¹¹|Glacê cor de rosa
Já estou habituada com o humor azedo de Eros, mas ainda xingo ele mentalmente por me deixar sozinha com essas pessoas. Mesmo quando ele fica silencioso ao meu lado ou dando respostas monossilábicas, sua presença ainda é um pouquinho reconfortante.
Para minha sorte — ou azar — avisto Lorelei. Está linda como sempre, em um macacão verde e estiloso, usando tranças no cabelo. Não nos falamos desde aquele dia no banheiro, já que não nos esbarramos na empresa.
Numa última tentativa, tento ver para onde Eros foi, mas não o vejo mais, nem Anthony, porque se Lorelei está aqui, o irmão mais novo dos Blackburn também, mas não o encontro. Desejando sorte a mim mesma, peço licença as duas mulheres que estavam puxando conversa comigo e me aproximo de Lorelei, sozinha e com um olhar entediado.
— Oi! — cumprimento com um sorriso. Seus olhos me avaliam antes de ela me dar um aceno. — Isso não é para ser um almoço? Já passa das duas da tarde.
— É só uma desculpa pra gente rica fofocar — Lorelei me surpreende ao falar. Eu estava esperando ficar conversando sozinha.
— Verdade. — Dou risada, olhando em volta para as pessoas fazendo exatamente isso. — Ei, você veio com o Anthony?
— Por que a pergunta? — A mulher franze as sobrancelhas para mim.
Encolho os ombros.
— Onde você vai, ele vai atrás. — Sinto-me mal por falar assim de Anthony, mas é verdade.
Lorelei suspira, demorando um tempo para responder, até que diz:
— Ele veio.
Mais nada. Às vezes acho que ela se parece com Eros até demais. Não sei muito sobre Lorelei além de que começou a trabalhar na empresa há dois anos e era casada até então. Ela é totalmente profissional no trabalho e nunca fala da vida pessoal com ninguém, mas alguém reparou quando ela parou de usar aliança e essa pessoa contou para alguém, que contou para alguém… e assim por diante. Então tudo que sei é que além de ela ter uma personalidade difícil — ou talvez eu apenas não a conheço direito — é uma ótima profissional e divorciada.
— Então… como vai a vida amorosa? — arrisco. — Sei que você disse que o que dizem de você e Anthony é só boatos, mas…
— Não tem "mas" — Lorelei me corta. — Não envolvo o profissional com o pessoal. Acho extremamente antiético.
Ok, entendi.
Não tento mais puxar assunto, pois eu estou estranhamente pacífica.
Checo meu celular ao invés disso, vendo que não tenho nenhuma mensagem de Kate, o que deve significar que está tudo bem, mas mando uma mesmo assim.
Tudo bem por aí?
Morar com Eros tem sido uma experiência boa até agora. Achei que isso poderia afetar a nossa dinâmica profissional, mas eu só lembro que estou morando com ele, quando vamos embora da empresa juntos. Tentei dizer várias vezes que não é necessário que ele leve ou busque Freya, mas ele nem me ouve mais ou parece incomodado.
Freya se adaptou muito bem a tudo, e isso me preocupa mais do que me deixa tranquila. Não sei qual será sua reação quando precisarmos ir embora, quando ela já parece amar aquela casa e brincar com os cachorros. Eu sei que ela gosta que tenha mais espaço para poder brincar e do ar condicionado ou da cama grande, e me dói que não poderei dar o mesmo a ela. Pelo menos não no próximo ano.
Tudo certo, é a resposta de Kate. Ela é a coisa mais fofa desse mundo, Gen!
Não é nada anticoncepcional cuidar dela.
Mando emojis de uma carinha rindo e agradeço a ela mais uma vez por ficar com Freya. Foi bem em cima da hora, mas eu não confiaria minha filha a mais ninguém assim, e Kate, apesar do meu rápido resumo, entendeu. Freya, felizmente, não teve problemas também.
— Parece que teremos uma reunião familiar — Lorelei diz de repente e eu guardo meu telefone na bolsa, seguindo seu olhar.
Meu corpo congela quando encaro as quatro figuras que acabaram de chegar. Parece até um déjà vi daquele jantar na casa da família de Eros, mas ao invés de Tobias, são meus pais, minha irmã e seu marido que estão cumprimentando as pessoas, como se fossem membros da realeza.
Eu sempre odiei ter os olhos do meu pai, ter que me olhar no espelho e vê-lo me olhando e me julgando. A última vez que nos vimos, aqueles olhos estavam repletos de reprovação e desgosto.
— Eu não te criei para que virasse uma vagabunda e nos envergonhasse dessa forma! — Papai gritou comigo, furioso e enojado enquanto olhava para mim.
Com minhas mãos, protegi minha barriga, meu bebê de apenas três meses.
— Pai, p-por favor — sussurrei, lágrimas molhando meu rosto. — Eu não tenho mais para onde ir.
— Você não fez esse filho sozinha, fez? Então corra para o seu homem e mande ele resolver isso, porra.
Me encolhi com a sua agressividade. Ele sempre foi severo e controlador com Emma e eu, mas nunca houve gritos. Papai prefere manter a voz firme e rude, do que gritos e palavrões. Para estar se comportando assim, deve estar muito irritado comigo.
— Ele acha que o filho não é dele — falei, lembrando de como Tobias me expulsou de seu apartamento, dizendo que não cairia nesse "golpe".
— Que ótimo, nem o homem que te fodeu quer alguma coisa com você. O que te faz pensar que eu vou acolhê-la?
— Eu sou sua filha.
Papai riu antes de ir até a mesinha e pegar um charuto. Encarei mamãe, que observava toda a cena. Eu sei que ela queria intervir, seus olhos demonstram sua devastação, mas ela permaneceu quieta, como fez a vida toda.
— Tudo bem — papai disse de repente, agora com um charuto na boca. Tentei não recuar quando ele se aproximou. Estava todo engravatado, como sempre, o cabelo castanho no lugar e o andar de quem pode tudo. Eu sempre odiei.
— Irá me deixar ficar? — desesperada. Estava muito desesperada e se ele não deixasse...
— Uma condição. — Aqueles olhos azuis me encaravam como se pudessem ferir minha pele. Assenti. Eu faria qualquer coisa se isso me permitisse ficar… — Tire o bebê.
— O quê? — sussurrei.
— Eu tenho uma reputação. Nossa família tem e não vou deixar você estragar isso com seu bastardo errante.
— Adrien. — Mamãe deu um passo à frente, mas parou quando meu pai olhou para ela.
— Tem algo a acrescentar? — seu tom de voz sugeria que ela não devia abrir mais a boca. E é isso que ela fez, dando-me um olhar de desculpas.
— Papai… Eu não… Eu não posso tirar o meu bebê. — Comecei a negar, pois isso nunca foi uma alternativa para mim. Eu não queria ser mãe tão cedo, mas esse bebê já fazia parte de mim. — Qualquer outra coisa… Eu juro…
— Saia — foi a sua resposta.
— Não…
— Para fora! Esqueça essa família, esqueça que um dia foi nossa filha. Você está morta para nós, Genevieve. Você e essa criança podem morrer de fome, porque não receberão um tostão do meu dinheiro.
A cada palavra, uma faca parecia se enterrar em meu estômago. Cheguei a pensar que podia estar perdendo o meu bebê, mas era a dor do abandono do meu pai, da minha mãe, que me fez cair de joelhos.
— Por favor — sussurrei, as lágrimas correndo como rios por minhas bochechas. — Eu estou implorando.
— Adrien, talvez devêssemos… — minha mãe não terminou e eu não precisei olhar para saber que meu pai lhe deu um daqueles olhares mortais.
Um forte aperto em meu braço me pôs de pé e começou a me arrastar para longe, mesmo que eu resistisse, implorando.
O que faria? Para onde iria? Como criaria meu filho sozinha?
Mas papai não se importou com isso ao abrir a porta da mansão, me colocar para fora, sem se importar que estávamos no início do inverno e estava frio e eu não estava protegida da estação.
