⁴¹|Não vou à lugar algum
Eu sei que algo está errado assim que abro os olhos.
Primeiro, meu celular não está tocando com o despertador.
Segundo, a luz que entra pela janela do quarto está quente demais. Não é nada parecida com a luz do sol das 06h00 da manhã que estou acostumada.
Terceira e pior coisa: há um cheiro de queimado na casa que rapidamente me faz levantar.
Quando entro na cozinha, encontro Freya quase alcançando a torradeira que está soltando uma fumaça negra.
— Se afaste daí agora — digo, mas já estou colocando-a para trás.
Tiro a tomada da torradeira e depois as torradas queimadas, com um pano de prato, jogando na pia.
Solto a respiração que eu havia prendido quando corri para a cozinha, achando que a casa estava pegando fogo.
Viro-me para Freya, que correu para trás de uma cadeira. Eu vejo seus olhinhos quando ela espia.
— Desculpe — diz baixinho.
— Venha aqui — peço, me abaixando para ficar na sua altura.
Freya sai de trás da cadeira e para na minha frente, as mãos atrás das costas e a cabeça baixa.
— A mamãe já não falou que você não pode mexer no fogão ou na torradeira? — pergunto com calma. — Você é apenas uma criança, não tem idade para preparar a própria refeição.
— Eu sei.
— Então por que você fez, se sabia que era errado?
Freya dá de ombros.
— Você tava dormindo e eu queria fazer o café da manhã pra gente — murmura.
— Mas você não pode, Freya. O que você pode, o que deve fazer, é me acordar para que eu faça o seu café da manhã. A mamãe que cuida disso, lembra?
— E o Eros. Ele fazia panquecas pra mim.
Suas últimas palavras me quebram e eu suspiro. Estou brava com ela, mas não posso. Ela sabe que não deve fazer isso, e só fez porque fui irresponsável.
— Mas o Eros não está aqui — digo com cuidado, erguendo seu queixo para ela me encarar. — E você não deve, em hipótese alguma, tentar cozinhar. Você pode se machucar, como ia acontecer. Não faça mais isso. Você entendeu?
— Sim.
— Ótimo. — Solto outro suspiro, passando minhas mãos por seu rosto. — Você quase me matou de susto.
— Desculpa.
Eu abraço rapidamente por um momento. Algo pior podia ter acontecido, mas não aconteceu. Ainda é grave o que ela fez, porém.
— Vá para o seu quarto agora.
Ela obedece e eu fico de pé.
Em poucos minutos, faço chocolate quente para Freya e novas torradas – que não queimam. Vou passar no mercado mais tarde quando sair do trabalho.
Deixo o chocolate quente esfriar um pouco antes de chamar Freya e vou até o meu quarto, lembrando que meu despertador não tocou.
Percebo tardiamente que eu desliguei meu celular ontem quando o coloquei para carregar. Sinceramente, não sei onde estava com a cabeça e quando o ligo de novo, arregalo os olhos ao ver a hora. 10h28.
Não é surpresa que Freya tenha tentado preparar o próprio café.
Meu celular apita em minha mão várias vezes, com mensagens e eu estou quase deixando o aparelho no colchão para poder ir tomar banho, quando uma mensagem chama minha atenção:
Meu pai e Eros entraram na sala de cirurgia agora, Anthony escreveu para mim.
Cirurgia? Do que ele está falando?
Abro o seu contato e leio as várias mensagens que ele tem me mandado desde às 06h00.
Estamos todos no hospital. Meu pai foi internado algumas horas atrás. Ele é portador de DRC, mas não sabíamos.
Eros está aqui, ele vai doar um rim para nosso pai.
Seria bom se você estivesse aqui. Ele me contou o que aconteceu entre vocês, mas ele precisa de você agora.
Acho que ele discutiu com o papai.
Você está vindo?
A última mensagem foi a que eu li antes, sobre eles terem entrado na sala de cirurgia.
Caio sentada no colchão. Enrico está doente? Eros vai doar um rim? Cirurgia?
Puta que pariu. Puta que pariu. Puta que pariu.
Como Eros deve estar com tudo isso? Péssimo, é o pai dele, pelo amor de Deus. Será que ele já saiu da cirurgia?
Olho a hora da última mensagem. Uma hora atrás. Não sei nada sobre transplante, mas imagino que não.
De qualquer forma, não posso ficar aqui.
Mando uma rápida mensagem para Anthony avisando sobre meu celular ter estado desligado e que estou indo para lá.
Depois, ligo para minha mãe.
💎
— Oi, entra. — Deixo a porta aberta para minha mãe entrar e mal olho para ela antes de voltar para o quarto para pegar minha bolsa. — Freya, sua vó chegou — grito para minha filha. Eu a deixei de castigo no quarto, mas disse que ela estaria liberada quando minha mãe chegasse.
— Vovó! — Ouço ela correr, provavelmente para os braços de minha mãe.
— Fyfy! Olha só como você cresceu.
As próximas palavras entre as duas são abafadas pela minha pressa. Tive meia hora para me arrumar e ligar para minha mãe. Talvez ela não seja a pessoa mais confiável, mas Kevin está no trabalho e eu não tinha tempo para ligar para alguma empresa, atrás de uma babá. Muito menos confiaria em uma pessoa aleatória.
Depois de terminar de ajeitar minha bolsa, saio do quarto com ela.
— Ele não sabe que você está aqui, não é? — pergunto à minha mãe, sem rodeios. Ela disse no telefone que daria um jeito de vir sozinha.
— Não. Não se preocupe. Você não me disse porque a pressa. — Minha mãe me olha com aquele olhar de mãe que sabe das coisas, mas eu ignoro.
Viro-me para Freya que volta do quarto com suas bonecas para mostrar a minha mãe.
— A mamãe está indo. Se comporte, ok? Eu vou ligar logo. — Beijo sua bochecha, abraçando-a quando ela me abraça.
— Tá bom. Tchau, mamãe.
— Tchau, querida. — Afasto-me dela, preparada para sair, mas diga a sua avó: — Tchau, mãe. E obrigada.
— Tchau. Vou cuidar bem dela.
Eu anuo, confiando nela e saio de casa.
💎
Levo uma hora para chegar no hospital, mesmo de táxi. Anthony não respondeu minha mensagem, muito menos Kate, então não sei se a cirurgia acabou e se ocorreu tudo bem. Tentei não pensar na possibilidade de não ir bem.
Quando chego no hospital, a recepcionista me informa o quarto quando digo a ela que sou esposa de Eros. Não me sinto mal por mentir e esqueço totalmente disso quando encontro os Blackburn na sala de espera reservada.
— Desculpe. Eu tive um problema com meu celular e só vi a mensagem há uma hora. Eles já saíram da sala de cirurgia? — pergunto a ninguém especial, quase tropeçando nas palavras.
— A cirurgia ainda não acabou — Carlota me informa. — Venha, sente-se aqui.
Ocupo o lugar ao seu lado. Khalil está encostado na parede, os braços cruzados, seus olhos em mim. Anthony também está silencioso do outro lado da mãe e Kate está sentada do lado dele.
— Há algo que eu possa fazer? — pergunto em um tom baixo para Carlota.
— Nós estamos bem, na medida do possível, mas bem. Não se preocupe. — Carlota aperta minha mão. — Como está a pequena Freya?
Imagino que ela esteja querendo se distrair, então não me importo em ajudá-la.
Também serve para me distrair. Tentei não pensar em toda essa situação antes, mas agora é inevitável. Estamos aqui no hospital, é real. Eros e Enrico estão naquela sala de cirurgia e só Deus sabe o que está acontecendo, o que pode dar errado. E é ainda pior que isso esteja acontecendo depois das últimas vinte e quatro horas. Queria poder ter estado aqui antes, que ele soubesse que estou aqui por ele.
— Você deveria sair.
Ouço a voz de Khalil e levanto o rosto, achando que ele está falando comigo. Sua atenção, porém, está em Kate.
— Eu estou bem — Kate murmura.
Ela está de pé agora, andando de um lado para o outro, mas acho que sei do que Khalil está falando. Ela está pálida, respirando um pouco fora do normal. Se fosse para chutar, diria que ela está prestes a vomitar.
— Você vai vomitar na porra do chão — Khalil lê minha mente.
— Eu disse — Kate para na frente dele, erguendo o rosto para encará-lo nos olhos — que estou bem.
Entretanto, ao contrário do que disse, Kate vacila e em um piscar de olhos, seu corpo fica mole e ela desmaia.
Khalil a pega antes que Kate caia no chão.
— "Bem" o caralho — o homem resmunga, segurando Kate no estilo noiva.
— Vou conseguir um quarto para ela. — Anthony fica de pé, pronto para fazer isso, mas seu irmão resmunga:
— Ela precisa de ar fresco. — Então ele nos dá as costas e vai em direção ao elevador.
Nós três observamos os dois, um pouco sem reação.
— Eu… vou com eles — digo a Carlota e a Anthony. — Vou garantir que ele não jogue ela em uma fonte ou sei lá.
— É uma boa ideia — Anthony diz.
Aperto a mão de Carlota, que força um sorriso, e vou atrás dos dois.
Passo pelas portas de metal por pouco, ficando do outro lado do elevador. Só há nós três aqui e tento não ficar olhando muito para Khalil, mas é difícil. Ele segura Kate firmemente contra o peito, seu rosto sombrio.
— Ela não gosta de hospitais? — pergunto. Estamos passando pelo décimo andar e descendo.
— O que você acha? — Khalil morde de volta.
Não faço mais perguntas, então, porém me questiono se ele sabe o motivo por trás da reação de Kate.
Quando finalmente paramos no primeiro andar, sigo Khalil para fora. Têm alguns bancos de pedra na frente do hospital e Khalil ocupa um deles. Eu sento ao seu lado, mas mantendo distância.
O ar fresco enche meus pulmões e me dou um momento para respirar. Eu não sei quais outras coisas desencadearam o desmaio de Kate, mas concordo que lá está muito abafado. O ar é carregado de tristeza e tudo o que podemos fazer é ficar esperando o médico aparecer e rezar para que a notícia que ele dará, seja boa.
Pelo canto do olho, noto um movimento e olho a tempo de ver Khalil abrir um cantil — que ele deve ter tirado do bolso — com os dentes e colocar debaixo do nariz de Kate.
O cheiro deve ser realmente forte porque em poucos segundos, minha amiga está franzindo as sobrancelhas. Mais cinco segundos e ela abre os olhos. Kate pisca várias vezes antes de olhar para Khalil.
— Eu estou no inferno, não é? — murmura.
— Você achou que iria para o céu, KitKat? — A voz de Khalil parece tão… suave ou estou delirando?
Não importa porque os olhos de Kate parecem pegar fogo, assim como suas bochechas.
— Eu disse para você não me chamar assim nunca mais. — Ela sai de seu colo, ocupando o espaço entre Khalil e eu.
— Eu não me importo com o que você diz. — Khalil levanta e não olha para trás ao caminhar até o meio fio e atravessar a rua.
— Você está bem? — pergunto a Kate depois de alguns segundos. Ela está menos pálida e respirando normalmente agora.
Eu observo Kate enrijecer, como se só agora ela tivesse notado minha presença. Quando estávamos lá em cima, não nos falamos e agora tenho certeza que não é coisa da minha cabeça. Kate estava me ignorando.
— Estou ótima — ela soa tão fria quanto Khalil.
— Tem certeza? Você…
— Tenho.
Calo a boca. Quero perguntar a ela por que está agindo assim, mas ela acabou de passar mal, então não vou forçar a barra.
Dez minutos depois — onde Kate e eu ficamos em um silêncio desconfortável —, Khalil está de volta. Ele está segurando uma sacola e uma garrafa de água.
Khalil entrega as duas coisas a Kate.
— Coma. Não quero ter que carregar você de novo — o homem resmunga.
— Isso é… — Kate está franzindo as sobrancelhas para o sanduíche que ela tira da sacola e desembrulha.
— Sanduíche vegano, sim. — Revirando os olhos, Khalil ocupa seu lugar de volta.
Acho que ouço Kate murmurar um "obrigada", mas não tenho certeza.
De qualquer modo, fico de pé.
— Vou voltar lá pra cima — aviso.
Quando nenhum dos dois diz nada, eu os deixo sozinhos. Espero apenas que não se matem.
💎
Minha mãe me mandou uma foto dela com Freya. A única coisa que foi capaz de me tirar um sorriso hoje. Normalmente eu estaria preocupada em ter deixado minha mãe cuidando da minha filha, e estou, mas não tive escolha a não ser confiar que minha mãe não deixará que meu pai a manipule. Eu sei que ela não me escolheu anos atrás, mas algo me diz que ela ficaria ao meu lado agora, para proteger Freya.
Respondo a foto com emojis e pergunto se está tudo bem. Minha mãe diz que sim, então guardo o celular. É bem nessa hora que um homem vestindo roupas de cirurgião entra na sala.
Imediatamente, todos nós ficamos de pé e esperamos o que o médico tem a dizer.
— O transplante correu bem — informa, causando um suspiro coletivo. — Agora precisamos aguardar as próximas quarenta e oito horas para ver como o corpo dele irá reagir. Tanto pai como filho precisarão ficar de repouso por sete dias antes de avaliarmos se estão prontos para ir para casa.
Levo minha mão ao coração, sentindo meus ombros relaxarem com o alívio. Eros está bem e fora de perigo. Repito várias vezes até meu coração se acalmar. Obviamente também estou feliz por Enrico.
— Podemos vê-los? — Ouço Carlota perguntar.
— Eles estão sedados e não podem dizer muita coisa, mas sim — diz o médico.
Apesar do meu relacionamento com Eros, jamais tiraria o direito da família dele de vê-lo primeiro, então espero fora do quarto.
Carlota e Anthony vão ver Enrico, enquanto Kate e Khalil vão ver Eros.
Eu conto até mil e trezentos, andando de um lado para o outro enquanto espero. O médico disse que ele está sedado, mas será que ele irá me reconhecer? Sinceramente, não importa. Eu só quero vê-lo e ter certeza que ele está bem.
Kate sai do quarto primeiro e para ao me ver.
— Você não deveria entrar — diz depois de alguns segundos.
— Por quê? — Será que Eros pediu para não me ver? Se for assim…
— Tudo o que ele menos precisa agora, é ver você.
Como um soco, suas palavras me acertam. Eu pisco, chocada e um pouco confusa.
— Ele me contou tudo — explica, o que rapidamente me faz ficar tensa. — Como você pôde?
— Kate, olha, você não entende…
— Como você pôde esconder isso dele depois de tudo o que eu falei para você? — Ela parece tão profundamente magoada que não sei o que dizer. — Eu esperava mais de você.
— Eu sinto muito — murmuro. Eu poderia explicar tudo a ela, tentar justificar porque escondi tantas coisas, mas aqui não é lugar para isso.
Kate me olha uma última vez antes de caminhar pelo corredor.
Respiro fundo, dizendo a minha mente para deixar isso para lá por enquanto e espero Khalil sair, o que acontece apenas alguns segundos depois.
Quando entro no quarto, meus olhos rapidamente encontram o homem na cama. Meu coração volta a acelerar diante da visão. A última vez que nos vimos, ele estava magoado comigo. Eu vi em seu olhar e isso tem me torturado, mesmo quando falei com ele ontem a noite.
Aproximo-me da cama, notando que seus olhos estão fechados. Sua pele bronzeada está pálida e seus cabelos estão desgrenhados, mas ainda é o meu Eros.
Toco seu rosto levemente, soltando um suspiro. É tão bom tocá-lo depois de tudo. Sua pele está quente contra minha e isso aquece meu coração também. Tantas coisas aconteceram nas últimas horas, mas tudo vira plano de fundo e a única coisa que importa é que Eros e seu pai se recuperem.
Meu batimento cardíaco acelera quando as pálpebras de Eros tremem e ele abre um pouco os olhos.
— Oi — sussurro.
Ele engole em seco, franzindo levemente as sobrancelhas enquanto me encara.
— Genevieve…? — murmura, rouco.
— Sim. — Pego sua mão, depositando um beijo em seus dedos ainda machucados. — Sou eu.
Eros tenta apertar minha mão, mas ele está sem força.
— Como você está se sentindo? Precisa de algo?
— Não me sinto assim desde a faculdade — ele está balbuciando. — Qualquer que seja a droga que me deram, é boa.
Dou risada.
— Você está bem, então — contesto, ainda sorrindo.
Eros também consegue dar um sorriso fraco, mas logo se desmancha e ele franze mais as sobrancelhas.
— Meu pai…
— Ele está bem. Tudo correu bem.
Ele volta a relaxar.
— Você precisa descansar agora, ok? Você quer que eu chame a enf…
— Não. Fique. — Eros faz outro esforço para apertar minha mão, mas não é necessário.
— Não vou à lugar algum — garanto.
E não estou mentindo. Quando a inconsciência faz seus olhos fecharem outra vez, ponho a poltrona que há aqui perto da cama e volto a segurar sua mão.
💎
Kevin vai ficar com Freya essa noite. Eu pedi a ele, novamente, para fazer esse favor para mim. Liguei para minha mãe para que eu pudesse conversar com Freya. Eu deveria ir em casa e falar pessoalmente com ela, mas Eros não acordou desde a hora que adormeceu e eu disse a ele que ficaria aqui. Eu sei que ele entenderia se eu saísse para ir ver Freya, mas falhei tanto com ele que a ideia de ele acordar e não me ver aqui depois que eu falei que não iria a lugar nenhum, faz meu estômago embrulhar.
— Eu posso ir ver eles? — Freya pergunta. Contei a ela que Eros e Enrico estão "dodói" e que por isso vou ficar aqui no hospital.
— Não sei, meu amor. Se eles estiverem melhor amanhã, talvez. Tudo bem? — Apesar do que falei antes, queria estar lá para pelo menos abraçá-la porque a carinha que ela faz é de partir o coração.
— Eles vão sarar logo? — Quando ela coça o olho, eu sei que está prestes a chorar.
— Vai, sim. Por que você não desenha pra eles? — Sorrio para incentivá-la. — Tenho certeza que eles vão adorar, o que você acha?
— Posso fazer mais de um desenho?
— Quantos você quiser.
Ela fica um pouco animada com isso, mas quando desligamos – depois de mais alguns minutos conversando sobre o que ela e minha mãe fizeram o dia todo – Freya ainda estava tristinha.
Com um suspiro, saio de dentro do banheiro.
Volto para minha poltrona, onde passei as últimas horas. Kate e Anthony convenceram Carlota a ir para casa, e foram com ela também, enquanto Khalil e eu ficamos. O irmão mais velho dos Blackburn está agora com o pai, enquanto eu fico com Eros.
Sem sono, ajeito a coberta de Eros outra vez, mas congelo quando ele se mexe. Será que eu o acordei?
Definitivamente porque agora ele está me encarando.
— Desculpe, não queria acordar você — murmuro.
Eros franze as sobrancelhas, piscando. Ele olha para o quarto e depois para mim.
— A cirurgia… foi bem? — pergunta.
Faz sentido, eu imagino, que ele não se lembre da nossa conversa mais cedo. O médico disse que ele ainda estava sedado.
— Foi, sim — respondo, voltando a sentar. — O médico disse que devemos aguardar as próximas quarenta e oito horas para saber como o corpo do seu pai irá reagir. Anthony e Kate levaram sua mãe para casa, para ela descansar um pouco, mas Khalil ficou. Ele está com o pai de vocês.
Eros anue, suspirando. Como ele passou horas desacordado, imagino que esteja com sede, então pego a jarra ao lado da cama e ponho um pouco de água para ele.
— Aqui. — Seguro o copo próximo a sua boca para ajudá-lo a beber.
A mão Eros cobre a minha enquanto ele bebe e as borboletas em meu estômago volta a ativa. Principalmente quando ele fica olhando para mim, quase sem piscar. Se ele não lembra da nossa conversa mais cedo, não lembra também que me pediu para ficar. Não sei se estou preparada para que ele me mande embora.
— Obrigado — murmura.
Ponho o copo de volta ao lugar e ocupo a poltrona outra vez.
— Você precisa de mais alguma coisa? — pergunto, esperando diminuir a tensão que agora enche o quarto.
— O que você está fazendo aqui? — A pergunta não soa rude, não sei se é porque ele está fraco ou porque não era mesmo sua intenção.
— Peguei o primeiro turno — é uma reposta idiota, mas ele sabe porque estou aqui. Eu não poderia estar em outro lugar com Eros internado no hospital.
Ele não diz nada por um tempo, desviando seus olhos para o teto. Quero passar minha mão por seu cabelo, abraçá-lo ou apenas segurar sua mão, mas me impeço de fazer tudo isso. Abraçá-lo está fora de cogitação, de qualquer modo. O médico disse que ele precisa tomar cuidado para não romper os pontos.
— Você vai voltar para casa?
Volto meus olhos para seu rosto, mas Eros ainda está encarando o teto.
— Você acha que pode me perdoar? — pergunto com a mesma suavidade, mas meu coração está martelando em meu peito agora.
Quando ele demora a responder, começo a me arrepender de ter perguntado.
— Sim — diz finalmente. — Mas não por um tempo.
Mesmo que Eros não esteja olhando para mim, viro o rosto para ele não ver meus olhos marejados.
— Eu entendo — me obrigado a dizer. — Mas até lá… Eu não vou voltar. Não seria a mesma coisa… com nós dois desse jeito. E Freya… você sabe como ela é esperta, ela perceberia que algo está errado. E ela já está passando por muita coisa. Eu simplesmente não posso…
— Eu sei.
Quando olho para ele de novo, Eros já está me encarando. Ele parece tão triste e desolado… Tenho quase certeza que não tem a ver com o motivo de ele está no hospital.
Meu peito dói. É insuportável. E a pior parte é que é tudo culpa minha. Eu só precisava ter dito a verdade. Eu tive medo de como ele iria reagir, mas não cogitei o pior: que eu poderia perdê-lo. Eu acredito nele quando disse que sente muito por tudo o que passei. Sei que ele não gosta menos de Freya agora que sabe de quem ela é filha. Não, o problema aqui é que eu menti para ele. Mesmo eu sabendo o quanto Eros valoriza confiança, eu traí a sua e isso pode ser o fim da nossa relação.
— Preciso te contar uma coisa — Eros quebra o silêncio interminável.
— O quê é? — Pisco para afastar as lágrimas.
— Antes da cirurgia, meu pai me contou que… Olívia teve um filho fora do casamento.
Minhas sobrancelhas se erguem. Minha nossa.
— Eu… Uau. Como você está lidando com isso? — Imagino que não muito bem porque ele não parece feliz.
— Ele também disse quem é.
Eu espero, apesar do meu estômago embrulhar. De alguma forma, sinto que o que ele está prestes a dizer não é algo bom.
— Meu pai disse que é o Tobias.
💎
Oi, galerinha! Tá aí o segundo capítulo da maratona 💓
Oq acharam desse capítulo?
O próximo vai ter mais de 7K, ent se preparem ♥💋
Votem
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: autora.stella
2bjs, môres♥
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro