³⁸|Me conte tudo
Eu odeio ser surpreendido. Todo mundo odeia, eu imagino. Mas o que eu odeio mais é traição e mentira.
— Eu… Isso não é… não é o que parece — Genevieve finalmente fala, gaguejando. Quando olha para mim, seus olhos estão arregalados e ela está pálida.
— Então o que é? — pergunto calmamente quando na verdade minha mente está explodindo de perguntas.
Genevieve não responde, ficando de pé e começando a andar de um lado para o outro enquanto ainda segura as fotos. Suas mãos estão tremendo. Ela parece em choque. Será que ela achou que eu nunca descobriria?
— Eu não sabia que ele tinha essas fotos… — Genevieve sussurra. — Eu não lembro… Eu não sei quando foram tiradas…
— Você espera que eu acredite em você? — minha voz soa dura o suficiente para ela parar e olhar para mim.
— Eu não estou mentindo…
— Tudo o que você faz é mentir para mim! — Estouro. Porra, eu nem sei como consigo estar de pé porque ver essas fotos foi como ter o chão debaixo de mim tirado.
— Isso… Isso não é verdade…
— Então o que é verdade? — pressiono. Meu coração está batendo muito rápido e preciso fechar minhas mãos para pararem de tremer.
— É complicado…
— Complicado? — Dou risada. — É tão difícil para você falar a verdade pelo menos uma vez? — Eu observo as lágrimas que molham suas bochechas. Eu odeio vê-la chorar, por isso vacilo. — Você está tendo um caso com ele?
— Não! Não, claro que não. — Inferno, ela parece estar falando a verdade, mas as fotos contam outra histórias.
Eu não preciso nem dizer isso porque Genevieve também percebe. Ela fecha os olhos, seus braços inertes.
— Ele provavelmente tirou essas fotos quando nós estávamos juntos… na faculdade.
Minha mente fica em silêncio.
Genevieve e Tobias namoraram durante a faculdade.
É claro que sim. De repente, todos os momentos que presenciei os dois juntos fazem sentido. Quando Tobias apareceu na festa de noivado, Genevieve ficou pálida e agiu estranho. Depois, quando o encontramos no elevador, ela teve a mesma reação e quando questionei, ela disse que não era da minha conta. Então teve aquela vez que os peguei na sala de reuniões, a forma como ele estava próximo dela, como estava sempre a chamando de "Jenny", como se tivesse intimidade. Depois o jantar na casa dos meus pais, onde ele não tirou os olhos dela.
— Você disse que vocês tinham esbarrado "uma e outra vez" — recito estupidamente.
— Eu não sabia como contar, eu…
— Você não sabia como me contar? Não sabia abrir a boca e dizer "eu fodi com o seu primo na faculdade"? — Me encolho internamente com a forma que eu falo com ela.
Genevieve fica calada, também se encolhendo. Quero estender a mão para ela e enxaguar seu rosto, mas eu não posso. Não posso porque ela me fez de idiota todo esse tempo. Ela e Tobias. Ele deve ter adorado manter esse segredo todo esse tempo, rindo de mim.
— Khalil tinha razão. — Passo minha mão por meu cabelo, começando a me mover pela sala. Para longe dela, com certeza. — Como foi esse encontro de vocês? Vocês sempre estiveram juntos?
— Não ouviu o que eu disse? Eu não tenho um caso…
— Então o quê? Por quê você não me contou? — Volto-me para ela. Genevieve se cala novamente. Ela parece estar em conflito com alguma coisa. — Mesmo agora você ainda esconde coisas de mim.
— Eros…
— Você o ajudou a roubar a empresa? — me dói perguntar isso, me dói porque isso significa que meu irmão estava certo, que eu sou um idiota.
O total horror no rosto de Genevieve quase faz eu me arrepender de ter perguntado.
— Não! Absolutamente não! Como você pode pensar algo assim?!