Não, Adrien Prescott apenas bateu a porta na minha cara e me deixou sozinha.
Pisco várias vezes até a lembrança desaparecer e eu sair da névoa do passado. Isso foi há seis anos e eu ainda sonho que estou sendo jogada na sarjeta pelo homem que me criou e depois me jogou fora quando julgou que eu não tinha mais valor para nossa família. Imagino que não, já que os planos dele com certeza era me casar com um homem rico, como fez com Emma.
Engulo em seco, endireitando os ombros. Papai não me quebrou anos atrás, apesar dos seus esforços e não irá agora.
Eu observo os quatro que um dia foram minha família se aproximarem. Emma e eu temos os mesmos cabelos castanhos-avermelhados e os mesmos olhos azuis, mas minha irmã usa sua beleza como arma, enquanto eu não faço muito para realçar a minha. Com o braço entrelaçado ao de Stuart — seu marido, um britânico que fez alguns investimentos com papai antes de se apaixonar por Emma — ela finalmente me nota e eu vejo o vacilar em sua expressão. Desvio os olhos para mamãe.
Foi dela que puxamos os cabelos vermelhos. Mamãe ainda é jovem, se casou cedo e ela não parece ter quarenta, com o corpo esbelto, não muito mais alta que eu e Emma, mas ainda pequena em comparação ao nosso pai. Ele é alto, magro e com alguns fios brancos entre os castanhos de seu cabelo. Papai ostenta uma expressão severa enquanto olha em volta, até que finalmente seus olhos frios travam com os meus.
Permaneço com o queixo erguido e os ombros retos, apesar da vontade de curvá-los diante do peso do olhar desse homem. Dos seus olhos que infelizmente minha filha herdou.
Sinto uma mão em minha lombar no mesmo momento que a carranca de papai se aprofunda.
— Cheguei bem a tempo da diversão — Eros murmura ao meu lado ao mesmo tempo que Lorelei vai embora.
Quase suspiro de alívio, me sentindo idiota ao mesmo tempo por me sentir um pouco melhor que ele esteja aqui.
Minha família se aproxima, mamãe imitando Emma, de braço dado com o marido, mas seus olhos são quase tristes quando me encaram e eu suavizo minha expressão. Eu sei que nada justifica uma mãe abandonar um filho, mas não consigo odiar mamãe por ela ter deixado o marido me expulsar de casa, por não tê-lo enfrentado. Ela estava coagida e fez o possível depois, de qualquer forma.
— Genevieve, Eros, ficamos sabendo da novidade — papai cumprimenta, arqueando a sobrancelha com deboche para mim. — Parece que jogá-la na sarjeta não foi a pior coisa que te aconteceu. Você correu diretamente para o bueiro dos Blackburn.
— Pai — Emma tenta repreendê-lo, mas papai a ignora como se ela fosse uma mosca chata em seu ombro.
— Sem bajulação, Adrien? — Eros provoca com seu sutil veneno.
— Por que eu me daria o trabalho? Minha filha parece estar se saindo bem, se você a prendeu em sua coleira.
— Agora eu sou sua filha? — pergunto, inexpressiva.
— Você se tornou útil outra vez, então não vejo mal em lhe devolver seu lugar em nossa família.
O aperto que mantenho em minha bolsa faz meus dedos doerem, mas não deixo que eles vejam a dor ou a raiva que borbulha por baixo da minha expressão fria.
— Você nem mesmo sabe o que significa uma família.
— Você não reclamava tanto assim quando eu pagava seus estudos e seus caprichos — papai devolve.
— Adrien, por favor — minha mãe murmura, apertando o braço do marido.
Papai está prestes a replicar, com certeza algo para humilhar a esposa, quando um garçom vem até nós.
— Com licença, mas a mesa de vocês está pronta.
Fico encarando o garçom enquanto a realidade bate em mim. Iremos nos sentar juntos. Eu não tenho uma refeição com a minha família há séculos e agora teremos que simplesmente sentar e fingir que amamos uns aos outros.
