Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

¹⁴|Duas baratas tontas

    Fui atribuído a chefe de cozinha hoje. Carlota e papai alegaram estar com preguiça de cozinhar hoje. Ou seja, alguém cozinhava ou comíamos pizza. Então é claro que sobrou para mim. Eu realmente não me importo, preciso de algo para fazer, de qualquer forma. Não sou nenhum masterchef, mas Carlota me ensinou algumas coisas como ensopado de cordeiro com molho de vinho.

    Então sim, eu estou na cozinha há quase uma hora enquanto todos os outros tomam vinho na sala. Em defesa deles, eu não queria ninguém no mesmo cômodo que eu.

— Aqui. — Kate, a única pessoa que ignorou meu pedido, me entrega um copo com whisky.

— Obrigado — murmuro, tomando um gole antes de colocar na bancada e voltar ao trabalho.

— Por que Genevieve não veio? Eu podia ter ficado com a Freya — ela fala baixo para que meus pais e meus irmãos não ouçam, já que não sabem que Genevieve tem uma filha.

— Eu não perguntei se ela queria vir. — Dou de ombros.

— Por quê?

    Suspiro e olho para Kate, arqueando a sobrancelha.

    Minha amiga ergue as mãos e começa a andar de costas, saindo da cozinha.

— Não está mais aqui quem perguntou.

     Sozinho, penso na sua pergunta. A verdade é que Genevieve está estranha.

    Talvez seja porque você a encurralou em seu quarto outra noite enquanto estava apenas de toalha e descreveu uma das suas fantasias sexuais onde ela é a personagem principal?

    Bem, pode ser por causa disso, mas tenho quase certeza que não. Para ser sincero, essa mulher está me enlouquecendo — e não apenas porque eu penso em fodê-la com mais frequência do que o normal. Eu sei que há algo acontecendo, mas ela não quer me contar o que é e eu não posso exigir a verdade quando ela impôs que separássemos o pessoal do profissional. Por algum motivo, tenho tido dificuldades de respeitar isso — como já foi provado em demasiadas ocasiões.

    E foi por isso que menti para ela a respeito da minha família saber que estamos morando juntos. Ela não sabe disso ainda, é claro e irá me matar quando descobrir que menti, mas não poderei dar a ela uma explicação. Não sei por que fiz isso, mas tinha passado a manhã inteira pensando em como convencê-la a esperar um pouco mais. Se eu quisesse continuar mentindo, diria que fiz isso para ela não ter que ir para outro apartamento ruim, apenas para não ter que ficar na minha casa. Mas não foi por isso que menti.

    Depois que termino de cozinhar, eu mesmo ponho os pratos e arrumo a mesa. Volto para a cozinha apenas para pegar o prato de Kate.

— Eu poderia comer apenas uma salada — Kate murmura quando ponho o avocado grelhado com ceviche de pupunha em sua frente. Como ela está de costas para mim, não posso comprovar que está vermelha, mas sei que está. Ela sempre age assim quando preparamos um prato diferente para ela porque é vegetariana.

    Eu a convenci de vir hoje depois que ela passou o dia inteiro sendo… menos Kate. Quando digo que Kate e eu somos amigos, significa que eu a considero da família, assim como meus pais e meus irmãos. Ela é a irmã mais nova que Anthony, Khalil e eu nunca tivemos. Apesar de Khalil  gostar de ignorar Kate e ela, a ele.

— Apenas coma — resmungo, sentando ao seu lado na mesa.

— Obrigada.

    Eu a ignoro, mas noto o olhar de Khalil passando de mim para Kate. Ele não diz nada, porém. Está silencioso como sempre. Não nos falamos desde que eu o achei desmaiado em seu apartamento. Eu planejava ter uma conversa com ele no dia seguinte, mas não fiquei surpreso quando acordei e o apartamento estava vazio. Eu não o via desde então e espero conseguir falar com ele antes que fuja de mim outra vez.

    Meus pais e Anthony elogiam a comida e eu apenas dou de ombros, mais focado em comer, até que Carlota dá um aviso.

— Nós vamos para Oak Park no próximo final de semana, para comemorarmos o aniversário do pai de vocês.

Nós? — Anthony pergunta, fazendo careta.

— Sim e nem faça essa cara — Carlota responde.