— Eu não sei, cacete! — Estendo meus braços, deixando-os cair em seguida. — Você pode me culpar? Quantas coisas você não escondeu de mim? Quantas outras você esconde? Por que mesmo agora, mesmo com essas fotos, você não consegue me dar uma explicação? Por que seria tão complicado dizer que você e Tobias…
— Porque ele é o pai de Freya! — ela grita de volta e a minha mente fica em silêncio outra vez.
Há um zumbido em meu ouvido quando processo as suas palavras.
Tobias é o pai de Freya.
Tobias, meu primo que me detesta, que é cruel e um desgraçado, é pai daquela menina doce e alegre que eu me apeguei tanto nos últimos meses.
— Eu queria te contar — Genevieve volta a falar, sua voz baixa. — Juro, mas…
— Mas você não contou — interrompo-a, erguendo meus olhos para ela.
Genevieve diminui a distância entre nós. Mais lágrimas deixam seus olhos, e há dor neles. Como provavelmente a nos meus também.
— No início, quando fui trabalhar na Blackburn Empire, eu achei que não tinha porque contar…
— E depois? — Dou um passo para trás, longe do seu toque. Sinto uma dor estranha em meu peito e ficar perto dela só piora tudo.
Genevieve se encolhe outra vez.
— Eu estava esperando o momento certo…
— O momento certo? — incrédulo, é como estou. — E quando seria isso?
— Eu não sei, tá legal?! — Genevieve estoura também. — Muitas coisas aconteceram e eu não sabia como você reagiria…
— Não. Você não confiou em mim. — Tento não deixar minha mágoa transparecer em minha voz, mas falho. — Mesmo depois de tudo. Depois de ontem, depois das coisas que confessamos um ao outro, que eu confessei a você, você ainda não confiou em mim!
— É claro que eu confio em você, eu só…
— Confia? Tudo sobre você, eu descobri por acidente. Sobre Freya, sobre o Bruno, sobre a boate — despejo, cansado, magoado. Eu me sinto traído, enganado…
— E você pode me culpar? — Genevieve joga as fotos no chão em um ato irritado. Vê-la desse jeito só está acabando ainda mais comigo. — Eu contei a você, contei tudo o que ele fez. Eu não poderia confiar em você no primeiro momento porque quando me entreguei cem por cento a alguém, fui subjugada e humilhada. Eu não estou dizendo que justifica esconder isso de você, principalmente agora, mas você não pode me culpar.
Eu não digo nada. Eu realmente não posso porque sei que ela está certa. Pior: apenas agora percebi algo. Tobias é o "ele" a quem Genevieve se refere sempre que fala do passado. Ele é o cara abusivo que a controlava, que a diminuía e que a abandonou quando ela estava grávida.
— Você diz que não confiei em você antes — Genevieve continua, alheia a raiva que cresce em meu peito —, mas isso não é verdade. Eu confiei Freya a você. Várias vezes. E ela é tudo para mim, você sabe disso.
— Eu sei.
Mas mesmo sabendo disso, mesmo sabendo que ela confiou em mim o seu mundo, não posso deixar de sentir isso, essa mágoa que cresce junto com a raiva — o último direcionado a Tobias e não a Genevieve. Eu me sinto idiota também, por todas às vezes que falamos do pai de Freya e eu não fazia ideia que ele estava tão perto.
Algumas outras coisas começam a fazer sentido, como porque ele falou aquelas coisas a Freya. Se Tobias não fosse tão ruim, se seu problema fosse apenas a nossa rivalidade… Mas ele é ruim, cruel. Ele teve coragem de mentir para Freya, de causar dor a ela. Como ele pôde? Quando ele era apenas meu primo, isso já era horrível, mas ele sendo pai dela, não consigo entender como ele foi capaz de causar tamanha apreensão à própria filha.
— Diga alguma coisa — Genevieve pede. Ela ainda está chorando, sua expressão pura agonia.
Eu balanço minha cabeça e volto a me sentar no sofá, cotovelos apoiados nos joelhos.
— Me conte tudo — peço.
Genevieve senta ao meu lado.
— O que você quer saber?