Ser noiva de Eros está me custando mais do que eu tinha concordado em oferecer.
Ao meu lado, ele parece adivinhar isso, pois aperta levemente minha cintura como se estivesse me consolando.
Afasto-me dele e sigo para a mesa.
❦︎
Mamãe e Emma tentam quebrar o silêncio desconfortável em nossa mesa falando sobre moda ou suas amigas — as quais não conheço, obviamente — enquanto Eros, papai e eu permanecemos apenas ouvindo. Stuart parece estar em um relacionamento de longa data com seu celular e não se importa com mais nada. Tenho a impressão que ele não é só assim em eventos, mas dizer a minha irmã que seu casamento é um fracasso não é minha obrigação. Já tentei uma vez.
Finjo que a comida é a coisa mais interessante que eu já vi e não faço contato visual com ninguém, apesar de sentir a atenção de todos na mesa — menos Stuart — em mim. Eu não sei porque Eros está me encarando, mas quero pedir que ele pare, mas não faço porque seria estranho, já que somos noivos e tal.
Sem querer, meu olhar colide com o de mamãe. Ela sorri e esse gesto está carregado com desculpas, arrependimentos e tristeza. Sempre vai me magoar que ela tenha escolhido o marido ao invés da sua filha, mas isso também é culpa de papai, ele conseguiu fazê-la acreditar que ela não seria nada sem ele. Mamãe nunca trabalhou, foi sempre a dona de casa perfeita que esperava o marido voltar para casa. Ele se ressente dela porque lhe deu duas filhas e nenhum menino. Mamãe não pôde mais engravidar depois que eu nasci. Alguma complicação no parto. Então ele jogou mais isso nela: que até para lhe conceber herdeiros, era inútil. Ele a fez ser dependente dele em tantos sentidos que eu não sei se ela ainda se vê como uma pessoa de verdade ou só um acessório para o marido.
E eu odeio Adrien ainda mais por isso.
— Então, como isso aconteceu? — o mesmo quebra o silêncio, apontando para Eros e eu com o garfo.
— Não é da sua conta — digo, minha voz monótona, tentando esconder a raiva fria que corre por minhas veias.
— Onde está a bastardinha?
Um garfo cai no prato. Pelo canto do olho, vejo Eros se recostar em sua cadeira, seu olhar em meu pai.
— Fiquei sabendo que ela gosta de fazer balé, igual você. — Adrien continua.
Seguro os talheres em minhas mãos com força. Eu nunca disse isso a ele e não há como ele saber...
Olho para mamãe. Ela deve ler a pergunta em meu olhar, pois balança minimamente a cabeça, assustada.
Emma.
— Como você pôde? — pergunto baixinho a minha irmã que está sentada ao meu lado.
— Não é nada demais — minha irmã devolve, mas está trêmula.
— É a minha filha.
— Não culpe Emma, ela tem sido uma boa espiã desde que eu ofereci subir seu marido de cargo. — As palavras de papai me fazem tombar em minha cadeira enquanto encaro minha irmã. — Você sabe, Stuart perdeu tudo com pôquer. Agora tem que trabalhar como alguém de verdade.
— Emma? — meu sussurro é quase inaudível, mas está carregado de dor. Minha irmã se encolhe, mas ainda não diz nada.
— Vamos, não faça disso algo maior do que é. Emma só estava protegendo nossa família. Eu precisava saber se você estava próxima de ir na justiça contra mim para tentar tirar o meu patrimônio. — Quando não digo nada, papai completa: — Mas sua irmã falhou já que não sabia nada sobre esse noivado. Ou tudo isso é uma farsa.
Nem eu ou Eros nos mexemos. Claro que não tinha como Emma saber de nada porque a suposição de Adrien está certa. Se eu estivesse apaixonada por alguém e em um relacionamento de um ano, eu claramente teria mencionado isso com minha irmã, mesmo que ela e eu não sejamos melhores amigas.
— Trair, enganar e abandonar — digo, encontrando os olhos de meu pai — essa é a sua definição de família? Acha que a traição de Emma me abala? Ela não fez nada quando você me jogou na rua, eu deveria esperar algo diferente dela agora?
Emma se encolhe ainda mais ao meu lado.
Meu pai sorri, como se saboreasse tudo isso.
— Você nunca me disse quem é o pai da sua filha.
Meu sangue gela e eu paro de respirar por um segundo. Não, eu nunca disse quem é o pai de Freya. Isso não era importante naquela época e nem agora, mas para ele trazer o assunto à tona…
— Vamos embora. — Fico de pé, jogando o guardanapo na mesa e pegando minha bolsa. Eros se levanta em seguida.
— Não pode fugir do seu passado para sempre, Genevieve — Adrien diz antes de nos afastarmos, mantendo a voz baixa para as pessoas nas outras mesas não ouvirem. Algumas já começaram a virar para olhar. — E não pode me culpar se a sua vida desmoronou seis anos atrás. Você me culpa por tê-la jogado na rua, mas o que eu deveria fazer? Era sua bagunça para resolver, você se entregou a qualquer um como uma vagabunda…
— Chega — a voz de Eros parece cortar o ar, apesar do seu tom neutro. Meu pai, surpreendentemente, fica calado. — Você perguntou o que deveria ter feito seis anos atrás? Acolhido sua filha, porra. Mesmo sendo um pai de merda, foi a você que ela pediu ajuda. Você deu às costas a ela quando ela mais precisava e sabe o que aconteceu depois? Ela criou a filha sozinha, sem a sua ajuda e se saiu bem pra caralho nisso, enquanto você, com todo o seu dinheiro de merda, não conseguiu dar o mais importante a suas filhas: amor e carinho. Quer culpar alguém por alguma coisa? Se olhe no espelho, mas não abra mais a porra da sua boca para falar mais qualquer baboseira da minha mulher.
— Ou o quê? — meu pai tem a audácia de perguntar enquanto eu continuo piscando para Eros diante das suas palavras. Minha mulher…
— Ou eu vou sentar e assistir Genevieve destruir você e seu império de merda. Talvez eu ajude, mas nós dois concordamos que não devemos subestimar uma mãe que criou sua filha sozinha. Você foi avisado, Adrien.
Sem mais uma palavra, Eros me guia pelo corredor de mesas e pessoas curiosas sobre o que estava sendo dito naquela mesa.
❦︎
— Seu pai é um cuzão. — Eros suspira, passando a mão pelo cabelo.
Estamos no elevador e eu não disse nada nos minutos que demoramos para chegar aqui e esperar o elevador.
— Você está bem?
Quando ele estende a mão, provavelmente para tocar meu braço ou meu rosto, não sei, afasto-me instintivamente dele e fecho os olhos em seguida diante da minha reação.
— Eu estou bem — digo por fim, ignorando o seu olhar observador.
Eros anue e não dizemos mais nada até a descida de elevador acabar.
Eros deve ter avisado a Harold que estávamos descendo, pois ele está nos esperando na frente do prédio quando saímos.
— Eu prefiro pegar um táxi — declaro a Eros quando seu motorista abre a porta de trás para nós.
Penso que Eros vai fazer perguntas, mas ele apenas suspira, passando a mão pelo cabelo antes de acenar para o carro, entendendo que eu quero ficar sozinha. Ou melhor, sem ele.
— Vá. Harold leva você, eu pego um táxi.
Cansada demais para discutir, apenas anuo, murmurando um obrigada e entrando no carro. Harold fecha a porta do carro e Eros continua na calçada observando enquanto partimos.
❦︎
Quando chego na casa de Eros, ainda não anoiteceu e eu me pergunto o que Eros vai fazer pelo resta da tarde. Além disso, talvez eu tenha sido um pouco injusta com ele ao pedir para vir sozinha. Eu só queria um pouco de espaço depois de tudo o que aconteceu no almoço. Aquele discussão com papai… Definitivamente não foi isso que eu imaginei para a minha tarde.
E há o que Eros disse lá, como ele me defendeu. Eu não precisava que ele fizesse, sei como agir com papai, mas não muda o efeito das palavras de Eros. Eu sei que ele só estava sendo legal e agindo como um noivo deve agir quando insultam sua noiva, mas ainda sinto um arrepio cada vez que lembro das suas palavras.
"Minha mulher."
Um desses arrepios corre por mim quando fecho a porta e ponho o código do alarme.
— Mamãe! — Freya grita assim que me vê, correndo na minha direção, os cachorros em seu encalço, latindo.
— Ei, você. — Pego-a no colo, lhe dando um abraço apertado. Papai sabia como me afetar ao mencionar Freya.
— Você voltou rápido — Freya comenta, brincando com o meu brinco.
— Nossa, então você não sentiu a minha falta?
— Claro que senti, mamãe! Agora que você chegou pode comer cupcake comigo e com a tia Kate!
— Cupcake? Uau. Eu quero.
Ponho Freya no chão, dando um rápido afago nos cachorros antes que minha filha me puxe em direção a cozinha de onde está vindo um cheiro delicioso de bolo.
— Ei, você voltou. — Kate sorri, tirando uma fornada de cupcake do forno. — Desculpe por isso, mas Freya conseguiu me convencer a fazer cupcakes.
Dou de ombros, sentando-me em um banco na ilha e colocando Freya em meu colo.
— Tenho certeza que Eros não vai se importar.
— Onde ele está? — Freya pergunta, sorrateiramente pegando um punhado de confetes e colocando na boca.
— Não sei. E não coma mais confetes ou não vai comer cupcake.
Ela faz biquinho, mas esquece a bronca quando Kate pede ajuda para enfeitar os cupcakes. Freya se anima com isso e eu fico agradecida, pois assim ela não pode ver meu cansaço e nem estranhar que eu a estou mantendo por perto por mais tempo.
Não sou tola ou ingênua e sei que a menção de meu pai a Freya não foi nada mais que uma ameaça. Ainda não sei o que ele quer comigo, pareceu bastante interessado no meu suposto noivado com Eros, porque me tornei "útil", mas não vou ser idiota ao pensar que ele não usaria Freya contra mim.
A traição de Emma é uma dor crescente em meu peito e não sei o que fazer em relação a ela. Minha irmã parecia arrependida, mas será que ela não faria algo pior se papai pedisse? Eu sei que ele a estava chantageando, mas Stuart podia arranjar outro emprego ao invés de ficar nas mãos de meu pai e submeter Emma às suas chantagens.
Percebo Kate me encarando e ela diz sem emitir som:
— Você está bem?
Nego e ela pressiona os lábios em uma linha fina, mas não diz mais nada. Não com Freya perto.
Por isso, quando temos uma bandeja de cupcakes decorados, deixo Freya escolher três, então ligo a TV na sala e a deixo assistindo com Zeus aos seus pés. Ele é o mais quieto de todos e segue Freya o tempo todo. Eu parei de temer que que ele a mordesse.
Voltando para a cozinha, Kate me entrega uma xícara cheia até a borda com um líquido âmbar.
— Presumo que não seja chá? — Ergo as sobrancelhas, mas levo a bebida aos lábios, franzindo o cenho para o whisky que desce queimando minha garganta.
— Eros não vai se importar com isso também. — Kate dá de ombros, sentando-se no banco alto ao meu lado. — Onde ele está, aliás?
— Não sei mesmo. Eu quis vir sozinha.
— As coisas foram tão ruins assim?
Conto a ela tudo o que aconteceu e ela se solidariza, xingando meu pai e fazendo caretas. Sorrio um pouco. Eu realmente gosto de Kate, ela é leal e estou começando a vê-la cada vez mais como minha amiga. Antes, não deixei que ela se aproximasse muito, sempre me esquivando dos seus convites para sair porque me sentia mal por não ser totalmente sincera com ela, mas agora que sabe de Freya, me sinto mais leve e feliz que ela não tenha desistido de tentar ser minha amiga.
