²⁰|Amigos ou Amantes?
Estaciono o carro na frente da casa e suspiro. Apesar de ter sido uma longa noite, estou feliz em estar em casa novamente. Eu amo a minha família, de verdade, mas um final de semana inteiro com eles é suficiente para eu repensar sobre isso. Isso me torna um péssimo filho? Provavelmente, mas não me importo, estou em casa agora.
Olho para o lado, para Genevieve cochilando com a cabeça apoiada no vidro da janela. A viagem de Oak Park para Chicago não foi longa, mas Genevieve dormiu dez minutos após entrarmos na estrada. Ela está cansada. Se só dormir no carro não fosse prova o suficiente, todos os sinais estão em seu corpo: suas sobrancelhas estão franzidas, mesmo enquanto ela dorme, além de estar tensa. Com a noite que teve, não me surpreende nenhum pouco.
No banco de trás, Freya também está dormindo. Na verdade, ela não acordou direito desde que saímos. Genevieve apenas a colocou no banco de trás e a enrolou com uma manta. Então ela está dormindo até agora.
Eu poderia ter deixado para virmos mais tarde ao invés de ter saído tão cedo, mas quando acordei às cinco depois de um cochilo, Genevieve já estava acordada, olhando para fora da janela, para o dia claro que quase me fez acreditar que não houve trovões e relâmpagos a madrugada inteira. Eu sabia que Genevieve queria vir embora logo, então nós arrumamos nós coisas rapidamente e saímos. Eu ainda estou usando calça moletom e uma camisa e ela também, além do meu moletom que eu a fiz vestir.
— Gen. — Toco seu ombro, ignorando que eu nunca a chamei assim antes.
Genevieve abre os olhos, surpreendentemente alerta. Ela suspira ao ver a casa e eu me vejo feliz com isso, que ela sente o mesmo alívio que eu em estar de volta.
— Sinto que eu poderia dormir por um ano — diz, umedecendo os lábios. Eu sei que o gesto não tem absolutamente nada a ver comigo e eu juro que não quero pensar nisso, mas imagens do que aconteceu entre a gente duas noites atrás surgem em minha mente.
São apenas sete da manhã, porra.
Antes que ela perceba que estou olhando para sua boca e que lembranças isso me traz, tiro o cinto de segurança e saio do carro, respirando fundo.
Eu sei que vamos ter que falar sobre isso. Não dá mais para evitar. Não depois desse final de semana. Entretanto… podemos adiar momentaneamente até nós dois termos energia o suficiente para essa conversa. Acho que eu nunca tive uma conversa assim com ninguém, então ficar ansioso para falar sobre isso, sendo que nem sei como falar, não faz sentido.
Genevieve sai do carro também, abrindo a porta do banco de trás. Ponho meu corpo em ação, indo até o porta malas e pegando nossas coisas. As coisas de Kate — e nem ela — estão aqui porque ela disse que voltaria com Lorelei e Anthony. Não sei se é porque ela estava com muita preguiça de sair da cama quando eu fui avisá-la que estávamos saindo, ou porque ela vai bancar o mediador entre os dois.
Eu ainda não quero pensar nesse problema — também não é da minha conta, apesar de eu sempre ignorar esse fato.
Freya e Genevieve conversam baixinho no banco de trás, até Freya descer do carro e Genevieve fechar a porta.
— Eu poderia carregá-la até o quarto — digo, pois Freya parecia — e ainda está — sonolenta enquanto segura a mão da mãe.
— Ela disse que quer ver os cachorros. — Genevieve dá de ombros.
Eu sorrio um pouco, puxando a trança de Freya. Eu ganho um sorriso, e provavelmente o meu dia. É bom vê-la sorrindo depois da última noite. Foi angustiante ver ela chorando e tremendo daquele jeito, sem eu poder fazer nada. Eu não quero nem pensar em como foi para Genevieve , então. Eu a vi sofrer junto com Freya e eu só queria poder proteger as duas, mesmo que acabar com uma tempestade não estivesse ao meu alcance.
Nós ouvimos os cachorros latindo antes mesmo de eu colocar o código para abrir a porta. E assim que eu abro, não temos nem a chance de entrar porque os cinco estão pulando em cima da gente, latindo, lambendo e cheirando.
Ainda bem que não tenho vizinhos.
— Tá bom, chega — resmungo para Aphrodite, a corgi. Ela está mordendo meus sapatos. Que ainda estão em meus pés.
Freya, coitada, está com Nyx e Zeus em cima dela, lambendo seu rosto. Eu acho que são poucas crianças que ficam rindo quando tem um pastor alemão e um husky siberiano adultos em cima delas.