— Tudo — repito.
Com um suspiro, ela conta.
Eu ouço atentamente, me perguntando como pude ter sido tão cego. Genevieve conta sobre a primeira vez que eles se encontraram depois da faculdade, no jantar de noivado, como ele a encurralou no banheiro da casa dos meus pais. Depois no banheiro da empresa. Ela conta sobre a vez que quase foi embora, me diz que o motivo na verdade foi que Tobias entrou com o pedido de DNA. Genevieve também fala sobre a breve conversa na casa dos meus pais; quando o confrontou no quarto de hotel, e a última vez que viu ele, quando foram fazer o teste de DNA.
Apesar da mágoa, da dor em meu peito por ter sido enganado esse tempo todo, a raiva que sinto por Tobias fala mais alto. A última vez que eu fiquei com uma raiva tão cega, foi há três anos. E mesmo naquela época, o sentimento não era tão forte quanto o que sinto agora. Tobias machucou pessoas importantes para mim, ele colocou terror psicológico nelas.
— Eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso sozinha — digo com sinceridade.
Genevieve chega mais perto, tocando meu braço.
— Eros…
— Não. — Levanto. Seu toque me lembra de ontem, de tudo o que confessamos um ao outro. Eu acreditei que estávamos sendo sinceros, que foi um momento especial. Mas essa omissão dela levanta questões sobre o que mais ela poderia estar escondendo de mim, apesar de eu acreditar em tudo o que ela contou.
— O que acontece agora… com nós dois…?
Eu não sei. Eu quero dizer a ela que está tudo bem, que eu entendo, porque realmente entendo, mas também não consigo me livrar do sentimento de traição e mágoa que espreita em meu coração.
— Eu preciso de um tempo. — Fico de pé e pego minhas chaves.
Genevieve também levanta, se pondo em meu caminho.
— Por favor, não faça isso. Não me afaste. — A dor em seus olhos é insuportável e odeio ser o motivo de ela estar lá.
— Você me afastou com as suas mentiras — não consigo me impedir de dizer, mesmo quando ela se encolhe novamente. Expiro, fechando os olhos. — É melhor se eu for. Você sabe que sim.
Quando abro os olhos, Genevieve está abraçando o próprio corpo, assentindo. As lágrimas ainda descem por suas bochechas, mas ela não me impede mais quando sigo meu caminho.
Não olho para trás quando passo pela porta.
💎
Descanso minha cabeça contra o assento do carro, fechando os olhos.
— Depois de America… você nunca tinha se apaixonado de novo? — Genevieve pergunta depois de algumas horas.
Estamos na minha cama, com o corpo dela em cima do meu. Eu tenho recusado dormir para aproveitar o máximo dela aqui, nos meus lençóis, nos meus braços. Eu quis isso mesmo antes de perceber que estava apaixonado por ela.
— Não — respondo sua pergunta, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha. Ela está com o queixo apoiado em seu braço, que está em meu peito.
— E você nunca namorou? — Seu indicador está traçando uma tatuagem em meu peito, e eu estremeço levemente.
— Não. Apenas sexo casual.
Genevieve faz uma careta.
— Eu não quero detalhes.
Dando risada, troco nossas posições, ficando por cima dela.
— Eu detectei ciúmes na sua voz? — Arqueio a sobrancelha. Genevieve revira os olhos, mas suas bochechas estão rosadas.
— Claro que não. — Seus olhos ganham um brilho malicioso e ela abraça meu pescoço, sorrindo. — Por que eu iria me importar com elas quando você é só meu agora?
Porra, ela está certa. E sabe disso.
— Serei seu até quando você me quiser — digo suavemente, mas com sinceridade. — E mesmo quando você não me quiser mais, continuarei sendo seu.
O seu olhar ao mesmo tempo que me deixa duro, também faz aquele sentimento crescer mais em meu peito.
— Eu nunca vou deixar de querer você — Genevieve sussurra, acariciando minha bochecha. — Também serei sua até quando você me quiser.
— Meu amor, o dia em que eu não quiser mais você, será apenas quando eu estiver morto.
Genevieve sorri, tão linda que fico sem fôlego, antes de me beijar.
Eu havia esquecido como é estar apaixonado. Para ser sincero, acho que nunca estive tão apaixonado como agora. O que sinto por ela é diferente de qualquer coisa que já senti. Isso é assustador, mas maravilhoso ao mesmo tempo.
Abro os olhos, afastando as turvas memórias de ontem.
Apesar da dor em meu peito ser angustiante, não me arrependo das coisas que disse a Genevieve ontem, quando estávamos na nossa bolha. Eu fui sincero com ela, abri meu coração como não fazia em muito tempo, e mesmo que doa agora, ainda não me arrependo.
Não fui eu que errei, é o que fico dizendo a mim mesmo quando tenho vontade de ligar para ela e saber como está. Eu desliguei meu celular por esse motivo, mas graças ao meu relógio, sei que são 01h43. Faz quase cinco horas que saí de casa, quase cinco horas que estou bebendo.
As pessoas cometem o erro terrível de descontar seus problemas e frustrações no álcool, e eu não sou diferente. Uma parte do meu cérebro me lembra que não posso beber assim, que se eu continuar, há grandes chances de eu não me lembrar de absolutamente nada do que aconteceu essa noite, mas mesmo sabendo disso, viro a garrafa de whisky na boca, esvaziando a coisa. Há mais três jogadas no chão do carro, e algumas garrafas de cerveja também.
Estou prestes a pegar uma garrafa – cheia – de cerveja da caixa em cima do banco do passageiro, quando meus olhos turvos batem no homem saindo de um táxi, na frente do hotel.
Loiro, vestido de modo impecável e com uma mulher enganchada em seu braço.
Após duas horas esperando na rua do outro lado, Tobias finalmente apareceu.
Só percebo que saí do carro quando o vento gelado da madrugada me atinge. Eu atravesso a rua sem olhar para os lados e um som estridente corta o ar quando um carro freia, o motorista buzinando e xingando em seguida. Não lhe dou atenção. Tudo o que consigo ver é Tobias, agora caminhando para a entrada do hotel. Ele para quando ouve toda a confusão da buzina, mas eu chego nele antes que tenha a chance de perceber minha presença, puxando seu ombro e lhe dando um soco.
A mulher que estava com ele, grita, se afastando, mas já estou socando meu querido primo de novo.
— Filho da puta! — Tobias cambaleia, olhando para mim com os olhos arregalados.
Ah, eu certamente o peguei de surpresa.
Vou para cima dele de novo, pegando-o pelo colarinho e lhe acertando de novo e de novo.
Em algum momento, ele vai parar no chão, mas eu não paro meu punho. Tudo o que vejo é Genevieve chorando; o som da sua voz quando ela me conta sobre "ele" no nosso jantar; todas as coisas que ele lhe fez; como ele fez Freya chorar.
— Você é um desgraçado — rosno em seu rosto agora ensanguentado. — Da próxima vez que você chegar perto delas, eu mato você. Está me ouvindo?
Tobias tosse, mole no chão.
— Vejo que você recebeu o envelope — ele consegue murmurar com os lábios vazando sangue. — Gostou das fotos? Ela estava tão deliciosa aquele dia…
Calo sua boca com outro soco. Então mais outro, e outro, até que eu perco a noção de tudo ao meu redor e tudo o que importa é acabar com a vida desse filho da puta por tudo o que ele fez com elas.
— Você nunca será o pai dela — digo. Talvez eu esteja gritando. Em algum lugar, mãos e braços estão tentando me tirar de cima do homem semi-inconsciente. — Você nunca irá merecer nenhuma das duas!
Enquanto homens que nunca vi tentam me puxar para longe, Tobias abre os olhos inchados e dá um sorriso zombeteiro.
— Eu vou tirá-las de você…. Primeiro a filha, depois a mãe… E vou aproveitar cada momento do seu sofrimento… e dos delas também.