— Posso ligar para Anthony e perguntar se Eros está com ele — Kate se oferece quando me vê checando meu celular em busca de uma mensagem de Eros. É em vão, claro, nós não trocamos mensagens, mas a culpa de exigir vir embora sozinha está pesando em meus ombros.
Dou de ombros, pegando um cupcake com glacê cor de rosa e confetes de bolinhas coloridas.
— Ele já é grandinho e não me deve satisfação. Concordamos em separar a vida pessoal da profissional. — Isso é besteira e nós duas sabemos disso, principalmente porque estou morando na casa dele, ultrapassando esse limite. — Se ele quer ficar até tarde fora de casa fazendo só-Deus-sabe-o-quê, só espero que se mantenha longe da mídia.
Kate anue e enche minha xícara outra vez antes de guardar de volta a garrafa. Agradecida, bebo metade de uma vez só.
— Posso ficar com Freya se você quiser tirar um tempo para si. Um cochilo parece uma boa ideia. — Está vendo como Kate é incrível? Nós realmente temos sorte de tê-la.
Mas eu nego, terminando a xícara e sentindo que não preciso de uma terceira rodada.
— Estou bem. Não quero mais alugar você. Obrigada por hoje, de verdade. — Seguro suas mãos, esperando estar conseguindo transmitir como estou agradecida.
— Foi um prazer. Freya é um doce de menina. Obrigada por compartilhar isso comigo. Você pode contar comigo sempre que precisar.
Eu a abraço então, culpando o álcool pela minha atitude emotiva.
Depois de se despedir de Freya, Kate vai embora e fico sozinha com minha filha e cinco cachorros.
❦︎
Não sei o que me acorda mais tarde, mas checo Freya mesmo assim, que está dormindo ao meu lado, enrolada em sua coberta do Homem-Aranha, respirando e imperturbada. Acalmo meu coração e solto um suspiro. Acho que nunca vou deixar de me preocupar que ela sufoque enquanto dorme. Li sobre isso uma vez quando ela ainda era um bebê e ainda mantenho o hábito de checá-la, apenas para ter certeza.
Pego meu celular na mesa de cabeceira e olho a hora. 02h34.
Beijo os cabelos de Freya antes de sair da cama e procurar o que me acordou.
Ao sair do quarto, olho para a porta do quarto de Eros no final do corredor, que está fechada como sempre e não sei dizer se ele já chegou. Quando fui dormir às 23h00, ele ainda não havia chegado e eu me impedi de esperá-lo. Não é minha obrigação.
Paro no meio das escadas quando vejo sua forma escura por conta dá má iluminação. Aos seus pés, o abajur que ficava numa mesinha perto do sofá, está caído no chão e Eros está murmurando algo.
— Eros? — Eu sei que é ele, mas ainda hesito.
Ele ergue o rosto, seu corpo grande oscilando um pouco quando ele semicerra os olhos.
— Não deveria estar acordada — diz, a voz um pouco arrastada.
— Eu ouvi um barulho. — Desço os degraus restantes, parando a uma distância saudável dele. Suas roupas estão amassadas e ele cheira a bebida.
— Desculpe, não queria te acordar. Ou a Freya.
— Ela ainda está dormindo. — Observo ele passar as mãos pelo rosto, parecendo derrotado. — Parece que você teve uma noite e tanto.
Eros abaixa as mãos, fazendo uma careta ao encarar o abajur quebrado.
— Eu gostava dele — lamenta. Pressiono os lábios para não rir, apesar de ele ter ignorado o que eu disse sobre sua noite.
— Você quer ajuda para chegar ao quarto? — Ele não parece tão bêbado assim, mas não quero arriscar que ele quebre outra coisa.
— Eu estou bem.
Ergo as mãos, dando espaço para ele passar, mas o sigo quando ele começa a subir as escadas, se apoiando no corrimão.
Onde ele estava? Não estou perto o suficiente dele para identificar algum perfume feminino. Ele está bêbado, então há chances de não ter estado com uma mulher…? Ou ele pode ter ficado bêbado depois de ter se divertido com seja lá quem ela for. Será que foi alguém do almoço? Ele voltou lá depois que fui embora? Eu vi ele olhando para aquela loira, então é fácil presumir que ele estava com ela.
Digo a mim mesma que o incomodo que sinto tem a ver com a preocupação de ele ter sido visto com outra e isso vazar para a mídia. Eu avisei que não bancaria a noiva chifruda, então se ele nem se deu o trabalho de ser cuidadoso, esse noivado de fachada está acabado e eu irei embora com Freya.
Não digo nada disso a Eros e tento não parecer chateada quando no final cedo e o ajudo pelo resto do caminho até seu quarto. Ele resmunga, mas passo meu braço por sua cintura e o seu por meus ombros. Sendo mais alto e maior que eu, ele tenta não pôr todo seu peso em mim.
Quando chegamos em seu quarto, descubro que ele não costuma trancar a porta. O cômodo é semelhante ao que divido com Freya, mas ao invés de móveis em tons pastéis, tudo aqui é preto, até as cortinas, a colcha da cama e as fronhas dos travesseiros.
Ajudo Eros a chegar até a cama king size e ele se joga nela… me levando junto.
Solto um gritinho quando caio em cima do seu corpo, arregalando os olhos. Seu corpo é só músculos e eu sinto isso por todo o meu corpo. Até mesmo consigo distinguir seu perfume em meio ao cheiro de bebida. Seu perfume, não de alguma mulher.
Eros murmura alguma coisa que não consigo ouvir, mas seus olhos estão fechados e não sei se ele está consciente da sua mão em minhas costas.
Com o rosto próximo ao seu, eu o observo de perto pela primeira vez. Aperto meus dedos em sua camisa quando sinto uma vontade estranha de passar os dedos por sua barba, lembrando da sensação que foi tê-la roçando em meu queixo durante aquele beijo na festa de noivado. Nós nunca falamos sobre isso e agora encaro seus lábios entreabertos enquanto a lembrança revive em minha mente.
Sob minha palma, seu coração bate calmamente, diferente do meu que está descontrolado de uma forma estúpida.
Quando Eros se mexe, eu sei que devo ir, mas então tudo está girando e eu estou reprimindo outro gritinho quando minhas costas batem no colchão e o corpo de Eros pressiona o meu.
Ainda chocada, avalio a situação: o braço de Eros e metade do seu corpo está em cima do meu e sua perna está jogada em cima das minhas enquanto seu rosto está enterrado em meu pescoço e sua respiração acaricia minha pele.
— Eros — sussurro, cutucando seu braço com um dedo, mas ele murmura outra das suas palavras impossíveis de entender e me aperta contra ele.
Fecho os olhos por um momento, suspirando. Devo acordá-lo e tornar esse momento ainda mais desagradável ou ficar aqui até amanhecer e piorar ainda mais a situação? E se Freya acordar e me pegar aqui? O que eu diria a ela?
Passo a mão no rosto, sabendo que não posso mesmo ficar aqui.
Então, com cuidado, me desvencilho de Eros. Não é fácil, ele não quer me deixar ir e uma parte idiota e irracional de mim quer ficar aqui com ele, mas eu dou um tapa mental nessa versão minha e consigo sair da cama sem acordar Eros.
Porém, quando estou pondo os pés no chão, sinto sua mão em meu pulso.
Olho para ele por cima do ombro, mas seus olhos ainda estão fechados. Ele murmura mesmo assim e dessa vez consigo entender o que diz:
— Ela não era você.
Então seus dedos relaxam em meu pulso e ele parece voltar a dormir.
Saio rapidamente do quarto, não me arriscando a dar uma última olhada nele e decidir ficar antes de fechar a porta.
| ❦︎ |
Ooooooiii, gostaram do capítulo de hoje?
Finalmente tivemos uma interação entre a família da Genevieve e ela, o que vcs acharam disso?
E o final desse capítulo? Se fosse vocês, ficariam na cama ou saíram? Ksksksksk
Até terça, pessoal.
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2bjs, môres♥
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