Apollo está recebendo carinho de Genevieve. O cachorro sortudo.
Freya vai para a sala e os cachorros vão atrás dela como bons seguidores, então posso fechar a porta.
Deixei June, a empregada, encarregada de vir aqui algumas vezes ao dia para colocar ração para os cachorros e ficar um pouco com eles, então sei que foram bem cuidados.
— Café da manhã? — pergunto a Genevieve ao lhe entregar a sua mochila e a bolsa.
— Passo. — Faz uma pausa. — A não ser que a gente ainda vá para a empresa…?
Balanço a cabeça. Além de ela estar cansada — e eu também, para falar a verdade —, não tem ninguém para ficar com Freya, porque ela não vai à escola hoje também.
— Vá descansar.
— Você não precisa de ajuda com nada?
— Seria de grande ajuda se você sumisse da minha frente agora.
— Você é sempre tão agradável pela manhã, querido. — Genevieve força um sorriso, a voz enganosamente doce, antes de revirar os olhos.
— Você saberia o quanto eu sou agradável pela manhã se não tivesse saído correndo na outra noite — murmuro ao passar por ela e subir para o meu quarto.
❦︎
Eu não dormi muito, mas me sinto descansado. Eu poderia ter trabalhado no escritório, mas qual o sentido de um dia de folga se eu fizer isso? Então eu lavei roupa — só coloquei a roupa na máquina e estendi depois, mas enfim — e fui dormir. Quando acordei a tarde, desci para a cozinha e encontrei um bilhete de Genevieve dizendo que a minha comida estava no microondas. Foi gentil da parte dela e eu comi, feliz.
Ela e Freya não estavam à vista, então presumi que almoçaram e voltaram a dormir. Elas tiveram uma noite bem agitada.
Eu fui para a academia e enquanto corria na esteira e me exercitava na bicicleta ergométrica, terminei o livro que Genevieve me emprestou. Ou que eu peguei dela. Dá no mesmo. O fato é que o final não foi tão ruim quanto o começo. Eu achei meloso demais. Quer dizer, o cara — Gabriel, o melhor amigo — pediu a Tara em casamento com uma faixa sendo puxada por uma aeronave. Eu não sou contra declarações românticas, mas nesse casa eu achei um pouco demais. Porém, eles tiveram seu final feliz e aparentemente é isso que importa.
— A Carlota é sua mãe de verdade? — Freya pergunta de repente.
Depois que terminei na academia — e o livro — tomei um banho e vim fazer o jantar. Freya apareceu há uns dez minutos, grogue de sono ainda. Genevieve provavelmente vai me matar, mas eu dei suco de caixinha e biscoitos a Freya.
Agora estamos fazendo pizza. Bom, eu estou fazendo uma, e ela outra — uma mini pizza só pra ela.
— Depende do que "de verdade" quer dizer para você — respondo, abrindo a massa da pizza. — Carlota não é minha mãe biológica, mas ela me criou, então para mim, ela é a minha mãe de verdade.
Freya fica em silêncio enquanto trabalha para abrir sua própria massa.
É quando eu acho que ela já esqueceu o assunto, que ela volta a falar.
— Então você não saiu de dentro da barriga da Carlota?
Semicerro os olhos, me perguntando se ela estava pensando no que a palavra "biológica" quer dizer.
— Não.
— O que aconteceu com a sua mãe biológica, então?
Essa é uma boa pergunta. A mulher simplesmente sumiu das nossas vidas. Em vinte e cinco anos, não tivemos uma só notícia dela. Não procuramos por ela também. Acho que se uma pessoa sai da sua vida por vontade própria, não é sua obrigação fazê-la voltar. O casamento dos meus pais não estava indo bem, é verdade, mas ela podia ter apenas se separado de Enrico, como ele sugeriu. Ao invés disso, ela escolheu fugir com o amante e sumir completamente da vida dos filhos.
— Ela foi embora quando eu tinha mais ou menos a sua idade — respondo a pergunta de Freya.
— Ah. — De novo, uma das suas longas pausas. — Meu pai também foi embora. Eu era beeeem pequena porque eu ainda tava na barriga da minha mãe.
Mordo a língua para não dizer que ela e sua mãe estão melhor sem ele, porque seu pai é um babaca nível superior. Eu nunca daria as costas a um filho. Se America estivesse grávida quando nos separamos, eu não acreditaria nela — porque, vamos ser honestos, ela estava transando com o meu melhor amigo — mas eu exigiria um teste de DNA e se o filho fosse meu, eu lutaria por ele ou conseguiria um acordo com a América. Mas eu nunca o abandonaria.
O pai de Freya me enoja, seja ele quem for.
— Eu sinto muito — digo a Freya, porque não posso dizer tudo o que acabei de pensar.
Freya não dá sinal de que me ouviu, mas eu sei que sim, ela só não quer reconhecer. Eu também não sabia o que responder quando me diziam isso. Minha mãe não havia morrido — pelo menos até onde eu sei —, então era sempre estranho e desconfortável ouvir isso.
Apenas quando eu já montei metade da pizza, Freya volta a falar.
— Eros?
— Sim?
— Você também vai embora?
Paro de jogar queijo na massa e olho para a garota. Seus olhos azuis que me lembram muito a sua mãe, me encaram de volta e pela primeira vez eu não sei o que dizer a ela. Eu vou embora? Como eu digo que eu tive que mentir para sua mãe para que elas não fossem embora? E não estou falando só da casa. Minha vida, por mais estranho que pareça dizer isso, se tornou muito mais cheia de vida quando elas entraram nela.
E por mais que Freya seja a garota mais esperta que eu conheço, não acho que ela vá entender isso.
— Eu não vou a lugar nenhum, Spider — digo a ela, rezando para que isso não seja uma mentira.
— Você promete? — Freya me mostra o polegar.
Puta merda, eu estou prestes a prometer isso a ela? Todo mundo sabe que prometer algo a uma criança não é uma brincadeira. Eu não quero magoar Freya, mas também quero acreditar que não vou sair da vida dela.
Pressiono meu polegar no seu.
— Eu prometo.
Freya sorri, feliz, e volta para sua pizza.
Eu espero não quebrar essa promessa.
Eu lavo a louça depois que as pizzas ficam prontas e vão direto para o forno. Freya quer acompanhar esse processo também, então quando Genevieve aparece na cozinha, sua filha está sentada no chão, para poder olhar de um e um minuto para ver se as pizza já estão prontas, mesmo eu dizendo que não quando ela me pergunta.
Eu vejo Genevieve primeiro, uma satisfação estranha tomando conta de mim ao notar que ela ainda está usando meu moletom que fiz ela vestir mais cedo, ainda na casa da minha família. Seus cabelos estão bagunçados, mas ela nunca esteve mais linda, com um brilho revigorado no olhar e bochechas e lábios rosados.
— Ei, o que vocês estão aprontando? — pergunta, fazendo sua filha finalmente vê-la.
— Mamãe! A gente fez pizza, vem ver! — Freya levanta, vai até a mãe e puxa Genevieve até o forno. — Eu que fiz aquela ali. Na verdade, eu só montei, o Eros que fez a massa. Acho que já tá ficando pronta.
— A gente colocou tem só cinco minutos, Spider. Ainda falta um tempinho — lembro a ela.
— Quero que fique pronta logo.
— Já ouviu falar em paciência, mocinha? — Genevieve arqueia a sobrancelha para a filha, enquanto eu dou risada.
Seu olhar colide com o meu e vejo o mísero segundo quando seus olhos encaram meus lábios, antes de voltarem para cima. Ela engole em seco e eu me concentro na louça.
— Dormiu bem? — pergunto sem olhá-la.
— Sim. Eu dormi o dia inteiro. E você? Freya não o acordou, né?
— Não. Eu já estava aqui na cozinha quando ela desceu.
Pelo canto do olho, vejo Genevieve assentir e não falamos nada um para o outro novamente. Eu ouço Genevieve e Freya conversarem sobre coisas aleatórias depois que Genevieve convence a filha a sentar na ilha.
Aquela tensão voltou com força total entre Genevieve e eu, isso está claro. Tentamos agir normalmente durante o jantar, mas quando sua mão encosta na minha quando nós dois temos a ideia de pegar a jarra de suco, eu juro por Deus que sinto um tipo de choque. E pela forma como ela rapidamente se afasta, o sentimento é mútuo. Mas claro, não falamos sobre isso. Acho que esse é o nosso lema.
Um pouco depois desse "momento", percebo com diversão que Genevieve está usando a filha como desculpa para não ficar sozinha comigo. Quando Freya sai da mesa para ir para a sala, como ela sempre faz depois do jantar, Genevieve diz que vai fazer brigadeiro e precisa da ajuda da filha — que sendo Freya, e uma criança, se anima.
— Você não precisava se esforçar tanto para não ficar sozinha comigo, amor — murmuro para Genevieve, aproveitando que Freya está distraída colocando leite condensado numa panela. — Eu já disse: não vou fazer nada que você não queira e acredite em mim, você vai querer ficar a sós comigo.
❦︎
Na manhã seguinte, no trabalho, começo minha rotina indo ver Sullivan, para saber como está indo as joias de casamento de America. Felizmente não há imprevistos nisso, o que me deixa aliviado. Vamos conseguir entregar tudo na data definida por ela, já que resolveu adiantar o casamento.
Eu não fico muito tempo no escritório depois dessa pequena visita ao ourives. Kate me informou assim que cheguei que meu pai marcou uma reunião em meu nome como um dos fornecedores. Eu odeio bancar o CEO em horas vagas, mas se meu pai está me mandando é porque ele não pode ir por algum motivo importante. Felizmente, além de Designer de Joias, observei meu pai ao longo dos anos, o suficiente para saber como ele age nessas reuniões.
Infelizmente, a reunião é fora da empresa. Por isso passo as próximas duas horas num café, no shopping. É entediante pra caralho. O homem cujo eu vim me encontrar fica mais interessado no bolo que eles servem aqui, do que na nossa conversa. O cara até tenta me fazer comer, mas eu evito doces sempre que possível, então recuso o mais educadamente possível sem mandar o homem ir pra casa do caralho.
Quando a reunião acaba, meu humor está horrível. Não é nenhuma grande novidade, mas eu estava relaxado por voltar a trabalhar. Agora todas as minhas energias foram sugadas, parece. Eu nem mesmo sorrio para as mulheres que me lançam olhares e sorrisos enquanto caminho pelo shopping. Certo, o fato de eu continuar com a cara de quem vai matar alguém quando retribuo o olhar delas não tem nada a ver com o meu péssimo humor. O que é ainda pior e só me deixa mais irritado e mal humorado.
Eu preciso voltar para a empresa, terminar um estudo sobre peças egípcias que comecei semana passada, mas me vejo entrando em uma livraria… que está estranhamente lotada. Eu realmente fico surpreso. Achei que as pessoas só liam naqueles aparelhos hoje em dia.
— Bom dia! Bem-vindo a Books is the Limit, em que posso ajudá-lo? — Uma garota surge do nada, parando na minha frente. Ela não parece ter mais que dezoito anos e olhe lá.
— Eu vim comprar um livro — murmuro, olhando em volta.
— Obviamente, porque isso é um livraria. — Agora ela está me olhando como se eu fosse idiota.
Eu a ignoro, passando por ela e começando a olhar os livros.
— Está procurando um livro específico? — a Garota Alegre pergunta, seguindo meus passos.
— Não.
— Um gênero?
Eu paro. Por que raios eu entrei aqui mesmo? Eu não vou comprar um livro para mim.
Não, você entrou porque quer comprar um livro para Genevieve.
Tensiono a mandíbula. Agora estou comprando livros para ela, poderia ficar mais estranho? Quer dizer, eu já posso vê-la olhando para mim como se fosse um extraterrestre. Nós trabalhamos juntos há três anos e nunca dei uma bala a ela, muito menos um livro. Claro, eu não sabia que ela gostava de ler, mas essa informação não teria mudado nada no passado.
Entretanto, agora é presente e você vai comprar um livro para ela.
Acho que estou ficando esquizofrênico. Essa voz idiota na minha cabeça geralmente direciona todos as minhas ações ruins.
— Onde fica a sessão de romance? — pergunto por fim, dando o braço a torcer.
A garota me guia até lá e quando eu só fico olhando para os livros, ela pega um e começa a falar dele para mim. Ela faz isso com vários livros, na verdade. Eu não vejo mais ninguém tendo o mesmo tratamento, mas também nenhuma outra pessoa parece carrancuda e pronta para matar. E eu nem quero matar ninguém, essa só é a minha cara normal.
De qualquer forma, eu agradeço a essa garota. Já me sinto deslocado o suficiente aqui, vestindo terno enquanto todo mundo parece casual.
— Vou levar esse. — Pego o livro da sua mão. A capa não é feia e a história não parece ser tão ruim. Fala sobre uma mulher que está tentando superar algo que aconteceu no passado quando conhece um homem que (palavras do livro) balança seu mundo inteiro. Tem mais coisas e leio rápido demais para o meu cérebro registrar. Parece algo que Genevieve leria.
— Ótima escolha. Na verdade, a autora está dando uma sessão de autógrafos aqui hoje.
Eu encaro a garota, querendo não ter ouvido o que ela disse. Não. Eu definitivamente não vou pegar aquela fila enorme para conseguir um autógrafo num livro que nem é para mim.
— Próximo — a mulher com crachá chama.
Eu me aproximo, ignorando os olhares. Quer dizer, o que tem demais em eu ser o único homem adulto em um fila com mulheres adultas, adolescentes de dezesseis anos e três caras — APENAS TRÊS CARAS — que ainda tem espinhas no rosto? É tão incomum assim homens lerem romance? Mesmo que esse livro idiota não seja para mim.
A escritora, uma mulher que parece ter a mesma idade de Genevieve, negra, com dreads no cabelo, sorri gentilmente para mim ao pegar o livro.
— Qual o seu nome? — pergunta.
— Não é para mim, é para… a minha noiva.
Na fila atrás de mim, eu juro por Deus que ouço um gritinho e alguns suspiros.
Alguém me tira daqui.
— O nome dela é Genevieve — continuo, ignorando como meu rosto está quente. Não. Eu não estou corando. E só disse que ela é minha noiva porque pode ter pessoas aqui que nos conhecem desses sites de fofoca.
A escritora sorri ainda mais, começando a escrever no livro.
— Você deve amá-la muito — diz. — Conheço poucos homens que ficariam numa fila com adolescentes histéricas apenas para conseguir um autógrafo para a mulher que ama. E todos eles estão dentro de livros.
Eu não digo nada, mas estou definitivamente corando, mesmo que essa mulher esteja completamente enganada.
Quando ela termina, eu agradeço, pego o maldito livro e vou embora.
❦︎
Meu dia piora quando chego na empresa faltando pouco para a hora do almoço. Meu pai quer uma reunião de emergência. Eu poderia achar que tem algo a ver com o final de semana passado, mas ele raramente discute nossos problemas de família na empresa. É para isso que temos o Jantar de Família toda quarta e porque geralmente acaba em discussão. Além disso, o único "incidente" foi aquele com Khalil, que ele nem ficou sabendo.
Nem eu mesmo sei o que foi aquilo direito. Eu tinha ido colocar Freya para dormir e quando desci, Genevieve não estava na sala. Então quando fui atrás dela, encontrando ela e meu irmão na varanda. Se eles estivessem conversando, eu não teria me irritado, mas Khalil estava segurando o braço de Genevieve. Nenhum dos dois me falou sobre o que era a conversa, mas o desgosto inegável por Genevieve estava estampado no rosto do meu irmão. Eu não sei o motivo disso. Ele nunca tinha mostrado nenhuma aversão a ela. E ele nem estava bêbado.
Quando entro na sala do meu pai, penso que talvez eu possa descobrir o que motivou tal reação ao meu irmão, já que ele está jogado no sofá do escritório.
— Outra reunião em família? — questiono, pois Anthony também está aqui.
— Temos um problema — meu pai, sentado em sua cadeira, avisa. Pela sua cara e a de Anthony, sei que não é coisa boa. Khalil está indiferente como sempre.
— O que é?
Ao invés de falar, Anthony me entrega um tablet. Eu encaro as joias na nossa próxima coleção — não as de inverno, faltam meses para aquele lançamento — mas outra que trabalhei dois meses atrás. É completamente exclusiva e com peças limitadas.
E está disponível no site da Bijoux Prescott.
— Que porra é essa? — pergunto pausadamente.
— Então é realmente a nossa coleção — meu pai contesta. — Estávamos esperando que fosse só… parecida.
Eu não digo nada, olhando cada peça, dando zoom e vendo de ângulos diferentes. Eu não preciso ter essas joias nas minhas mãos para saber que fui eu quem desenhei.
Jogo o tablet na mesa e passo a mão pelo rosto.
— Quando isso saiu? — pergunto.
— Hoje pela manhã.
Porra.
Não é a primeira vez que Adrien rouba nossos designs, mas isso parou há uns anos quando demitimos vários funcionários. Achamos que finalmente tínhamos conseguido eliminar o espião dele da empresa, mas pelo visto estávamos enganados.
— O que faremos? — Não sei a quem Anthony dirige essa pergunta.
— Aqueles filhos da puta. Deveríamos tacar fogo naquela porra de empresa — digo, sem esconder minha raiva.
Meses de trabalho. Horas e mais horas de pesquisa, estudando diversos designs e culturas diferentes para fazer algo original, mas que chamasse atenção dos nossos clientes. Foi um dos meus melhores trabalhos, porra.
— Podemos denunciá-los — meu irmão mais novo sugere.
— Com que provas? Há anos ele faz isso e nunca pegamos o culpado. — Balanço a cabeça, andando de um lado para o outro. — Desgraçado.
— Tem que ser alguém que está presente na criação. — Lanço um olhar a Anthony. Ele revira os olhos. — Não você, seu idiota. Nem o Sullivan. Ele está há muitos anos com a gente, eu não acho que seja ele.
— Nem eu — meu pai concorda. — Eu era amigo do pai dele. Não é o Sullivan.
— Não é porque o pai dele era alguém decente que o filho também será — murmuro.
— Ouça o que estou dizendo: não é ele.
— Tudo bem — Anthony intervém porque eu já ia retrucar. — Temos mais quatro ourives, contratados nos últimos anos, pode ser algum deles. Eles trabalham diretamente com as joias. Tem acesso a todos os trabalhos de Eros.
Ninguém diz nada. Eu conheço os quatro, mas eles não estão conosco há tantos anos quanto Sullivan, então eu não sei das suas vidas como sei do velho. Há uma grande possibilidade de ser um eles, mas ainda não acredito totalmente.
— Não são só os nossos designs que Adrien tem roubado — penso em voz alta. — Não é alguém que está presente apenas na criação. Além disso, qualquer pessoa aqui dentro pode invadir meu escritório, fazer cópias e nós não sabermos. Até mesmo um faxineiro.
— A empresa que está conosco esse ano é outra. Eu demiti a antiga naquela varredura — meu pai lembra. — Que aparentemente foi em vão.
— Ou eles podem ter colocado outro espião agora — Anthony argumenta.
Enrico suspira, se recostando em sua cadeira. Ele parece cansado, muito diferente do homem alegre que passou o final de semana rodeado pela família.
— Eu fico impressionado com como vocês são burros — Khalil diz de repente. Eu tinha esquecido que ele estava aqui, já que ele não forneceu nenhuma ajuda. Até agora.
— Oh, por favor, nos ilumine com a sua inteligência, caro irmão — desafio, irritado.
Khalil ignora meu sarcasmo, ficando de pé. Sua camisa amassada está parcialmente escondida debaixo da jaqueta de couro preta que ele sempre usa.
— Não é um espião. É uma espiã — diz, caminhando até a janela de vidro. — E todos vocês a conhecem.
— Aposto que sim, mas agradeceríamos se você pudesse nos lembrar — Anthony fala, sua paciência tão no limite quanto a minha.
Khalil vira para nós e olha para os nossos rostos.
— Sério? Vocês não vão mesmo falar o nome que passou pela cabeça de vocês agora? — Ergue as sobrancelhas. Cruzo os braços, esperando. — Gente, qual é?!
— Eu vou socar a porra da sua cara se você não falar logo — digo, e estou falando sério. Eu odeio suspense, porra. Ainda mais uma coisa tão importante assim.
— Tudo bem. Vou dar uma dica — O filho da puta está se divertindo. — Idade média: quais pessoas eram queimadas em fogueiras?
— O quê? — Franzo as sobrancelhas. Ele está de brincadeira com a nossa cara? — Você está drogado?
— Bruxas — Anthony responde.
— Exatamente. Mulheres com quais características eram consideradas bruxas?
Anthony abre a boca para responder, mas então para, olhando para o nosso irmão com incredulidade.
— Vamos, Tony. Diga — Khalil desafia.
Anthony balança a cabeça, mas murmura:
— Mulheres ruivas.
Orgulhoso, Khalil me encara.
— Sua bruxinha é uma espiã.
Silêncio. Eu encaro meu irmão enquanto tento decidir se eu acerto o lado esquerdo ou o direito do seu rosto primeiro. Talvez o nariz? Um nariz quebrado não parece algo tão ruim, não é? Eu sei que Khalil vai se recuperar rápido.
— Genevieve não é uma espiã — digo calmamente, entretanto. — Ela não trabalha para Adrien.
— Eu não esperava que você visse a verdade, mas ainda é decepcionante. E compreensível. Ela é gostosa, eu também não pensaria com a cabeça de cima se estivesse no seu lugar.
Dou um passo para frente, minhas mãos já fechadas em punhos, mas Anthony põe a mão em meu peito, me impedindo de avançar. Eu nem vi ele se aproximar.
— É o Khalil. Ele está provocando você — diz para mim.
— Khalil, essa é uma acusação muito grave — meu pai diz.
— Você tem provas? — Anthony questiona.
— Não há provas — atiro de volta, afastando-me dele. — Estamos falando da Genevieve, porra. Vocês perderam a cabeça?
— Aparentemente eu sou o único pensando aqui — Khalil mais uma vez. Ele está falante demais hoje.
— Você. — Aponto para ele, dando passos em sua direção. — Por que isso agora? O que diabos você ganha acusando-a desse jeito?
— Porque eles roubaram a porra dos nossos designs outra vez! — Khalil explode. Se foi a diversão, agora ele só parece furioso. — Justamente quando você e Genevieve anunciam que estão noivos. Não está óbvio? Ela finalmente está mostrando as caras depois de passar três anos colhendo informações.
Balanço a cabeça para a baboseira que ele está dizendo. Quando foi que isso aconteceu? Sim, eu achava que Genevieve era uma espiã no início, mas porra, ela está fingindo ser minha noiva sem nenhuma obrigação, estamos morando na mesma casa, eu faço panquecas para a filha dela todos só dias. Eu sei que ela não está trabalhando para o pai. Eu não seria enganado tão facilmente assim.
— Você está errado — digo a Khalil, então volto para nosso pai que não disse mais nada. — O senhor não está acreditando nisso, está?
Enrico passa a mão na barba, pensativo. Ele está cogitando mesmo isso.
— O senhor me disse, quando ela chegou aqui há três anos, que a lealdade dela permaneceria conosco. Estava certo e nada mudou.
— Você está trepando com ela, é claro que algo mudou — são as palavras de Khalil. — Ela deve ter uma boceta de ouro pra te deixar tão cego assim.
A próxima palavra que sai da sua boca é "porra", depois que lhe dou um soco. Eu escolhi o lado esquerdo, aliás.
— Nunca mais fale dela desse jeito — aviso a ele, que está massageando o rosto e me olhando com raiva.
— Chega, vocês dois — nosso pai manda, ficando de pé e se colocando entre nós. — Khalil, você pode ter uma opinião sobre Genevieve, mas não admito que a desrespeite.
— Foda-se — rosna, caminhando em direção a porta.
Ele não tem a chance de abrir porque Katrina faz isso, seus olhos se arregalando ao notar a expressão de Khalil. Ela se escora na porta aberta, deixando-o passar, e quando ele sai, ela olha para nós.
— Desculpem a interrupção, mas a srta Yamamoto quer falar com o senhor. Ela disse que é urgente — Katrina diz para mim.
— Obrigado, Katrina. Eros já está indo — meu pai a dispensa e a mulher sai da sala. — Vá. Essa conversa já acabou. E você precisa pedir desculpas ao seu irmão.
— Uma porra que eu vou — resmungo e saio da sala também.
Kate não mandaria Katrina interromper uma reunião se não fosse extremamente importante.
Mas antes que eu desça para o meu andar, as portas do elevador abrem e revelam a própria Kate.
— O que foi agora? — pergunto, pois sua cara me diz que não é nada bom.
— Você não vai gostar.
❦︎
— Minha sala. Agora — digo a Genevieve assim que saio do elevador. Ela está no balcão, comendo. Ela e Kate provavelmente estavam fofocando antes da minha secretária ir me chamar.
Genevieve ergue os olhos, franzindo as sobrancelhas. Ela olha entre Kate e eu.
— Eu estou no meu horário de almoço — diz.
— Estou com cara de quem se importa com isso? — Passo por ela, seguindo para minha sala. — Eu não vou mandar de novo.
Assim que entro, vou até minha mesa e pego meu tablet. Lorelei me mandou a matéria. Eu acabei de voltar do seu escritório depois daquele momento maravilhoso em família que tive com meu pai e meus irmãos. Então porque eu sou Eros Blackburn e o universo está decidido a me odiar e a ferrar com a minha vida, eu tive que lidar com Lorelei também. A pior coisa não foi nem a mulher, mas o que ela me mostrou.
Genevieve entra no escritório, fechando a porta.
— Nunca mais fale comigo daquele jeito — diz, sem esconder que está irritada. Ótimo, somos dois.
— Você pode me explicar porque uma foto sua com Bruno foi parar num site de fofocas? — questiono, empurrando o tablet na sua direção.
— O quê? — Eu acredito no seu choque quando ela pega o aparelho da minha mão, sentando-se na cadeira enquanto lê.
Foi o motivo de Kate ter ido atrás de mim e me lavado até Lorelei, que estava surtando.
O título da matéria?
“Amigos ou amantes?”
O resto?
“Genevieve Prescott teve seu nome trazido à mídia ultimamente não só por ser herdeira de Adrien Prescott, mas também por estar noiva do concorrente do seu pai: Eros Blackburn. O recém noivado levou todos à loucura, mas será que esse amor todo é verdade?
Na última quinta-feira, a Prescott mais nova foi flagrada com o empresário e mais novo dono da MundialZ, Bruno Torres.
Diante disso, várias perguntas surgem: como se conheceram? Onde estava Eros enquanto sua noiva dançava nos braços de Torres?
E a pergunta mais importante de todas: Amigos ou Amantes?”
E uma foto de Genevieve e Bruno. Eu soube que foi do dia que eles saíram juntos por conta do seu vestido. No momento em que a foto foi tirada, elas estavam em algum tipo de pista de dança, com os braços dela ao redor do pescoço dele, enquanto Bruno tem as mãos em sua cintura. Essa não é a pior parte. Sim, eu fiquei puto por ver outro homem tocando-a, mas senti o verdadeiro golpe quando vi que ela estava sorrindo para ele. Ela nunca sorriu para mim assim e ali estava Bruno, ganhando aquele sorriso apenas porque a levou a um encontro.
Eu quero matar aquela idiota.
— Quando isso foi postado? — Genevieve pergunta.
— Hoje de manhã. — Sento em minha cadeira.
— Mas eu saí com Bruno na quinta. Por que demorar quatro dias para publicar? — Franze as sobrancelhas, colocando o aparelho em cima da mesa.
— Não sei, talvez você devesse perguntar a ele.
— O quê? — Genevieve parece realmente confusa.
— Não faça essa cara. É óbvio que foi seu amiguinho que planejou isso — aponto a primeira coisa que eu pensei quando me acalmei o suficiente para raciocinar. — Talvez ele esteja até trabalhando com o seu pai.
— Oi? De onde você tirou isso?
— Você não acha tudo isso muito conveniente para ele? Eu vi como ele olhou para você no coquetel. Seria muito bom para ele acabar com o nosso noivado, você não acha?
— Nosso noivado falso — ela me lembra.
— Que ele não sabe que é falso, então ele pode muito bem estar tentando "nos separar". — Faço aspas com os dedos para que ela não me lembre outra vez que nosso relacionamento é de mentira.
Genevieve fica quieta, desviando rapidamente dos meus olhos. Algo no que eu disse causou essa reação, com certeza…
— Você contou a ele, não foi? — Encaro-a atentamente, vendo o leve tremor em suas sobrancelhas e a forma como ela está girando obsessivamente o anel em seu dedo. — Como você pôde confiar nele?
— Ele é o meu amigo — rebate, devolvendo o olhar.
— Você não vê o cara há dez anos! — Quando foi que ela deixou de ser racional? Você não sai contando seus segredos para uma pessoa que você não vê há uma década.
— E daí? Eu sei julgar o caráter de alguém, ok? — Fica de pé.
— Você contou a ele sobre a Freya? — diga que não.
— Sim.
Cerro os dentes. Eu tento não deixar isso me afetar também. E daí que ela demorou três anos para me dizer que tinha uma filha? Ela não contou, você descobriu. Sim, sim, mas foda-se isso, certo? Eu não exiji todos os seus segredos ao lhe contratar.
Então porque apesar de tentar parecer indiferente, você está magoado?
Eu não estou magoado. Estou pouco me fodendo. A vida é dela, se ela quer confiar em um otário que ressurgiu do nada, eu não estou nem aí.
— O que vamos fazer? — questiona quando eu continuo calado.
— Você já estragou coisas o suficiente. Lorelei vai cuidar de tudo.
Genevieve não gosta da minha resposta, cruzando os braços.
— Não fale assim. Eu não tenho obrigação alguma com você além do trabalho e ser exibida por aí como seu brinquedinho não é o meu.
— Eu não pedi por isso. Você fez essa bagunça — devolvo.
Genevieve descruza os braços, fechando as mãos em punhos. Isso me lembra muito o dia que ela entrou nesta sala pela primeira vez. E como naquela ocasião, nenhum de nós dois está minimamente feliz com a presença um do outro.
— Saia. Ainda está na sua hora do almoço.
Seus olhos atiram flechas imaginárias na minha direção, tenho certeza.
Então ela sai e eu fico sozinho.
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Ooooooi. Tudo bom??
Eros e Freya roubando a cena mais uma vez, né?🤧♥
Oh, gente, o Eros pegando fila pra conseguir um autógrafo num livro pra Gen. A META DE MILHÕES!!!!!!!!!!!!
Eu sei que o Khalil tá sendo muito babaca, mas desde o início eu deixei claro que ele seria um personagem mais difícil de lidar😢
Vcs acham q o Eros tá certo sobre o Bruno ter vazado as fotos?
Enfim, até ♥
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2bjs, môres♥
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