Acordo pela manhã com uma dor de cabeça que ameaça explodir meu crânio. Sem brincadeira, parece que um tambor está batendo dentro da minha cabeça, transformando metade dela em gelatina.

     Sento na cama, segurando minha cabeça. Parece que estou segurando uma bola de boliche ou o planeta Terra. Parece a mesma coisa agora.

     Dou-me um segundo para respirar e ter certeza que meu cérebro não está prestes a virar gelatina, antes de prender meu cabelo em um coque frouxo. Olho para o lado, para onde Freya deveria estar, mas o lugar está vazio.

    Então lembro da noite de ontem, da tempestade… e de Eros. Ele apareceu aqui no meio da noite, molhado de chuva. E por quê? Porque ele lembrou que Freya não gosta de tempestades. Se você acha que isso mexeu comigo, está certa. É só que ele simplesmente não existe. Tipo, sério? Quem faz isso? Nenhum outro cara que eu tenha conhecido, com certeza.

    Fico de pé para me espreguiçar e começar o dia. Ainda não sei onde Freya está nem Eros e começo a me perguntar se ele foi embora quando sinto o cheiro familiar de panquecas.

     Pressiono o punho na boca para evitar sorrir, mas é impossível.

     Saio do quarto e vou para a cozinha, encontrando os dois lá. Eros está no fogão, enquanto Freya está sentada à mesa, desenhando. Cruzo os braços, me apoiando no batente enquanto observo a cena. Eu estava com tanta saudade disso. Como um dia eu achei que isso seria temporário? Não sei como pude demorar tanto para perceber que é isso que eu quero, para sempre.

     Mas quando finalmente percebi, estraguei tudo.

    Engulo em seco e dou as costas para os dois, indo para o banheiro. Não quero pensar em como tudo isso pode não significar nada. Eros veio aqui no meio da noite e agora está fazendo o café da manhã, mas e daí? Ele pode estar apenas sendo gentil.

     Pare de ser idiota e tentar adivinhar as coisas. Foi você que pediu tempo, para início de conversa. E ele disse que vai perdoá-la. Apenas respire e lave o rosto. Você está horrível.

     Franzo as sobrancelhas para meu reflexo no espelho. Isso foi rude.

      Depois que escovo os dentes, faço minhas necessidades e lavo o rosto, volto para a cozinha.

      Eu estava muito distraída antes para notar, mas também há pãezinhos na mesa, bolo e rosquinhas. Os cheiros que sinto no ar também me dizem que Eros fez café, além de chocolate quente para Freya.

     Agora ele está colocando panquecas num prato para ela, quando me nota.

— Bom dia — diz. Ele parece bem. Melhor do na última semana, obviamente. Alguns diriam que seu cabelo precisa de um corte, mas eu gosto dele assim, e da sua barba por fazer.

— Bom dia. — Controlo minhas mãos para não passá-las pelo meu cabelo, apesar que não faria diferença alguma. Uma semana sem dormir direito não faz bem para ninguém, e comigo não é diferente. Tenho bolsas debaixo dos olhos, cara de cansada que é exatamente como me sinto, e cabelo oleoso.

     E agora estou corando porque estou ciente de tudo isso enquanto Eros olha para mim, lindo e maravilhoso como sempre.

      Desvio do seu olhar ao me aproximar de Freya.

— Bom dia, mamãe — diz, sorrindo. Ela parece um arco-íris depois da tempestade.

— Bom dia, meu amor. — Tiro-a da cadeira, sentando no seu lugar enquanto ela fica no meu colo. — Como você está?

— Bem. O Eros fez panquecas sorridentes, olha! — Ela me mostra seu prato com panquecas, chantilly, mirtilos e amoras.

— Estou vendo. — Ergo os olhos para Eros. Ele encolhe os ombros.

— Eu sabia que vocês estariam cansadas, então achei que podia fazer o café da manhã, pelo menos — explica. — E comprei algumas coisas.

— Obrigada, mas não precisava.

     Eros me olha como se já tivéssemos tido essa conversa antes de se ocupar na bancada.

— Sua cabeça ainda está doendo? — pergunto a Freya, alisando seus cabelos.

     Ela nega, colocando um pedaço de panqueca na boca.

— A xente pode ir no paquinho depoix? — Freya pergunta, mastigando.

— Não fale de boca cheia — lembro-a. — E não.

    Freya vira para mim após engolir, fazendo aquela carinha de cachorro sem dono.

— Por que não?

     Solto um suspiro. Eu queria levá-la. Mesmo. Prometi a ela desde o dia que nos mudamos e ela viu o parquinho pela janela. Mas eu estou um caco hoje e ainda tenho que arrumar a casa e lavar roupa.

— Porque hoje não dá. Talvez amanhã, ok?

     Freya franze as sobrancelhas, fazendo biquinho, mas volta a comer.

     Eros senta à mesa conosco e passa um prato com panquecas recheadas para mim. Ele já fez uma vez, no dia após o meu surto de querer ir embora. Eu fiquei surpresa, mas feliz, como agora quando agradeço a ele com um sorriso.

     Freya é a primeira a terminar de comer e ela vai para a sala, levando seu material de colorir, prometendo a Eros que vai fazer um desenho para ele. Acho fofo como ele fica feliz com isso.

— Você parece cansada — Eros comenta um minuto depois que Freya sai da cozinha. Ele está me observando agora.

— Nunca consigo dormir direito quando tem tempestades e Freya fica daquele jeito. — Dou de ombros, esfregando meus olhos. Queria muito ser um robô agora.

     Eros não diz nada pelos próximos minutos, mas isso não significa que ele parou de me observar. Eu gostaria que ele fizesse isso quando eu não estivesse parecendo um zumbi.

— Eu posso ficar com Freya para que você descanse mais um pouco.

     Estou enxugando a louça recém lavada por Eros, quando ele diz isso.

— Eu estou bem. Esqueceu que criei ela sozinha? Meu estado zumbi não é nada comparado ao primeiro ano de vida dela. — Não estou mentindo. Eu dormia por apenas quatro horas e olhe lá.

— Eu não esqueci e imagino que não foi fácil, mas você não está sozinha agora. — Olho para ele ao ouvir isso. Não percebi que ele tinha se aproximado. Tanto que posso distinguir as cores diferentes dos seus olhos. — Se em um futuro próximo faremos isso dar certo, não quero ser apenas o cara legal que faz panquecas para Freya, porque não é só isso que um pai faz, certo?

    Engulo em seco, piscando rapidamente para afastar a droga do cisco que caiu no meu olho.

    Ele está sendo tão sincero, tão… Eros. Ele reforça as minhas esperanças que ainda há um futuro para nós dois. Mais que isso, ele realmente quer assumir essa responsabilidade, ser o pai de Freya.

— Certo — digo baixinho e pigarreio. — Tudo bem. Obrigada.

— Você não tem que me agradecer. — Eros põe uma mecha do meu cabelo que se soltou do coque, atrás da minha orelha. Sua mão desliza até minha bochecha e ele acaricia minha pele. Eu me inclino para o seu toque, sentindo falta disso.

     O momento é interrompido quando Freya entra na cozinha para entregar o desenho que fez para Eros. Minha filha pula de alegria e abraça Eros quando ele diz que amou o desenho. Algumas pessoas, quando uma criança lhe dá um desenho, diz que gostou apenas para deixar a criança feliz, mas eu vejo a emoção nos olhos de Eros. Parece que é algo muito importante para ele quando Freya lhe dá um desenho e eu amo isso, pois o desenho de uma criança é como ela vê o mundo, sua forma de se expressar.

     Eu levo Freya para o banho depois, que fica muito feliz quando conto que ela e Eros vão passear. Percebo então que é a primeira vez que eles vão sair sozinhos. Eros já ficou com Freya uma vez quando saí com Kate e Lorelei, mas eles estavam na segurança de casa. Eros disse que eles irão ao shopping, onde haverá pessoas e muito movimento, o que me preocupa, apesar de eu confiar em Eros para cuidar de Freya.

     Após o banho, arrumo Freya. Deixo ela escolher o que quer vestir, e ela escolhe um vestido vermelho com bolinhas pretas, além de um par de all star também vermelho. Eu acho esses sapatos uma gracinha porque geralmente só vemos em tamanho para adultos.

      Eu penteio seu cabelo, fazendo Maria Chiquinha, só que com tranças e ponho um laço de cada lado.

      Eu disse a Eros que ele podia tomar banho se quisesse, então ele está saindo do banheiro quando estou terminando de arrumar a mochila de Freya.

— Por que você não vai, mamãe? — Freya pergunta, sentada na minha cama enquanto confiro se tem tudo o que ela pode precisar na mochila.

— A mamãe está cansada, mas tenho certeza que você vai se divertir com o Eros. — Eu não costumo deixar ela sair com outras pessoas, não assim. Às vezes ela ia com Kevin no mercado, ou com Emma ou minha mãe no parquinho perto do antigo apartamento. — Certo?

— Sim! Eu tava com saudade do Eros.

— Eu sei, e agora você vai ter um dia inteirinho só com ele. Nem vai lembrar da mamãe. — Faço uma cara triste.

— Isso não é verdade! — Freya corre para me abraçar. — Eu não vou esquecer de você.

    Dou risada. Acho que fui um pouco cruel.

— Eu sei. Eu estava brincando. — Beijo seus cabelos. — Quero que você se divirta muito hoje, tá bom? E é pra se comportar direitinho. Não solte a mão do Eros e nem fale com estranhos. E se você quiser vir embora, só precisa pedir a ele.

— Tá bom!

     Com isso, nós vamos para a sala, onde Eros já está nos esperando.

— Eros, gostou do meu vestido? — Freya pergunta, pondo as mãos na cintura.

— Você está muito bonita, Spider. — Ele sorri para ela, puxando uma das suas trancinhas. Freya obviamente cora.

    Eros pega a mochila da minha mão e põe no ombro, sem parecer se importar em levar uma mochila com o desenho de Miraculous.

— Os documentos dela estão aí, além de água, um casaco, a carteira de vacinação, e paracetamol. Não diga "sim" para tudo e por  favor não deixe ela comer muito doce. E também me mande mensagem sobre tudo e qualquer coisa.

     Quando termino, Eros anue seriamente. Não sei porque fico surpresa por ele não desistir dessa ideia.

— Anotado. Vamos? — Ele olha para Freya.

     Antes de dar a mão a Eros, Freya me abraça novamente e eu lhe dou um beijo na bochecha.

— Tchau. Divirtam-se — digo, observando os dois agora no corredor. Freya segura na mão de Eros, enquanto acena para mim com a outra.

      Eu sorrio para os dois e os observo entrar dentro do elevador. Quando as portas se fecham, volto para dentro de casa, trancando a porta.

     Agora é só eu e eu.

💎

    Eu não dormi assim que eles saíram. Ao invés disso, fui limpar a casa e lavar roupa. Logo senti falta de Freya. Ela sempre fica brincando enquanto faço essas coisas, ou fica por perto conversando comigo enquanto lavo roupa. Mas hoje apenas o silêncio me fez companhia. Porém, apesar de sentir falta da minha filha, fico feliz que ela tenha saído com Eros e está se divertindo. Depois dos últimos dias, ela precisa disso.

      Eros me atualiza a cada dez minutos, geralmente com fotos ou vídeos. Quando saio do banho depois de estender as roupas, uma mensagem sua já me espera. É um vídeo de Freya na piscina de bolinhas. Ela desce pelo escorregador antes de mergulhar, rindo.

     Eu respondo com emojis e vou me vestir.

   
Ela pode tomar sorvete?, Eros manda quando estou me deitando.

×

Pode, mas não muito

    Sua resposta vem cinco minutos depois, uma foto onde ele e Freya estão tomando sorvete. Ela está com um enorme sorriso ao lado dele, enquanto Eros tem um sorriso mais discreto, seus olhos brilhando com diversão.

     Acho que tenho minha nova foto preferida.

     Aviso a Eros que vou dormir um pouco, mas que ele pode continuar me mandando fotos e vídeos para eu ver depois.

     Ponho meu celular para carregar depois que ele manda um "Ok", e vou dormir.

    Quando acordo, fico surpresa quando vejo que já escureceu. Eu pretendia tirar só um cochilo, mas parece que eu estava mais cansada do que eu imaginava.

     A casa está muito silenciosa, e eu rapidamente lembro que Freya não está aqui, mas sim com Eros. Confesso que fico com um pouco de medo quando checo minhas mensagens, preocupada que algo possa ter acontecido, mas as várias mensagens de Eros são todas sobre a tarde divertida que eles tiveram.

    São tantas fotos que passo bons minutos vendo e me divertindo com elas. Numa delas, parece que Eros pediu para alguém tirar uma foto dos dois. Ele está agachado para ficar na altura de Freya, enquanto os dois sorriem. Num outro vídeo, eles estão caminhando pelo shopping, mas apenas Freya aparece na filmagem, sua mãozinha segurando a de Eros.

— O que você quer comer? — ele pergunta.

     Freya bate o dedo no queixo, pensando, e depois dá um pulo.

— Hambúrguer!

     Ouço a risada de Eros antes de ele responder:

— Isso não é nada saudável. Sua mãe vai me matar.

— A gente leva um hambúrguer pra ela também, assim ela não fica brava.

— Essa é uma boa ideia.

    Eu estou rindo quando o vídeo acaba. Freya é muito esperta para o seu próprio bem.

     No próximo vídeo apenas Eros aparece. Acho que Freya pegou o celular dele e o filmou. No vídeo, parece que Eros está tirando o tomate e o picles do hambúrguer, e eu já sei o porquê. Quando termina, ele passa o hambúrguer para Freya após tirar as coisas que ela não gosta.

— Obrigada! — minha filha agradece, antes de virar a câmera para ela e acenar. — Tchau, mamãe!

    Eu vejo as próximas fotos e vídeos, percebendo como Eros passou a aparecer mais. Não duvido que Freya tenha o convencido a tirar fotos com ela.

    Em outro vídeo, Freya está novamente gravando Eros. Dessa vez, ele está naquelas maquininhas de pegar bichinhos de pelúcia. Ele parece estar dando a vida para tentar pegar algum.

— Vai, Eros, você consegue! — Freya diz, e quando o vídeo treme, presumo que ela esteja pulando.

    No final, Eros consegue pegar um ursinho de pelúcia rosa, e Freya pula de felicidade.

     A última mensagem de Eros é avisando que estão saindo do shopping. Isso foi há cinco minutos, então eles devem chegar em meia hora. Tempo o suficiente para eu levantar e fazer alguma coisa para o jantar.

    
💎

    Quando a campainha toca, eu já terminei o strogonoff com arroz e batata frita.

    Vou abrir a porta, e Freya me abraça apertado.

— Voltamos! Sentiu saudade da gente? — pergunta, sua voz abafada.

— Um montão. Vocês se divertiram? — Dou espaço para Eros entrar no apartamento e depois fecho a porta.

— Muito! O Eros conseguiu pegar um urso de pelúcia pra mim! — Freya está literalmente saltitando. Estou surpresa que o penteado não tenha desfeito ou que ela não tenha perdido os laços.

    Eu dou água aos dois enquanto ela conta tudo o que eles fizeram, apesar de Eros ter documentado nas mensagens. 

— Vamos, vamos tomar banho. — Começo a puxar ela, mas Freya para.

— Eros, você vai me colocar pra dormir depois? — pergunta.

    Eros olha para mim.

— Você pode ficar para o jantar — sugiro, esperando que ele aceite.

— Eu adoraria.

     Freya fica satisfeita com isso e me deixa guiá-la para o banho, voltando a tagarelar.

     Quando terminamos o banho, ela está bocejando, e eu já sei que ela vai dormir logo, então ponho seu pijama.

    Nós voltamos para a cozinha e eu ponho o jantar para os dois, mesmo com Eros murmurando que pode se servir sozinho. Eu o ignoro.

    No meio do jantar, ele me entrega algumas sacolas com coisas que comprou para Freya. Além do urso de pelúcia e um pirulito gigante, ele também comprou um livro de colorir, um kit de cozinha de brinquedo, uma revista de figurinhas de futebol e algumas cartelas de adesivos do Homem-Aranha. Além de uma boneca da Ladybug e um boneco do Cat Noir.

— Eu disse para você não dizer "sim" para tudo — digo, chocada com todas essas coisas.

     Eros encolhe os ombros.

— Mas ela não pediu nada. Eu apenas quis comprar.

— Esses bonecos são caros pra caramba. — Sei porque já pensei em comprar para Freya uma vez.

— Sério? — Eros franze as sobrancelhas, parecendo mesmo confuso. — Eu não olhei o preço quando comprei.

     Balanço a cabeça, guardando tudo. Nós com certeza vamos conversar sobre isso.

     Nós jantamos com tranquilidade depois disso. Esse momento entra na lista para as coisas que eu senti falta na última semana e meia. Apesar das coisas estarem como estão entre Eros e eu, nós agimos normalmente. Não porque estamos fingindo, mas acredito que somos maduros o suficiente para lidar com isso.

    Quando Freya termina de comer, ela já está bocejando de novo, suas palavras saindo murmuradas ao invés de animadas.

— Por que você não vai logo escovar os dentes? — Eros sugere para Freya.

    Minha filha vai fazer isso e eu começo a tirar a mesa, pois Eros e eu também já terminamos de comer.

— Você vai me dar uma bronca agora? — Eros pergunta quando abro a boca. Arqueio a sobrancelha. — Eu te conheço, você não gostou que eu comprei aquelas coisas para Freya.

— Eu estou feliz que ela está feliz. Essa sempre será a minha prioridade, mas não quero que ela fique mal acostumada.

— Entendo. Isso vai ser um problema para mim.

    Arqueio a sobrancelha novamente.

— Por que você é rico e gosta de gastar dinheiro?

— Eu gosto de presentear vocês duas.

     Olho para ele, refletindo sobre o que ele disse, lembrando também da vez que ele falou que gosta de ser útil. Será essa sua forma de demonstrar seus sentimentos, dando presentes e sendo útil? Além disso, ele não compra qualquer coisa, mas coisas que gostamos. Como quando ele comprou livros para mim, ao invés de joias. E ele comprou um álbum de figurinha de futebol para Freya, ao invés de algo genérico e aleatório para agradá-la.

    Antes que eu diga a Eros que lhe entendo, Freya volta para a cozinha após escovar os dentes. Ela está coçando os olhos quando se arrasta até Eros.

— Tô com sono — resmunga.

— Ninguém tinha notado. — Rio um pouco, indo até ela para beijar seus cabelos. — Dorme bem, meu amor.

— Boa noite… — ela boceja —, mamãe.

— Boa noite, querida.

     Eros pega Freya no colo, ficando de pé.

— Cuidado com os seus pontos — lembro a ele, sentindo um pequeno pânico. Ele ainda vai me matar do coração.

— Tudo certo — é a sua resposta antes de levar Freya para o quarto dela.

    Enquanto ele a põe para dormir, eu lavo a louça. Não tem muita porque lavei as panelas que usei para fazer o jantar antes de eles chegarem.

    Como Freya já estava quase dormindo em pé, Eros sai do quarto apenas poucos minutos depois de colocá-la na cama, fechando a porta com cuidado.

— Ela estava dormindo antes que eu chegasse na metade da história — diz.

— Uma tarde no shopping descarregou a bateria dela — brinco, enxugando minhas mãos.

    Eros se inclina e pega as outras sacolas que estavam com ele quando chegou. Achei que ele comprou algo para ele, mas Eros me surpreende ao me entregar.

— É algum hambúrguer? — Ergo as sobrancelhas, brincando sobre o que Freya falou no vídeo.

— Não. — Ele ri um pouco.

    Deixando o suspense de lado, abro uma das três sacolas.

— Meu Deus, você é o sonho de qualquer bookstan — murmuro ao segurar o livro de romance em minhas mãos. Abro o livro, cheirando as páginas. — Perfeito.

— Estranho — Eros devolve, de fato, me olhando estranho.

    Reviro os olhos e deixo o livro de lado apenas para abrir a próxima sacola.

— Bombons de cereja! — Eu estava tentando controlar minhas reações, mas livros e chocolate? Isso é o paraíso.

— São só chocolates.

— Uma caixa de bombom de chocolate de cereja.

     Ignoro o seu revirar de olhos e abro a próxima sacola, tirando dela um vestido verde-grama. Ele é rodado e com babados, as mangas compridas e soltas.

— Eu vi e lembrei de você… Achei que você poderia gostar. Você pode trocar cas…

— Eu adorei! Obrigada. — Antes de perceber o que estou fazendo, diminuo o espaço entre nós e lhe dou um selinho.

    Quando percebo o que fiz, dou um passo para trás, meus olhos arregalados.

— Desculpe, foi a força do hábi..

    Não termino de me desculpar porque seus lábios colidem com os meus em um beijo que me tira o fôlego. Uma corrente elétrica passa por mim quando Eros entrelaça seus dedos em meus cabelos, bem na nuca. Eu suspiro, agarrando sua camisa enquanto fico na ponta dos pés para poder ter mais dele, mais da sua boca  ávida. Ele passa o braço ao meu redor, me puxando contra ele até meu peito está roçando no seu e eu sentir sua ereção em minha barriga. 

— Nunca se desculpe por me beijar — Eros murmura contra meus lábios. — Entendido? — Seu aperto em meu cabelo aumenta levemente e eu mordo o lábio para não sorrir.

— Entendido — murmuro.

     Ele solta um suspiro e apoia a testa na minha, fechando os olhos.

— Tem sido horrível ficar longe de você — Eros confidencia. — Eu odeio isso.

— Eu sei. Também sinto sua falta. — Eu sei que não deveria, mas dou outro selinho em seus lábios. Eu só quero ter um pouco mais dele antes que ele precise ir embora.

     Eros murmura algo, mas finalmente cola sua boca na minha outra vez. Esse beijo é mais carinhoso e mais lento, lembrando-me da noite que tivemos, apenas nós dois e uma longa noite.

    Quando nos afastamos, ele dá vários selinhos e acho que chego a ronronar.

— Eu preciso ir — diz, mas não me solta.

     Eu anuo de qualquer forma, colocando minha mão por dentro da sua camisa até estar tocando levemente o curativo.

— Como você está? — pergunto. Apesar do meu desejo por ele, minha preocupação fala mais alto.

— Eu estou bem. Os remédios estão ajudando. — Eros volta a acariciar minha bochecha, quase me distraindo.

— Você deveria estar repousando. Se esses pontos abrirem e você tiver outra infecção…

     Ele segura meu rosto com as duas mãos, inclinando para cima até que estou olhando para ele.

— Eu. Estou. Bem — diz pausadamente.

    Solto um suspiro, cedendo.

— Tudo bem, mas eu vou te matar se você morrer.

     Eu ganho uma risada com isso, as borboletas em estômago dançando com o som rouco.

    Seu sorriso vai se desfazendo aos poucos e Eros me olha seriamente, o que me faz ficar alerta.

— Tobias vai dar uma festa na empresa. Ele quer mostrar a todos que a Blackburn Empire está sob nova direção. — Apenas ouvir o nome daquele homem é como um balde de água fria, matando todos os sentimentos calorosos que eu estava sentindo.

— Nós vamos?

— Sim, mas até lá, não quero que você pise naquela empresa — seu tom não tem espaço para discussão. Ele já havia me dito isso quando ficamos sabendo da armação de Tobias.

— Eu posso me cuidar — digo mesmo sim, porque como Eros vive dizendo, eu sou teimosa.

— Acredite, eu sei disso, mas duas coisas podem acontecer se eu tiver que ficar em casa imaginando você sob o mesmo teto que ele: ou eu vou ser preso de novo ou vou voltar para o hospital.

    Faço uma careta. Prefiro não ouvir mais a palavra "hospital" por um tempo.

     Cruzo os braços.

— Tudo bem, mas não use mais o seu estado de saúde contra mim.

     É impressão minha ou estou vendo um indício de um sorriso?

    Eu pisco e parece que nunca aconteceu.

— Fechado. — Eros me dá um beijo na testa. — Eu vou indo.

     Fico triste com isso, mas levo ele até a porta. Meu coração dói por vê-lo partir, mas então lembro do que aconteceu momentos atrás. Ainda existe um "nós" aqui. Se eu tinha dúvidas sobre isso, com certeza não tenho mais.

— Boa noite, raio de sol.

— Boa noite, amor.

    E ele vai embora.

💎

Olá, olá! Espero que tenham gostado desse último capítulo da maratona! Dps de uma semana apenas com surtos e cenas triste, foi bom ter um capítulo fofinho né?😭😭♥

Espero de vdd q tenham gostado!

Lembrete: n falta muito p livro acabar. Talvez uns dez capítulos (ou mais)😭😭♥

O capítulo de terça ainda n é certo, mas qualquer coisa aviso a vcs♥

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2bjs, môres♥