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Capítulo 27

A esperança é a última que morre...

Tudo o que eu havia planejado para a noite anterior não havia dado certo. Cheguei em casa por volta das 23:00, tomei um banho e me arrumei para esperar a ligação dos meus pais que estavam na casa de amigos comemorando alguma coisa com um jantar especial. Mas as horas foram passando e parece que eles esqueceram do filho e resolveram esticar a noite.

No dia seguinte, acordei todo torto no sofá da sala, por simplesmente ter esperado demais. Era óbvio que eu não tinha adiantado o assunto e eles pensaram que era algo banal ou que o filho estava apenas com saudades e queria conversar.

Eu tentaria ligar novamente hoje assim que chegasse do trabalho, pois hoje planejava chegar cedo, mas sabia que seria impossível. Porque eu havia marcado com Diego de acompanha-lo em uma viajem de negócios e dependendo de como fosse a situação por lá, só voltaríamos no outro dia como era de costume. Ele detestava essas coisas e por isso eu ofereci a minha companhia. Assim que cheguei na empresa nos encontramos no corredor e conversamos um pouco antes de chegarmos nas nossas respectivas salas. O mesmo aproveito para me contar sobre o jantar que sua mãe o intimou a comparecer. Achei engraçado quando afirmou que era pura armação de dona Elisa, querendo apresentar-lhe a filha de uns amigos da época de faculdade. Ela realmente não perdia a mania de tentar buscar uma esposa perfeita para o seu filho, que já me revelou não estar interessado em compromisso no momento, talvez futuramente o mesmo se a canse dessa vida solitária e arrumei uma companheira. Às vezes eu me tornava curioso em relação a sua vida, porque não entendia o motivo de tanta recusa em se relacionar com alguém. Tentei várias vezes conversar com ele sobre isso e o mesmo se torna bastante evasivo, então decidi me manter na minha e esperar que se sinta mais confortável para me dizer.

Quando chegamos ao andar, nos despedimos e comecei a trabalhar. Minha secretaria felizmente havia aceitado o nosso termino e estava agindo profissionalmente. Dei graças porque não teria cabeça de entrar em contato com o recursos humanos para selecionar uma nova candidata. O expediente começou e adiantei o trabalho estava ansioso, queria que chegasse logo a hora da viajem para poder espairecer. Respirar um pouco de ar puro e pensar melhor na minha vida.

O tempo passou e de repente uma neblina invadiu o clima parcialmente nublado, uma forte tempestade ameaçava a chegar. Diego ligou para minha sala minutos depois, cancelando a viajem por conta do mal tempo e todos fomos liberados mais cedo. Era quase 11:00 quando peguei o carro e parti para casa, pois havia recebido uma mensagem da minha mãe, se desculpando por não termos nos falado ontem por Skype.

Parei num sinal fechado e notei o transito lento, liguei o rádio local e informaram sobre ventanias, arvores tinham sedo derrubadas e por isso que o transito estava daquele jeito. Resolvi pegar um atalho quando notei que demoraria a chegar em casa se continuasse naquela estrada parada. Não consegui me livrar da chuva, que começou fraca, mas depois aumentou consideravelmente. Queria poder parar e esperar que passasse, por que dirigir assim era arriscado. Passou-se alguns minutos e notei que o desvio só me fez ficar longe do meu bairro. Estava dando a volta quando avistei uma parada de ônibus, me aproximei buzinando, pois havia uma moça ali, totalmente desprotegida e levando chuva. Fiquei ainda mais desesperado quando cheguei ainda mais perto e reconheci a moça, Aline.

Mas o que ela estava fazendo por essas bandas, que eu saiba, a mesma trabalhava perto de casa e estava temporariamente na casa da amiga que morava um pouco longe daquele local. Depois daquele dia, Sarah pegou meu número e ficamos em contato. Queria saber mais de Aline e que aceitasse a minha ajuda. Não pensasse só em trabalhar e cuidasse mais da gravidez. Aline era orgulhosa, estava fazendo jogo duro e não queria que eu me metesse em suas decisões. Tínhamos ido ao médico recentemente para que desse início ao pré-natal e fizesse os exames pedidos pela médica do posto de saúde. Queria entender como a mesma vivia, se tinha família ou era sozinha. No dia em que nos reencontramos, não falamos sobre isso. O choque da notícia foi tão grande que não me atentei aos pequenos detalhes. Ela realmente precisava de ajuda e naquele momento eu era o único que poderia tira-la dessa situação.

Sem pensar, abri a porta do carro e saí desesperadamente tirando o blazer, queria chegar perto dela e tira-la daquela chuva. A mesma abriu os olhos no mesmo instante e sorriu para mim. Como se eu fosse um milagre que apareceu para tira-la daquele sufoco. Peguei em seu braço e obriguei-a a se levantar, pegando a mochila que apertava em seu colo. Joguei o blazer por cima de seus ombros e a levei para o carro. Eu tinha ciências de que o risco de ficarmos doentes era altíssimo e tentei ser o mais rápido possível. Quando entrei no carro, me permitir olhar mais para ela e reparar no quanto estava ensopada e ainda mais com roupas inapropriadas para um clima chuvoso. Mas tudo ficou ainda pior quando olhei para sua saia curta e vi um fino traço de sangue escorrendo por suas pernas molhadas. Tentei me manter calmo para não causar alardes, mas minhas expressões demonstravam desespero. Me apressei em ligar o carro e correr para a clínica mais próxima. Que era onde realizamos os exames. Programei o GPS por voz e sai daquele labirinto. Não sabia ao certo de como fui parar ali, apenas segui alguns carros e acabei naquele lugar estranho. Mas pensando bem, o destino me pôs ali para lhe ajudar.

Quando Aline tomou conhecimento do que estava acontecendo, começou a gritar. Pedindo desesperadamente para que eu não deixasse que perdesse o filho. Era óbvio que eu jamais deixaria aquilo acontecer. Chegamos na clínica minutos depois porque avancei sinais e ultrapassei vários carros. Arriscado? Com certeza, mas não podia deixar que o pior acontecesse com ela e meu filho.

Estacionei de qualquer jeito, gritando por médicos e enfermeiras que pudessem me auxiliar naquele momento. Tentei tira-la do carro, mas a mesma tombou em meus braços e quando fixei meus olhos nela, me assustei com a aparência pálida. Aquilo me desesperou, tanto que me senti impotente. O medo se apossando de mim. Os profissionais de saúde chegaram para nos ajudar, uma das enfermeiras a tomou nos braços e depositou-a numa maca. Uma medica apareceu me dizendo que tudo ficaria bem quando a levassem para ser examinada. Só reagir quando a mesma se afastou e gritei que a paciente estava gravida de poucas semanas.

Horas se passaram e ninguém se dignou a me dar uma notícia. Não sei nem quantas vezes fui na recepção e não souberam me informar nada sobre o estado de saúde dela. A preocupação era visível, pois temia pelo nosso filho. Estava prestes a invadir a sala de emergência quando a médica apareceu na recepção.

— Você é parente da paciente, Aline? — Perguntou, sabia seu nome pelos dados que forneci na recepção quando chegamos.

— Não, mas sou o pai do filho que... — Parei, temendo pela notícia que receberia. Para falar a verdade não queria nem pensar que o tinha perdido.

— Certo, as notícias são boas e ruins. — Iniciou, olhando uma prancheta que a mesma carregava nas mãos e depois pediu com gestos para que o a acompanhasse. — Ela teve um pequeno descolamento de placenta, mas conseguimos reverter o quadro. Mãe e bebê passam bem.

O alívio invadiu meu corpo ao ouvir suas palavras e agradeci mentalmente a Deus por isso, pois não queria perde-lo. Apenas desejava que a mãe parasse de ser tão teimosa e aceitasse a minha ajuda. Não precisava mais trabalhar duro e pensaria mais em se cuidar para manter nosso filho saudável. Depois do susto que tivemos agora, eu ficaria ainda mais atento em relação a isso.

— E qual a notícia ruim? — Queria saber, para ver se tinha algo que eu pudesse fazer para ajudar.

— Ela está com falta de certas vitaminas, precisa de repouso absoluto a partir de agora ou a gravidez será prejudicada.

Aquilo soou como um alerta, precisava impor a minha presença na vida de Aline e faze-la entender que o filho não era só dela e teria que seguir todas as recomendações médica a partir de agora. Caminhamos até um quarto e a mesma abriu a porta para mim, onde estava a razão do meu desespero. Aline permanecia deitada, dormindo. A médica havia me avisado que estava sedada e só acordaria mais tarde. Sentei-me num divã ao lado do leito, observei-a uns minutos antes de encostar minha cabeça na parede e me permitir respirar. Agradecendo por eles estarem bem.

❤❤❤

Beijos e até o próximo capítulo...

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