⁴²|Você é a minha pessoa preferida
Freya segura apertado minha mão enquanto esperamos no elevador. Na outra mão, minha filha segura dois balões enquanto eu carrego dois buquês de flores. Ambas as coisas foram ideia dela. Eu fiz tranças boxeadoras no seu cabelo para animá-la e deixei ela vir com a fantasia do Homem-Aranha. Ela me convenceu dizendo que os super-heróis sempre ajudam os outros e que ela "quer ajudar o Eros e o vovô Enrico a sararem logo".
Fui para casa hoje pela manhã apenas para um banho e pegá-la depois que o médico permitiu as visitas. Eu não teria me lembrado de tomar café se Kevin não tivesse insistido. Nem me arrumei muito, colocando um vestido amarelo simples e prendendo meu cabelo em um coque desajeitado. Pareço um sol vibrando por fora, mas meu coração não vê nenhuma luz faz dois dias.
Saímos do elevador no andar em que pai e filho estão e eu pergunto a Freya:
- Quem você quer ver primeiro?
- O Eros. - Ela nem hesita.
Seguindo seu pedido, vamos até o quarto onde Eros está. Eu bato na porta e um segundo depois, Kate abre. Ela me encara por alguns segundos antes de abaixar os olhos para Freya e pôr um sorriso no rosto.
- Oi, tia Kate. - Freya a abraça fazendo o sorriso de Kate ficar mais sincero.
- Oi, mocinha. Você está linda.
- Obrigada!
Sorrio um pouco de como minha filha cora.
- Entrem. Eu já estava de saída. - Kate olha por cima do ombro antes de passar por nós e sair do quarto. Ela não falou comigo uma só vez.
- Eros!
A animação de Freya rouba minha atenção quando ela corre até a cama e eu entro no quarto, fechando a porta.
- Oi, Spider. - Eros sorri, o primeiro sorriso verdadeiro dele que vejo em dias. - Você veio me ver?
Freya anue, animada.
- A mamãe disse que você tá dodói. Eu fiquei triste.
A expressão de Eros suaviza e meu coração aperta pelos dois.
- Não precisa ficar triste. Eu vou ficar bem logo.
- Você promete? - Sem surpresa, Freya mostra seu polegar a Eros.
- Eu prometo. - Eros pressiona o próprio polegar no dela, selando a promessa. - Agora venha aqui me dar um abraço.
Eu estava parada no mesmo lugar apenas observando os dois, mas quando Eros faz menção de colocar Freya na cama, eu me mexo.
- Você não pode se esforçar - lembro a ele. Eros parece se recordar disso também porque relaxa, antes de se afastar um pouco para o lado.
- Certo. Então coloque-a aqui.
Eu ainda hesito. Eu tenho medo que Freya o machuque. Ela não faria de propósito, é claro, mas...
- Está tudo bem - Eros garante. Olho para Freya. Ela está me encarando com olhinhos de cachorro abandonado.
Com um suspiro, ponho as flores na poltrona e amarro os balões na cama para depois pegar Freya, colocando-a no espaço que ele deixou.
- Cuidado - digo a Freya quando ela o abraça. Mesmo com Eros em uma cama de hospital, ela continua sendo minúscula perto dele.
- Você também tava com saudade de mim? - Freya pergunta a Eros, ainda agarrada a ele.
Isso faz Eros rir enquanto passa a mão nos cabelos dela.
- Claro que eu senti saudade de você, Spider. Os cachorros também.
Coisa errada a dizer. Assim que ela fez a pergunta a ele, eu notei a fragilidade em sua voz, então depois da resposta de Eros, não fico surpresa quando ouvimos o som abafado dela chorando.
- Ei, não precisa chorar - Eros murmura, enxugando o rosto dela. É inútil porque mais lágrimas vem depois.
Minha garganta dói com o esforço que estou fazendo para não chorar também. Eu temia tanto que Freya se apegasse a Eros e fosse difícil quando fôssemos embora, mas toda essa situação só está acontecendo por causa dos meus erros.
- Eu q-quero que a g-gente volte a morar j-juntos - Freya soluça.
Eros olha para mim, sem saber o que dizer a ela.
- Já falamos sobre isso, Freya - digo suavemente, passando a mão por suas costas.
- E-eu não l-ligo. - De repente, ela ergue o rosto para encarar Eros. - V-Você não quer s-ser mais o meu p-papai?
Parece que alguém está enfiando uma faca no meu coração. E dói. Dói saber que estou causando esse sofrimento todo nas duas pessoas mais importantes para mim.
Novamente, Eros enxuga o rosto de Freya.
- Pai e mãe é algo que a gente raramente escolhe, sabe? Quase nunca. E eu me sinto muito sortudo por você ter me escolhido - ele diz. - E eu estou mais do que pronto para honrar isso, mas antes sua mãe e eu temos que resolver algumas coisas de adulto, entende?
- Vai d-demorar muito?
- Eu espero que não, mas até lá, quero que você peça a sua mãe para me ligar sempre que você quiser. A qualquer hora. Ok?
- Tá bom - Freya responde baixinho.
Eros a abraça com mais força, beijando o topo da sua cabeça.
- Posso te contar um segredo? - ele pergunta após um momento quando Freya está mais calma.
- Pode.
- Você é a minha pessoa preferida.
- Mas existem um milhão de pessoas!
- Oito bilhões, na verdade.
- E eu sou a sua preferida?
- Com certeza.
- Obrigada!
Involuntariamente, Eros e eu rimos.
- Você e a mamãe também são minhas pessoas preferidas - Freya conta. - E os cachorros. - Ela faz uma pausa, batendo na própria testa. - Ah, mas eles são animais, não conta!
- Pra você, eles contam e é só isso que importa.
- Legal. - Ela faz uma pausa. - Eu te amo, Eros.
Foram poucas às vezes que vi Eros surpreso e agora é uma delas. Não sei por qual motivo, já que está óbvio para qualquer um que tenha ficado cinco minutos perto deles, observando-os interagir.
- Eu também amo você, Spider - e com essas simples palavras, ele destrói e reconstrói meu coração em menos de um segundo.
Eros ergue o rosto para mim. Eu poderia dizer que estou imaginando, mas o brilho em seus olhos não é a luz do quarto refletindo, mas sim lágrimas não derramadas. E ele está sorrindo.
Apesar de tudo, sorrio também. Vou guardar esse momento para sempre na minha memória.
💎
Freya ficou com Eros um pouco mais. Ela lhe mostrou seus desenhos - foram seis - e entregou o balão e o buquê de margaridas com lavanda. Eles ficaram conversando, mas Eros ouviu mais do que falou. O que não foi um problema já que Freya fala por cinco pessoas ou mais.
Quando a enfermeira chega para a avaliação diária, eu digo a Freya que temos que ir e ela me faz prometer que vamos voltar para dar tchau para Eros.
Então vamos ver Enrico. Aviso a ela que seu avô está um pouco mais dodói que Eros, e por isso ela terá que tomar cuidado extra com ele. Quando ela anue, afirmando que entendeu, eu bato na porta do quarto.
- Está aberta - Carlota avisa de dentro.
Eu abro a porta, então, e Freya solta minha mão ao correr até os avós.
- Vovó, Vovô!
Eu tinha vindo ver Enrico antes e comparando com mais cedo, ele parece melhor agora. Ainda está pálido e claramente em recuperação, mas os médicos estão otimistas sobre a reação do corpo dele ao transplante.
- Eu trouxe balão, desenhos e flores! - Freya diz orgulhosa a Enrico, ficando na pontinha dos pés para que ele a veja e para segurar sua mão.
- Obrigado, querida. - Enrico sorri. Apesar de parecer cansado, ele parece estar feliz em vê-la.
Enquanto os dois conversam, Carlota levanta da poltrona e vem falar comigo.
- Obrigada por trazê-la - diz baixinho, dando uma olhada neles. - Ele a ama demais e está absurdamente feliz que ela veio.
Anuo, engolindo a emoção de ouvi-la dizer isso. Não sei se um dia vou me acostumar com Freya recebendo o amor de tantas pessoas depois que a minha própria família a rejeitou.
- Como ele está? - pergunto. Carlota parece menos tensa que ontem e vejo isso como uma coisa boa.
- Se recuperando bem. O médico disse que se continuar assim, ele terá alta antes do que imaginamos.
- Estou rezando para isso. - Não sou religiosa, mas acredito em Deus. E se Ele olha por nós, tenho certeza que ajudará Enrico nesse momento.
Freya tagarela com Enrico por meia hora. Surpreendentemente, o mais velho fala mais que o filho. Ele e Eros são bem parecidos, mas essa com certeza não é uma habilidade que eles compartilham. O que torna Eros ainda mais parecido com Khalil, já que o mais velho dos irmãos pode ser um poço de silêncio.
- Vovô, você vai ficar bem logo pra poder fazer cupcake's pra mim? - Freya pergunta aparentemente sua coisa de maior interesse.
Isso faz Enrico rir fracamente.
- Ora, vejo que você realmente sente minha falta.
- Muito! A gente pode assistir os filmes do Homem-Aranha. Você já assistiu, vovô?
Freya e Enrico fazem planos, então, sobre a próxima vez que ela ficará com eles. Eu não sei quando vai ser isso. Não apenas porque quando sair do hospital, Enrico ainda estará se recuperando, mas também por causa da minha atual situação com Eros. Seus pais ainda não sabem, mas Freya irá soltar em algum momento. Não que seja segredo, é apenas... embaraçoso. De qualquer forma, não quero afastar Freya deles, e Eros e eu também não... terminamos. Então talvez seja besteira minha me preocupar com isso. E eu sinto que Enrico e Carlota irão acolher Freya independentemente da minha relação com o filho deles.
Depois de mais alguns minutos, infelizmente precisamos deixar Enrico descansar. Freya se agarra a mim, chorando baixinho, mas nós prometemos a ela que poderá vir visitá-lo em breve.
Ela para de chorar, mas ainda está triste quando se despede do avô. Ele tenta animá-la com promessas de cupcake's, mas vejo em seu olhar que também está triste que ela vá embora. Apesar do momento, a conexão que Freya criou com essa família aquece meu coração.
Como prometido, voltamos ao quarto de Eros para ela se despedir dele também. Eu a coloco na cama novamente, mas aviso que vai ser bem rápido.
- Você estava chorando de novo? - Eros pergunta a Freya com carinho, notando o rosto vermelho dela e como ela fica coçando os olhos. Além do seu semblante tristonho.
Freya anue, brincando com a pulseira de identificação no pulso de Eros.
- Não vai ser a última v-vez que eu vou ver o vovô, n-né? E-ele p-parecia t-tão f-fraquinho.
Não estou surpresa por ela notar isso. Enrico tentou esconder bem, mas como Freya disse, ela não é boba. Ela pode não entender tudo o que está acontecendo, mas ela sente e nota coisas o suficiente para sua mente disparar alarmes.
- Você está certa, ele está fraquinho mesmo - Eros confessa, enxugando o rosto de Freya, que voltou a chorar em silêncio. - Mas ele está se recuperando. Sabe quando você fica com febre e sua mãe cuida de você? Você não fica boa na hora, certo?
Freya anue.
- Ele também não vai ficar bom tão rápido. Vai demorar um pouquinho. E você poderá visitá-lo outras vezes. - Eros sorri um pouco para ela. - E cá entre nós, tenho certeza que ele melhorou um pouco mais depois da sua visita.
- Você acha?
- Claro. Eu também estou um pouco melhor agora que você veio me ver.
Freya sorri, como se tivesse salvado o planeta Terra, igual seu personagem preferido. E sinceramente, é quase isso. Eu acredito nas palavras de Eros e acredito que a visita de Freya trouxe alegria para os dois. Em um momentos como esse que eles estão passando, ela é como um farol de felicidade.
- Então você vai me ver na escolinha de futebol?
- Vou, mas não hoje. Talvez na semana que vem. Tudo bem?
Freya assente e olha para mim.
- Mamãe, você pode me gravar lá e depois mandar 'pro' Eros?
- Claro.
- Legal. - Ela olha para a boneca que está segurando. Eu trouxe na minha bolsa o boneco do Homem-Aranha e sua Barbie que ela disse que parece com a Lorelei e por isso deu esse nome à boneca. Freya me pediu para trazê-los.
Ela entrega a boneca a Eros.
- É a minha boneca preferida - explica. - Ela vai cuidar de você porque a mamãe disse que eu não posso ficar. - Ela acrescenta rapidamente: - Mas é pra você me devolver depois, tá bom?
Eros sorri, segurando a boneca com cuidado.
- Tá bom, Spider. Obrigado.
Eu sabia que ela daria - correção, emprestaria - a boneca a ele porque ela emprestou o boneco do Homem-Aranha a Enrico, também dizendo que ele cuidaria dele.
- Freya, precisamos ir - aviso, mesmo odiando.
- Mas já, mamãe? Só mais um pouquinho. - Sua carinha triste parte meu coração, mas não podemos ficar mais.
- Não dá, meu amor. Se despeça do Eros, e nós vamos.
Seus olhos se enchem de lágrimas outra vez.
- Ei - Eros chama, atraindo a atenção de Freya. Ele a encara seriamente, mas ainda com carinho. - Nada de chorar, ok? Eu sei que você quer ficar, mas não pode. E - ele levanta a Barbie - sua boneca vai ficar comigo. Pra você vir visitar nas próximas vezes, você tem que obedecer sua mãe direitinho, tá bom?
Freya leva a palavra de Eros a sério, obedecendo e engolindo o choro.
- Tá bom.
Como eu pedi, ela se despede dele, abraçando-o.
- Tchau, Eros - Freya diz baixinho com a voz de choro, mas sem realmente chorar. É notável como ela está se esforçando para não fazer. - Vou pedir de novo ao papai do céu pra você e o vovô Enrico sararem logo.
Eros não responde de imediato e demoro dois segundos para notar que ele está engolindo em seco e que seus olhos estão marejados. Parece que Freya não é a única tentando se conter.
- Obrigado, Spider - Eros diz quando consegue, pigarreando.
Ele dá um último beijo nos cabelos de Freya antes de se separarem e eu pegá-la, colocando-a de volta no chão.
- Eu vou levá-la na escolinha - digo a ele. - Então só devo voltar no início da noite.
Eros pigarreia novamente, assentindo.
- Você não precisa vir... se não quiser.
Ignoro suas palavras e me inclino, dando um beijo na sua bochecha.
- Até logo. Me liga se precisar de algo.
- Espere. - Faço isso. - Pegue minhas chaves. Você não precisa ficar andando pela cidade de táxi ou metrô.
Penso em ignorar, mas me fará economizar tempo e dinheiro.
Então pego suas chaves na mesinha que está os seus pertences.
- Está no estacionamento do hospital e o tanque está cheio.
Anuo.
- Obrigada. Tchau.
- Até. Tchau, Spider.
- Tchau, Eros!
Com mais uma olhada na sua direção, Freya e eu deixamos o quarto e poucos minutos depois, o hospital.
💎
No caminho para casa, passamos no mercado. Eu comprei algumas coisas para casa e deixei Freya escolher algumas besteiras nada saudáveis. Quando chegamos no apartamento, fiz panquecas de beterraba, voltando a nossa rotina de comida saudável antes que Freya ficasse mal acostumada.
Às 14h, fomos para a escolinha. Ela trocou a fantasia pelo uniforme vermelho e amarelo da escola. Os pais podem ficar nas arquibancadas assistindo, e foi o que eu fiz. A professora - uma mulher muito simpática chamada Julie -, disse que por enquanto as crianças estão apenas se conhecendo e se adaptando, quando Freya perguntou quando ia poder jogar igual como é na tv.
Eu filmo parte da dinâmica, principalmente quando a professora divide os alunos em dois grupos - times, na verdade. Não é nada prático, como a professora disse, eles estão apenas aprendendo como funciona ainda, mas eu grito quando Freya chuta a bola para o gol. Pode ter sido sorte e duas mães me olharam estranho, mas dane-se, minha filha fez um gol.
É bem provável que Eros fique surdo ao ver e ouvir o vídeo, mas já enviei para ele. Mando alguns outros também, um deles é de quando a aula acaba, às 16h e Freya está imunda. Sério, não tem outra palavra para descrever o amarelo do seu short ter ficado marrom por causa da lama e ela ter grama até nas bochechas.
- Veja, eu não tenho culpa de o seu carro ficar fedendo a suor e a cachorro molhado - eu digo para a câmera do meu celular, para Eros, enquanto andamos. Mudo a configuração da câmera para mostrar Freya outra vez. - Você se divertiu?
- Sim! É bem legal. Melhor do que o balé. Você filmou quando eu fiz um gol, mamãe?
- Claro que sim. Que cameraman eu seria se não filmasse a melhor parte do jogo?
Freya ri, feliz. Eu estou aliviada em vê-la pulando de alegria depois de uma manhã tão angustiante.
- Vamos, dê tchau ao Eros. - Paro de andar para me agachar ao seu lado. Volto para a câmera frontal, para que apareça nós duas.
- Tchau, Eros! E eu não tô fedendo a cachorro molhado!
- Ela tá sim! - Dou risada da cara brava dela. - Tchau. - Freya e eu soltamos beijo para a câmera e eu encerro o vídeo, enviando para Eros em seguida.
Nós voltamos para o apartamento e eu mando Freya para o banho. Faço um sanduíche para quando ela sair e depois vou fazer o jantar. Não vou ficar para comer, mas Kevin deve chegar logo, então ele e Freya poderão desfrutar do meu macarrão com almôndegas.
Eu fico com Freya depois disso, mantendo-a acordada. Eu sei que ela está cansada, mas não quero que ela esteja dormindo quando eu sair.
Felizmente, Kevin chega às 18h. Ele e eu combinamos que ele virá direto do trabalho para ficar com ela. Meu amigo negou quando falei que iria pagá-lo o mesmo que pagaria a uma babá, mas eu faço questão. Kevin também chega cansado do trabalho, mas mesmo assim não se indispõe em ficar com Freya. Eu preciso retribuir isso.
- A mamãe tá indo, mas eu volto pela manhã, tá bom? - Beijo a bochecha de Freya. Já conversamos sobre eu ficar com Eros, então ela está ciente.
- Tá. Você pode ligar quando chegar lá e passar 'pro' Eros? Eu quero dar boa noite a ele.
- Se ele estiver acordado, eu ligo. Nada de dormir tarde, e é pra obedecer o tio Kevin. - Ela também sabe disso, mas ressalto mesmo assim.
- Eu sei. Mas eu posso comer chocolate?
- Só um e só depois do jantar.
Depois que ela anue novamente, me despeço dela e de Kevin, então volto para o hospital.
💎
Eros está acordado quando volto. Eu espero dar a hora de Freya dormir e mando uma mensagem para Kevin para ter certeza que ela já está na cama, então ligo e passo para Eros. É claro que ela pede para ele lhe contar uma história, o que Eros faz. Mas ele não chega nem à metade da história porque ela dorme.
- Ela está cansada - digo após pegar meu celular de volta quando Eros desliga. - Teve todo aquele choro e depois a escolinha, ela só não dormiu antes porque não deixei.
Eros anue a minha explicação, mas não diz mais nada. Eu não esperava que passássemos a noite conversando, então seu silêncio não é uma surpresa. E eu não o culpo por não querer conversar comigo, de qualquer forma. Na verdade, o que me surpreende é ele tolerar a minha presença.
Faço um coque em meu cabelo e pego meu livro da bolsa. Eu trouxe para passar o tempo. Eu deveria estar tentando trabalhar, mas não tive muita inspiração quando tentei hoje mais cedo enquanto ficava com Freya esperando Kevin. Eu trouxe o tablet, porém, e meu caderno de rascunhos.
- O que você está lendo? - Eros pergunta.
Mostro a ele a capa do livro. "A Voz do Arqueiro". É um dos que ele me deu.
Eros ergue as sobrancelhas e noto o leve rubor em suas bochechas.
- O quê? - questiono.
- Nada. Boa leitura.
Semicerro os olhos para ele, mas o homem me ignora, ligando a tv.
É uma noite silenciosa se não fosse pelas vozes vindas da tv. Eu convivi por três anos com o silêncio de Eros, então novamente, não me incomoda.
Não deveria, porque a verdade é que quero conversar com ele. Depois que descobri que ele sabe manter uma conversa, rir e sorrir, eu quero vê-lo fazendo tudo isso. Mas os únicos sorrisos que ele me deu foi quando estava sedado ou quando Freya estava aqui. Fora isso, ele me olha com indiferença. Por um momento, achei que a indiferença fosse melhor que a raiva, mas é pior. A raiva é uma emoção, eu estaria ciente do que ele está sentindo. Mas agora? É como estar pisando em ovos.
Ele disse que pode perdoar você.
Mas não disse quando. E se ele mudar de ideia? Se daqui há uma semana ele acordar e perceber que não pode me perdoar, confiar em mim novamente?
Fecho o livro quando percebo que estou lendo a mesma frase pela terceira vez, mas sem realmente ler alguma coisa.
- Eu vou pegar um... chocolate - murmuro, deixando o livro na poltrona e ficando de pé. - Você quer algo?
- Não.
- Ok.
Só depois que saio do quarto é que percebo que não peguei minha carteira.
Bato na minha testa.
- Você é uma idiota.
Eu poderia voltar lá e pegar a droga da carteira, mas no fundo, eu não saí porque queria um chocolate. Bom, eu apreciaria algum doce agora, mas eu preciso, acima de tudo, respirar um pouco. Talvez eu esteja ficando maluca, mas Eros pode estar me punindo com o seu silêncio. É uma boa tática, eu admito, pois está funcionando.
Vou até o elevador para poder descer e tomar um ar, mas tenho uma ideia melhor.
Demoro apenas alguns segundos para achar as escadas e ao invés de descer, eu subo até chegar no terraço. Não é para ninguém estar aqui, obviamente, mas quem liga? Além disso, a porta está aberta. Não aberta exatamente, mas há um pedaço de metal no chão, bloqueando ela de fechar totalmente.
Eu abro com cuidado e me certifico que o pedaço de metal ainda está no mesmo lugar antes de caminhar pelo terraço, estremecendo com o vento gelado.
Urgh, eu deveria ter trazido meu casaco.
Eu chego até a borda para dar uma olhada lá embaixo, porém, um movimento à minha esquerda me assusta e eu tropeço.
Por um milésimo de segundo eu me sinto naquelas cenas dos livros onde a vida do personagem passa diante dos olhos dele, todas as suas escolhas e decisões erradas, tudo o que deveria ter dito e o que nunca deveria ter falado. É como uma bomba de pensamentos que não consigo registrar rápido o suficiente enquanto sinto meu corpo se inclinar para o nada.
Até algo me puxar de volta e o ar ser sugado dos meus pulmões.
De volta aos meus pés, sinto cheiro de cigarro antes que ele abra a boca.
- Eu prefiro que você não morra na minha presença.
Eu o ignoro, pondo a mão em meu coração enquanto continuo olhando, boquiaberta, para onde eu estava há... o quê, três segundos atrás? Mais um pouco e meu corpo estaria despedaçado lá embaixo na calçada.
Meu corpo chacoalha e eu percebo que Khalil está balançando meu ombro.
Tiro sua mão de mim.
- Pare com isso!
- De nada, aliás.
Semicerro os olhos para ele.
- Eu ia cair por sua culpa. Você me assustou.
É impressão minha ou ele acabou de revirar os olhos? Parece algo tão mundano. Percebo que tirei uma reação dele. Não só isso, ele também está irritado.
- O que você está fazendo aqui? - Cruzo os braços, resolvendo ignorar meu momento de quase morte.
Khalil não me responde, caminhando até a borda. Eu fico tensa, dando um passo para frente, mas ele diz, a voz entediada:
- Relaxe, não sou do tipo suicida.
- Anotado.
Apesar do meu trauma de dois minutos atrás, eu dou mais alguns passos até parar ao lado dele. Khalil está todo de preto, como sempre, então não sei dizer se é a mesma roupa de ontem ou se ele foi para casa. Hoje, Carlota que vai passar a noite com Enrico, então Anthony e Kate foram para casa. Pela lógica, Khalil deveria fazer o mesmo, mas aqui está ele, no terraço.
Pelo canto do olho, noto um movimento seu e percebo que ele está acendendo um cigarro.
Sem olhar para mim, ele me oferece a caixa. Eu penso em recusar porque eu não fumo, mas preciso desestressar de alguma forma, então porque não escolher uma das mais destrutivas?
Aceito o cigarro e depois o isqueiro que ele me entrega. Quando eu disse que não fumo, quis dizer atualmente. Eu tive meus momentos na faculdade, apesar de fazer muito tempo.
- Obrigada - murmuro, lhe devolvendo o isqueiro.
A primeira tragada me faz tossir, mas a segunda é melhor.
- Vocês terminaram? - Khalil pergunta de repente.
- Por que você acha isso?
- Eu observo.
Certo. Ele me disse isso quando me acusou de ser uma espiã.
- Não. Não terminamos.
- Você está mentindo para mim quando eu posso jogá-la daqui de cima?
- Você me salvou. Se me quisesse morta, teria deixado eu cair.
- Eu posso mudar de ideia.
- Você está muito falante hoje. - Olho para ele com suspeita, sem me importar com as suas ameaças. E isso é estranho. Khalil não é do tipo que faz ameaças em vão, porém não consigo sentir nenhuma verdade nas suas palavras agora. - O que você está fazendo aqui, Khalil?
A frieza habitual do seu olhar é substituída por tédio quando ele me encara. E algo me diz que até o seu tédio é forçado.
- É proibido fumar lá dentro - diz simplesmente.
- Que engraçado, nunca achei que você obedecesse regras. Muito menos uma política de não fumar em hospitais. - Eu realmente acho isso engraçado.
Khalil semicerra os olhos, e um pequeno fio de medo passa por mim porque ele parece meio assustador agora. Ele não me jogaria do terraço, jogaria?
- Sabe, eu lembro de você - ele comenta, virando totalmente para mim. Dou um passo para trás antes de ordenar meu corpo que fique parado. - Você era namorada de Tobias, em Oxford. Eros e eu fomos visitá-lo uma vez.
Às vezes eu me esqueço daquele dia. Mas pelo visto Khalil lembra por nós dois.
- E...? - finjo indiferença. Eros já sabe sobre Tobias e eu, não há mais nada para esconder.
Novamente, aquele olhar avaliativo.
- Você contou a Eros que nosso primo é pai da sua filha?
Eu noto duas coisas. Uma: é assustadora a forma como ele descobre as coisas. Duas: ele disse "primo" e não "irmão". Ou Khalil não sabe que Tobias subiu um grau de parentesco, ou acha que eu não sei. Para falar a verdade, ainda estou digerindo isso. É muita coisa para processar ultimamente, então resolvi arquivar a informação de Tobias ser irmão de Eros, o que torna Eros... tio de Freya.
- Sim.
- Deixa eu adivinhar... Por isso ele quase matou Tobias?
- Eu não controlo as ações do seu irmão. - É uma resposta idiota e Khalil vê através dela.
- Mas é sua culpa.
Desvio do seu olhar, engolindo em seco. Ele está certo. É culpa minha que Eros tenha sido obrigado a ceder a sua raiva. Culpa minha que ele tenha sido preso e passado um dia inteiro na cadeia.
- Eu deveria ter contado - digo mais para mim mesma do que para Khalil. - Mas algo sempre me prendia... até que foi tarde demais.
Eu tive todas as oportunidades para fazer isso e tenho certeza que, se eu tivesse contado por vontade própria e sem pressão, se isso não tivesse explodido na minha cara, Eros não estaria tão magoado quanto agora.
Khalil não diz nada. Seus olhos voltaram para a vista da cidade e não sei se ele me ouviu. Não importa, aposto que ele também não é do tipo que consola e diz palavras motivadoras.
Então nós fumamos em silêncio. Eu acharia isso bizarro, mas aconteceram coisas demais nos últimos para que isso me impressione.
Quando termino meu cigarro, apago o resto no chão e suspiro.
- Eu vou voltar para o quarto - digo. - Boa noite.
Khalil não responde e eu resolvo seguir meu caminho.
Tomar ar puro ajudou a acalmar meus nervos. A dor do silêncio de Eros ainda está aqui, mas não posso fazer nada quanto a isso. Apenas o tempo vai dizer se Eros irá me perdoar ou não. Além disso, eu falei naquele bilhete que eu queria uma "pausa", não foi? E faz apenas dois dias.
Quando volto para o quarto, espero ver Eros dormindo, mas o que encontro é ele bem acordado e saindo da cama.
- Quem deixou você sair da cama? - pergunto ao fechar a porta e ir até ele.
- Não sabia que precisava de autorização para fazer xixi - resmunga. Ele está rabugento. Nada de novo por aqui.
- Vamos. Vou ajudá-lo. - Me aproximo um pouco mais.
- Não preciso de ajuda. - Quando diz isso, seu rosto se contorce em uma careta, cobrindo o local da cirurgia com a mão.
- Pare de ser teimoso. Aqui. - Passo seu braço por cima dos meus ombros e abraço cuidadosamente sua cintura. - Use o suporte do soro como apoio.
Eros solta um suspiro, mas me deixa ajudá-lo. Como ele está tomando soro, precisa levar para todo lugar, o que é bom porque ele pode usar o suporte como um tipo de muleta... só que maior.
Devagarinho, nós seguimos para o banheiro.
- Isso é ridículo - Eros continua resmungando. - Eu sou um homem adulto, posso ir ao banheiro sozinho.
Eu o ignoro, mas quando chegamos na privada, ele só fica parado e não faz nenhum movimento para fazer o que veio fazer.
- E aí? - Ergo as sobrancelhas.
- Você poderia pelo menos... se virar?
- Sério? Não há nada aí que eu já não tenha visto.
Eros apenas me encara de forma inexpressiva.
- Tudo bem. - Reviro os olhos. - Mas não dá pra eu virar, você precisa de apoio.
Ele murmura algo inaudível e eu tapo meus olhos com minha mão.
No lugar de Eros, eu provavelmente também me sentiria envergonhada, mas não consigo impedir a risada que sobe pela minha garganta.
- Desculpe - peço apressadamente, sem tirar minha mão do rosto. - Eu não estou rindo de você. Eu juro! É só toda essa situação. Só isso.
- Certo... - Ele parece desconfiado, mas não olho seu rosto para saber, lhe dando o máximo de privacidade possível.
Depois que ele faz suas necessidades e lava as mãos, nós voltamos aos passos de bebê.
Eu não havia percebido, mas Eros parece... quente. Não do jeito que me deixa louca, mas quente mesmo. Eu estava ocupada demais ouvindo seus resmungos para notar, mas agora, quando olho atentamente para ele, vejo que está suando. Sua expressão de abatido mais cedo piorou.
- Você está se sentindo bem? - pergunto, segurando-o com mais força.
Eros anue, mas sua careta de dor não me convence, mesmo quando ele tenta esconder.
Não digo nada até chegarmos na cama, onde ele senta, suspirando.
Preocupada, toco sua testa.
- Você está queimando em febre - contesto, a preocupação dando um nó no meu estômago. - É melhor você deitar, eu vou chamar a enfermeira.
Para seu próprio bem, ele não reclama e eu saio em busca da enfermeira.
Quando volto, talvez três minutos depois, Eros está deitado na cama como deixei, seu peito subindo e descendo, sinal de que está respirando. Porém, quando me aproximo e toco seu braço, ele não abre os olhos.
- Eros, a enfermeira está aqui - aviso e espero cerca de cinco segundos, mas ele não responde. - Eros. - Olho para a enfermeira, que está checando alguma coisa. - Por que ele não está respondendo?
- Ele desmaiou. Eu vou chamar o médico.
Observo-a ir, antes de voltar meus olhos para Eros.
- Ei - sussurro, lhe sacudindo um pouco, mas ele continua sem acordar. - Por favor, acorda.
Eu acho que estou chorando porque sinto minhas bochechas úmidas e meus olhos ficam embaçados. Como ele pode ter desmaiado? O que isso quer dizer?
Acho que estou murmurando essas perguntas ao médico quando ele entra com a enfermeira, mas não sei realmente.
Eu preciso me afastar para que eles o examinem, então observo encostada na parede eles dizerem coisas que não fazem sentido para mim. Eu deveria prestar atenção porque estão falando do estado de Eros, mas meu coração está batendo rápido demais, e eu só consigo ouvir as batidas ressoando em meu ouvido.
É assim que Carlota me encontra quando ela entra no quarto. Já que o quarto de Enrico é ao lado, ela provavelmente deve ter ouvido a movimentação.
- ... aconteceu? - Ouço parte da sua pergunta.
- E-ele estava bem, m-mas de r-repente ele estava com muita f-febre e depois d-d-desmaiou. - Eu não sei se Carlota entende alguma palavra do que eu digo. Não gaguejo assim desde que tinha a idade de Freya, e só em momentos apavorantes.
- Tudo bem. Vamos lá para fora. - Ela tenta me tirar do quarto, mas eu nego.
- Não. Eu p-preciso f-ficar...
- Eles vão nos dizer o que está acontecendo. Está tudo bem. Vamos.
Eu não quero ir, mas eu sigo Carlota para fora do quarto.
Ela me faz sentar quando chegamos no corredor, passando a mão por minhas costas. Eu continuo olhando para a porta do quarto que Eros está. Daqui, dá para ver apenas seus pés, mas sei que ele ainda está desacordado.
Ouço Carlota dizer alguma coisa a alguém, mas não presto atenção nas suas palavras, apesar de sentir um cheiro familiar de fumaça e cigarro.
Eros vai acordar logo, certo? Não é nada demais ele ter desmaiado um dia depois da cirurgia, não é? É só um efeito colateral ou algo assim. Todos estavam tão preocupados em como o organismo de Enrico reagiria ao novo rim, que ninguém cogitou como o corpo de Eros reagiria sem um rim?
Esses pensamentos estão sequer fazendo sentido?
- Beba um pouco de água. Vai te ajudar - Carlota está dizendo e percebo que uma mão tatuada está segurando um copo na minha frente.
Meu coração acelera e ergo os olhos, mas é apenas Khalil. Ele empurra o copo na minha cara e sou obrigada a pegar.
Ajo em modo automático, bebendo a água... Até que começo a tossir depois de tomar um grande gole e o líquido descer queimando por minha garganta.
- Isso n-não é água - consigo dizer entre a minha tosse.
Carlota toma o copo da minha mão e cheira, lançando um olhar para o filho mais velho.
- Você deu vodka a ela? Eu disse pra você trazer água.
- Semântica.
Sinto que Carlota quer dar um sermão no filho, mas o médico sai do quarto, atraindo nossa atenção.
- O que aconteceu? Como ele está? - Carlota pergunta por nós três.
- Ele teve uma infecção interna. Isso é comum e nós já iniciamos o tratamento adequado - o médico explica. Mas não sinto muito conforto com suas palavras.
- Mas ele vai ficar b-bem?
O médico olha para mim e dá um sorriso gentil.
- Sim. Felizmente você chamou a enfermeira na hora certa. Não há com o que se preocupar.
Relaxo um pouco, descansando meu rosto em minhas mãos. Sinto que posso respirar um pouco melhor agora, mas o medo que assombra meu coração ainda me faz estremecer, apesar das lágrimas terem cessado quando o médico apareceu.
Pego o copo da mão de Carlota de volta e termino de beber a vodka.
- Você ouviu o médico, ele vai ficar bem - Carlota me consola ao me puxar para um abraço.
- Eu quem deveria estar consolando você - murmuro, abraçando-a de volta. - É o seu filho lá dentro.
- E seu noivo. - Ela se afasta e enxuga meu rosto enquanto me encara. - Somos uma família e assim como iremos superar isso juntos, sofremos juntos também.
Sem poder me conter, eu a abraço de novo.
- Você é uma mãe incrível - digo.
- Assim como você. Mas nós não seríamos nada sem as nossas crianças - ela diz, apesar de Khalil, Eros e Anthony não serem mais crianças. Porém, entendo o que ela quer dizer. Nossos filhos sempre serão crianças em nossos corações.
Carlota e eu esperamos do lado de fora do quarto enquanto Khalil fala ao telefone. Imagino que ele esteja atualizando Anthony porque ele obviamente não atribuiria essa cortesia a Kate.
Quase uma hora depois, o médico e outras duas enfermeiras deixam o quarto, nos informando que Eros está sedado outra vez, mas que eles trataram da infecção e agora é só esperar. Posso voltar a ficar com ele, mas antes Carlota vai até lá. Ela não demora muito, e quando volta, eu entro.
Ocupo a poltrona novamente, pegando a mão de Eros. Acho que sua febre baixou um pouco e rezo para ele se recuperar totalmente logo.
- Nós temos que parar com as visitas a hospitais - digo para um Eros desacordado. - Eu ficaria feliz sem que nenhum de nós dois ocupasse uma cama dessa de novo.
Beijo sua mão e entrelaço meus dedos nos seus. Eu dormi no sofá na outra noite, mas não vou sair do lado dele hoje, então apoio minha cabeça na cama, segurando sua mão.
Eu fico encarando-o até que meus olhos ficam pesados demais para isso e eu adormeça.
💎
Quando acordo, é com um aperto em minha mão. Eu não estava dormindo realmente, apenas cochilando, então rapidamente abro os olhos, sentando ereta na poltrona.
Olho para minha mão na de Eros e depois para seu rosto. Seus olhos estão abertos e ele está me encarando.
- Oi. Você precisa de algo? - pergunto, apertando sua mão de volta.
- Não. O que aconteceu?
Conto a Eros que ele desmaiou e sobre a infecção. Ele ouve atentamente e solta um suspiro quando termino, antes de focar seus olhos observadores em mim novamente.
- Você estava chorando? - Franze as sobrancelhas.
- Você desmaiou. Eu fiquei desesperada - confesso sem um pingo de vergonha. Chega de esconder coisas dele.
Eros encara nossas mãos unidas por um momento antes de me puxar levemente.
- Deite comigo.
Ergo as sobrancelhas.
- Isso não é permitido.
- Eu assisti alguns episódios de Grey's Anatomy. Você deitar aqui comigo não é nada comparado com o que eles fazem naquele hospital.
Não sei o que me surpreende mais: Eros estar falando sério sobre eu deitar com ele ou ele ter assistido Grey's Anatomy.
Eu deveria ser racional e pensar no estado dele, que ele precisa descansar e que essa cama é pequena para nós dois, mas se tratando de Eros, acho que nunca fui racional. Por isso resolvo ser egoísta e atender ao seu pedido.
Ele chega para o canto e eu subo na cama, deitando do lado oposto do seu corpo onde estão os pontos e o curativo. Eros abraça meus ombros, me puxando para perto e finjo não notar quando ele cheira meu cabelo.
Apoio minha mão em seu peito, sentindo seu coração bater acelerado. Eu estava com tanta saudade de tocá-lo que posso ficar aqui para sempre.
- Você precisa dormir - murmuro.
- Você também. - Ele está acariciando meu ombro, então para mim será muito fácil cair no sono com ele me tocando.
Mas eu luto mais um pouco com a minha necessidade de dormir, querendo aproveitar esse momento. Ainda não está tudo bem entre nós, não vou ser boba em achar que está, mas não sei quando esse momento irá se repetir outra vez, então tenho que aproveitar o máximo possível.
Eu inspiro seu cheiro, que nem o hospital e o sabonete sem graça que tem aqui pôde apagar. Eu relaxo sobre seus músculos firmes, sempre tomando cuidado para não me mover e machucá-lo. Eu ouço sua respiração e sinto seu coração bater.
Então finalmente adormeço em seus braços, apesar de temer que essa seja a última vez.
💎
É na segunda-feira seguinte que outra bomba explode.
Faz sete dias que Eros e Enrico estão internados. O primeiro se recuperou bem da infecção e o segundo tem reagido bem ao transplante. Enquanto Eros terá alta amanhã, Enrico precisará ficar aqui por mais algumas semanas já que seu estado apesar de bom, foi mais grave do que o de Eros e precisará de mais supervisão.
Eros também, mas ele poderá se recuperar em casa.
Eu trouxe Freya mais três vezes nos últimos dias. Ela trouxe mais desenhos e Carlota até montou murais nos quartos de pai e filho para poderem acomodar os desenhos de Freya. A cada visita, ela estava chorando menos. Ainda teve muitas lágrimas na hora de ir embora, mas Eros sempre conversava com ela e Freya rapidamente parava de chorar. Foi quando percebi o quanto ela o respeita e sempre o obedece, mesmo que eu nunca tenha dito para ela fazer isso.
É de manhã agora e Eros está comendo seu café da manhã sem graça (palavras dele). Eu "troquei de turno" com Kate ontem, para que eu pudesse passar a noite com Freya, então a manhã hoje é minha, o que significa lidar com um Eros triplamente rabugento. Ele tem ficado muito mais resmungão com o decorrer dos dias.
Eu o ignoro, como agora, enquanto leio meu terceiro livro da semana. Acontece que meu vício de ler durante a madrugada voltou e eu pareço uma viciada. Todos os livros que tenho lido foram aqueles que Eros me deu. E que ele leu. Na noite seguinte aquela que ele desmaiou, eu entendi porque da sua reação quando viu o livro que eu estava lendo. Há muitas cenas... quentes, naquele livro. Assim como no outro depois daquele e nesse que estou lendo agora.
Eu não posso acreditar que ele leu todas aquelas coisas.
Eros murmura algo e eu levanto o rosto do livro.
- Desculpe, o que você disse? - pergunto.
Ele semicerra os olhos, observando meu rosto, orelhas e pescoço vermelhos antes de seus olhos descerem para minhas pernas cruzadas.
- Você chegou na parte que eles transam na cozinha? - questiona, seus lábios curvados levemente com malícia.
Estou lendo "Birthday Girl" e o filho da mãe acaba de acertar em que parte do livro eu estou.
- Eu não sei do que você está falando - digo na maior cara de pau.
É óbvio que Eros sabe que estou mentindo, e seu sorriso aumenta.
Reviro os olhos, voltando meus olhos para o livro.
- Vou mandar diminuírem a sua morfina - murmuro. Eros está todo sorrisos por causa disso. Ele se queixou de dores mais cedo e a enfermeira aumentou a dose, mas foi uma péssima ideia.
Antes que eu volte a ler, alguém bate na porta do quarto e Anthony abre um pouco a porta, espiando.
- Podemos entrar? É... urgente. - Ele parece ansioso, mas faço que sim, já que Eros está mais ocupado em murmurar resmungos da sua gelatina sem açúcar agora.
Quando Anthony falou no plural, não imaginei que ele estivesse se referindo a Kate, Khalil e a maior surpresa de todas: Lorelei.
A última vez que a vi foi há alguns dias quando ela veio trazer flores para Enrico. Como ninguém tem ido trabalhar, ela quem tem segurado as pontas e atualizado Kate.
Pelo seu semblante, o que ela tem a dizer não é bom. Além disso, Anthony disse que era urgente, certo?
- O que houve? - Fecho meu livro, ficando de pé enquanto os quatro ocupam lugares ao redor da cama de Eros.
Anthony olha para Lorelei e espera ela falar.
A mulher suspira e finalmente tira o pino e joga a granada de informação em nosso colo.
- Tobias tem uma promissória assinada pelo Sr Blackburn. Nela, diz que ele tem plenos poderes para assumir a empresa caso algo aconteça com Enrico. E ele já começou as mudanças.
💎
Gente, eu amo tanto esse capítulo, cês não tem noção 😭😭❤️❤️.
A Freya dizendo q ama o Eros, ele emocionado, A Gen fazendo vídeo e o Eros pedindo pra ela deitar com ele dps😭😭😭😭.
Espero que tenham gostado tanto quanto eu❤️😭
N lembro quantas palavras tem o Capitulo de amanhã, mas vai ter surtos
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2bjs, môres♥
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