¹⁵|Encontro (Part.1)
Acho que há algo de errado comigo.
Minha mente fica me dizendo isso toda vez que meus pensamentos desviam para o homem tatuado com olhos castanhos-esverdeados que é muito mal humorado e o meu chefe. Mas eu não consigo parar de pensar naquele momento na cafeteria, quando debatemos sobre o livro. Foi algo tão… mundano — tratando-se de Eros, pelo menos.
Além disso, ele me levou para tomar café fora. Eu achei estranho, mas eu adorei o lugar. Não lhe disse isso, claro, ele provavelmente reviraria os olhos e diria que sou boba.
E antes disso… Teve aquele quase beijo. Eu não sei o que estava pensando. Quer dizer, se Freya não tivesse chegado, o que eu teria feito? Beijado-o? Nem sequer conversamos sobre aquele beijo no jantar de noivado ou sobre o que aconteceu em seu quarto na outra noite. Fora isso, também combinamos que tudo isso não é real, logo, beijá-lo quando não temos uma plateia não faz sentido.
Mesmo que meus lábios tivessem formigando em antecipação para sentir os seus. Ou que minha pele tenha se arrepiado ao imaginar seus dedos tocando-me, como nos malditos sonhos que venho tendo desde que ele descreveu o que gostaria que acontecesse naquele dia.
Suspirando, volto a realidade.
Tive que passar o resto da tarde com os estagiários depois que America foi embora e Eros se trancou em sua sala. Eu pedi para Eros abrir apenas uma vez, mas não obtive resposta, então não tentei novamente. As coisas com sua ex-noiva não devem ter corrido bem e agora me sinto ansiosa para saber se há algo que eu possa fazer para ajudá-lo. Saber que ele está trancado há horas lá dentro também me deixa preocupada.
— Pessoal, por hoje é só. Vocês fizeram um ótimo trabalho — anuncio aos estagiários, que respiram aliviados porque já podem ir embora.
Enquanto eles se arrumam para sair, checo meu celular. Inutilmente, mandei uma mensagem para Eros, que obviamente não respondeu.
Mas eu esqueço isso quando vejo outra mensagem na tela.
Eu estou bem.
Como vai a vida?, Bruno escreveu.
Isso foi há dois dias. Eu não vi a mensagem, estava atolada com o trabalho, além de ajudar Freya com o dever de casa.
Hey, desculpe pela demora. Tudo tem estado um loucura ultimamente.
E você? Como é ser dono de uma rede de tv?
Antes de guardar o celular, dou uma olhada no link que Lorelei me mandou. Eu nem sabia que ela tinha meu número.
O link me encaminha para um site e arregalo um pouco os olhos ao ver a foto que inicia a matéria. É Eros e eu na cafeteria. Tínhamos sentado na janela, então quem estivesse do lado de fora poderia nos ver — e nos fotografar, pelo visto.
A matéria diz:
"Após surgir um rumor de que o noivado de Eros Blackburn e Genevieve Prescott era uma farsa, os pombinhos foram vistos tomando café da manhã juntos. Não sabemos sobre o que se tratava a conversa, mas apesar do semblante sério do Designer de Joias, sua noiva estava claramente entusiasmada e não parecendo se importar nem um pouco com a seriedade do parceiro.
Será que logo teremos um casamento aí?
Se a resposta for sim, espero ansiosamente o meu convite, além de desejar felicidades ao casal!"
Minhas sobrancelhas estão erguidas, enquanto balanço a cabeça.
Esses jornalistas…
Uma batida na porta me sobressalta e eu olho para Eros parado lá, segurando sua pasta e minha bolsa.
— Já são 17h00 — diz simplesmente.
— Ah, certo. Já estou indo. — Ajeito minhas coisas em meus braços e sigo-o para fora da sala.
Olho para Kate quando passamos, mas ela dá de ombros. Ou seja, ela também não sabe nada sobre o encontro de Eros com America. Não sei o que significa.
No elevador, ele também não diz nada, mas eu já estou incomodada com seu silêncio e viro-me para ele.
Mas antes que eu abra a boca, Eros diz:
— Não quero falar sobre isso.
Calo a boca, então. Apesar da minha curiosidade, fico quieta sobre esse assunto. Ainda há algo que preciso falar.
— Fotografaram a gente na cafeteria. Eu não deveria estar surpresa, mas como sabiam que estaríamos lá? Tipo, estão nos seguindo? E você leu o que eles escreveram sobre…?
— Eu paguei para que nos fotografassem — me interrompe, surpreendendo-me com suas palavras. — Seu pai iniciou um boato que nosso noivado era falso. Lorelei conseguiu fazer o jornalista tirar do ar, mas não demoraria muito para Adrien iniciar outro rumor. E não duvido que comece, mas eu precisava fortalecer a nossa história, então paguei um desses paparazzis como fonte anônima.