— Eu vou matar você, seu pedaço de merda! — Solto-me dos homens que estavam me segurando. Não vou muito longe porque eles me pegam de novo, mas começo a chutar Tobias.
— Senhor, pare com isso! O senhor está pres… — Ele nunca termina de falar porque lhe dou uma cotovelada na boca e outra na barriga do outro que também estava me detendo.
Nenhum deles entendem quem Tobias é. Não o conhecem e por isso não sabem todo o mal que ele fez e do que mais ele é capaz.
Cego por esses pensamentos, alcanço Tobias novamente e consigo lhe dar mais socos antes que meus braços sejam puxados para trás e eu seja jogado no chão.
— Me soltem! — grito, me contorcendo, mas é inútil.
Meus pulsos estão agora algemados e dois homens estão me levantando. Um deles diz:
— Você está preso por lesão corporal e desacato. Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal…
Eu perco as próximas palavras do policial quando ele me põe dentro da viatura e fecha a porta.
💎
Há uma rachadura no teto que fico encarando por vários segundos. É uma rachadura muito grande e fico me perguntando como isso ainda não desabou.
Volto a fechar os olhos, os últimos acontecimentos vêm à minha mente. Pedaços de memória, na verdade. O gosto de whisky e cerveja está grudado em minha boca, prova do meu descontrole, e minhas mãos estão doloridas. Eu fecho e abro minhas mãos, não me importando com a dor. A dor me lembra o que eu fiz ontem.
Com isso, sento no banco, o mundo girando por um segundo. Faço um esforço para não pôr para fora o que está em meu estômago. Eu inspiro e expiro algumas vezes para conseguir me conter, mas no fim, consigo não vomitar. Não é a primeira vez que me encontro numa situação dessas.
Abro os olhos outra vez e a cela da prisão me dá um "olá".
Não sei quantas horas passou, mas tenho certeza que apaguei…
— A bela adormecida acordou.
Olho para o policial do lado de fora. Ele tem um hematoma no rosto.
— Eu tenho direito a uma ligação — falo. Minha voz está tão rouca que arranha minha garganta.
— Não gostou das nossas acomodações? — O idiota ri. Eu não lhe respondo e ele resmunga mais alguma coisa antes de abrir a cela.
Não reclamo também quando ele põe algemas nos meus pulsos e me empurra pela corredor.
Espero que esse hematoma em seu rosto tenha sido eu que fiz.
Depois de fazer minha ligação, sou jogado de volta na cela, com mais comentários que faço questão de ignorar.
Felizmente, uma hora depois, outro policial me tira da cela e me leva até uma sala com uma mesa e duas cadeiras. E com um homem negro, alto, vestido em um terno verde escuro.
Anthony olha para mim, mas não diz nada até eu estar sentado na outra cadeira, de frente para ele. Eu só podia fazer uma ligação e preferi ligar para meu irmão.
— Você está uma merda — ele observa.
— Obrigado pela observação. — Suspiro, colocando meus cotovelos na mesa e esfregando meu rosto com minhas mãos. Porra, eu preciso de um banho.
— Eles poderiam ter tirado as algemas, pelo menos — Anthony comenta com desgosto. Eu concordo, mas não reclamei quando o policial me algemou antes de me trazer.
— Você falou com a Genevieve? — Abaixo minhas mãos.
— Não…? Eu deveria? O que aconteceu, afinal?
Engulo em seco – com dificuldade porque minha garganta está mais seca que o deserto do Saara – e desvio do seu olhar.
— Nós brigamos e eu saí. Você poderia checá-la, sim? — Eu não acho que vou ficar aqui por muito tempo, mas preciso saber se ela e Freya estão bem.
— Claro. — Sinto que Anthony quer perguntar mais sobre isso, mas ele suspira. — Já falei com a advogada da família. Você foi preso por lesão corporal e desacato. Tobias fez um B.O. Ele disse que você o ameaçou de morte… e quer entrar com medida protetiva. Contra você.
Pela primeira vez nessa manhã, dou risada.
— Além de filho da puta, ainda é covarde? — pergunto, enxugando meus olhos.
— Você quase o matou, Eros. Eu vi as fotos do laudo. Tobias está quase irreconhecível. Fora as duas costelas quebradas. Você terá sorte se sair daqui hoje.
— Quase. Infelizmente ele ainda está vivo. — Olho para minhas mãos, flexionando meus dedos machucados. Não sinto nenhum arrependimento.
— Eros. Você pode ficar um ano preso.
Isso leva meus olhos de volta para Anthony. Ele está preocupado. Comigo. Porra.
Respiro fundo e tento colocar minha mente no lugar. Apesar de não me arrepender do que fiz a Tobias, não quero ficar um ano preso.
— Me conte tudo o que aconteceu. Por que você quase o espancou até a morte?
Penso por um momento se devo contar toda a história a ele, mas não é minha história para contar. Pelo menos não tudo, então conto apenas o resumo: Tobias e Genevieve namoraram; Tobias foi um filho da puta durante todo o relacionamento; Tobias é o pai de Freya. Sem muitos detalhes.
Quando termino, Anthony está piscando, desacreditado.
— No seu lugar, eu teria feito o mesmo com ele — diz.
Bom, pelo menos concordamos em alguma coisa.
💎
Eu passo um dia inteiro na delegacia.
Não vou mentir, achei que me livraria dessa bem mais rápido, mas não é o que acontece. Aparentemente Tobias está… "dificultando" as coisas para mim. Nossa advogada disse que ele tem contatos, e como não sou réu primário – cometi pequenas infrações na época da faculdade –, agredi dois policiais no meu "estado de fúria" ontem, o juíz pode negar a fiança.
Ainda não falei com meus pais. Eu pedi a Anthony que não os deixassem vir aqui. Ele disse que Khalil está cuidando disso. Isso pode significar que nosso irmão mais velho está mantendo nossos pais trancados em casa contra a vontade deles ou inventou alguma história. Tudo é possível com ele. Porém, estou grato. Minha família não merece passar por isso de novo.
— Ei, sabia que você tá famoso? — Aquele mesmo policial de antes vem me perturbar outra vez. — Alguém filmou seu ataque. Tá na internet.
Eu já havia imaginado, mas ainda é como um soco no meu estômago.
Será que Genevieve viu isso? Ela nunca me julgou pelo o que fiz há três anos. Entretanto, naquele dia foi apenas o carro de Noah que eu destruí. Hoje – ou ontem? – eu quase matei um homem.
Não importa quantas vezes eu diga que não sou um homem violento, o destino parece sempre me fazer mostrar o contrário.
Eu estava bêbado, mas sabia o que estava fazendo quando dei o primeiro soco em Tobias. Eu deveria estar preocupado com a repercussão que isso vai tomar, mas as únicas pessoas que me importam são minha família, Genevieve e Freya.
Eu não havia percebido que o o policial saiu, mas ele volta e dessa vez está abrindo minha cela.
— Parece que você está com sorte hoje.
Não sei do que ele está falando, mas saio da cela, ficando surpreso quando ele não me algema. Deve ser um bom sinal, então não questiono.
O policial me leva novamente até aquela sala que conversei com Anthony e depois com a advogada.
Porém, não é nenhum dos dois que está me esperando nessa sala. O policial anue para o outro homem no cômodo e depois sai, fechando a porta.
Encaro o homem mais velho com desconfiança. Ele deve ter a idade do meu pai, usando terno escuro. Ele me parece familiar, mas enquanto encaro seu rosto – seu rosto limpo de barba, cabelo perfeitamente arrumado e olhos azuis – não sei de onde posso conhecê-lo.
— Eros Blackburn — o homem diz, também me olhando de cima a baixo. Depois de um dia inteiro na cadeia, não estou no meu melhor momento. — Devo te agradecer. Foi a primeira vez em seis anos que falei com a minha sobrinha.
Eu assisto o noticiário, às vezes. Fazia mais isso quando as meninas não moravam lá, mas uma vez vi um homem fazer um pronunciamento sobre a morte de um jovem que tinha morrido enquanto estava na custódia da polícia.
— Phillipe Reckeeles — digo, finalmente reconhecendo-o.
O chefe de polícia de Chicago.
— Lamento que temos que nos conhecer nessa… situação. — Phillipe indica a sala.
Não digo nada, esperando.
Phillipe suspira.
— Ela disse que você é um homem de poucas palavras.
— Genevieve mandou você? — Isso me interessa.
Ele semicerra os olhos e até penso que vai dizer algo como "ninguém manda eu fazer nada", mas por fim, diz:
— Sim, ela pediu para eu intervir no seu caso.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que você é um filho da puta sortudo e que eu tenho muito carinho pela minha sobrinha, o suficiente para livrar sua bunda.
Meus ombros relaxam e eu solto um suspiro.
— Obrigado — digo.
— Agradeça a Genevieve.
Antes que eu tenha a chance de sair, Phillipe volta a falar:
— Eu vi o que você fez com aquele cara. Saiba que da mesma forma que estou livrando você agora, posso fazê-lo apodrecer na cadeia.
Eu sou rápido em ler nas entrelinhas e não gosto nenhum pouco da sua insinuação.
— Eu nunca a machucaria — digo, minha voz firme e letal.
Phillipe não se abala, porém, ao dizer:
— Eu acho bom.
Nos encaramos por alguns segundos antes de eu lhe dar as costas e sair da sala.
💎
Pedi para Anthony pegar meu carro onde eu deixei – por um milagre não foi roubado – mas isso significa que precisei pegar um táxi para chegar em casa.
Liguei para meus pais enquanto vinha para casa, para tranquilizá-los. Eles ainda não sabem exatamente o que aconteceu, o que me motivou a quase matar o meu primo, mas prometi contar depois. A verdade é que não sei se devo contar isso a eles. Contei a versão resumida a Anthony e a advogada, mas porque eles precisavam saber para poderem me tirar da cadeia. A história com meus pais é diferente e é decisão de Genevieve contar.
Quando entro em casa, sou recebido pelos cachorros e… por Kate.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto ao vê-la. Eu também disse a Anthony que não deixasse ela ir na delegacia.
— Alguém precisava alimentar os cachorros — ela responde, meio hesitante.
Só então percebo que a casa está quieta demais, tirando o barulho dos cachorros.
Genevieve e Freya não estão à vista e se Kate não estivesse aqui, eu iria presumir que mãe e filha estavam no quarto ou lá fora, ou em qualquer lugar que justificasse não haver rastros delas.
— Onde elas estão? — pergunto a Kate.
— Eu sinto muito. Genevieve apenas deixou uma…
Eu não ouço suas palavras, subindo as escadas para o andar de cima. Elas têm que estar aqui. O rugido em meus ouvidos quase me impede de pensar e tudo o que consigo fazer é forçar minhas pernas a andarem até o quarto delas.
Mas quando chego lá, paro na porta, olhando para o quarto vazio. Não apenas elas não estão aqui, mas suas coisas sumiram. Os brinquedos de Freya não estão espalhados pelo chão nem a estante pequena de Genevieve está lá. Nem as roupas delas estão no closet, quando entro no cômodo para verificar.
Porra. Porra. Porra. Porra.
Há um bilhete em cima da cama, e eu pego, sentindo meu coração acelerado enquanto leio o que está escrito.
"Sinto muito. Não queria sair desse jeito, mas acho que é melhor assim. Você estava certo ontem, quando saiu. E pensando nisso, fiz o mesmo.
Isso não é um fim para nós, mas talvez uma pausa.
Ass: Genevieve."
💎
Demorou mais saiu!
O capítulo mais esperadoooooooooo. Oq vcs acharam do Eros finalmente descobrindo a vdd? Concordam com a reação dele??
Espero que tenham gostado!
Vou tentar postar sexta💋
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2bjs, môres♥
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