    Anthony e eu nos encaramos e depois a Khalil. Ele parece estar em outro planeta, alheio ao que Carlota falou, enquanto come calmante, sem encarar ninguém. Mas nós sabemos que ele ouviu.

— Isso não é uma boa ideia — Anthony diz o que nós dois estamos pensando. — Pai?

    Nosso pai dá de ombros.

— Eu só quero passar um tempo com a minha família.

    Meu irmão e eu nos encaramos outra vez. Nós dois sabemos que isso pode acabar muito mal, mas não vamos negar isso ao nosso pai. Ele nos ama e apenas quer aproveitar essa oportunidade de ter todos nós juntos. Eu teria recusado nos últimos três anos, mas não farei isso agora, por isso dou de ombros também para Anthony. Meu irmão entende e anue.

— Kate, você também está convidada, querida — Mamãe continua.

— Obrigada, Carlota, mas…

— Ela vai — digo a minha mãe.

    Kate semicerra os olhos para mim, mas sabe que não vai ganhar essa discussão, então ela apenas bufa e volta a comer.

— Genevieve irá com você, certo, Eros? Aliás, por que ela não está aqui hoje? — Carlota pergunta a mim.

— Ela está ocupada — respondo vagamente.

— Ou só precisa de uma folga de você — Anthony murmura.

— Vai se foder, idiota.

— Eros — meu pai me adverte pelo palavrão, ignorando sempre o fato que tenho trinta e um ano, não treze.

— Ele quem começou — defendo-me, de fato, como quando tinha treze anos.

— Eu vou convidar a Lorelei então — Anthony anuncia antes que nosso pai comece uma palestra sobre boas maneiras.

    Faço uma careta.

— Ela não é da família.

— A Kathryn também não — Khalil  argumenta, como se não tivéssemos acabado de discutir que vamos para a antiga casa da nossa família, onde passamos nossa infância. Onde há lembranças dela, apesar de não haver fotos ou qualquer coisa física que nos lembre de sua presença

— Estou lisonjeada que você decidiu quebrar o seu silêncio apenas para mencionar o meu nome — Kate diz com seu habitual sarcasmo antes de beber da sua taça de vinho. Ela sabe lidar com Khalil.

— E Kate é da família. — Lanço um olhar para meu irmão mais velho, antes de voltar minha atenção para Anthony. — Lorelei nem se quer gosta da gente.

— Ela não gosta de você, o que, aliás, é totalmente compreensível já que você é um cuzão.

— Vocês não podem discutir sem dizer palavrões? Há pessoas tentando comer. — Papai resmunga.

— Você diz isso como se ela morresse de amores por você — continuo para Anthony. — Aposto que se não fosse filho do nosso pai, ela nem olharia para sua cara irritante.

— Você só não gosta dela porque ela não se ajoelha aos seus pés como se você fosse um Deus ou algo assim.

— Eu não gosto dela porque ela trata você como bem entende e você aceita, mas muito obrigado por elevar o meu ego, a propósito.  — Eu sei que havia dito que não ia mais me intrometer na vida de Anthony assim, mas não consigo ficar calado.

— E ainda me perguntam porque eu uso drogas — Khalil diz quando Anthony estava prestes a abrir a boca.

    Um silêncio estranho se forma na mesa depois dessa sua confissão, enquanto ele continua imperturbado com a sua comida.

   Até que Kate ri.

    Olho chocado para ela, que põe a mão na boca, tentando conter sua risada.

— Desculpem — pede, sem fôlego e corada. — Isso foi totalmente inapropriado.
   
    Balanço a cabeça e tomo um gole considerável de vinho.

— Isso é o que eu chamo de um jantar em família — meu pai saúda com a sua taça. — Mal posso esperar para o final de semana.

❦︎

       Quando o jantar acaba, Anthony e eu não estamos nos falando e ele vai ajudar nosso pai com a louça, enquanto Kate e Carlota tomam mais vinho na sala. Eu teria ficado com elas se não tivessem começado a falar sobre ópera e pessoas que nunca ouvi falar. Além disso, eu vi Khalil  saindo para o quintal.

    Eu o sigo até a fonte que falei para Genevieve uma vez. Eu sei que Khalil  sabe que estou atrás dele, principalmente quando para de costas para mim, na frente da fonte e me oferece um cigarro.

    Eu aceito ao parar ao seu lado, também pegando o isqueiro da sua mão e acendendo o cigarro.