Quando as portas do elevador abrem e Eros sai, eu ainda estou piscando com toda a informação que ele acabou de despejar.
Então tudo foi armado? A cafeteria; me manter entretida com o lance do livro para que na foto eu parecesse feliz…?
E você achando que ele estava sendo legal apenas porque queria ser.
Não sei por que esse fato me incomoda tanto já que nada nessa "relação" é real.
A regra que criei está saindo pela culatra se eu estou começando a ficar chateada que, de fato, isso não seja real.
❦︎
Ter começado a fazer panquecas "coloridas" para Freya foi a melhor decisão que tomei. Não me sinto nenhum pouco mal essa noite quando ela come a panqueca de espinafre com frango, animada porque é verde. Eros até comeu uma, além do frango cremoso com cogumelos e bacon, arroz e batata frita que eu também fiz.
Não conversamos desde a sua confissão no elevador e eu tenho tentado não pensar em como me senti sobre isso. Tenho coisas mais importantes para me preocupar, como Tobias, por exemplo. Não tenho notícias suas desde que me encurralou na campanha. Eu sei que ele está aprontando alguma, só não sei se estou preparada para o que vai ser.
Meu celular vibra na mesa, me assustando enquanto recolho os pratos.
Precisamos conversar. Pode me encontrar amanhã?
Apesar de estar surpresa com a mensagem de Emma, não fico esperançosa por um pedido de desculpas.
Quando éramos mais jovens, não éramos tão próximas. Ela é dois anos mais velha e eu era sempre a irmã chata e irritante que ela pedia para ficar dentro do quarto quando seus amigos iam à nossa casa. Apesar disso, porém, papai não fazia distinção na hora de nos proibir de algo ou nos colocar de castigo. Um consolo assombroso.
Café da manhã às 08h. Onde?
Não respondo depois que ela manda o endereço. Não vou começar a fingir que está tudo bem.
Depois que limpo a cozinha — eu dispensei Eros porque preciso descontar toda a minha tensão em algo — pego meu celular e vou até a sala para chamar Freya.
A cena que encontro, porém, faz meu estúpido coração ficar quentinho no peito. Freya e Eros estão sentados no sofá assistindo Miraculous. A luz da sala está apagada, apenas a tv iluminando o ambiente quando Eros pergunta alguma coisa a Freya. Eu estou perdida demais para prestar atenção, apesar de estar ciente de ela explicar algo a ele, o que o faz rir. Zeus, sentado ao lado de Freya, late, como se também quisesse participar da conversa, mas é só Freya acariciar a cabeça peluda dele, que o cão fica quieto, deitando a cabeça em seu colo.
Eu não deveria ter cedido quando Eros disse que eu não poderia ir embora porque sua família sabe que estou morando aqui. Isso é um problema dele, não meu. Cenas como essa me fazem ter mais certeza que Freya e eu devemos ir embora, antes que minha filha se machuque.
Ou eu.
Balançando a cabeça, desço os degraus para a sala, chamando a atenção dos outros cachorros, que levantam a cabeça de onde estão sentados no chão, mas só Apollo vem até mim.
— Freya, vamos — chamo minha filha, olhando para baixo e acariciando o pelo de Apollo.
— Ah, não, mãe! Só mais um pouquinho, por favor! — Freya choraminga, ficando de joelhos no sofá e juntando as mãozinhas.
— Já são 20h, você precisa dormir. Tem escola amanhã, lembra? — Meus olhos travam com os de Eros, que está me olhando atentamente agora. O castanho do seu olhar está totalmente preto pela falta de iluminação, tornando-o mais intenso, o que me causa um arrepio.
— É só hoje, mamãe. Por favor. Eu prometo acordar bem cedinho amanhã, sem reclamar.
— Você pode assistir no quarto. Tem uma TV lá. — Apesar de eu nunca usá-la.
— Mas eu quero assistir com o Eros. Ele nunca assistiu Miraculous! Não é, Eros? — Freya cutuca o ombro do homem ao seu lado.
— Eros também deve ter coisas para fazer, querida — respondo antes que Eros possa.
— Na verdade, não — o homem diz cuidadosamente. — Eu estou realmente interessado em como a Marinete não desconfia que o Adrien é o Catnoir e vice versa.
— Viu?! — Freya pula no sofá. — Deixa, mãe, deixa!
Suspiro, sabendo que não vou ganhar essa. Eu poderia simplesmente dizer que não e mandá-la para cama, mas está tão animada que fico com dó, além de uma parte de mim também estar feliz em vê-la assim. Melhor do que ela se sentir desconfortável e desanimada num lugar novo.
— Tudo bem, mas só até às nove.
O gritinho de felicidade dela me faz sorrir um pouco, enquanto Zeus late.
— Você vai assistir também? — A voz de Eros me chama atenção mais uma vez e eu volto a encará-lo, engolindo em seco.
— É, mãe, assiste com a gente! — Freya obviamente se anima, e juntando isso com o olhar intenso de Eros, eu não tenho escolha.
❦︎
Sentada no sofá, tento o máximo possível prestar atenção apenas na TV, no desenho que já assisti mil vezes — porque Freya sempre volta para a primeira temporada quando termina — e não no homem sentado ao meu lado.
Zeus não pareceu que me deixaria sentar ao lado da minha filha e seria estranho se eu sentasse no outro sofá, então não tive escolha — novamente — ao me acomodar ao lado de Eros, que está com a sua atenção fixa na TV, às vezes perguntando alguma coisa a Freya ou fazendo comentários com ela. Ao mesmo tempo que também parece que ele está prestando atenção em mim ou eu que estou muito consciente de cada movimento meu — e seu — ou eu só estou muito doida.
Eu sei que algo aqui está muito errado. E não estou nem falando de eu olhar para Eros pelo canto do olho toda vez que ele ri — uma risada sussurrada que não deveria ser sexy, mas me faz apertar minhas coxas juntas, o que é totalmente inapropriado, considerando a situação —; mas não é só isso que está errado e sim o fato de ele ser o meu chefe, que estou morando na sua casa e ele ser super legal com a minha filha. Essas coisas não deveriam fazer eu me sentir atraída por ele, mas então fazendo.
Quando você é mãe, você sempre vai pensar no bem do seu filho primeiro, principalmente se você estiver em um relacionamento — e eu não estou, o que é pior —, mas você sempre vai pensar se ele ou ela vai ser legal com o seu filho, se vai entender que antes de namorada, você é mãe; que se seu filho estiver doente, você vai sair correndo de um encontro para socorrê-lo. Que mais nada no mundo importa além dele, porque mesmo que você ame muito a pessoa, você daria a vida pelo seu filho.
E nem todo mundo entende isso quando está em um relacionamento com uma mãe solteira. Depois de Tobias, demorei dois anos para sair com alguém de novo. Foram apenas um punhado de encontros e nenhum daqueles caras me fizeram ter vontade de apresentá-los à minha filha. Passei em média três horas com cada um — às vezes mais quando havia um segundo encontro com o mesmo cara —, mas eu sabia que nenhum faria panquecas sorridentes para minha filha ou fosse perguntar todos os dias a ela como foi seu dia, que atividades ela fez, se precisa de ajuda com a lição de casa.
Nenhum deles assistiria Miraculous com ela porque iria querer e não porque acharia que poderia ganhar uns pontos comigo por isso.
O fato de logo Eros fazer tudo isso porque quer e porque gosta de Freya, me faz querer comer um enorme pote de sorvete e chorar.
Meu celular vibra em meu colo e eu desvio a atenção da TV para ver a mensagem brilhando na tela. Acima dela, está o nome de Bruno.
Tudo bem.
Ainda estou descobrindo como ser chefe de tanta gente.
Respondo:
Tenho certeza que você vai acabar descobrindo. Você foi presidente do Grêmio duas vezes seguidas. Vai dar conta disso!
Encaro os três pontinhos na tela antes que sua resposta apareça:
Hahaha, obrigado!
Ei, eu sei que você disse que as coisas têm estado meio loucas na sua vida, mas quer sair para tomar alguma coisa um dia desses?
A ideia de sair com Bruno me anima. Eu realmente sinto falta da nossa amizade. Tenho tantas coisas para contar a ele, por isso escrevo:
Claro! Acho que só estou livre no final de semana. Mas se não estiver bom para você, podemos ver outro dia.
Sábado ou domingo está bom para mim, avise-me qual dos dois é melhor para você.
*
Seu noivo pode vir também, se você quiser.
Por um momento, franzo as sobrancelhas pensando que ele está louco, mas então lembro que a louca sou eu por estar em um noivado falso.
Falarei com ele, mas é provável que queira ficar em casa. (Ele não é muito social).
Além disso ser verdade, não há motivos para Eros estar presente. Bruno é meu amigo e não tem nada a ver com toda essa bagunça, não precisamos fingir estarmos perdidamente apaixonados na frente dele.
Ah, sim. Entendo.
Então vamos conversando até o final de semana…?
Respondo:
Claro ☺︎︎
— Mãe, você não está prestando atenção! — Ouço o resmungo de Freya e bloqueio o celular, como se estivesse fazendo algo errado e acabei de ser pega no flagra.
— Claro que eu estou. — Deixo de fora que eu já gravei todos os episódios.
Sinto meu rosto queimar e viro a cabeça, encarando Eros de volta.
Qual o problema dele? Por que tem que ficar me encarando com esse olhar intenso como se estivesse olhando dentro da minha alma?
Como não virei meu celular para baixo, a tela acende quando ele vibra e eu sei que é uma mensagem de Bruno quando Eros desvia dos meus olhos para o aparelho, tensionando a mandíbula em seguida e virando o rosto para a TV.
Será que ele leu a conversa? Sabe que vou sair com Bruno? Isso o incomoda?
E por que eu me importo com isso? Não estou nem aí se ele não gosta de Bruno — Eros deixou isso claro na forma como tratou meu amigo no almoço — e não devo satisfação a ele. Como deixei claro na noite do noivado falso, isso não é real.
❦︎
21h10 — mesmo já tendo assistido a Miraculous um milhão de vezes, eu sempre acabo entretida em algum momento — um outro episódio acaba e eu percebo que faz pelo menos dez minutos que eu não ouço nenhum comentário de Freya.
Quando fico de pé, não estou surpresa ao vê-la dormindo, mas mais uma vez aquela sensação quentinha se apodera de mim quando vejo que ela adormeceu com a cabeça no braço de Eros, sua mãozinha agarrando a manga comprida do moletom dele.
— Era por isso que eu não queria deixá-la assistir até mais tarde — murmuro, aproximando-me e pegando-a no colo.
— Achei que fosse porque está me evitando — Eros devolve, mantendo o tom de voz baixo.
Abro a mão de Freya para fazê-la soltar o moletom de Eros, que ela não queria largar, como se fosse seu ursinho de pelúcia.
— Eu não estava te evitando. Minha cabeça está cheia de coisas e eu devo ter me distraído, isso não significa que tem a ver com você.
Eros não parece acreditar em mim, mas murmuro um boa noite, lhe dando as costas.
Estou no meio da escada quando o ouço chamar Zeus de volta, que estava vindo atrás de nós. O cão choraminga, mas obedece seu dono.
❦︎
Pode ser meio dramático, mas vesti um vestido preto, gola alta, até os joelhos, para encontrar minha irmã na manhã seguinte. Apesar de concordar com um café, eu ainda comi os ovos mexidos com bacon que Eros fez.
Quando chego ao café que ela escolheu — perto da Blackburn Empire, o que eu agradeço mentalmente porque assim posso ir andando em menos de dez minutos —, rapidamente a encontro graças a cor de cabelos que ambas herdamos, sentada no fundo do estabelecimento, olhando nervosamente para fora pela janela.
Enquanto me aproximo, penso no que ela pode querer. Já descartei um pedido de desculpas, então suponho que esteja aqui a mando do nosso pai. Isso é engraçado já que Eros sempre me acusou de ser uma espiã/agente do meu progenitor, mas aqui está a minha irmã provando quem realmente manda aqui.
— Bom dia — cumprimento ao chegar à mesa.
Emma ergue a cabeça, arregalando um pouco os olhos.
— Oi. Bom dia. — Pigarreia, ficando de pé. — Obrigada por vir.
— Tenho que estar no trabalho em dez minutos. — Sento-me, com ela fazendo o mesmo segundos depois.
— Tudo bem. Você vai querer alguma coisa? — Emma já está chamando o garçom antes que eu responda.
Eu peço um chá de hortelã com mel, enquanto Emma pede café duplo.
— Como Freya está?
Olho para minha irmã, perguntando-me se ela realmente está falando sério.
— Você acha mesmo que vou discutir sobre a vida da minha filha com você novamente?
Emma suspira, recostando-se na cadeira como se eu tivesse lhe dado um tapa na cara. Não retiro minhas palavras. Minha irmã volta a olhar para fora, ficando assim até depois que o garçom traz nossos pedidos.
Apenas depois disso, ela começa a falar, encarando o próprio colo como se… como se estivesse com vergonha.
— Meu casamento está por um fio. Stuart perdeu tudo em jogos e nós precisamos vender nosso apartamento para quitar as dívidas. Eu voltei para casa, mas agora com um marido e dois filhos. É claro que eu sabia que o fato de papai ter deixado isso acontecer não sairia barato, mas ele continuou com sua generosidade, dando um emprego a Stuart. — Emma fecha os olhos, balançando a cabeça antes de abri-los novamente e me encarar. — Ele ameaçou demitir Stuart e nos colocar para fora de casa se eu não… Se eu não contasse a ele algumas coisas sobre você e a Freya. Eu sinto muito, não pensei que pudesse ser tão ruim.
— Eu sinto muito pelo seu casamento, mas isso não justifica o que você fez. Eu confiei a minha filha a você, Emma. Achei que fosse minha irmã, não uma maldita espiã, trabalhando justamente para o homem que me colocou na rua quando eu estava grávida.
Envergonhada, ela abaixa a cabeça. Não consigo sentir pena dela. Sei, sim, o tipo de monstro que nosso pai pode ser, foi baixo ele ter ameaçado ela, mas no lugar de Emma, eu nunca teria lhe traído.
— Eu não espero que você acredite que estou mesmo arrependida e envergonhada, mas estou — Emma diz. Confesso que uma parte de mim amolece um pouco quando vejo seus olhos úmidos. — Eu sinto muito por estragar isso. Espero que me perdoe um dia. — Ela fica de pé, colocando a bolsa no ombro. — Diga a Freya que James e Mary mandaram um beijo para ela.
Anuo, lembrando dos meus sobrinhos.
Emma não espera muito mais para ir embora.
❦︎
Meu dia não melhorou depois disso. Um dos estagiários cometeu um erro ridículo, o que me deixou estressada, apesar de eu ter me controlado o suficiente para fazer do erro uma forma de aprendizado.
Eros e eu nos ignoramos, apesar de eu ter quase certeza que eu quem está ignorando ele. Eu ainda estou magoada… Não, chateada. Isso, ainda estou chateada que ele não me contou que estávamos atuando na cafeteria. Ou melhor, que ele estava. Fico dizendo para mim mesma que estou sendo ridícula, mas isso só me irrita mais.
O dia se arrasta dolorosamente, até que finalmente pegamos Freya na escola e vamos para a casa de Eros.
— Eu fico com o jantar — aviso assim que chegamos.
Eros hesita, mas finjo não notar ao começar a tirar as coisas da geladeira.
Mais uma vez, sei que estou sendo ridícula e imatura, mas preciso de mais algum tempo para voltar a ser racional.
Cozinhar, felizmente, ajuda e quando já estou quase terminando o jantar, Eros entra pela porta da cozinha que dá para área de fora. Ele estava lá com Freya, depois de chamar minha filha para ajudá-lo a colocar ração para os cachorros. Parece ter se tornado a rotina deles.
— Nós vamos viajar no final de semana — Eros declara de repente, fazendo-me girar e olhar para ele.
— O quê?
Ele desabotoa as mangas da camisa, dobrando cada uma até os cotovelos antes de abrir o armário e tirar três pratos para pôr na mesa.
É muito difícil não me distrair com a imagem.
— É aniversário do meu pai, ele quer a família na nossa antiga casa em Oak Park. Você é minha noiva, então vai comigo.
Enrijeço, percebendo que ele não me perguntou se estou livre ou se quero ir, apenas saiu ditando coisas como se ser sua noiva de mentira não fosse nada mais do que minha obrigação, quando na verdade essa coisa toda só começou quando eu quis ajudá-lo.
Estou prestes a dizer tudo isso quando lembro-me que, de fato, eu tenho um compromisso no final de semana. Com o Bruno.
Ao lembrar disso, lembro-me também que Eros estava ao meu lado enquanto eu conversava por mensagem com Bruno. Eu cheguei até a ter a impressão que ele estava lendo a conversa e agora…
Fecho os olhos, respirando fundo.
Não aja de modo infantil, Eros que está sendo isso se ele inventou essa história apenas para você não sair com Bruno.
— Eu tenho um compromisso neste final de semana — digo calmamente, voltando minha atenção para o fogão ao desligá-lo.
— Bem, cancele-o.
— Como é?
Odeio que eu tenha que virar para ele novamente, mas preciso olhar na sua cara de pau.
Eros encolhe os ombros ao lado da mesa onde está pondo os pratos.
— Você não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
— Não me diga.
Ele realmente não diz nada, o que só me irrita mais.
— Diga a eles que eu não poderei ir — falo, acalmando a parte minha que quer começar a xingá-lo.
— Então é isso? Vai abandonar o barco? — Ele está fazendo chantagem emocional comigo?
— Esse barco está furado porque o capitão é um idiota.
Sem lhe dar a oportunidade de rebater, saio da cozinha e vou para o quarto.
Por que ele tem que ser assim? E por que estou tão irritada? Nao é como se eu não soubesse que nas horas vagas ele é um idiota completo, mandão e extremamente irritante.
E você quase o beijou ontem de manhã e quase fez pior antes disso, quando ele estava só de toalha.
Balanço minha cabeça. O fato de ele ser ridiculamente gostoso não apaga seu comportamento babaca.
Mesmo quando estou furiosa com Eros, a possibilidade de ele estar fazendo isso por ciúmes volta a minha mente e por mais que isso torne ele ainda mais babaca, aquela parte irracional minha dá uma pequena cambalhota com o fato de ele sentir ciúmes de mim. Não faz sentido. Não só ele sentir ciúmes, como essa faísca de satisfação.
Droga, Genevieve! Qual o seu problema?
Meu problema é que eu tenho passado muito tempo com Eros. Em casa, no trabalho… Mesmo quando não estamos no mesmo cômodo, posso sentí-lo ou então imaginar o que ele está fazendo.
Isso está me deixando louca.
Pego meu celular no bolso e ligo para Kate.
— Preciso da sua ajuda — digo assim que ela atende.
— Sou toda ouvidos.
❦︎
"Sexy" não está no meu guarda-roupa desde que eu tive Freya. Mesmo quando tive todos aqueles encontros, nunca usava roupas que pudesse revelar demais. Nunca tive problemas com roupas que me deixavam sensuais antes, mas depois que me tornei mãe, isso não parecia… certo.
O que, temos que concordar, é idiotice. A sociedade tenta implantar isso na nossa cabeça: que mães não podem ser sexy, mas ao invés disso usar roupas recatadas e ir à igreja todos os domingos. Não julgo as mães que realmente fazem isso, mas algumas delas não retribuem o pensamento, pelo contrário, preferem nos chamar de vadia ou desmerecer nossa maternidade apenas julgando a forma como escolhemos nos vestir.
Por isso hoje estou usando um vestido vermelho sangue, combinando com a cor dos meus lábios. O comprimento do vestido vai até metade das minhas coxas, as mangas cobrindo até meus pulsos. Sinto o frio do ar-condicionado em minhas costas graças ao decote atrás que desce até minha lombar.
— Mamãe, você está linda — Freya diz, sentada ao lado de Kate.
— Obrigada, querida. — Sorrio para ela através do espelho, antes de voltar a atenção para o meu corpo e o vestido que está delineando cada curva minha. Tipo, sério, acho que estou meio apaixonada pela minha bunda agora. — Eu pareço uma tocha humana.
Kate e Freya dão risada.
— Uma tocha humana muito gostosa. Confia em mim, você maravilhosa — Kate comenta. Como minha única amiga, vou acreditar na sua palavra, principalmente porque ela quem me emprestou esse vestido depois que liguei para ela uma hora atrás e ela veio em tempo recorde.
Meu rabo de cavalo alto balança quando ando até a cama, pegando minha bolsa e pondo meus saltos que deixei separados no chão. São da mesma cor que o vestido.
Abaixo-me em meus calcanhares na frente de Freya e seguro suas mãozinhas.
— Eu não vou demorar muito, ok? Mas acho que não vou chegar a tempo de te dar boa noite, mas se você quiser, pode pedir pra tia Kate me ligar. Tá bom?
— Tá bom. — Freya balança a cabeça, assentindo animadamente. Mesmo assim, ainda hesito um pouco. Acho que é normal como mãe eu estar cogitando cancelar tudo e ficar com ela. Eu sei que não sou uma mãe horrível, mas ainda me sinto um pouco culpada por estar saindo agora ao invés de ficar e cuidar dela.
— Você vai se atrasar — Kate diz. Olho para ela, que me dá um sorriso calmo. — Ela está em boas mãos.
Eu sei disso. Confio em Kate, mas não sei como explicar isso a ela. Talvez a explicação mais fácil seja a mais simples: eu sou mãe, então sempre vou hesitar em deixar minha filha, nem que seja por quatro horas.
— Certo. Então eu vou indo. — Dou um beijo na bochecha de Freya, sorrindo para a marca de batom que fica.
Fico de pé e Kate faz o mesmo.
— Obrigada por ficar com ela. De novo — agradeço a ela. Eu teria deixado Freya com Kevin em outra ocasião, mas seria estranho se ele viesse para cá, já que a casa não é minha.
— Relaxa, eu adoro ficar com ela. Agora vai. — Ela empurra meus ombros mesmo que eu seja mais alta que ela.
— Tchau, mamãe! — Freya grita quando já estou na porta.
— Tchau, querida. Te amo!
Então Kate fecha a porta do quarto na minha cara.
Sorrindo, começo a andar pelo corredor enquanto mexo em minha bolsa, procurando meu celular… Até que eu bato em algo.
Eu sei, sem precisar olhar, que é Eros.
Quando levanto o rosto, pego-o olhando-me de cima a baixo. Eu digo a mim mesma que não conheço esse olhar em seus olhos castanhos-esverdeados, que a lembrança do que aconteceu — ou não aconteceu — não está agora piscando em minha mente.
— Vai sair? — Ele estupidamente pergunta.
— Sim. Ou eu tenho mais algum compromisso do qual você não me avisou? — Arqueio a sobrancelha, não escondendo que ainda estou irritada com ele por isso.
— Sobre isso… Eu fui um idiota. Sinto muito por falar daquele jeito. — Eros encara meus olhos, prendendo-me com seu olhar. Eu posso dizer que ele está sendo sincero, mas não ligo para isso agora.
— Eu estou atrasada. — Passo por ele, dizendo para minha mente esquecê-lo.
Afinal, eu tenho um compromisso.
❦︎
Depois que liguei para Kate e pedi para ela ficar com Freya — além de pedir uma roupa emprestada — mandei uma mensagem para Bruno. Já estávamos conversando durante o passar do dia, ambos achando que sairíamos no final de semana. Eu pensei em dizer a ele que eu ia cancelar, mas eu não ia deixar Eros estragar isso, então eu apenas perguntei se ele estava livre essa noite. Felizmente sua resposta foi sim.
Por isso que agora estou em um pub chique, sentada em um banco no balcão enquanto tento me impedir de me olhar no espelho que tenho na bolsa, pela milésima vez. Eu sei que a maquiagem que Kate fez não está borrada, que meu delineado está impecável, assim como meu batom.
Então respiro fundo e tomo um gole do meu martini. Eu estava muito nervosa para tomar apenas água quando cheguei. Meus nervos ainda estão meio alterados, mas sinto-me um pouco mais relaxada.
— Gen?
Viro-me para a voz de Bruno, sorrindo ao vê-lo.
— Ei. — Fico de pé para lhe abraçar, percebendo que de salto ficamos quase do mesmo tamanho.
— Você está linda — diz após dar um beijo em minha bochecha. Eu coro, lutando para não passar minhas mãos em meu vestido.
— Obrigada. Você está ótimo também. — Olho-o atentamente para ele, notando o terno cor creme, o relógio caro no pulso, além de seu cabelo, com os cachos rebeldes que ele sempre deixa assim. Pelo menos é como eu me lembrava dele antes.
— Me arrumei todo só pra você, então que bom que gostou. — Bruno me dá uma piscadela, fazendo-me rir.
Sento-me outra vez, com ele se acomodando no banquinho ao meu lado. Depois que Bruno pede sua bebida, seus olhos castanhos fixam nos meus quando ele apoia o cotovelo no balcão e a bochecha no punho fechado.
— Então, conte-me o que fez nos últimos anos.
— Além de ler, trabalhar e manter o meu rostinho de dezesseis anos? — brinco, pois na verdade ainda não estou pronta para contar tudo a ele.
— E a personalidade, eu vejo. — Bruno arqueia a sobrancelha, tomando um gole da sua bebida.
— Eu vou considerar isso um elogio.
Ele sorri, lembrando-me daquele garoto que me levou ao baile e dançou comigo no final da noite.
— Pode apostar. — Quando levo minha taça aos lábios, ele acompanha o movimento, seus olhos em meu anel de noivado. — Seu noivo não veio, então?
Por pouco não faço uma careta ao pensar em Eros, apesar de ser graças a ele que estou aqui, um ato impulsivo causado pelo seu comportamento idiota.
— Não. — Contenho minha vontade de tirar esse anel ridiculamente extravagante. Eu deveria tê-lo deixado na casa, mas tenho usado com tanta frequência que isso não me passou pela cabeça. — E você? Sem namorada?
— Solteiro como quando nos conhecemos. — O sorriso malandro que ele me dá é novo, pois nunca presenciei antes e definitivamente não combina com o Bruno que eu conhecia.
E acho que quero conhecer mais dele essa noite.
❦︎
Manter uma conversa com alguém que eu não saía há nove anos não foi tão difícil quanto eu achei que seria. Bruno continua sendo tão bom de conversa, que eu fiquei feliz em apenas ouvi-lo falar algumas vezes. Apesar desse novo Bruno que eu não conhecia — um galanteador, charmoso e engraçado — a cada minuto que passa, fico mais envolvida na sua presença.
Bruno me conta como foi de estudante universitário de Comunicação para dono de uma rede de tv: assim que terminou a faculdade, voltou para Chicago e foi estagiar na MundialZ, que na época era o recém negócio do seu pai. Ele disse que apenas aceitaria o emprego se seu pai jurasse que não lhe daria privilégio apenas por ele ser seu filho. E assim, foi subindo de cargo aos poucos no decorrer dos anos. Ele se tornou diretor de um programa bem sucedido, até alguns meses atrás, quando seu pai se aposentou e o deixou à frente de tudo.
Bruno conta que não tem sido uma transição fácil, ele amava o que fazia antes, mas está vendo essa oportunidade para ser mais e não apenas como uma perda.
Eu estou genuinamente feliz que tenha conseguido tudo isso pois sei que ele vai dar conta. Além do charme, ele sempre foi responsável e apesar dos anos sem contato, sei que isso não mudou.
— Certo, já falei demais de mim — Bruno diz após seu terceiro copo de rum. Eu troquei meu martini por um sex on the beach. — Sua vez. E não tente desviar do assunto de novo.
— Mmm-hum… — murmuro, sugando minha bebida pelo canudo. Parece que minhas táticas de fazer a conversa voltar a ser sobre ele estão óbvias. — Eu…
Mas antes que eu fale algo, meu celular vibra na bolsa. Eu o pego, vendo que é Kate ligando.
Fico tensa imediatamente e atendo sem pensar duas vezes.
— Kate? Tá tudo bem?
— Mamãe? É a Freya.
Relaxo, mas apenas um pouco.
— Oi, querida. Tá tudo bem?
— Sim. Você disse que eu podia pedir pra tia Kate ligar pra você, então eu pedi, porque já tá na minha hora de dormir e eu queria te dar boa noite e dizer pra você aproveitar e se divertir que tá tudo bem com a gente.
Um sorriso enorme cruza meu rosto ao ouvir a voz de Freya. Ela é tão fofa que em alguns momentos custo a acreditar que ela é minha ou que ela tem apenas cinco anos.
— Obrigada, meu amor. Eu vou me divertir sim, ok? Dorme bem. Eu amo você.
— Também te amo, mamãe. Beijo! — O barulho do beijo estralado me faz rir.
— Ok, agora passe para sua tia Kate, sim? Tchau.
— Tá bom. Tchau!
Alguns segundos depois, ouço a voz de Kate:
— Eu juro que não falei para ela dizer para você se divertir. Ela só me pediu para ligar para dar boa noite a você.
— Eu sei que não. Ela vive me surpreendendo, acredite. Então, está tudo bem mesmo?
— Sim, tudo ótimo. Só você-sabe-quem estava mal-humorado e se trancou no quarto o resto da noite.
Eu não quero pensar em Eros e estragar minha noite, então digo:
— Entendi. Bom, eu preciso ir, então.
— Certo, certo, mas você vai me contar absolutamente tudo quando chegar, ouviu?
Reviro os olhos.
— Vou pensar no seu caso.
Com um último "tchau", encerro a ligação.
Quando ergo os olhos novamente, Bruno está me encarando com interesse. Merda, ele ouviu a conversa toda, né? O bar não está cheio, então não senti necessidade de sair e procurar um lugar mais reservado, além do fato de eu ter achado que algo tinha acontecido e minha menor preocupação foi essa.
Agora, preciso explicar o que foi isso para Bruno.
— Era a minha filha, ela pediu para a minha amiga ligar para ela poder me dar boa noite — solto sem rodeios.
Espero o choque ou qualquer coisa próxima disso, mas Bruno apenas anue.
— Bem, isso explica muita coisa.
Eu não sei o que ele quer dizer com isso, mas conto tudo a ele mesmo assim. Bem, não tudo, deixando de fora meu relacionamento conturbado com Tobias ou que ele é pai de Freya. Mesmo que Bruno não o conheça, prefiro deixar quieto, afinal, fui eu que a criei. Ela é apenas minha filha e ponto.
— Ela é linda. E muito parecida com você — Bruno diz quando lhe mostro algumas fotos de Freya, como a mãe coruja e orgulhosa que eu sou.
— Todo mundo diz isso. — Encolho um pouco os ombros, apesar de amar que ela e eu sejamos tão parecidas.
— Então… Eros não é o pai? — Bruno parece um pouco hesitante com a pergunta. Talvez seja porque, durante as últimas duas horas, eu não tenha citado Eros nenhuma vez além de quando falei sobre o trabalho.
— Ah, não. — Mordo o lábio para me impedir de continuar, mas por fim expiro e digo de uma vez: — Ele e eu não estamos juntos de verdade.
Bruno ergue as sobrancelhas, parando a meio segundo de poder beber sua dose de rum.
— Isso parece interessante.
Dou uma risadinha nervosa, brincando com meu rabo de cavalo, pensando em como Eros vai querer me estrangular se souber que contei sobre nossa pequena farsa para alguém.
E talvez seja por isso, porque irritá-lo é satisfatório e porque ele me irritou duas vezes em tão pouco tempo, eu conto tudo a Bruno. Mais uma vez, não tudo, tudo, pois contar os episódios em qual Eros e eu ficamos próximos demais para compartilhar uma respiração seria embaraçoso.
Quando termino, Bruno está com um sorriso no rosto. Eu não entendo a princípio, até que ele me explica:
— Você está solteira. E isso acaba de se transformar em um encontro.
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Ooooiii, môres!
Obrigada pelos 5K! Esqueci de dizer isso no último capítulo, mas não significa que não estou grata. Sério, fico muito feliz que vocês receberam essa história com tanto carinho♥😭
O capítulo foi longo de novo, com muita informação, mas vamos lá...
Quem quis dar um soco no Eros por não contar sobre a matéria, levanta a mão: 🙋🏾♀️
E falando nele... Eros e Freya assistindo Miraculous!!!!!!!! Eu morro de amores com esses dois, gente 😭😭😭♥️
E a Genevieve, que tá caidinha pelo Eros, mas não admite KKKKKKKKKKK
Vcs acham que o Eros foi babaca dizendo a Genevieve pra desmarcar o encontro, sim ou com certeza?????
Última pergunta... Vocês gostaram do Bruno????????
Enfim, é isso gente.
Se tudo der certo, tem capítulo sexta-feira, sim!
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2bjs, môres♥
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