Missão Impossível: 1".
Nós assistimos num silêncio confortável onde posso respirar tranquilamente depois das últimas horas. É bizarro como há um mês e meio, eu nunca imaginaria que estaríamos abraçados em seu sofá, assistindo um filme e que eu me sentiria bem e segura com isso.
Parecemos um casal.
Mas vocês não são.
Não, mas… Há algo acontecendo aqui, certo? Eu sei que ele também sente isso, mas acho que nenhum de nós está pronto para falar sobre isso ainda.
E por enquanto… está bom para mim assim.
💎
Depois de assistir três filmes consecutivos com o Tom Cruise, eu caí no sono. Na verdade, dormi antes do final do terceiro. Estava acordada para ver quando Anthony chegou pouco mais das 2h, murmurando um boa noite antes de subir para o quarto.
Quando acordo, não há nada passando na TV e demoro uns segundos para perceber que está desligada.
Ergo o rosto do peito de Eros para vê-lo dormindo. Seu braço ainda está ao meu redor, porém. Ele parece tão em paz dormindo que fico admirando-o por um momento antes de precisar me afastar. Eu realmente não queria, e preciso de todo o cuidado possível para passar por debaixo do seu braço, repousando em cima da almofada.
Feito isso, fico de pé, me espreguiçando. Meu ombro está dolorido por causa da posição que eu estava, mas nada que me incomode muito.
Checo a hora no meu celular. 04h21.
Dou uma última olhada em Eros, e não resisto ao inclinar e deixar um selinho em seus lábios.
Depois, pego a chave do seu carro em cima da mesa de centro.
Espero voltar antes que ele e Freya acordem.
💎
Esse capítulo dói tanto mdssssssssss. Juro que chorei muito escrevendo. Fiquei com tanta dó da nossa Spider 😭😭😭
Levanta a mão quem quer matar o Tobias 👺😤
Nao tenho muito mais a dizer sobre esse capítulo, mas espero que tenham gostado.
Spoiler do próximo:🔥🙈💦
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É isso, vou tentar postar sexta-feira 💋♥️
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2BJS, MÔRES♥
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