    Passamos os próximos minutos apenas fumando e observando a água fluir na fonte, lembrando-me que fazíamos a mesma coisa quando éramos mais novos, logo após nos mudarmos para cá. Vínhamos aqui quando nosso pai e Carlota já estavam dormindo e dividíamos um baseado. Khalil  sempre tinha um, porque enquanto eu tentava tirar notas boas na escola, ele ia para conseguir drogas e pegar garotas. Não que eu não tenha feito o último, mas meu irmão me superava.

— Obrigado por não contar a eles — Khalil  quebra o silêncio, soprando fumaça.

— É sobre isso que eu quero falar.

    Ele não diz nada, provavelmente já esperando por isso.

— Naquele dia, na boate, você não estava bebendo, nem na festa de noivado, mas achei você com uma garrafa de whisky em seu apartamento. — Não é uma pergunta, mas está claro que quero uma explicação.

— Eu tive uma recaída. — Khalil dá de ombros, jogando o resto do seu cigarro dentro da fonte.

— Quando você decidiu parar? — A última vez fora quando papai o colocou na reabilitação pela terceira vez.

     Eu o observo acender outro cigarro em menos de dez minutos.

— Eu só decidi, tá legal? Para de encher meu saco.

— Só estou preocupado com você — admito. Vê-lo jogado no chão daquele jeito… Engulo em seco. — Não estou tentando te dar um sermão, eu só quero ter certeza que você está bem.

— Eu estou inteiro e respirando, certo? E sem drogas e álcool, como você queria. Não é bom o suficiente? — Ele me encara, seus olhos verdes, escuros agora, fazendo parecer que estou olhando para um espelho.

— Não quero que pare apenas por minha causa ou por nossa família. Quero que você entenda que drogas e álcool não vão te levar a lugar nenhum, apenas destruir você.

    Nos encaramos por uma eternidade, até Khalil dar um passo para trás, balançando a cabeça.

— Nós podemos ser parecidos em aparência, irmão, mas eu nunca vou ser você.

— Não é isso que eu estou tentando… Khalil! — grito quando ele começa a se afastar, mas já é tarde demais. — Merda. — Jogo o cigarro na fonte também, antes de me sentar no mármore.

    Eu sei que não se pode ajudar alguém que não quer ser ajudado, mas com Khalil  é diferente porque ele acha que não precisa de ajuda. É como um ciclo vicioso: eu o pressiono, ele cede, então eu o pressiono demais e ele foge.

    Eu não sei quanto tempo passou, mas eu contei dois grilos que vieram me fazer companhia, além de três vagalumes e um mosquito que me picou.

    É só depois de tudo isso que Carlota aparece. Minha mãe de consideração senta ao meu lado e suspira.

— Você precisa dar tempo a ele, filho — são suas primeiras palavras.

— Mais tempo, você quer dizer? De quanto tempo mais ele precisa para se afundar de vez? E se um dia for tarde demais? E se ele decidir que não quer mais tentar? Se… — Expiro pesadamente, esfregando os olhos. Minha voz falha com as próximas palavras. — E se ele se for também?

— Querido. — Carlota pega minha mão e eu a encaro. — Ninguém vai a lugar algum. Khalil vai ficar bem. Ele já deu o primeiro passo: largou as drogas, álcool e… — Ela hesita, mas por fim diz: — E ele vai trabalhar na empresa.

— O quê? — Franzo as sobrancelhas.

— Seu pai irá começar a treiná-lo para se tornar CEO.

— Por que eu não estou sabendo disso?

— Khalil  não queria decepcionar você, caso tivesse uma recaída — diz suavemente. — Ele está tentando, querido. Eu sei que você se preocupa, assim como todos nós, mas pressioná-lo não irá ajudar. Cuide dele, mas lhe dê espaço também.

    Suspiro, sentindo um pouco da tensão deixar meu corpo.

— Ok. Obrigado, mãe. — Eu com certeza continuaria remoendo isso até ir atrás de Khalil  outra vez e colocar tudo a perder, caso ela não tivesse me contado nada disso.

— Vamos. Você irá pegar um resfriado se continuar aqui fora. — De pé, ela me puxa com ela.

    Reviro os olhos, mas sorrio um pouco ao lhe dar o braço e caminharmos para dentro.

❦︎

    Na manhã seguinte, acordo decidido a cumprir outra "missão". Eu não me esqueci do rumor que Adrien iniciou, alegando que meu noivado com Genevieve não é real. Por mais que Lorelei tenha dado um jeito nisso, não vai demorar muito para que Adrien continue outro rumor e mais outro, até destruir minha reputação e a da sua filha.

    Quando a mulher em questão aparece na cozinha, eu tento não parecer muito ansioso. Não a vejo desde ontem, quando deixei ela e Freya aqui e segui para a casa da minha família. Quando cheguei, horas depois, as duas já haviam se recolhido. Eu cheguei a hesitar na porta do seu quarto, pensando em bater e avisá-la que eu havia chegado, mas desisti e fui para o meu próprio quarto.

— Bom dia — Genevieve cumprimenta. Seu tom de voz parece normal, mas ela está usando vermelho.

— Bom dia. — Ponho as panquecas sorridentes de Freya no seu prato do Homem-Aranha e acrescento frutinhas. — Nós vamos tomar café fora — aviso a Genevieve quando ela vai em direção a cafeteira.

— Por quê? — Seu tom desconfiado não me passa despercebido.

— Não posso levar minha noiva para tomar café da manhã? — Tento passar por ela, mas Genevieve se põe em minha frente.

Por quê? — Seus olhos semicerrados e as mãos na cintura me fazem querer rir, mas eu apenas dou um passo para frente. Ela não recua e abaixo cabeça, ficando assim nariz a nariz. Isso me tráz lembranças...

— Porque eu quero.

Por que você quer?

— Você precisa ser tão irritante? São apenas sete da manhã.

— Você é irritante vinte quatro horas por dia e eu não vivo reclamando.

    Sorrio, ousando dar mais um passo. Genevieve ergue os queixo, teimosa.

— Então você gosta?

— E é claro que você iria distorcer as minhas palavras apenas para satisfazer o seu ego. — A mulher revira os olhos, cruzando os braços.

— Não respondeu a minha pergunta. — Encaro seus lábios pintados de vermelho, e pensando em como seria fácil dar esse passo final. A pergunta é: ela retribuiria? Aquela noite vem a minha mente, a forma como ela deixou eu me aproximar, mas nunca deu aquele passo para realmente mudar as coisas.

     Apesar de eu não ter dito isso, sinto a mudança de Genevieve quando ela percebe o que estou pensando. Espero que ela se afaste como sempre faz, mas ela permanece parada e me encarando. Seus lábios se separaram com uma expiração lenta e eu observo seu peito subir e descer lentamente. Genevieve engole em seco, seus olhos nunca deixando os meus, aquele fogo presente do primeiro dia que nos encontramos, só que mais intenso.

     Meus dedos formigam para pôr a mecha solta de seus cabelos atrás da orelha, para puxá-la contra mim e sentir a maciez dos seus lábios; borrar seu batom, pressionar seu corpo contra o meu para que ela sinta a evidência do que está fazendo comigo…

    Mas eu não faço nada disso quando nós dois ouvimos os pezinhos rápidos de Freya correndo pelo corredor.

— Bom dia, Eros! Você fez panquecas sorridentes para mim?

    Genevieve e eu nos afastamos tão rápido que eu poderia achar que imaginei toda a cena caso não ousasse olhar para ela e ver a vermelhidão subindo por seu pescoço.

— Bom dia, Spider. — Sorrio para Freya, fingindo que eu não estava pensando em fazer coisas indecentes com a sua mãe há cinco segundos atrás. — É claro que eu fiz suas panquecas.

    Genevieve a ajuda a sentar no banco alto da ilha da cozinha e os olhos de Freya brilham quando ela vê as panquecas.

— Legal! Obrigada, Eros.

— Por nada. A senhorita deseja mais alguma coisa? — Apoio-me na ilha, segurando-me com as duas mãos até os nós dos meus dedos ficarem brancos. Genevieve está silenciosa ao meu lado, preparando a lancheira da filha.

— Humm… — A garota passa o dedo no chantilly e põe na boca. — Tem suco de laranja?

— Suco de laranja saindo.

    Ao tentar ir até a geladeira, esbarro com Genevieve, que claramente está tentando ficar o mais longe possível de mim, mas falhando. Dou um passo para o lado, mas ela tem a mesma ideia e nós trombamos mais uma vez.

— Será que você pode parar? — digo entredentes, apenas para que ela ouça.

— Você que está no meu caminho — resmunga de volta.

     Comendo suas panquecas, Freya ri.

— Vocês estão parecendo duas baratas tontas.

    Arqueio a sobrancelha para a ruiva mais velha.

— Com licença, barata tonta.

— Ha, ha, muito engraçado.

    Finalmente conseguimos sair do caminho um do outro e eu sirvo o suco de Freya. Ela percebe que não estamos comendo também e começa um interrogatório do por quê não estamos tomando café da manhã com ela; por que ela não pode comer fora também; onde e o que vamos comer. Genevieve  responde as perguntas o mais calmamente possível, apesar de estar claramente irritadiça e nervosa, o que tenho certeza que tem a ver comigo.

    Depois que Freya termina o café e escova os dentes, nós saímos. O caminho até a escola é preenchido pela música que sai do aparelho de som. Freya está brincando com uma boneca no banco de trás enquanto Genevieve se remexe no banco a cada cinco minutos. Eu não a encaro diretamente, mas a observo pelo canto do olho, suas mãos se movendo nervosamente em seu colo.

    Tensiono a mandíbula. Eu posso estar pressionando-o demais ? Não me esqueci da forma como ela se afastou de mim ou como às vezes fica tensa quando eu a toco. Ainda estou tentando descobrir se tem algo a ver comigo especificamente ou porque eu a lembro de alguém. Talvez o pai de Freya, quem quer que ele seja.

    ❦︎

    Após sermos levados até nossa mesa em uma das cafeterias mais caras e conhecidas de toda a Chicago, observo Genevieve, que observa o lugar com interesse e um brilho no olhar. Por algum motivo, vê-la admirada com algo que eu mostrei é… satisfatório.

    Quando me vê olhando, Genevieve arqueia a sobrancelha.

— Quê?

— Você vai ficar admirando o lugar ou vai fazer o pedido? — Por que você tem que ser tão idiota?

    Genevieve revira os olhos, pegando o menu. Eu já sei o que vou escolher, então não me preocupo com isso ao tirar o livro da minha pasta e abrir na página em que parei.

    Da sua cadeira, acho que Genevieve engasga.

— O que você está fazendo? — questiona.

    Ergo meus olhos da primeira linha do capítulo e arqueio a sobrancelha para ela.

— O que você acha?

     Leva alguns segundos para ela conseguir formular uma frase inteira sem gaguejar enquanto eu faço um grande esforço para não rir.

— Não achei que você fosse realmente ler — diz, finalmente.

— Quando digo que vou fazer algo, eu faço — lembro-a.

— Sim, sim, claro. — A ruiva revira os olhos. — Mas é um livro de romance. Não parece fazer seu tipo.

    Dou de ombros.

— Não é tão chato quanto essa capa faz parecer.

    Genevieve não diz nada pois o garçom chega, perguntando nosso pedido. Ela pede um pedaço de torta de morango e chá, enquanto me limito a um café preto.

    Quando o garçom vai embora, pego Genevieve me encarando com uma sobrancelha erguida.

— Qual o intuito de vir a um lugar desse e tomar café preto? Você é tão sem graça.

— Não escolhi esse lugar por mim — murmuro simplesmente, voltando para o livro.

    Pode parecer que eu apenas quero irritá-la ou deixá-la intrigada ao ler esse livro — e confesso que no início foi apenas com essa intenção que eu o peguei — mas acabei me envolvendo com a leitura. O início é chato, o carinha não sabe o quer, negando sua atração pela mocinha, mas fica interessante logo depois, quando ele percebe que gosta de verdade dela. Mas a garota não confia nele e ele precisa provar a ela que é um cara sério.

    Parece chato e bobo, mas devorei cem páginas ontem porque não estava conseguindo dormir. Toda aquela coisa com Khalil  tem me dado dor de cabeça. Além disso, tem essa bendita viagem. Nem tive a oportunidade de tocar no assunto com Khalil e agora não sei se é uma boa ideia pressioná-lo com isso, mesmo que eu esteja preocupado.

    Quando ouço Genevieve pigarrear pela terceira vez em cinco minutos — após o garçom trazer o pedido — ergo meus olhos outra vez.

— Então… — começa, se remexendo na cadeira e olhando para mim e para o livro. — Você está gostando? Do livro, quero dizer.

    Inclino-me na mesa, observando aquele brilho que só vejo em seus olhos quando se trata de algum trabalho que ela se saiu muito bem ou algo relacionado a Freya.

    Eu queria que o tempo parasse e ela olhasse assim para mim para sempre.

    Engulo em seco, sentindo-me um tolo com esse pensamento e finalmente respondo-a:

— Sim.

Sim? E o quê mais? — Genevieve está claramente impaciente, apesar daquele brilho permanecer em seu olhar.

— Hã… Eu achei bastante… romântico. — Por que eu comecei a gaguejar de repente?

    Genevieve bufa, revirando os olhos, mas com um sorriso no canto de seus lábios.

— O que você achou da Tara? E o Joe? Você já chegou na parte que ele faz um jantar romântico para ela? Eu achei aquilo tão fofo. Ah, e aquela discussão deles?! Eu chorei horrores. Ele foi tão babaca ao dizer que poderia ter quem ele quisesse. Confesso que parei de gostar um pouco dele nessa parte. Mas aí ele se redimiu depois com aquela declaração que me fez chorar outra vez. Enfim, eu só li até essa parte. Alguém pegou meu livro, você sabe.

    Genevieve respira fundo e bebe um gole de café depois de desatar a falar como eu nunca vi antes. Mesmo no trabalho quando estamos discutindo sobre uma nova peça, ela ainda parece se conter um pouco.

    Essa Genevieve animada com um romance, eu nunca vi.

— Eu… Hã… — Pigarreio, balançando de leve a cabeça. — Eu concordo com tudo o que você disse.

    Isso parece desanimá-la um pouco, mas Genevieve disfarça com um sorriso de canto.

— Claro.

    Eu nunca me importei com as pessoas dizendo que não sou mais o Eros de antes. Que não sou mais tão comunicativo, mas sim mais fechado e sério. Pensei sobre isso quando Kate disse, mas o incômodo real nunca veio. Pensei em mudar pelos meus irmãos, mas minhas intenções com eles são outras. Agora, me vejo xingando internamente por não conseguir manter uma conversa sobre a porra de um livro que eu estou lendo.

    Se fosse qualquer outra pessoa, eu não me importaria em manter essa conversa, mas Genevieve estava claramente animada e eu estranhamente quero continuar ouvindo-a falar sem parar com tal animação. Não quero que ela pense que eu não estou interessado e apenas sendo frio e rude como de costume.

    Busco algo na minha mente sobre o livro, qualquer coisa e falo:

— Eu acho o Joe um babaca.

    Seus cabelos ruivos se movem quando ela levanta o rosto, me encarando com os olhos azuis levemente arregalados, os lábios entreabertos de surpresa.

— Por quê? — Genevieve pergunta, interessada outra vez.

    Fecho o livro, cruzando os braços em cima da mesa.

    Dou de ombros.

— Ele não estava interessado na Tara até ver que seu melhor amigo gostava dela. E assim que ele conseguiu conquistá-la, veio com aquela proposta de que eles "deveriam se relacionar com outras pessoas". — Faço aspas com os dedos.

— Bem, sim… Mas ele só estava com medo de estar prendendo a Tara.

— Ou foi isso que ele quis que parecesse, quando na verdade só queria estar com outras pessoas, ao mesmo tempo que ficava com a Tara. O Joe sabia que ela nunca ficaria com mais ninguém, mas sabia também que a Tara não iria tentar impedi-lo de ficar com outras pessoas porque tem medo demais de perdê-lo.

     Observo Genevieve refletir por um tempo, seu semblante alegre se transformando em uma careta.

— Faz sentido. — Mas ela franze as sobrancelhas para mim. — Mas por que você continuou lendo?

— Ah, as coisas melhoram quando ela começa a se interessar pelo Gabriel. Sabe, o melhor amigo…

— Espere o quê? — A expressão de Genevieve é tomada por choque. — Ela fica com Gabriel? Como?

— Você não sabia? — Agora eu que franzo as sobrancelhas para ela.

— Claro que não! Você pegou o livro, lembra?

— Hm, foi mesmo. — Dou de ombros outra vez. — Eles ficam juntos quando…

— Não. — Ela estende a mão, pedindo que eu pare. — Não me conte, já recebi spoiler demais. Eu mesma vou ler. Você já está perto de terminar, certo?

— Sim…

— Bom.

    Mas por algum motivo, tenho o pressentimento que vou demorar bastante para terminar as últimas cinquenta páginas.

❦︎

    Infelizmente, ter maturidade significa ter que lidar com coisas que você não quer com educação e fingir que não se importa. Eu me habilitei a isso, mas não significa que eu gosto.

    Como hoje, quando Kate me avisou que América e Noah queriam marcar uma reunião para saber como está indo o processo de criação das jóias de casamento. Eu fiquei irritado porque passaram apenas três semanas desde que eles estiveram aqui para realizar o pedido, mas eu pedi a Kate que arranjasse um lugar em minha agenda para eles. Infelizmente — outra vez — ela conseguiu um horário às 14h, logo depois do almoço.

    Genevieve e eu passamos nossa hora livre revendo os rascunhos e ajustando algumas coisas. Depois do momento Crítica de Leitura, na cafeteria, as coisas continuaram bem entre nós. Não falamos sobre o que aconteceu — ou não aconteceu — no meu quarto ou na cozinha, do mesmo jeito que não falamos sobre o beijo.

    Eu não sei o que falaríamos, de qualquer forma. Eu beijei a minha estagiária, e daí? Eu me sinto fisicamente atraído por ela, qual o problema? Se ela me irrita ao mesmo tempo que me excita? Sim, mas tudo bem, certo? Não faremos nada em relação a isso, com certeza.

    Eu afasto esses pensamentos quando America entra em meu escritório, acompanhada de Kate. A última avisou sobre a primeira trinta segundos atrás, quando eu dei permissão para entrar.

     Ver America não me causa mais arrepios ou acelera meu coração. Eu não fico mais vidrado no seu sorriso ou quero cair aos seus pés. Eu a amava, até não amar mais, então quando lhe encaro, sou puramente profissional ao levantar, caminhar até ela e lhe oferecer minha mão.

— É um prazer recebê-la outra vez — digo educadamente, soltando sua mão em seguida.

— Obrigada por conseguir um tempo para mim tão em cima da hora. — America sorri, corando. Em outra época, talvez, eu acreditaria no seu nervosismo.

    Apenas anuo, indicando a ela a poltrona.

— Precisa de alguma coisa, senhor? — Kate pergunta, ainda parada na porta e com uma careta.

— Ah, um café, por favor — America responde.

    Lanço um olhar a Kate, que revira os olhos, saindo da sala e fechando a porta.

— Noah virá depois? — pergunto ao sentar em minha cadeira.

— Não. Ele tem umas coisas para resolver. De qualquer forma, sou eu que estou cuidando de tudo. — Apesar de dar de ombros e soltar uma risadinha, eu conheço America e está óbvio que o fato que Noah não está aqui, a incomoda.

— Entendo — murmuro, tirando os papéis com os rascunhos da pasta e dispondo sobre a mesa.

    Enquanto mostro os desenhos a America, lamento não ter pedido para Genevieve ficar. Ela está na sala ao lado agora, com os estagiários e eu poderia chamá-la agora, mas seria meio patético.

— É tudo tão lindo — America murmura depois de um tempo, um sorriso triste em seu rosto.

— Está satisfeita, então? — questiono, ignorando o antigo Eros que era apaixonado por ela e perguntaria o que há de errado.

— Claro. — Ela hesita. — Noah, ele quer… Nós queremos adiantar o casamento. Acha que tudo isso pode ficar pronto em um mês?

    Reprimo um suspiro. Além de diminuir o prazo para os rascunhos ficarem prontos, eles querem as joias antes da hora também?

     Obrigo-me a ver isso como um desafio profissional à empresa e ao meu pessoal, ao invés de uma afronta a mim e ao meu trabalho.

    É com esse pensamento que eu anuo.

— Sem problema algum.

— Ok. Obrigada. — America fica de pé e eu a imito.

    Mas ao invés de me deixar acompanhá-la até a porta, ela segura meu braço.

    Congelo onde estou, erguendo os olhos para ela.

— Eu sinto muito — diz, os olhos verdes movendo-se por meu rosto como se procurasse por algo.

— Como? — Por que de repente parece que estou tendo algum tipo de sonho bizarro?

— Eu nunca me desculpei por ter feito você passar por tudo aquilo.

— Por ter me traído com o meu melhor amigo, você quer dizer — não me importo em ser gentil ao dizer isso.

    America me solta, se encolhendo um pouco.

— Eu disse que sinto muito — repete, como se isso bastasse.

    Dou risada, apesar de não achar graça.

— Claro, porque isso basta, não é? — Foda-se o profissionalismo, penso, quando as palavras começam a sair da minha boca. — Um pedido de desculpas da boca para fora não apaga toda a merda que eu passei com a mídia por sua causa.

— Não é da boca para fora. — A voz de America endurece quando ela ergue o queixo. — Eu realmente sinto muito. Eu só queria… Eu só queria que você me perdoasse.

— Eu amava você — quase engasgo com as palavras. — Eu amava vocês dois. E vocês me traíram. Acha mesmo que posso perdoar você?

— Você está sendo injusto. Eu também sofri, ok?

— Enquanto trepava com ele? Desculpe-me se eu não acredito muito nisso. — Afasto-me dela, precisando respirar. Por que ela tinha que tocar nesse assunto? Por que não deixar o passado como está?

    Respiro fundo, lembrando daquele dia que eu peguei os dois no flagra. Eu tinha voltado de uma viagem com meu pai, que durou menos do que esperávamos — uma transação de pedras preciosas — e fui para casa, apenas para me deparar com a mulher que eu amava, montada no homem que era o meu melhor amigo.

    Eu não sabia que o amor podia acabar tão rápido como da forma que acabou para mim no momento que vi toda aquela cena. Eu não sofri por America, mas pela sua traição e a de Noah. Esse acontecimento teve tanto impacto sobre mim que hoje eu sou o que sou.

— Nós não estávamos mais dando certo, Eros — America sussurra atrás de mim. — Não éramos mais os jovens apaixonados de Harvard.

— E ao invés de conversar comigo, você foi procurar consolo no Noah — jogo de volta, sentindo aquela antiga ferida tomar meu peito. Viro-me para ela, encarando agora seu rosto molhado pelas lágrimas. — Quando você deixou de me amar, America?

    Seus cabelos pretos se movem quando ela balança a cabeça, negando.

— Na verdade… você se quer me amou algum dia? Ou eu sempre fui a segunda opção enquanto você mantinha um amor secreto por ele?

— Pare! Isso não é verdade. Eu te amava, você sabe. Mas.. Mas as coisas estavam diferentes. Você passava mais tempo aqui do que comigo e eu… eu estava me sentindo solitária.

— Eu estava trabalhando! — explodo. — Eu tinha uma vida além de você, America. Eu não podia simplesmente largar tudo e ir viver numa cabana eternamente com você, apenas porque você é uma mulher mimada que sempre teve tudo o que quis.

— Talvez fosse esse o problema. Talvez você não me amasse o suficiente para fazer sacrifícios. E tudo isso é sua culpa.

     Mais uma vez, solto uma risada sem humor.

— Culpe-me pela sua infidelidade se isso te faz se sentir melhor, mas nós dois sabemos que você poderia ter terminado tudo comigo ao invés de fazer pelas minhas costas. Você foi egoísta, hipócrita e infiel. Não eu.

     Seu peito sobe e desce rapidamente, as lágrimas já tendo parado de cair, fazendo com que eu me pergunte se não foi tudo uma atuação.

    Mas America sai do escritório antes que eu possa analisar melhor isso, deixando-me sozinho.

    Assim que ela fecha a porta, sento em minha cadeira e aperto o botão embaixo da mesa, trancando a porta e impedindo qualquer um de entrar.







     |                                  |   


Stella postando em dia de postagem???? Ouvi um amém???????

Eu não ia postar o capítulo, confesso, mas tô com ele no forno há quase dois meses, então tá aí KKKKKKKKKKK

Estão gostando da história? O que mais vcs querem ver na trajetória dos personagens???

Nesse capítulo a gente tem um pouco mais de interação da família Blackburn, algo que quero trazer mais para o livro pq na minha visão eles são o tipo de família que tem suas desavenças mas fariam qualquer coisa um pelo outro e eu acho isso muito honrável ♥

Mais uma vez temos uma cena icônica da Freya, né? Ksksks

E esse "QUASE" da Genevieve e do Eros outra vez???? Aiai esses dois...

E esse final da America e do Eros?? Quem vcs acham que tem razão nessa história??

Enfim, espero que tenham gostado!

Vou tentar cumprir a postagem de terça, juro!

Votem
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: autora.stella
2bjs, môres♥

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro