1
Para Logan, era difícil saber que estava prestes a passar pelo último estágio dos outros dois. Era difícil perceber tudo o que sua namorada, Julia, havia percebido tão rapidamente. Se ela atendesse as ligações, provavelmente o explicaria o que estava acontecendo. Mas já que ela não atendia as ligações e nunca estava em casa, ele teria que entender tudo sozinho.
Em sua mente só havia espaço para especulações. Será que ela havia se apaixonado por outro? Será que estava cansada do ciúme passional de seu namorado? Será que as brigas do casal haviam se tornado cansativas e repetitivas demais para ela?
Não haveria como saber se ela não atendesse o maldito telefone.
- Julia - ele suplicou novamente, quase chorando ao lado do telefone -, só quero entender o que está acontecendo conosco. - Ele se sentou no carpete, já sentindo as bochechas molhadas pelas lágrimas silenciosas. - Quando... Quando ouvir isso me ligue, por favor. - E desligou, olhando para o nada, ainda tentando entender o que fizera.
(...)
- O número que você ligou não está... - Logan desligou o telefone, irritado, ainda sem acreditar que sua namorada - se é que ele ainda podia chamá-la disso - havia mudado o número do telefone de sua casa.
Ele ainda não entendia o que estava acontecendo, assim como na semana anterior. Era estranho passar horas e mais horas parado olhando para o nada, quando voltava da faculdade, apenas pensando na mulher que ele havia feito promessas e mais promessas.
Talvez, aquele fosse o problema. Talvez, fazer promessas para uma mulher que não vivia pensando em seu futuro tenha criado o atrito que era bem visível para todos.
Boa parte de seus pensamentos no momento eram sobre ela. E, se não fossem sobre ela, eram para ela. O estranho, porém, é que Logan nunca agira daquele jeito. Talvez, ele estivesse mais apaixonado do que esperava estar.
(...)
Amor
Aos poucos, ele foi percebendo o primeiro estágio, o mais evidente de todos.
Era fácil perceber que ele a amava, e era fácil perceber que ela parecia amá-lo. Então, logo ele se apegou àquele fato, torcendo para ainda ser verdadeiro.
*
- Desculpe, desculpe, desculpe! - Julia dizia freneticamente enquanto tentava ajudar Logan a se levantar. - Minhas amigas são umas idiotas, me empurraram na sua direção. Oh, Deus, me desculpe!
- Tudo bem - Logan se levantou segurando as costelas, que estavam um pouco doloridas. - Não senti nada.
Se fosse qualquer outra pessoa, ele certamente gritaria e faria o maior disparate. Mas, como era uma morena bonita, ele decidiu segurar sua irritação dentro de si se ser gentil com a moça.
A garota sorriu, envergonhada, passando as mãos pelos cabelos.
- Tem certeza de que não te machuquei?
- Absoluta - comprimiu os lábios ao sentir uma pontada na parte dolorida.
- Não acredito em você.
- E o que te faria acreditar em mim?
- Quer sair comigo?
Ele ergueu as sobrancelhas, um tanto surpreso com o convite.
- Como?
- Podemos ir tomar um café em qualquer lugar.
- Bem... eu nem sequer sei o seu nome.
- Meu nome é Julia - ela sorriu. - Parece que agora não tem desculpas para me recusar.
- Então vamos, srta. Julia - ele também sorriu, nem um pouco triste por ter caído e machucado suas costelas.
*
Ela ainda o amava. Tinha que amar. Pois, se não amasse, quem mais amaria?
Era impossível imaginar alguém que o completasse como ela fazia. Uma pessoa que sorria para ele de madrugada, quando ele chegava em sua casa, como ela fazia. Era impossível imaginar uma pessoa que tivesse os beijos tão bons quanto os dela, então, logo aquilo era amor. Ou ele estava amando, ou estava extremamente obcecado por aquela mulher.
*
- E você faz faculdade de quê? - Os olhos de Julia brilhavam de curiosidade, enquanto ela olhava para Logan como se ele fosse o centro de tudo.
- Medicina.
- E quais são os seus motivos para fazer este curso?
- Quero ajudar as pessoas, porque as amo. Quero poder ajudá-las, para que elas tenham a oportunidade de espalhar o amor entre seus entes queridos.
- Você ama as pessoas? Todas elas? - Sua voz foi ficando cada vez mais sarcástica.
- Sim, todas elas.
- Como você é bobo, Logan! Não há como amar todas as pessoas.
- Bem, eu as amo.
Ela cruzou as pernas e tomou mais um gole de seu chá.
- Isso é porque você não as conhece.- Ela disse, se concentrando em guardar seu maço de cigarros dentro de sua bolsa.
*
Esperança.
Aos poucos, Logan foi sentindo a esperança de que Julia apareceria na porta de sua casa e pediria desculpas por tê-lo deixado preocupado daquele jeito. Provavelmente, ela diria que estava com um problema no número de telefone, então teve que trocá-lo. Diria que viajara sem avisar ninguém, e que estava morrendo de saudade. Ela teria usado todas aquelas desculpas esfarrapadas, se tivesse ido à sua casa naquele dia.
Mas ela não foi. Sem dar sinal de vida, como sempre.
*
- Tem certeza? Já quer pedir para namorar com aquela garota? Você nem sequer a conhece!
- Eu sei, Liam. Mas sinto que temos tanto em comum...
- Qual a idade dela mesmo?
- Ela tem vinte e cinco anos. Por que?
- Acha mesmo que uma garota com a idade dela vai querer entrar em um relacionamento tão repentinamente?
- Ela está apaixonada por mim, eu sei disso.
- Ainda acho que você está se iludindo pela pessoa errada.
- Pare de ser chato, Liam! Ela realmente gosta de mim.
*
Mantenha a esperança, Logan. Talvez ela te ligue amanhã.
(...)
Sofrimento
O último estágio, o segundo pior. Pois, o pior certamente é amar uma pessoa não comprometida de corpo e alma com a sua pessoa, com os seus sentimentos. Para Logan, porém, o último estágio era, sem dúvidas, o pior de todos.
Sua namorada não se importava com ele. Não se importava o suficiente nem sequer para ligar e explicar o que estava se passando.
Era extremadamente humilhante para Logan saber que era tão fácil e substituível. Era extremadamente difícil lutar conta a vontade de odiar Liam, pois ele havia avisado que tudo o que estava acontecendo ia acontecer. Estranhamente, ele queria odiar o melhor amigo, apesar de, ao mesmo tempo, não querer.
O sofrimento havia chegado, e ele havia chegado rápido demais. Logan não podia negar que seu coração estava rasgado e despedaçado, apesar de Julia não ter sido sua primeira namorada.
A diferença entre Julia e as demais, era que Julia possuía um mundo próprio, feito e habitado única e exclusivamente por ela.
O erro de Logan, foi tentar fazer parte dele.
*
" De madrugada acabei pensando em você. Você não sabe o quanto eu luto contra isso.
Sabia que meus olhos brilham quando estou em seus braços? Minha cabeça sempre gira quando você sorri.
Às vezes penso que meu universo se voltou em torno de você, e não há como consertar isso agora.
Sabe, lembro de quando você me disse que eu não conhecia as pessoas para amá-las. Quem mais eu precisaria conhecer e amar, se já te encontrei?
Você não sabe o quanto eu te amo, e às vezes tenho a certeza de que nem eu mesmo sei. Só descubro quando te beijo, te toco e tenho a oportunidade de olhar fundo em seus olhos de abismo.
Talvez eu esteja sendo muito precipitado, talvez 14 meses não seja o suficiente para descobrir que porra seria o amor. Mas não me importa, você não sabe o que significa para mim.
Minha vontade era de ir na sua casa e te dar todas as flores que você tem direito. Fazer uma serenata e desafinar na frente dos seus pais. Talvez eu acabasse tropeçando e caindo feito um idiota, e isso te faria rir, mas eu não ficaria bravo, pois ver seu sorriso seria o suficiente para fazer com que qualquer dor cessasse.
Desculpe se estou agindo como um mero adolescente, às eu me esqueço que já deveria ter passado dessa fase.
Com amor, Logan
X♡ "
*
Onde ele estava com a cabeça quando mandou aquela carta? Nunca em sua vida ele sentiu tamanha vontade de expor seus sentimentos. Por que decidira fazer aquilo justamente com Julia?
Era sem sombra de dúvidas a coisa mais estupidamente estúpida que ele teve a falta de senso de fazer!
Como ele deveria amá-la para sentir a vontade incontrolável de se abrir daquela maneira, mesmo sabendo que provavelmente seria repudiado.
Logan se deitou no chão, deixando que suas lágrimas manchassem o carpete.
O sofrimento era um dos piores estágios, para Logan, conseguia ser pior que amar.
(...)
Recomeço
Não, este estágio não existe. Porém, ao passar dos meses, Logan foi tendo a coragem de sorrir para as pessoas de seu curso e tentar tirar Julia de sua cabeça. As noites ainda eram solitárias e dolorosas, quando ele via uma versão de Julia sair de sua cabeça e rodear sua cama, com seu sorriso de sempre, olhando-o com seus cabelos bagunçados e seus olhos estranhamente vivos.
Porém, ele tentava se reconfortar com a ideia de que as noites passariam depressa e logo ele poderia olhar para o sol e sorrir, sabendo que sua ex não o torturaria dentro de sua cabeça.
- Ei, onde você está? - Liam olhou para Logan, cutucando-o sem olhá-lo, prestando atenção na estrada.
- Bem aqui - ele riu, disfarçando. - Onde mais estaria?
Liam balançou a cabeça, mordendo os lábios, sem querer tocar no assunto. Ele havia passado meses e meses tentando ajudar o amigo. Não iria fazê-lo ter uma recaída justo agora.
(...)
As luzes verdes estavam piscando tão rapidamente que era difícil enxergar. Não havia como olhar quem estava na sua frente, do mesmo jeito que era quase impossível saber de quem eram os lábios da pessoa que tocavam os seus. Liam havia sumido, indo atrás de sua namorada, deixando Logan sozinho naquele mar de gente, onde ele, aos poucos, foi aprendendo a nadar.
A festa estava deixando Logan empolgado, e logo ele não conseguia parar de dançar e mexer seu corpo como um louco.
Ele estava começando a se sentir como ele mesmo. Estava começando a realmente se divertir ali. Sua empolgação era crescente, e ela estava só crescendo, crescendo, inchando de uma maneira estranha...
Até que, como em um sonho, ele viu Julia parada no lado oposto da boate, olhando fixamente para ele enquanto soltava fumaça como uma chaminé. Quando viu que ele também a olhava, apagou o cigarro e começou a se aproximar, fazendo-o correr para fora do local.
Ele estava suando tanto naquela noite fria que era até difícil para respirar.
Logan se jogou por trás do murinho de um estacionamento, enquanto rezava, pedindo para a garota ser apenas mais uma de suas alucinações.
- Logan! - Ela gritou de longe, procurando por ele. - Logan, pare de se esconder, por favor! Vamos conversar. - Sua voz ecoava tão suavemente e caminhava lentamente até Logan, tocando seu rosto como uma doce carícia.
Não posso cair nessa de novo!, ele pensava enquanto derrubava algumas lágrimas e ofegava, desesperado, não posso deixá-la se aproximar de novo.
Porque, naquele exato momento, Logan vivenciou todos os estágios que passara nos últimos meses. Observou, como se em retrocesso, todos os defeitos que os rodeavam, todas as mentiras acompanhadas de beijos. Descobriu que não existia um amor naquela relação há muito tempo, se é que um dia chegou a existir. Era apenas a adrenalina de estar namorando Julia. Ele não a amava, não da maneira certa. E, com toda a certeza, ela provavelmente só sentia uma louca atração por ele. Ele percebeu que não era possível amar todas as pessoas do mundo - mais precisamente, descobriu que não era possível amar Julia e pessoas semelhantes a ela.
Logan se sentiu feliz por um instante. Havia passado por todos os estágios e estava pronto para dizer adeus. Passara pelo sofrimento e sobrevivera ao seu afeto exagerado. Não era como se aquilo fosse tirar um pedaço de seu coração e fazê-lo chorar. Ele estava feliz por estar virando a página e segundo em frente.
Logan saiu de trás do murinho e seguiu de volta para a boate, sorridente, ignorando a mulher que o gritava com sua voz suplicante e penetrante, cuspindo desculpas esfarrapadas para todos os acontecimentos dos últimos meses.
Ele estava pronto para dançar em uma festa e olhar para as pessoas felizes à sua volta. Estava pronto para beber até se esquecer das coisas que fizera no dia seguinte. Estava pronto para dar uma de adolescente de novo, mesmo que só um pouquinho.
Porque naquele momento, Logan pôde entender perfeitamente como funcionava o amor. E, mesmo que secretamente, pôde rezar para nunca cruzar com ele.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro