⁵|Uma mini Genevieve
— Você é amigo da mamãe? — Ouço a voz de Freya das escadas. Franzo as sobrancelhas. Com quem ela está falando? Eu já disse a ela mil vezes para não abrir a porta quando eu não estiver em casa — o que não acontece muito, apenas quando vou rapidinho no mercado ou como hoje, que fui na farmácia.
Finalmente, chegando ao nosso andar e já me preparando para o sermão que darei a ela, ouço a resposta de quem quer que esteja na porta do nosso apartamento:
— Quem é a sua mãe?
Eu o vejo antes mesmo de terminar de fazer a pergunta. Parado de costas para mim, está Eros.
Meu sangue gela, o que ele está fazendo aqui? Como ele conseguiu meu endereço…? Você trabalha para ele. Merda, merda, merda.
E tudo piora quando Freya me vê, congelada no lugar e aponta para mim, respondendo a pergunta de Eros.
Eu observo o homem virar lentamente, até seus olhos encararem os meus.
Ficamos assim por uma eternidade. Eu consigo imaginar cada pergunta se formando em sua mente. Eu não sei o que fazer. Mandá-lo embora? Mas do que adiantaria, se ele já viu o que venho escondendo desde que comecei a trabalhar com ele? Não escondendo exatamente, já que ele nunca me perguntou se eu tinha uma filha, mas eu também não forneci a informação.
Esse silêncio interminável se quebra quando Freya começa a tossir. Qualquer preocupação que eu tenha com Eros agora, some.
— Ei, eu disse para ficar no sofá até eu voltar, não foi? — Passando por Eros, pego Freya no colo e entramos no apartamento. Eu não ofereço a cortesia ao homem atrás de mim, mas ele entra mesmo assim.
— Eu ouvi a batida na porta e achei que você tinha esquecido a chave de novo — minha filha diz. Minhas bochechas coram. Isso só aconteceu duas vezes.
Ponho Freya deitada no sofá, cobrindo-a com sua coberta e checando sua temperatura. A febre não baixou. Tento não estremecer com isso. Ela acordou assim hoje, com um resfriado repentino. Tossiu a noite toda e não quer comer nada.
— A garganta ainda dói? — pergunto, tirando o remédio que comprei da sacola.
Freya anue, o nariz corizando.
— Mamãe — ela chama, apesar de eu estar sentada ao seu lado no sofá.
— Hm? — Abrindo o remédio, verifico quantas gotas tenho que dar a ela.
— O cara grande é o seu namorado?
Olho para ela, que está olhando para o cara grande, provavelmente. Certo. Eros. Ele está no meu apartamento. Eu esqueci dele por um segundo, mas graças a minha filha, a presença dele se tornou conhecida pela minha consciência outra vez.
— Abre a boca — digo a Freya ao invés de responder sua pergunta. Eros obviamente não é meu namorado, mas meu noivo de mentira e como sei que ela não entenderia isso, é melhor deixar assim até eu resolver as coisas.
Ela faz o que falei e eu conto as gotas do remédio enquanto cai em sua boca. Depois que termino, ela engole.
— Tem gosto de framboesa. Pode me dar mais?
Dou risada, guardando o remédio na caixa e ficando de pé.
— Mais tarde, tá bom? — Ajeito sua coberta outra vez e dou um beijo em sua testa. — Mamãe vai conversar com o cara grande e você vai descansar. Fechado? — Mostro meu polegar a ela.
— Tá bom! — Freya pressiona seu polegar pequeno no meu, e então temos um acordo.
Ligo a TV e entrego o controle a ela, então me preparo ao virar para Eros.
Ele está encostado na porta, os braços cruzados enquanto nos observa. Há curiosidade e algo mais em seu olhar, como se ele estivesse estudando um problema de matemática.
Ele encara meus olhos, suas sobrancelhas se erguem. Sim, ele definitivamente quer uma explicação.
Faço sinal para ele me seguir e entro em meu quarto. É apenas um pouco maior que o de Freya, para poder caber a cama de casal, o guarda-roupa e uma pequena estante com livros. Fora isso, não há mais nada nele, a não ser pela janela.
Todo o apartamento é pequeno, com dois quartos, sala, uma pequena cozinha e um banheiro. A lavanderia fica no andar de cima e há vazamento no teto quase toda semana.
Mas é o que eu posso pagar.
Eros aparece logo atrás de mim e eu espero que entre para encostar a porta, deixando uma fresta para Freya saber que pode me chamar se precisar.
Eros olha em volta do pequeno cômodo, provavelmente como fez na sala, se perguntando porque moro num lugar como esse se o salário que ganho podia pagar um lugar melhor.
— Uma filha, hein? Parece que você deixou algumas coisas de fora. — Ou talvez ele esteja mais interessado nisso.
— Ninguém nunca me perguntou. — Dou de ombros.
Ele apenas me encara.
Suspirando, sento-me na cama e deixo ele decidir se quer ouvir essa história em pé ou sentado. Eros toma sua decisão e o colchão afunda ao meu lado.
— Vai fazer seis anos em poucas semanas — começo. — Meu pai sempre foi muito machista, quase não me deixou ir para a faculdade, mas eu fui. Com vinte anos, engravidei. Eu tinha conhecido um cara e namoramos por um tempo. Nove meses depois, veio o resultado. — Faço uma pausa, lembrando daquela época, como foi difícil ser uma jovem de vinte anos grávida e sem o apoio de ninguém. — Nosso relacionamento era meio conturbado e quando contei a ele da gravidez... Ele não quis saber dela, disse que não era o pai. Eu não sabia o que fazer, estava totalmente sozinha, então voltei para cá. Estava com três meses e meu pai me colocou para fora de casa assim que contei.
“Minha mãe nunca vai contra ele, então não fiquei surpresa quando ela apenas me deu algum dinheiro e me mandou de volta para a Inglaterra, disse que seria melhor assim, que se alguém descobrisse, mancharia a reputação da minha família. Em outras palavras, sou uma vergonha para eles porque engravidei sem me casar. Sozinha em Oxford, saí da faculdade porque não suportava os olhares julgadores dos meus colegas e vi todos os meus amigos se afastarem de mim."
"Quando estava perto de dar à luz, Emma, minha irmã, foi ficar comigo. Não sei a desculpa que ela deu ao nosso pai, mas ela ficou até depois do parto. Quando julgou que eu já podia me virar sozinha outra vez, veio embora. Quando Freya já estava com seis meses, achei uma creche que pudesse cuidar dela da manhã até a noite e voltei para a faculdade, além de conseguir um emprego de meio período. Me formei e voltei para cá de novo. Fiquei na casa de Emma por algumas semanas, até conseguir outro emprego e esse apartamento. Um ano depois comecei na Blackburn Empire."
Quando termino, solto um suspiro. Pronto, não foi tão difícil assim.
Espero pelo que Eros tenha a dizer, imaginando se ele pensa igual a minha família, que sou uma vergonha. Emma e mamãe ainda vem nos visitar, trazem brinquedos para Freya e são gentis com ela, mas nunca fizeram um real esforço para enfrentar papai, dizer que está errado em me excluir de suas vidas. Não, elas estão confortáveis demais com o dinheiro dele para intervirem em meu nome.
— Por que "Freya"? — é a pergunta de Eros. De tudo o que eu disse, foi nisso que ele focou. Quase rio.
— É a deusa do amor e da beleza na mitologia nórdica. — Dou de ombros. Lembro que não escolhi o nome até o sétimo mês e fiquei falando com ela — que estava dentro da barriga — chamando-a de "bebê".
— E você a criou sozinha esse tempo todo?
Anuo. Não foi fácil, teve momentos que achei que não fosse dar conta, mas Freya é a maior benção que aconteceu na minha vida.
— Ela é a sua cópia. Não sei se posso lidar com uma mini Genevieve — seu tom de diversão me surpreende. Não sei o que esperava, mas certamente não… isso. — Eu sabia que Adrien é um canalha, mas dá as costas à própria filha…
Ele não termina, mas juro que posso sentir o ódio ecoando por ele. É estranho ter Eros se solidarizando com a minha história.
— Por que você… Por que você nunca contou? — Ele olha para mim, procurando a resposta. Eu desvio dos seus olhos para a tatuagem despontando pela sua camisa.
— Eu não queria que sentisse pena de mim, que, de alguma forma, facilitasse para mim apenas porque tenho uma história de vida difícil.
— Eu nunca faria isso — Eros diz rapidamente e arqueio a sobrancelha. — Talvez eu parasse de achar que você é uma espiã, mas só. Ainda seria tão insuportável quanto sou hoje.
— Droga, então eu não amoleci seu coração com a minha história triste? — Faço biquinho, recebendo um pequeno sorriso seu em resposta quando ele empurra de leve o meu ombro.
Eros olha em volta outra vez.
— Por que você mora aqui? Sem ofensas, é só que…
— Eu sei. — Suspiro, encarando a parede manchada de mofo. — Apesar da minha família ter me dado as costas, eu quero que Freya tenha uma boa educação, então a coloquei na escola mais cara que o meu dinheiro pode pagar. Isso aqui é o que posso pagar com o que sobra.
Eros fica em silêncio, então suas sobrancelhas se franzem.
— Você não ganha muito como estagiária.
— É mais do que alguns estagiários ganham. — Isso é verdade. Apesar de eu viver no limite com o dinheiro, eu ganho o dobro que o salário normal para um estágio remunerado.
Ele fica em silêncio de novo e eu quase pergunto o que está pensando, quando fica de pé de repente.
— Certo… Eu preciso voltar para a empresa — diz.
— Oh, certo. Na verdade, por que você se quer veio aqui? — Eu tinha me perguntado isso quando o vi, mas acabei esquecendo.
— Eu… Você disse a Kate que tinha sofrido um acidente doméstico. Eu achei… — Eros pigarreia, parecendo desconfortável. E ele está… ele está corando? — Eu achei que isso era algum tipo de código para agressão doméstica. Então eu vim.
Minhas sobrancelhas se erguem. Então ele veio aqui porque achou que tenho um namorado agressor? É errado achar a preocupação dele fofa? Isso é algo novo para mim.
— Você parece bem, no entanto — diz, olhando-me de cima a baixo, vendo minha jardineira curta e a camisa amarela por baixo. Acho que ele nunca tinha me visto tão casual.
— Sim. Freya pegou um resfriado. Ela deve estar melhor amanhã, então eu irei trabalhar. — Ponho uma mecha dos meus cabelos atrás da orelha. — Mas… obrigada por vir… checar se eu estava bem.
Eros anue, coçando a nuca. Acho que essa situação é estranha para ele também.
— Bom… então eu vou indo.
— Certo.
Ficamos nos encarando, nenhum dos dois fazendo sinal de sair do quarto. O cômodo de repente parece ainda mais pequeno do que já é, como se o homem à minha frente ocupasse todo o espaço. Ele parece deslocado aqui, com seu terno caro, seu relógio que deve pagar cinco meses de aluguel e seus mocassim, brilhantes de tão engraxados.
— Eu te levo até a porta — digo abruptamente, passando por ele. Obviamente não é difícil encontrar a saída, mas uma coisa é ficar a sós com ele no escritório, outra coisa é estarmos sozinhos no meu quarto.
— Tchau, Freya. — Eu o ouço falar com a minha filha, sua voz tão gentil.
— Tchau, cara grande! — é a resposta entusiasmada dela.
Abro a porta para Eros, que passa por mim. Eu o encaro do lado de fora, minha mente ainda confusa com tudo o que acabou de acontecer. Parece até que somos outras pessoas, sem insultos ou comentários sarcásticos.
— Não se preocupe em voltar ao trabalho amanhã, caso a garota não esteja melhor — diz, com as mãos dentro dos bolsos.
Anuo, não confiando em mim para falar.
— Até mais, Genevieve.
— Até.
Ele vai embora depois disso.
❦︎
Mais tarde, estou no sofá com Freya enquanto ela assiste Miraculous, a cabeça deitada em meu colo, e eu lendo um livro. A tosse parou e a febre abaixou um pouco, mas ainda estou atenta para caso aumente de novo.
Brincando com seu cabelo, viro outra página do livro que estou lendo. Eu deveria adiantar o trabalho, principalmente porque não estou de folga, mas estava com vontade de ler um novo romance.
Estando grávida e sem amigos, não me restava muito a fazer em meio ao tempo livre, então descobri que gosto de ler e se estiver muito empenhada, posso devorar um livro em um dia. Isso só acontece em um fim de semana ou outro, já que geralmente uso os sábados e domingos para passear com Freya. Não temos muito dinheiro, isso já foi deixado claro, mas não custa muito levá-la ao parque e lhe comprar sorvete. Ela ainda é uma criança, afinal de contas.
— Mamãe? — Freya chama alguns minutos depois do novo episódio começar.
— O que foi? — Desvio minha atenção do livro para ela, mas sua atenção continua na TV.
— Você não respondeu se o cara grande é o seu namorado.
Suspiro. As crianças nunca esquecem nada, não é?
— Ele é o meu chefe.
Freya olha para mim, seus olhos azuis brilhando com curiosidade.
— Aquele que você vive reclamando? — Ela parece chocada.
— Ele mesmo. — Talvez eu tenha resmungado sobre Eros uma vez ou outra.
— Então ele não é o seu namorado? Ele é bonito, acho que o tio Kevin gostaria dele.
Dessa vez dou risada. Kevin tem alguns posters de homens sem camisa em seu apartamento, então sim, ele definitivamente gostaria da visão de Eros.
— Não, ele não é meu namorado — digo quando consigo recuperar o meu fôlego. — Mais alguma pergunta?
Freya fica pensativa por alguns segundos.
— Acho que não — diz por fim.
— Ótimo, então volte a assistir.
Ela obedece e eu volto para o meu livro.
| |
Oooooi, então, era isso que vocês esperavam?
Esperam que eu traga a Freya com mais frequência?
Não sei se ficou claro, mas Genevieve tem 26 anos, Eros 31, Khalil 35, Anthony 25, Lorelei 29, Kate 28 e a Freya tem 5 (mas vai fazer 6)
Enfim, acho que não tenho muito a dizer sobre esse capítulo, mas adorei as teorias de vocês!
Até terça-feira.
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2bjs, môres♥
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