³| Emojis de uma mulher dançando
— Contei à minha família que estamos noivos — são as primeiras palavras de Eros na manhã seguinte.
— Bom dia e por quê? — Tiro meus olhos dos rascunhos para a coleção de outono e observo Eros andar casualmente até sua mesa.
— Por que não? Aliás, teremos um jantar na próxima semana. Minha mãe quer conhecê-la. Ela quer saber se devemos chamar sua família.
Imediatamente, enrijeço a coluna.
— Não. Eu quero deixar minha família fora disso.
Eros deve perceber o tom de urgência em minha voz, pois olha para mim com seus olhos atentos.
— Posso saber por quê? Se vamos fingir, eu preciso saber para não haver contradições. Nós também provavelmente iremos encontrá-los nos eventos que irão ocorrer nas próximas semanas.
— Eu lidarei com eles, então. Até lá, deixamos como está — digo simplesmente, voltando para os rascunhos.
Eros não insiste no assunto.
❦︎
No meio da tarde, faço um intervalo para ir ao banheiro. Eros nem pisca na minha direção quando saio do escritório. Ou porque está muito concentrado no trabalho, ou porque não se importa. Para alguém que espera que eu falhe, eu duvido muito do último.
No banheiro, faço minhas necessidades e quando saio da cabine quase tenho vontade de voltar para dentro ao perceber quem está passando batom na frente do espelho.
Lorelei Keen é uma das mulheres mais lindas que eu já vi: negra, alta e com um estilo de dar inveja. Não é todo mundo que gosta dela — por causa da sua personalidade — mas isso não muda o fato que muitas mulheres queriam ser ela ou que muitos caras quase quebram o pescoço para olhá-la quando ela passa.
— Oi — murmuro, aproximando-me para usar a pia.
— Oi — responde, terminando com o batom e ajeitando seus volumosos cachos escuros, como seus olhos. — Genevieve, não é? Você trabalha com o irmão de Anthony.
— Isso mesmo. — Estou um pouco surpresa por ela puxar conversa, confesso.
— Lamento muito que tenha que trabalhar com Eros. Todos os momentos na presença dele, tenho vontade de matá-lo. — Ela suspira de forma dramática, guardando seu batom na nécessaire em cima do mármore.
— Trabalhar com Anthony deve ser melhor, então — não consigo impedir o tom afiado na minha voz. — Os boatos dizem que vocês… são bem próximos. — Ergo os olhos para o espelho, vendo-a me encarando como se estivesse decidindo se me afoga na pia ou não. — Mas o que eu sei, certo? São apenas boatos.
— Claro — diz depois de decidir, presumo, não me afogar. Um sorriso se forma em seus lábios e seus olhos brilham. — Acho que eu gosto de você.
— Ah?
Lorelei guarda sua necessaire na bolsa, pondo-a em seu ombro e se preparando para sair. Ela diz antes de ir:
— As pessoas geralmente medem as palavras para falar comigo. Você… Você não. Presumo que trabalhar com Eros a treinou bem, mas eu a admiro mesmo assim. Enfim, vejo você por aí.
E sai.
Apesar de estar feliz que não estou em sua lista negra agora, ela está errada ao pensar que não ter papas na língua tem algo a ver com Eros. De fato, ele desperta o pior de mim, mas eu sempre tive um temperamento… diferente do que meus pais queriam: uma garota meiga e gentil. Eu posso ser as duas coisas, como também posso sorrir como uma víbora e dar o bote naqueles que me subestimam.
❦︎
Ao voltar para o escritório, mal chego a minha mesa antes de Eros perguntar:
— Quem é Kevin?
Olho confusa para ele e depois meus olhos arregalam e olho do meu celular para ele.
— Estava mexendo nas minhas coisas? — Mas que diabos?
— Não. Eu fui pegar os seus rascunhos e a tela do seu celular acendeu. — Ele se inclina contra sua cadeira, o rosto apoiado no punho. — O que significa "vejo você lá" e emojis de uma mulher dançando?
— Não é a da sua conta — digo entredentes. — E por que você pegou meus rascunhos? Eu não terminei.
— Parece bom para mim — diz simplesmente e uma parte da minha indignação esquece sua intrusão ao ouvir isso.
— Então… você aprova? — Me mexo, desconfortável. Mesmo que Eros seja um canalha, ele é o melhor do país em nosso ramo, a prova está naquela estante: troféus, prêmios que conseguiu com seu bom trabalho. Então sim, a aprovação dele é importante para mim.
— Sim. Isso leva a outra coisa, na verdade. — Eros pega uma pasta em uma das gavetas em sua mesa e a estende para mim. Meio hesitante, cubro a distância entre nós e pego a pasta. — A parte final do seu estágio: supervisionar o trabalho e treinamento dessas dez pessoas. Os históricos deles estão na pasta. Finalmente cedi ao meu pai para que abrisse o programa de estágio. Você foi um… experimento.
— Eu ainda sou uma estagiária… Tem certeza que quer que eu os supervisione? — Talvez eu esteja um pouco insegura com a ideia e surpresa com a confiança. O meu trabalho é observar Eros, aprender com ele. Fiz isso ao longo dos anos e apesar de tudo, ele me deu oportunidades que meu pai não teria me dado, como desenhar alguns itens próprios ou dar minhas próprias opiniões sobre os trabalhos dele.
— Estou confiante que a treinei bem. Além disso… — Ele olha para os meus rascunhos em sua mesa. — Você é boa.
Tento não deixar o comentário me subir à cabeça. É tão raro ele elogiar o meu trabalho. Reconhecer, sim, mas dizer explicitamente…
Pigarreio, tentando conter meu sorriso.
— Obrigada… pela oportunidade. Não irei decepcioná-lo.
Eros anue, me dispensando.
Eu lhe dou as costas, voltando para minha mesa e ainda tremendo de excitação, quando algo me ocorre, ameaçando afugentar essa felicidade.
Viro-me para Eros outra vez.
— Está fazendo isso apenas porque concordei em ser sua noiva de mentira? Isso… Isso é algum pagamento? — Um nó desagradável se forma em meu estômago. Eu não quero que ele facilite as coisas para mim agora. Quero continuar conquistando meu lugar aqui por conta própria.
— Não — diz, sem nem erguer o rosto dos papéis, como se soubesse que eu pensaria o pior da situação. — Eu disse: você é boa. Não vou negligenciar o seu trabalho e aprendizado comigo apenas porque você, como disse uma vez, nasceu na família errada. Talvez eu me arrependa disso um dia caso você nos traia…
— Isso nunca irá acontecer. — Sou sincera em cada palavra.
Eros me encara, finalmente, e fazemos nosso jogo por alguns segundos.
— Ótimo, então — diz por fim.
Voltamos ao nosso trabalho depois disso.
❦︎
Quando sábado chega, Kate ainda não desistiu de ir ao karaokê ou de me arrastar junto. Então nós vamos depois do trabalho.
Eu estou com uma saia godê, rodada e solta, acima dos joelhos, vermelha. Optei também por uma blusinha de cetim preta e um casaco, o qual eu coloquei dentro da bolsa quando chegamos ao pub, pois o local está cheio, o calor humano preenchendo o lugar.
Não sou muito de sair para beber, prefiro ficar em casa, assistindo a um filme, lendo… Eu deixei essa parte minha que gostava de festas e curtir a minha juventude, na Inglaterra.
— Acabamos de chegar e já está olhando o relógio? — Kate resmunga quando me pega olhando o relógio em meu pulso.
— Eu preciso estar em casa antes da meia noite — digo a ela. Conseguimos um lugar no balcão, sentadas nos bancos altos, os pés de Kate há centímetros do chão.
— Tem alguém esperando em casa? — Ela me lança um olhar sugestivo.
Dou risada, olhando em volta no pub enquanto esperamos nossas bebidas.
— Você não está com seu anel de noivado — minha colega de trabalho observa com ironia.
Pois é, ela sabe. Parece que Eros não esconde nada de Kate, inclusive essa farsa. Eu não me incomodei, é bom que não tenhamos que fingir estarmos apaixonados na frente dela. Na verdade, na frente de ninguém ainda. Nos últimos dias tenho trabalhado no projeto com os estagiários, organizando tudo enquanto Eros trabalhava no novo anel da Srta Blossom e as joias de casamento de America e Noah. Ele pediu minha opinião algumas vezes e eu fiquei mais do que feliz em compartilhar.
Enfim, acabamos não tendo nenhum imprevisto onde precisamos fingir nosso amor um pelo outro ainda, mas sei que o momento está próximo. Não só o jantar que a família de Eros irá nos oferecer, mas a festa de noivado de America e Noah. Eles tiveram a cara de pau de enviar o convite ontem. Apenas para os "amigos mais chegados" dizia o convite.
Eros ficou quieto o resto do dia depois disso.
— O que você sabe sobre a família do Eros? — pergunto a Kate. Eu não queria passar a noite falando dele, mas se irei jantar com sua família, tenho que estar ciente da dinâmica familiar deles. Tudo que sei é que Enrico é um homem com o senso de humor igual ao do filho, só que mais saudável, e Anthony é doce e gentil com todos, além de muito gato. Não sei nada sobre o terceiro irmão e muito pouco sobre Carlota.
— Bom, a mãe de Eros e Khalil os abandonou quando eram crianças. Eros tinha seis anos e Khalil, dez — Kate conta, balançando a cabeça provavelmente com a ideia de uma mãe deixar os dois filhos assim. Digo a mim mesma que talvez ela tenha tido seus motivos, mas é difícil não ficar revoltada. — Enrico se casou anos depois com Carlota, que já tinha um filho. Ela e Enrico são a alma gêmea um do outro, você perceberá assim que os virem juntos. Eros tem um enorme afeto por ela, a considera como mãe e tudo. Já Khalil… o trauma é mais profundo, eu acho. Ele deve assumir o cargo de CEO um dia, mas não sei se ele quer isso. Pelo menos nunca mostrou interesse na empresa nos anos em que trabalho lá. Estava mais interessado em se drogar e foder qualquer pessoa que não resista ao seu charme de bad boy.
— Qualquer "pessoa" não "mulher"? — pergunto, minhas sobrancelhas erguidas.
— Ouvi dizer que ele é bissexual.
— Você parece conhecer bem a família Blackburn. — Apoio-me no balcão enquanto bebo meu shop.
— Trabalho lá desde os vinte anos. — Há oito anos então. — Eros me contratou, mesmo que eu não tivesse experiência alguma. Eu estava fodida e sem um tostão no bolso e ele me acolheu. Nunca esquecerei disso e trabalho com fervor para pagar a confiança que ele depositou em mim. Ele diz que não quer a minha gratidão, apenas a minha amizade, mas… Eu nunca vou esquecer o que ele fez por mim.
— Então vocês dois…? — Não termino a pergunta, mas deixo explícito o que quero dizer. Kate é uma mulher bonita, baixinha, com curvas delicadas, mas sem esconder o belo corpo por debaixo do terninho feminino. Tem o cabelo comprido, os olhos castanhos um pouco puxados, já que seu pai é asiático e sua mãe, americana.
Kate se engasga com a cerveja, iniciando uma crise de tosse.
— Eu demonstro minha gratidão com trabalho e lealdade, não com sexo — diz, mas não parece ofendida. Peço desculpas mesmo assim.
— Sinto muito. É que às vezes você parece entendê-lo mais que qualquer um, eu só pensei… — Dou de ombros, minhas bochechas corando.
Kate dispensa minhas desculpas com a mão.
— Relaxa, eu entendo. Você não é a primeira a fazer essas suposições. Eros e eu sempre rimos disso, na verdade.
— Por que você o chama de senhor no trabalho, mas se refere a ele pelo nome? — Acho que perdi mais o costume de beber do que imaginei, porque apenas os dois goles de cerveja explicariam a minha intromissão.
— Porque eu o respeito e gosto de separar as coisas, mesmo que ele insista que eu pare de tratá-lo com formalidades no trabalho.
Anuo, encerrando o assunto. Não quero mais falar de Eros ou da roubada que me meti, então termino minha bebida e puxo Kate para a pista de dança improvisada perto do pequeno palco, confiando nossas bolas ao barman. Segundo Kate, que vem aqui com frequência, está tudo bem.
Mesmo enquanto dançamos entre as pessoas, nos esquivando de alguns caras, fico de olho no relógio, apesar de ocasionalmente esquecer. Eu tinha me esquecido como é me sentir… jovem. Apesar de ter apenas vinte e seis anos, muitas das vezes a culpa não me deixa aproveitar a vida. Além disso, não tenho amigas. Todas me deram as costas há seis anos. E apesar de tentar não sentir falta delas, em alguns momentos, eu sinto.
Paro de pensar no passado quando Kate me arrasta para o pequeno palco e cantamos uma música da Lady gaga.
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Desculpem pela falta de capítulo ontem, eu estava com muita dor de cabeça :-\
Mas enfim, espero que tenham gostado do capítulo!
Sei que o capítulo foi pequeno, então me desculpem por isso também!
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